E de repente fez-se direita. Foi mesmo de repente? Em todo o caso, tudo o que parecia improvável ao longo dos anos recentes aconteceu. Assim, com esse tipo de inquietação, segundo os autores – Andrea Peniche, Bruno Sena Martins, Cristina Roldão e Francisco Louçã – resulta esse livro Não posso ser quem somos? Identidades e estratégia política da esquerda.
Esta obra, tecida a várias mãos, traz à luz questões prementes para pensar os desafios políticos organizativos das esquerdas. Mas eles tratam menos do passado recente e mais do presente, pois preferiram escolher os dois temas que decorrem dessa surpresa: será que o discurso ou a ação da esquerda tem ajudado a criar as condições para o reforço da direita? O que a esquerda deve fazer agora no novo mapa político para contrariar as ameaças, mas também para se reorganizar para além da contrarresposta?
Assim, este livro registra percursos diferentes, experiências distintas e ideias próprias de cada uma delas, mas, ao mesmo tempo, dá conta de um trabalho coletivo, a oito mãos, de imaginação política sobre a esquerda do futuro. Discutindo quatro questões e dedicando a cada uma o seu capítulo: o que são as identidades e o que nos define como seres humanos na sociedade em que vivemos, ou como se deve identificar a identidade; como o movimento feminista contribui no mundo de hoje para uma democracia democrática; como se constituiu o capitalismo ao longo da história, criando discriminações inscritas no corpo e na vida de populações submetidas; e, finalmente, como a luta antirracista se define e se envolve com todas as formas de viver a vida.
Nas conclusões os autores explicam porque entendem que há um amplo potencial de emancipação e expressão política nesses processos de reconhecimento e quais as possibilidades para alianças mutuamente mobilizadoras, num horizonte que jamais descura da redistribuição e da necessidade de uma resposta anticapitalista de transformação social.
Por fim os autores apresentam suas propostas sobre como reconstruir e remobilizar a esquerda para vencer a nova direita, e querem discuti-las com quem lê estas páginas, dedicando-as a todas e todos que lutam pela liberdade no Brasil e vão vencer a ameaça Bolsonaro.
Um excelente debate em torno da esquerda e das suas opções políticas e estratégias. Ainda que não concorde com algumas reflexões e posições, este livro permite um diálogo denso, pluralista e ideológico. Recomendo especialmente a quem não se sente confortável com a direcção da esquerda actualmente, no que toca ao tema da identidade. (Trata-se de um colectivo de autores: Andrea Peniche, Bruno Sena Martins, Cristina Roldão e Francisco Louçã)
É um livro dedicado à interseccionalidade a categoria teórica que procura entender diferentes tipos de opressão, como a racial, gênero, classe e capacidade. Sinceramente para quem quiser entender o conceito e como nos influencia é um excelente livro que ataca várias vertentes, no início foca em definir o que é na sua essência, posteriormente fala do debate das políticas identitárias e como foram uma arma de remesso em campanhas como de Trump e o conservadorismo foi transformando mudando o seu foco ao longo dos últimos anos. Por fim descreve a situação portuguesa em que descreve como parte da nossa história (o colonianismo) é realmente embelezada nos nossos manuais escolas e como isso afectou a percepção dos portugueses sobre os emigrantes que vieram dos PALOP. Se tiverem interesse neste assunto é um livro muito bom para ser introduzido ao conceito.