Uma voz intensa, original e repleta de potência encontrou a casa certa para gritar. Chegou a hora de conhecer Porco de Raça, o lançamento sangrento de Bruno Ribeiro, ganhador na categoria Romance/Conto da primeira edição do Prêmio Machado DarkSide — projeto abraçado pelos criadores brasileiros, com mais de 5 mil projetos inscritos.
Uma distopia humana visceral e repleta de horror, Porco de Raça coloca o dedo na ferida e entrega uma narrativa transgressora que distorce e expande gêneros, unindo entretenimento a uma dura crítica social. O novo lançamento da DarkSide® Books vai deixar todos nós prontos para entrar na briga.
No enredo, acompanhamos um professor negro, falido, preso a uma cadeia de acontecimentos inescapáveis que acabam por levar a uma jornada rumo a própria degradação física e psicológica. Um personagem kafkiano, com suas motivações, conflitos e traumas, vivendo em um país em transe. Ao ser capturado e confinado, ele se vê obrigado a fazer parte de um ringue de lutadores formado por párias sociais, lutando com uma máscara de porco para deleite de espectadores da alta sociedade. Como define o autor, o romance é “um Esaú e Jacó da deep web”, em referência ao clássico de Machado de Assis em que irmãos com ideologias diferentes e visões de mundo contrárias encontram-se em eterno conflito.
Porco de Raça chega em uma edição ensanguentada para os leitores brasileiros, com capa dura, acabamento especial e ilustrações macabras de Wagner Willian, renomado artista e ganhador do Prêmio Jabuti com Silvestre (DarkSide® Books, 2019), uma parceria natural para artistas tão viscerais.
Ao longo de seus nove anos, a DarkSide® Books cultivou muitos talentos brasileiros e agora se prepara para uma nova safra neste Halloween: Bruno Ribeiro chega junto a mais sangue nacional na casa. Neste Dia das Bruxas tão especial, os leitores vão conhecer também novas obras de Verena Cavalcante, Paula Febbe e Marco de Castro. O sangue corre quente na literatura nacional.
Bruno Ribeiro (1989), nasceu em Pouso Alegre/MG e é radicado em Campina Grande/PB. Escritor, tradutor e roteirista. Autor do livro de contos Arranhando Paredes (Bartlebee, 2014), traduzido para o espanhol pela editora argentina Outsider, e dos romances Febre de Enxofre (Penalux, 2016), Glitter (Moinhos, 2018 / Finalista da 1° edição do Prêmio Kindle e Menção Honrosa do 1° Prêmio Mix Literário de Literatura LGBTQI+), Zumbis (Enclave, 2019) e Bartolomeu (Autopublicação, 2019). Mestre em Escrita Criativa pela Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), venceu o Prêmio Todavia de Não Ficção com o projeto de um livro-reportagem sobre um feminicídio no agreste paraibano. Foi também semifinalista do 3º prêmio Aberst de Literatura e um dos vencedores do concurso Brasil em Prosa, promovido pelo jornal O Globo e pela Amazon, com o conto “A arte de morrer ou Marta Díptero Braquícero”. Edita o blogue: brunoribeiroblog.wordpress.com
“[Bruno Ribeiro é] um Nelson Rodrigues contemporâneo, com mais virulência e menos pudor para o macabro.” (Marcus Lima Martins)
“Tinha jurado para mim mesmo nunca mais ler uma narrativa sobre um escritor em conflito com o mundo ou com bloqueio criativo, mas não contava com Bruno Ribeiro, o príncipe da prosa sulfúrica, pornográfica e ultrajante.” (Alfredo Monte)
“(…) Glitter deixa o leitor atônito, por fim, porque junta tudo isso em uma narrativa fluida, inteligente e muito crítica. Não é fácil achar um romance assim por aí.” (Ricardo Lísias)
"(...) Bruno Ribeiro se consolida como importante nome do meio literário por sua percepção crítica e pela capacidade de apurar a banalização da morte e a mercantilização dos corpos que, infelizmente, caracterizam o comportamento da sociedade pós-moderna, transformando-as em matéria para sua literatura tóxica, denunciativa e potente.” (Literatamy)
“Bruno sabe como deixar o leitor desconfortável, mas também sabe fazê-lo rir (ou de nervoso, ou de alívio). Eu mesmo ri até ficar com dor nas costelas (de nervoso e de alívio). Quem gosta de humor negro não pode deixar passar.” (Roberto Denser)
"A literatura de Bruno Ribeiro vem para nos dizer isso mesmo: escrever será impossível, mas também inevitável. Essa é a magia. Sem essa batalha, não haverá literatura." (Mariana Travacio)
Porco de Raça, romance vencedor do Prêmio Machado Darkside, é veloz, violento e contundente.
Seu protagonista é um professor paraibano envolto numa sequência de fracassos e confusões, que acaba indo parar num ringue de lutas clandestinas, onde homens pobres lutam para entreter ricos. Todos obrigados a usar máscaras de animais e são submetidos a processos de bestialização.
Vindo de uma família de “negros sabonetes”, perfeitamente alinhados ao que se esperam deles, com seus cabelos alisados, modos contidos, discrição quase bajuladora, o que lhe causa revolta e distanciamento, exceto do irmão, deputado federal, por quem nutre uma relação afetuosa e conflituosa. Aliás, nada é bem definido em como sente.
É no ringue, sob a fama de perdedor, que sente ter a sua maior conquista. É amado, celebrado e aceito no mundo do entretenimento. Negro que diverte é um negro aceito. Ali ele é apenas o Porco Sucio.
A busca de afirmação de sua negritude cede à sua própria bestialização, a reiteração sistemática de cabe ao negro duas alternativas: a) a adequação, como ocorre com Bruno, o irmão deputado federal, ou; b) a espetacularização, como o protagonista inserido no “Açougue” para divertir ricos entediados.
Contudo, não se engane, Bruno Ribeiro não polemiza com frases de efeito ou tons de lacração. Tudo aqui é orgânico, cada crítica que tece está a serviço da trama, faz parte de cada personagem, de suas vivências e trajetórias.
Seu talento para remixar diferentes referências (literárias, estéticas, sociológicas) está ainda mais afiado em Porco de Raça, bem como a beleza com que converte a violência num espetáculo profundo e cheio de significados. Tudo isso constrói uma experiência de leitura agradável, excitante, e traz a convicção de que estamos diante não apenas de um ótimo escritor, mas de um escritor singular. Vida longa a Bruno Ribeiro!
Em "Porco de raça", Bruno Ribeiro traz um personagem casca grossa. Outsider, rebelde, o protagonista deixa claríssimo que não se trata do herói que salvará o dia. Seu irmão, a personalidade oposta, também não tem a menor vocação para ser herói. Corrompeu-se o suficiente para viver bem num mundo de regras criadas em outros tempos, por outra gente. Porco Sucio o enfrenta com o orgulho de quem não cedeu à corrupção. Talvez não, talvez sim, mas a casca grossa que Porco carrega esconde muitas de suas feridas. É no ringue clandestino, com sua pele perfurada, rasgada, partida, que as feridas se tornam evidentes. Junto com elas, a verdadeira essência do personagem. O capítulo que traz à tona as questões que movem Porco é o mais belo e mais interessante. Humaniza o personagem a ponto de modificar completamente a perspectiva do leitor. Um livro violento e belo, cheio de alegorias muito propícias. Para ser lido e celebrado.
Sempre me divirto muito com os livros do Bruno Ribeiro, muito pelo aspecto pesadelesco, delirante, beirando o cartoon. Com Porco de Raça foi algo diferente, talvez bem diferente. Senti que o livro é uma consolidação de temas que Bruno vinha trabalhando há anos em seus outros romances (o derrotismo febril de um cara fudido, conforme visto em Febre de Enxofre; a abordagem satírica para observar a cultura de massa, em Glitter; o trabalhismo mangaká de Bartolomeu). Porco de Raça, no entanto, traz um fundo emocional complexo, muito mais intenso. É um livro que, no fim das contas, se revela extremamente melancólico, deixando-me também em estado de melancolia. A primeira metade do livro traz Bruno sendo Bruno, fazendo suas estripulias depravadas e sangrentas.A segunda metade, porém, é uma revelação. À medida que afundamos nas memórias do narrador, à medida que mergulhamos nas experiências de sua juventude, nas impressões sobrepostas, muitas vezes confusas, mentirosas ou incoerentes, é como se pausássemos a história do Porco, de modo que aflore esse fundo emocional.
Uso essa cena como exemplo porque foi a que mais me impactou, mas o capítulo inteiro é cheio de momentos assim. Uma introspecção muitas vezes tétrica, obsessiva, em que paira uma pergunta: Quem sou eu e como eu me relaciono com essas pessoas que chamo de família? Mais ainda: Como a maneira como eu me relaciono com essas pessoas define a maneira como eu me relaciono com o mundo?
apesar de ser um livro bem escrito que levanta pontos muito relevantes, eu senti que faltou alguma coisa. é como se ele estivesse quase lá em todos os gêneros que permeiam as páginas: não chega ao ponto de uma distopia com clareza, talvez por causa do ponto de vista do narrador e sua falta de percepção da realidade; não tem uma carga dramática carregada o suficiente para ser um drama; não chega a ser assustador ao ponto de se tornar um terror... é divertido, é fluído, é muito visual e foi uma leitura boa.
não foi, para mim, de forma alguma, uma experiência de leitura ruim. só não foi uma experiência extremamente boa. e tá tudo bem.
Uma excelente leitura que me fez ter raiva de tão boa que é. Quem for com expectativa de não aceitar o absurdo e outras coisas mais, nem leia. Quem aceitar a literatura como ela é, leia, corra, não vai se arrepender.
Cara, interessante… tinha bastante potencial. Não é um livro ruim, longe disso, é muito bem escrito e traz diversos pontos relevantes e críticas sociais que precisam ser mais discutidas, mas a história meio que se perde na quantidade de palavrões e obscenidades. Torna um tanto cansativo. Parece estar lá só pra chocar o público e não necessariamente pra trazer um aspecto do mundo. Os melhores capítulos (1 e 3) são os com menos palavrões e obscenidades, e consequentemente acabam dando espaço pra estória ser aprofundada. O capítulo 3 inclusive é onde o livro brilha.
Queria ter mais visão do mundo. Pra mim pra ser uma distopia você tem que apresentar o mundo como um personagem por si só, o conflito tem que ser claro e diferente do dia-a-dia que se tem na sociedade de hoje. Infelizmente nessa estória, até o último capítulo, onde se falam dos pregos azuis e vermelhos (referência à matrix?) tudo podia estar facilmente acontecendo no mundo de hoje sem quase nenhuma suspensão de realidade. Um projeto com muito potencial mas que acaba caindo por terra na minha opinião no quesito distopia. É algo que queria ser distopia mas não chega lá ainda.
Além disso Porco Sucio (o qual eu acho que a gente nunca descobre o nome real?) é uma pessoa muito difícil de se simpatizar com… não que ele se apresente como herói em algum momento, mas ele precisava real de um psiquiatra e uns remedinhos e talvez (com certeza) rever seus próprios princípios. É aquele tipo de personagem que se tivesse feito terapia o livro nem existiria. As melhores personagens do livro são a avó e a mãe, que são personagens bem terciárias com uma cena cada, e uma das interações brilhantes acaba nem sendo lá muito a personagem mesmo sendo boa, e sim um surto coletivo.
É bom mas não é aquilo, pelo menos pra mim… pelo menos foi uma leitura rápida e interessante, mas pra ter mais páginas precisaria de aprofundar bastante seja no mundo ou na crítica social pra fazer valer.
"Esses últimos anos foram tão cansativos, preciso descansar de verdade. Parece que não durmo há quatro séculos. Antes das sirenes, dos depoimentos, da faixa de interdição do pessoal da Homicídios ser colocada naquele mar cor-de-rosa oriental, e de sentir o saco preto cobrindo minha cabeça, redondo mentalmente para a puta que não sou homem, sou... porco?"
Fiquei muito envolto pela trama dessa obra. Não costumo ler muitos textos com personagens principais porradeiros, mas me conectei muito mais do que esperado com esse protagonista. O seu drama familiar, sua trágica luta inexistente pela valorização de sua identidade tão cuspida e bestializada pela sociedade racista em que ele está inserido, é tudo muito familiar. Me identifico com sua obstinação inquebrável de manter-se a ovelha negra, independente da dor que isso o causa.
Tem muita informação nesse livro, muitos símbolos e momentos específicos que merecem ser analisados com bastante calma e atenção. A primeira leitura foi voraz e impaciente, precisava saber como tudo acabava. Me surpreendi com uma reviravolta atrás da outra, de fato não tinha como adivinhar o desfecho. Em termos de ficção afro-brasileira, achei Porco de Raça uma obra brilhante e digna de reconhecimento.
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Escrito por Bruno Ribeiro, Porco de Raça é vencedor de vários prêmios, incluindo o Prêmio Machado, concedido por sua própria editora, a DarkSide. Na obra, somos apresentados a um professor negro de filosofia falido, que se vê obrigado a participar de uma espécie de rinha de luta livre clandestina, formada por párias sociais. Sempre usando uma máscara de porco, ele luta para o prazer dos espectadores da alta sociedade.
É original? Não exatamente. Ao longo da prosa, é possível perceber influências kafkianas e machadianas. Mas é uma leitura para refletir? Talvez, em alguns momentos, entre um capítulo e outro, mas esse não é o objetivo central do autor. Ribeiro quer que você mergulhe de cabeça na podridão do ser humano.
Sem qualquer defesa social ou racional, o homem se torna uma máquina de violência ambulante, e o autor sabe como evidenciar isso a cada página. A construção do enredo é imprevisível e não linear, confundindo o leitor propositalmente e apresentando uma crítica social e política disfarçada de diversão.
Recomendo o livro? Com toda a certeza. A obra tem uma qualidade excepcional, e o autor faz questão de cutucar a SUA ferida, incomodando o leitor com cada parágrafo. Além disso, a edição é belíssima, trazendo artes tão brutais quanto o conteúdo lido.
"Os fracos do mundo não costumam bater, mas aprendem desde cedo a apanhar."
Esse livro foi, sem exagero, uma das leituras mais intensas que fiz nos últimos tempos. A narrativa é conduzida por um protagonista claramente não confiável, o que faz com que, a todo momento, o leitor questione o que é real e o que é fruto da mente perturbada do personagem. Mesmo depois de terminar a leitura, essa dúvida continua ecoando, o que torna a experiência ainda mais inquietante.
A trajetória do protagonista é marcada por dor, conflitos e uma luta constante pela sobrevivência, do começo ao fim. Ainda assim, mesmo quando tudo indica derrota, ele encontra forças para reagir, o que dá à história um impacto emocional forte. O enredo se desenvolve de forma imprevisível, com reviravoltas que tornam praticamente impossível antecipar o que vem a seguir, mantendo o leitor sempre em alerta.
Além disso, o livro aborda temas extremamente relevantes, como o racismo, a depressão e a dificuldade de se encaixar em um mundo que parece não ter sido feito para certos corpos e vivências. É uma leitura pesada, mas necessária — daquelas que incomodam, provocam reflexão e permanecem na cabeça depois da última página. Sem dúvida, é um livro que merece ser mais conhecido.
O coração do animal pra mim é a "Parte III: Tioglicato de amônio". É quando Ribeiro acerta a veia da narrativa, fazendo jorrar o que a lâmina da sua escrita perscrutou no couro duro da primeira parte e escarafunchou na carne fibrosa da segunda. Confesso que tive um pouco de dificuldade com a porção delirante da prosa, que radicaliza (particularmente na parte final) o que já vinha sendo ensaiado em "Febre de enxofre" e em "Glitter". De resto, edição primorosa, de lamber os beiços.
2.5* Gostaria de comentar que as menções musicais são muito boas, ouvi durante a leitura e foi muito legal. Também foi muito rápido de ler. Vale a reflexão sobre os temas mas achei que por diversas vezes a violência foi usada pra fins de choque mesmo e não consegui ter uma experiência muito proveitosa.
Longe de ser um livro ruim, tem uma narrativa forte entremeada a críticas sociais muito boas. O que não engrenou tão bem para mim foi o próprio desenrolar. Tem ideias tão diferentes e boas, mas acaba não ganhando força nem como um thriller social, nem como um drama de terror. Parece que fica entre os dois. Mesmo assim, procurarei mais do autor porque me captou.
Narrativa potente e intrigante do meu parceiro de Prêmio Machado. Forte em todos os sentidos da palavra, mistura estilos e influências muito bem costuradas em uma trajetória difícil, suja e necessária.
livro pesadíssimo, ele com certeza não é pra qualquer. escancara problemáticas e a violência é presente na trama toda. um +18 diferente de tudo o que eu já li