Complexo, contraditório, colonizado por interesses políticos dos mais questionáveis, por interesses econômicos dos mais nefastos, o Maracanã tem sua história revisitada por Luiz Antonio Simas a partir das memórias e usos das pessoas comuns.
Desdentados, mauricinhos, operários, doutores, macumbeiros e cristãos compõem a rica história da produção do “Maraca” como “encarnação do mito de convívio cordial da cidade do Rio de Janeiro”, ao mesmo tempo enganador e afetuoso, nas palavras do autor.
Através de um texto leve e criativo, o imaginário popular e a história social se cruzam em um relato sobre o monumento que forjou o Brasil que conhecemos. Bom observador da fé do brasileiro, Simas promove reflexões com a originalidade intelectual que consagrou suas duas dezenas de livros.
Sem dispensar a qualificada literatura brasileira sobre o futebol, Simas recria o olhar sobre esse fenômeno. Tudo isso com método científico: a “observação participante” nos balcões dos botequins, nos trens do subúrbio, nas filas das bilheterias, nos isopores dos ambulantes e onde mais o futebol se manifestasse para além da arquibancada e da geral.
Uma obra especialmente importante para aquela pessoa que, por algum motivo, não teve a sorte de ser arrebatado pela paixão futebolística.
Luiz Antônio Simas (Rio de Janeiro, 2 de novembro de 1967) é um escritor, professor e historiador, compositor brasileiro e babalaô no culto de Ifá.
Professor de História no ensino médio, é mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Simas já trabalhou como consultor de acervo da área de Música de Carnaval do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, e como jurado do Estandarte de Ouro, maior premiação do Carnaval carioca. Foi também colunista do jornal O Dia[2], e desenvolveu o projeto "Ágoras Cariocas", de aulas ao ar livre sobre a história do Rio de Janeiro. Em seus livros, procura resgatar a memória oral da cidade, especialmente da população marginalizada
apaixonada pela maneira que o autor trata a cidade maravilhosa e sua produção cultural junto ao futebol e o maracanã como um símbolo que reúne/reuniu o que há de melhor.
Bom livro! Traz a ideia (não sei se nova nos estudos sobre o tema) de que o Maracanã funcionou como um terreiro onde a sociedade carioca carnavalizava e ritualizava suas paixões, tensões, contradições, alegrias, injustiças, opressões etc. Este terreiro, conta o autor com alguma nostalgia, foi destruído com a "modernização" dos anos 2000 (Lula, grandes eventos, Cabral etc.), pois a ideia de Brasil que sustentou o Maracanã-terreiro desapareceu. Eu não gosto muito de nostalgia quando se fala de futebol, e o autor não esconde sua nostalgia. No entanto, ele matiza bem seu saudosismo, ele sabe que as forças sociais são de ordem diferente das forças da nossa saudade e, sobretudo, o autor termina com uma nota que aponta para novas formas de apropriação. Este fechamento faz muito bem ao livro, que é muito firme na narração da história do Maraca e muito saboroso nas histórias dos jogos e das torcidas que ele conta. Bom livro! Vou procurar outras coisas do autor.