Jump to ratings and reviews
Rate this book

A sociedade autofágica: capitalismo, desmesura e autodestruição

Rate this book
O mito de Erisícton nos fala de um rei que se devorou porque nada satisfaria sua fome, punição divina por ultrajar a natureza. A partir dessa metáfora potente, Anselm Jappe analisa o que chama de “pulsão de morte do capitalismo”: uma explosão de violência extrema gerada pela perda de sentido e pela negação dos limites, características de uma sociedade regida pela mercantilização. Para tanto, Jappe propõe retomar o diálogo com a tradição psicanalítica e desistir da ideia, forjada pela razão moderna, de que o sujeito é um indivíduo livre e autônomo; ao contrário, é fruto da internalização das restrições impostas pelo capitalismo e portador de uma combinação letal entre narcisismo e fetichismo da mercadoria. Neste contexto, “desenredar os infinitos fios da meada que leva os indivíduos a colaborar — em diversos graus — com o sistema que os oprime” seria a palavra de ordem para uma verdadeira “mutação antropológica”, capaz de reinventar a felicidade, livre das categorias capitalistas.



***



Em A sociedade autofágica, Anselm Jappe fala da autodevoração das sociedades do capitalismo avançado, assombradas que são pela fome insaciável do crescimento econômico. Reaparecem aqui as bases da “crítica do valor” (Wertkritik) — que reconhece no capitalismo uma forma específica de constituição fetichista, e não uma simples sociedade de classes —, já apresentadas pelo autor em As aventuras da mercadoria.

Desta vez, porém, o autor dá um passo em nova direção, até agora pouco explorada. Formula uma crítica profunda do sujeito, que deixa de ser encarado como figura da autonomia, e passa a ser compreendido enquanto produto da socialização do valor. Advém daí o conceito de forma-sujeito (antecipado por Robert Kurz e aprofundado por Jappe), que apreende o sujeito como forma específica da existência na modernidade capitalista. Esse sujeito, portanto, não pode bastar como base das reivindicações emancipatórias — como no ciclo contínuo dos movimentos sociais, que reclamam, a cada momento, a liberação de um diferente sujeito oprimido.

Para operar essa reviravolta, Jappe revisita o pensamento de Freud, primeiro pensador a revelar a clivagem intrínseca ao sujeito. Indo além da psicanálise, encontra no retorno patológico dessa clivagem não uma simples inadequação à norma social, mas a realização dos fundamentos da forma-sujeito. O conceito de narcisismo, cada vez menos entendido como uma doença, já havia sido compreendido como característica cultural mais ampla, ao menos desde o trabalho de Cristopher Lasch. Mas Jappe vai mais longe, ao perceber na recusa narcísica do mundo exterior uma herança filosófica profunda, e cujo germe estaria já explicitado na recusa cartesiana da res extensa. O narcisismo deixa então de ser entendido como desvio patológico, e revela-se como realização da forma-sujeito que nasce e se desenvolve com a expansão da sociedade do valor.
— Gabriel Zacarias, na orelha

336 pages, Paperback

First published September 1, 2017

22 people are currently reading
400 people want to read

About the author

Anselm Jappe

45 books41 followers
Anselm Kappe grew up in Cologne and in the Périgord. He studied in Paris and Rome where he obtained, respectively, a master's and then a doctorate degree in philosophy. His advisor was Mario Permiola. A member of the Krisis Groupe, he has published numerous articles in different journals and reviews, including Iride (Florence), Il Manifesto (Rome), L'Indice (Milan) and Mania (Barcelona). In his writings, he has attempted to revive critical theory through a new interpretation of the work of Karl Marx. He is currently teaching aesthetics at the Accademia delle Belle Arti di Frosinone.

Ratings & Reviews

What do you think?
Rate this book

Friends & Following

Create a free account to discover what your friends think of this book!

Community Reviews

5 stars
35 (43%)
4 stars
30 (37%)
3 stars
12 (15%)
2 stars
2 (2%)
1 star
1 (1%)
Displaying 1 - 5 of 5 reviews
Profile Image for Hugo Lefebvre.
20 reviews
October 20, 2025
« Si le fétichisme n’est pas extérieur aux sujets et si la forme-fétiche est la forme-sujet même, alors on ne peut pas mobiliser les sujets en tant que sujets contre l’ordre économique qui les contient. […] Il faut plutôt s’émanciper des formes sociales autonomisées et fétichistes en commençant par sa propre constitution psychique narcissique »

Voici à peu près la conclusion de cet essai sur la forme-sujet que créé l’aboutissement du capitalisme et qui mobilise plutôt bien philosophie et psychanalyse. C’est avant tout une continuation de la critique de la valeur formulée par l’auteur dans un autre ouvrage, qu’il n’est pas nécessaire de lire pour comprendre celui-ci.

Le sujet est devenu « l’autre face de la valeur marchande, son « porteur » vivant ». Tout comme la valeur est fétichisée en forme abstraite qui néglige le concret, qui devient une forme vide de marchandise, le sujet contemporain est l’aboutissement d’un développement initié au moins avec Kant et qui nie tout rapport réel avec le monde. Il gravite autour de la marchandise, médiateur social final. Pris dans lui-même, le sujet surchauffe - Jappe décrit l’évolution théories du narcissisme en psychanalyse pour analyser l’effet de ce repli.

L’oeil que l’auteur jette sur des figures comme Kant et Rousseau paraît parfois trop sélectif. On ressort souvent diverti mais peu élevé, par exemple dans la longue discussion sur les tueries, ou le réductionnisme dans la société marchande avancée. Trop plongé dans les théories d’autrui, qui sont par ailleurs, on en sort peu armé pour pointer du doigt ce qui va mal avec nos sociétés. Mais c’est la nature de ce genre de lecture. C’est au final un livre très intéressant qui aide à mettre des mots sur ces maux qu’on ressent instinctivement.

Profile Image for Eduardo Souza.
51 reviews5 followers
November 1, 2024
demorei mais de dois anos para escrever o review (hoje é 1º de novembro de 2024) desde que terminei o livro – e talvez já seja bem tempo de relê-lo. mas, a leitura foi impactante demais e guardo bastante da memória.

jappe é um arguto e amplo leitor da sociedade contemporânea e da teoria crítica. sua discussão é extremamente concisa e profunda, não deixando nenhuma dúvida ao longo do raciocínio incisivo. sua análise da teoria do valor aplicada à subjetividade foi de particular impacto para mim. além disso, o modo como ele aponta para os sintomas do capitalismo autofágico também é muito elucidativo.
Profile Image for Cobramor.
Author 2 books20 followers
July 6, 2021
Bem melhor que "As aventuras da mercadoria", mas não tão bom como os trabalhos anteriores
Displaying 1 - 5 of 5 reviews

Can't find what you're looking for?

Get help and learn more about the design.