A partir da contemplação de fotografias da família, a narradora-personagem de Vozes de Retratos Íntimos tece a trajetória da sua cor e do seu sobrenome, evidenciando como o racismo se encrusts na história brasileira. A reconstituição de memórias empreendida na obra, que traz traços autobiográficos, expõe as marcas sociais com que se deparam os brasileiros ao abrir um álbum de família em que está presente o corpo negro ao lado do corpo branco.
Através de fotografias que trazem as figuras de seus antepassados, a autora Taiasmin Ohnmacht investiga as relações de compromisso e de afeto que reuniram os casais que compuseram as percentagens de seu DNA. É um trabalho bonito, parte de investigação, parte de imaginação, concentrado em expor dores ancestrais relacionadas a questões como o machismo, o racismo, as violências e as diásporas dos diferentes povos. Taiasmin, entretanto, não narra com rancor. Ela puxa o novelo com a calma de quem sabe que o passado não pode ser modificado, mas compreendido e denunciado para que o futuro seja mais justo.
Este livro me arrebatou! Personagens marcantes, histórias inesquecíveis. Já o havia comprado quando o vencedor do Jabuti, Jeferson Tenório, incluiu-o em sua lista de melhores leituras de 2021. E posso dizer que o romance de Taiasmin Ohnmacht superou essa altíssima expectativa, tornando-se, também para mim, um dos favoritos de 2021.
Um retrato é a captura de um momento e mesmo que conte algo durante aquele segundo é incapaz de contar o passado e mostrar os caminhos que chegaram até aquele momento. Em Vozes de retratos íntimos, Taiasmin Ohnmacht conta sobre o passado que não conseguimos entender ao olhar retratos. Esse livro é sobre heranças. Heranças biológicas e culturais. Heranças que nos formam como sociedade e pessoa. Qual é a história por trás de quem eu sou?
Ohnmachat faz um trabalho primoroso ao contar a história meio real meio imaginativa da formação da sua família. Ela revira o baú do passado para contar histórias dos seus antepassados e como isso de certa forma afetou gerações e mais gerações familiares. Com uma escrita assombrosa ela consegue contextualizar fatos históricos que impactaram a vida de um avô, da bisavó, da mãe ou do pai em poucas linhas. Há uma profundidade que poucos autores conseguem fazer quando tentam criar uma história pequena.
Taisamin ainda aborta relações étnico-raciais e suas cruezas, imigrações e seus problemas, racismo, abandono parental e conjugal, machismo e tantos outros assuntos. Ao contar e imaginar a história de sua família a autora também por conseguinte falar sobre a formação da sociedade brasileira. Uma história que é comum para muitos.
É um livro interessante com escrita poderosa. São poucos que conseguem contextualizar e trazer profundidade para relações de maneira tão interessantes em poucas palavras. Para quem gosta de histórias geracionais e seus percalços é um prato cheio. Fica a recomendação.
Corajoso relato da história de família - como não ser fruto de coragem conseguir fazer isso? Assumindo que grande parte é fruto de sua imaginação, a autora constrói uma narrativa tecida com as contradições possíveis no contexto em que esta se forma. O resultado é um relato que incorpora a diáspora africana e as relações étnico-raciais no Brasil. Conciso, reflexivo e, sobretudo, terno.
A história dos antepassados da autora é narrada de forma confusa (o livro tinha que vir acompanhado de uma árvore genealógica), pouco interessante e enfadonha. Parei na metade!