Um romance que fascina e atordoa ao mostrar como um amor perdido pode nos tirar do prumo. Ferido pelo fim da relação com Fabiano, Tato se muda de bairro e vai viver num prédio no centro de São Paulo. Enquanto luta para superar a desilusão com o namorado, ele trava amizade com vizinhos do edifício que formam uma singular comédia humana. Mas as ruas e avenidas parecem confluir para outro lugar. Ele não aceita o fim do relacionamento — e cenas tristes e lamentáveis giram em sua memória, fustigando-o tanto quanto a exposição da nova e (aparentemente) luminosa vida de Fabiano nas redes sociais. Numa escrita lancinante, a um só tempo lírica e realista, DIGA QUE NÃO ME CONHECE deixa o leitor quase sem fôlego diante do ritmo imposto, com enorme perícia, por Flavio Cafiero.
Flavio Cafiero nasceu no Rio de Janeiro em 1971 e mora em São Paulo desde 1994. Com formação publicitária, trabalhou doze anos como gerente de produto, tendo recentemente trocado a carreira de executivo pela de escritor. É também ator, dramaturgo e roteirista de cinema e televisão.
Achei que a escrita consegue representar bem um sentimento de confusão e desilusão pós-término, você se sente na cabeça do personagem e fica até difícil saber o que é real e o que é pensamento
Achei esse livro lindo de morrer. Super bem escrito, parece que entramos na cabeça do personagem e conseguimos sentir a sua dor, de maneira não linear assim como é a nossa mente. De bônus ainda se passa em São Paulo e da para imaginar os cenários todos.
Um romance curto (cerca de 80 páginas), mas extremamente denso. Partindo do fim de um romance do protagonista, Cafiero nos leva para o cenário caótico do centro de São Paulo e para várias reflexões sobre a vida contemporânea e sobre a felicidade e a saúde mental na época das redes sociais.
O que separa o clichê de um retrato fiel, uma reconstrução bem acabada de uma geração, um grupo, uma época? A sensação de já termos escutado aquela história antes é resultado do lugar comum ou da sagacidade do escritor, que foi capaz de criar uma história que reunisse elementos comuns a experiências tão diversas? O que há de tão generalizado na experiência de um homem gay morador de São Paulo que nos permite ver refletidos no livro de um desconhecido? Essas são algumas perguntas que acabaram surgindo conforme ia devorando “Diga que não me conhece” (Flávio Cafiero, Editora Todavia). As respostas não parecem ser fáceis, e nem me pretendo a isso. O fato, contudo, é que o livro conseguiu reconstruir as vivências tão comuns à comunidade LGBTQIAP+ do centro expandido de São Paulo nos anos 2020: o medo com o novo governo, as baladas regadas a drogas, a solidão, os remédios para dormir, o passeio no Minhocão, o ex-psicopata, a amiga inseparável, a loucura de tentar nos encontrar e e achar (ou construir?) algum sentido numa terra inóspita, de afetos estranhos e algum sentimento possível. A história, em si, às vezes entra num ritmo vertiginoso e, os últimos capítulos parecem ter sido feitos à pressa, numa torrente e, talvez por isso, dão a impressão que a história acabou antes da hora. Se os finais abertos não são um problema, a sensação que a narrativa foi interrompida quando ainda havia algo a ser dito, parece ser sim uma questão a se pensar. Mesmo assim, a leitura vale pelo que há de nós refletido nela. Se “Narciso acha feio o que não é espelho”, talvez nos vermos refletidos nessa história de solidão, tristeza e afetos possíveis seja algo que nos ajude a nos encontrar.
Uma novela curta e bem escrita que traz uma história de coração partido ambientada em um dos milhares de apartamentos pequenos e relativamente baratos do Centro de São Paulo.