Em nove contos, Cristhiano Aguiar mergulha nos elementos góticos e folclóricos – buscando referências nas séries televisivas, no cinema e nos quadrinhos – para criar narrativas vibrantes e inesperadas, que fogem da prosa literária tradicional. As histórias vão desde os tempos do cangaço, passando pela ditadura militar e chegando até os ecos sombrios de um futuro próximo.
Um menino é obrigado a cruzar o descampado perto do vilarejo de Riachão da Frente para levar uma carta que a mãe escreveu a Zé Barbatão, o cangaceiro local. Na madrugada, as sombras no caminho e a ameaça do bando crescem conforme a narrativa avança, e a realidade parece a ponto de se romper. "Anda-luz", história que abre este volume, prenuncia o que virá nos oito contos seguintes.
Em Gótico nordestino, Cristhiano Aguiar caminha entre o sonho e a vigília, dialoga com outros gêneros e compõe um livro totalmente distinto do usual.
Cristhiano Motta Aguiar (Campina Grande, 1981) é escritor, crítico literário e professor. É mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco, doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atuou como pesquisador visitante na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Tem livros de contos publicados[2] e participou da revista Granta - Melhores Jovens Escritores Brasileiros e trabalhou no Festival Recifense de Literatura. Tem textos publicados na Inglaterra, Estados Unidos e Argentina. Editou revistas artesanais e é, atualmente, editor do site Vacatussa.
Esperava maior presença do horror (e aqui, tendo Mariana Enríquez ainda impregnada na cabeça, um horror político), mas algumas histórias vão mais para o lado do insólito, sendo o elemento fantástico só um gostinho dentro de um trabalho literário maior geralmente girando em torno de histórias mais pessoais, um desenvolvimento do universo interno dos personagens. Me lembrou um pouco também Javier Marías, com livros que giram em torno de uma sensação, um sentimento, não necessariamente de uma trama. Embora de fantástico do Javier Marías, que eu saiba, só existe um conto de fantasma.
Um gostinho do último conto:
"Ela respirava, respirava. - Como...? Me ajoelhei e toquei, emocionada, a cruz. Não sei quem, então, contrariou o vampiro. Não sei quem, afinal de contas, era de verdade o seu servo. Não sei quem o chamou para dentro de casa".
gostei bastante da escrita do Cristhiano e curti muito alguns contos, mas os outros foram completamente esquecíveis e/ou confusos. no fim das contas, acho q o maior vilão desse livro é, na realidade, a citação do Xerxenersky na contra capa, q vende uma ideia totalmente diferente d q o livro é d vdd
curti e vou recomendar pras pessoas, mas não funcionou cmg por conta da expectativa msm, infelizmente
Eu não sabia o que esperar desse conjunto de contos com um nome tão cativante, e recebi uma ótima surpresa. Cristhiano Aguiar honrou o passado, as tradições e as lendas nordestinas, misturando elementos folclóricos com a modernidade e sua tecnologia. A leitura é divertida, misteriosa e extremamente "digestível"; o autor usou referências históricas e míticas para trazer contos originais(ênfase em originais) que falam sobre vampiros, onças, anjos e até insetos como os elementos principais da narrativa. Usar esses seres junto a vida do brasileiro, tanto a do passado quanto a do presente foi algo inesperado e deleitoso. Seja um vampiro em uma cidadezinha rural, insetos dentro do apartamento de uma área nobre, ou "lázaros" caminhando pelas ruas durante a pandemia do coronavírus, esses contos são uma carta de amor ao nordeste e ao terror.
Contos preferidos: Vampiro, A Mulher dos Pés Molhados e As Onças
Essa coleção de contos traz um misto de horror, fantástico, macabro, de situações inexplicáveis sem, em momento algum, se tornar repetitivo (algo muito difícil para produções desse tipo). Do início ao fim nos deparamos com narrativas breves, mas repletas de criatividade (algumas bem sinistras, por sinal), gerando até uma certa apreensão ao leitor, afinal, o que pode ser pior do que a situação em “As Onças” ou em “A Noiva”?, mas o ator segue surpreendendo até a última página. Nem todos os contos “clicaram” comigo, alguns deles terminam meio que abruptamente e deixam o leitor se perguntando o que realmente estava acontecendo em determinada situação. Não sei se é um efeito intencional ou se foi falta de perspicácia da minha parte, mas sinto que esses contos possuem “universos” e regras tão interessantes que merecem ainda mais detalhes. Fico pensando como seria um romance extenso concebido pela mente por trás desses contos; há muito potencial no Gótico Nordestino.
“—O Bem vai vencer o Mal no fim, não é, Vovó? Nunca vou esquecer a reação dela: riu. —Isso é dentro da vida e da morte. O Mal não vai embora nunca. E às vezes ele até visita. Outras vezes, é a gente que tem que bater na porta dele.”
esperava mais lendas do Nordeste, confesso. mas são ótimos contos - e olha que conto é um gênero bem difícil pra mim.
só deixando registrado! acho que como em boa parte dos livros de contos (na minha experiência), minha atenção e interesse oscilou em diferentes histórias. ouvi cristhiano falar, sobre esse livro, que ele tentou inserir a temática do horror crescentemente ao longo dos contos. é uma tentativa que faz todo sentido, mas talvez eu discorde dele sobre a ordem de algumas histórias. também ouvi ele falar que o horror está presente no livro como uma atmosfera, como algo que está ligeiramente fora do lugar. com essa visão dele eu concordo totalmente, e mesmo que nem todas as histórias tenham me prendido, o talento do autor pra construir mundos nessas histórias é inegável. você sente o cheiro e o calor dessas cidades, e se maravilha com a possibilidade e o êxito do horror nesses lugares tão infamiliares para o gênero. gostei especialmente de "as onças" e "anna e seus insetos".
Gótico nordestino tem bons contos, mas não são tão marcantes. A minha expectativa atrapalhou a experiência de leitura. Estava esperando contos mais tenebrosos e não encontrei. Ainda assim há histórias interessantes que valem a leitura.
Christiano Aguiar, nascido em Campina Grande (PB) no ano de 1981, é formado letras pela UFPE, escritor, crítico literário e professor. Este livro “Gótico Nordestino” pode, na minha opinião, ser enquadrado na notória vertente do pós terror, muito forte atualmente e presente particularmente na América Latina, em que as clássicas mitologias envolvendo vampiros, zumbis e similares são reinventadas, adaptadas, “regionalizadas” e em que elementos típicos do cotidiano do continente como autoritarismo, patriarcalismo e ditaduras assustam tanto ou mais do que manifestações sobrenaturais. “Gótico Nordestino” é composto por nove histórias curtas e muito bem escritas. Em “Anda-luz” um garoto nordestino é encarregado por sua mãe de entregar um recado a um chefe de cangaço e inicia uma verdadeira odisseia em que tem que encarar medos, lendas, macabras impressões além de terrores bem mundanos. “As onças” evoca um futuro distópico em que os habitantes de uma cidade do interior do nordeste se veem acuados por onças inteligentes que agem em bando, revelam discernimento para abrir portas, driblar alarmes e escolher as vítimas com base em critérios bem definidos. “Lázaro” também pode ser enquadrado na vertente, muito em voga hoje em dia, da projeção de um futuro distópico onde uma mutação do vírus da covid leva a uma “não morte” que espalha o caos nas cidades e famílias. “Firestarter”, também muito próxima da projeção de distopias, nos revela um Brasil assustador em que os incêndios espalham-se sem controle (alguma menção ao necro governo atual seria apenas uma coincidência?) colocando à vontade uma legião de “piromaníacos reprimidos” que vivem de caçar e perseguir os incêndios. “A mulher dos pés molhados” mostra uma família e uma comunidade assoladas por uma maldição oriunda do desembarque de um misterioso náufrago portador de um misterioso livro. Este conto faz uma bem elaborada homenagem ao “maldito mestre do horror cósmico” H.P. Lovecraft a exemplo do que fez a argentina Mariana Enríquez no seu excelente conto “Sob a água negra” parte de seu livro “As coisas que perdemos no fogo”. “Tecidos no jardim” coloca um fotógrafo e sua namorada em contato com um “delírio sobrenatural” numa visita à cidade de Campina Grande. “A noiva” é exemplar ao mostrar os efeitos deletérios e assustadores dos regimes ditatoriais. “Anna e seus insetos” é uma espécie de ensaio que gira em torno das relações “retroalimentadoras” entre obsessões, fobias e solidão. E “Vampiro” narra uma curiosa história em que os cidadãos de uma cidade do interior nordestino tem certeza de que um misterioso habitante de um casarão é um vampiro. Ótima oportunidade para conhecer o neo (ou pós) terror.
Excelente antogia de contos em que realidade e sonho (ou talvez pesadelo) caminham lado a lado. Horrores reais se mesclam a horrores sobrenaturais, muitas vezes apenas sugeridos ou imaginados, em uma linguagem que se aproxima bastante da poesia.
Ainda que aqui o fantástico, o onírico e o surreal tenham um peso maior do que o terror propriamente dito (como eu esperava), a obra reúne histórias excelentes, como "As Onças", "A Mulher dos Pés Molhados", "A Noiva" e "Vampiro". Recomendo bastante a leitura.
Eu tinha grandes expectativas quanto a Gótico Nordestino. Vencedor do Prêmio Clarice Lispector, com um nome potente e premissa de terror com elementos brasileiros. Porém seus contos não corresponderam. Em certos momentos há excessos, explicações que não acrescentam à obra e sobram. Pelo uso dos elementos pop, os textos são datados também. Mesmo que Marian Enríquez e Samanta Schweblin tenham sido mencionadas na quarta capa, a obra de Cristhiano não possui a mesma potência que as autoras argentinas.
Esperava contos um pouco mais grotescos – mas isso só pra falar da minha expectativa.
São histórias que te envolvem, vão te conduzindo. Muito bem escritas, com algumas passagens mais poéticas. O que não curti é que o "clímax" aparecia somente bem ao final, e às vezes não era tão clímax assim. Me lembrou bastante o conto "A loteria", da Shirley Jackson (o que deve ser o melhor elogio de todos).
A primeira coisa que o título me fez lembrar foi o estilo Southern Gothic americano. Por 10 segundos eu real pensei que a ideia do livro era recriar o gênero para a realidade do interior nordestino. Eu pagaria muito caro para o surgimento de um William Faulkner ou Cormac McCarthy à brasileira. Não apenas porque super cabe - o Graciliano Ramos se aproximou do gênero e assim provou que é possível, estando aí nessa linha 100% nacional.
Aí, talvez, fui com expectativa muito alta, muito alta mesmo, mesmo que no 11º segundo eu me perguntei de onde brotava azidéia, a expectativa alta ficou. Erro meu, talvez? Não sei. O livro é uma coletânea de contos de terror com temas nordestinos. Não achei nenhum lugar na internet informação se o livro se propõe a ser do gênero jovem adulto ou não (importante, porque acho injusto avaliar livros YA), então imagino que não seja. Portanto, vai aí a crítica escorchante: Gótico Nordestino é um simulacro do cânone literário nordestino (este que, vamos lembrar, é provavelmente o tipo literário brasileiro mais fetichizado em nossa cultura) com adereços esquisitinhos. Não consegui acabar de ler, mesmo tendo em volta de 140 páginas.
Eu estou amando essa nova leva de escritores contemporâneos produzindo literatura fantástica e colocando ela fora da margem do cânone. Gostei muito do que o autor de Gótico Nordestino fez nesses nove contos. Ele incorporou lindamente elementos do folclore nordestino com características típicas do gótico, criando assim uma narrativa única. Os meus contos favoritos: O Vampiro, Lázaro e A Mulher dos Pés Molhados.
Não tem gótico e mal te nordestino. Dois contos são ótimos, os outros tinham TANTO POTENCIAL e aí acabam, ou se tornam confusos. Parece um rascunho, ou que o autor desistiu na metade.
Anda-luz ☆☆☆ As onças ☆☆☆☆ Lázaro ☆☆☆☆ Firestarter ☆☆☆ A mulher dos pés molhados ☆☆☆☆☆ Tecidos no jardim ☆☆☆☆ A Noiva ☆☆☆☆☆ Anna e seus insetos ☆☆☆☆ Vampiro ☆☆☆☆☆
Encontrei esse livro na biblioteca, e peguei ele para ler com 0 expectativas e me surpreendi bastante com o que encontrei. Cristhiano Aguiar é um autor dono de uma escrita que é emocional sem se entregar a um melodrama desesperado, e que ao mesmo tempo consegue invocar imagens perturbadoras e criar cenários tensos e opressores. Um dos pontos que mais me cativou na escrita do autor foi como ele insere detalhes específicos durante a narração ou diálogos que ajudam a pintar cenários muito vividos e cheios de personalidade, em poucas páginas ele consegue dar aquela sensação de imersão total que poucos autores conseguem. Aguiar também entende muito bem o poder da sugestão, de saber levantar o pano apenas o suficiente para vermos parte do que está debaixo e deixar nossa mente trabalhar para completar o resto da imagem. "Anda-luz" e "Vampiro" são exemplos de o quão poderoso um autor com o talento de dominar essa técnica pode ser. Infelizmente nem tudo são flores, por mais que eu tenha ficado apaixonado pela escrita, o autor parece muito confuso na hora de trabalhar suas ideias, muitos contos parecem perdidos em suas propostas o que impede que o projeto atinga seu potencial. Outros como "Anna e Seus Insetos" e "A Mulher dos Pés Molhados" trabalham conceitos já conhecidos de maneira pouco originais. Apesar dos poréns, esse é um autor que eu gostei muito de conhecer, e mal posso esperar para ler outros projetos dele.
P.S.: O título "Gótico Nordestino" foi uma péssima escolha, pois sugere uma ideia que não é executada dentro do livro, o nome "gótico" parece ter sido escolhido mais por soar bem, já que quase nenhum conto carrega características desse estilo.
P.P.S.: Vi muitos comentários falando que o livro não era nordestino o suficiente, me dá a impressão que as pessoas imaginavam que todos os contos deveriam ser protagonizados por cangaceiros montados em onças na caatinga lutando contra a seca, por favor, melhorem e estudem antes de comentar merda.
P.P.P.S.: Esse não é um livro cheio de reviravoltas e ação o tempo todo, ele tem um ritmo mais lento, com foco em vidas inseridas em um cotidiano quase comum, se o que você procura é algo mais próximo a primeira opção, de repente esse livro não é para você.
Uma seleção de contos de horror ambientados no Nordeste.
Durante a pandemia, para aliviar seus próprios traumas, o escritor campinense Cristhiano Aguiar trabalhou em contos de terror, alguns alegóricos e outros mais diretamente abordando a pandemia e a sensação de confinamento e a perda de pessoas queridas.
Como em toda antologia, o resultado é irregular. Mas gostei particularmente da construção de atmosfera e em alguns dos contos o meu desejo era de que as histórias fossem mais longas e aprofundadas, de tão investido que fiquei no cenário e nos personagens. Claro que teve um sabor particular para mim pelas referências à minha cidade, Campina Grande e é sempre um prazer ver campinenses talentosos na Literatura.
Gosto mais de alguns contos do que de outros - em especial, Vampiro e A Noiva. A escrita é fluida e desperta o interesse, trazendo imagens e noções muito específicas e ricas.
A única questão pessoal é que eu esperava mais convenções do gótico ou próprio terror, mas encontrei insólito e estranho. Mesmo assim, uma leitura enriquecedora!
Adorei a experiência de leitura! Os contos, apesar de curtos, conseguiram me transportar pra atmosfera de forma muito rápida e envolvente. Meu preferido foi o dw onça.
Peço que o meu erro foi ter ido com expectativas, por isso achei chato, mas o nome dava entender que haveria elementos fantasmagóricos, além vida. Nem terminei, abandonei mesmo
Os contos não são em sua maioria tão cativantes, mas os que são, conseguem ser bastante. Adoraria ler um romance do mesmo autor agora se passando em um desses universos.
Extremamente surreal!!!!! É verdadeiramente gótico, e deliciosamente nordestino! Me inspirou a escrever rpg, contos e a porra toda! Eu amei, simplesmente
Gostei da forma como o autor criou a ambientação de cada conto. Também gostei dos elementos locais que ele inseriu, mas fiquei frustrado com o final de cada um deles, pois sempre chegam num ápice, num mistério bom, mas que deixa muitas dúvidas abertas e algumas um tanto caóticas. É quase como se fossem várias pequenas histórias que em um possível último capítulo se juntassem e tivessem um final. Sinto que faltou esse pós ápice.