As mulheres assistem ao mundo como presas dos homens. A história do mundo revela tempos em que a mulher mais não é do que um instrumento da vida do homem. Neste romance, valter hugo mãe torna impossível ignorar este facto. Criador de uma linguagem exuberante, e deitando mão à mais rica imaginação, o autor explica o amor a partir do ponto de vista tremendo do machismo. Esta é a aventura de um homem que, casando com a moça mais bonita da sua terra, se deixa corromper pelo preconceito e pela pobre tradição. Entre ser divertido e cruel, "O Remorso de Baltazar Serapião" é um marco fundamental na literatura portuguesa contemporânea.
valter hugo mãe é o nome artístico do escritor português Valter Hugo Lemos. Além de escritor é editor, artista plástico e cantor. Nasceu em Saurimo, Angola em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira e, actualmente, vive em Vila do Conde. É licenciado em Direito e pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Vencedor do Prémio José Saramago no ano de 2007 É autor dos livros de poesia: Livro de Maldições (2006); O Resto da Minha Alegria Seguido de a Remoção das Almas e Útero (2003); A Cobrição das Filhas (2001); Estou Escondido na Cor Amarga do Fim da Tarde e Três Minutos Antes de a Maré Encher (2000); Egon Shiele Auto-Retrato de Dupla Encarnação, (Prémio de Poesia Almeida Garrett) e Entorno a Casa Sobre a Cabeça (1999); O Sol Pôs-se Calmo Sem Me Acordar (1997) e Silencioso Sorpo de Fuga (1996). Escreveu ainda o romance O Nosso Reino (2004). Organizou as antologias: O Encantador de Palavras, poesia de Manoel de Barros; Série Poeta, em homenagem a Julio-Saúl Dias; Quem Quer Casar com a Poetisa, poesia de Adília Lopes; O Futuro em Anos Luz, por sugestão do Porto 2001; Desfocados pelo Vento, A Poesia dos Anos 80, Agora.
Este é, sem dúvida, um dos livros mais desafiadores, desinquietantes e violentos que já li na vida.
Apesar de não ser o meu primeiro livro de Valter Hugo Mãe, achei a escrita por vezes muito pesada, com certas frases quase impossíveis de decifrar (para mim). Quanto ao decorrer da história, o que a salvou foi mesmo a segunda metade do livro e todo o castigo dado a Baltazar (que em nada, nada, nada se equipara ao da sua mulher e vítima, Ermesinda). Apesar da narrativa acontecer na Idade Média, a violência retratada face às mulheres foi algo que me incomodou bastante. Contudo, o objetivo de chocar o leitor foi completamente alcançado.
“a voz das mulheres estava sob a terra, vinha de caldeiras fundas onde só o diabo e gente a arder tinha destino. a voz das mulheres, perigosa e burra, estava abaixo do mugido e atitude da nossa vaca, a sarga, como lhe chamávamos.” Assim começa este romance Valter Hugo Mãe…
Esta leitura começou por divertir-me, depois começou a incomodar-me e por fim deixou-me enlouquecida… Mesmo contextualizando a história deste livro na Idade média, senti-me profundamente chocada! José Saramago afirmou que este livro era um verdadeiro “tsunami” na literatura portuguesa, eu senti-o como um “tsunami” nas minhas emoções! Um livro sobre o poder sinistro do “amor”, mascarado de violência atroz sobre as mulheres. Revoltante, incómodo, pungente, bruto… assalta violentamente a mente de quem o lê. Li por aí, que para apreciar este livro, devemos abandonar provisoriamente a vontade de entender tudo o que lemos, que devemos deixar correr a leitura e apreciar apenas a beleza da escrita, como se fosse poesia… talvez seja essa a solução…Eu ser humano imperfeito e sensível, me confesso, não fui capaz de fazê-lo…
Um livro grandioso e muito violento para as mulheres.As palavras usadas de uma forma pedagógica de choque!!! Adorei* Venceu em 2006 o prémio José Saramago...é só ler e sabemos o porquê! ...ausência de maiúsculas, travessãoes, interrogações e exclamações... Passado num tempo em que a mulher era um ser ignorante e cuja existência se justificava para servir o macho!As coisas que se fazem pelo dito "amor"...Conceitos! Desinquietante...
O Remorso de Baltazar Serapião foi o primeiro livro que li de Valter Hugo Mãe, e deixou a vontade de ler outras obras do autor.
Não é um livro bonito este. Não tem esperança, não deixa uma luz no final. Quanto muito, fica o alívio. Sim, é mesmo isso. Chegamos ao final do livro e ficamos aliviados, finalmente, sossegados enfim, porque terminou.
Foi um livro difícil de ler na história e surpreendentemente fácil de ler na escrita. Primeiro estranha-se, sem dúvida. O uso apenas de minúsculas, nada de travessões, pontos de interrogação ou exclamação...apenas pontos finais e vírgulas. E se as primeiras páginas requerem uma maior atenção, até para entrarmos no ritmo da história e na linguagem da época que a mesma retrata, depressa nos habituamos e seguimos, não menos concentrados, mas com uma maior facilidade porque também o interesse faz a leitura fluir. E então entranha-se, definitivamente.
Não de uma forma boa. Não gosto do Baltazar, nem dos irmãos. Não gosto dos pais, não gosto dos senhores da casa grande. Talvez goste, apenas e só, do Teodolindo. E da Sarga. Como não gostar da vaca?
Mas exactamente por não gostar de nenhum deles foi impossível ficar indiferente à história. As 4 estrelas não se coadunam aqui com o "really liked it" que o Goodreads define, porque na verdade, são atribuídas por tudo o que o livro me fez pensar e analisar, não por ser uma história belíssima. Nunca o recomendaria como algo leve, acessível. É uma leitura penosa, esta na voz de Baltazar. Acompanhar este homem que mais parece besta é sofrido. A cada passo lhe desejava torturas iguais às que cometia, e cada página virada era com a esperança de que a morte o encontrasse depressa. E dessa forma é também este um livro que nos força a reflectir. A pensar em quem somos ou como gostaríamos de ser.
No meu entender enquanto leitora, escolho olhar para este livro enquanto um aviso, um lembrete, um recordar. Se é verdade que todo o retrato da Idade Média está perfeito, e que portanto nada nos havia de chocar, pois sabemos perfeitamente que a mulher nesse tempo valia menos do que um animal, a verdade é que nos choca na mesma. Isto, a meu ver, porque certos conceitos da Idade Média vivem ainda hoje nas mentes de muitos homens. E isso é assustador.
Não era preciso ler O Remorso de Baltazar Serapião para saber isso. Basta ver as notícias todos os dias, infelizmente. Mas é preciso que O Remorso de Baltazar Serapião chegue a mais pessoas, porque a forma como desconstrói o pensamento de Baltazar é o verdadeiro ensinamento.
Não é o final do livro. É mesmo o tentar perceber de onde vêm aquelas certezas todas, aquele justificar de actos injustificáveis, de forma tão convicta. É perceber que ainda hoje, com frequência, se usa o ciúme como desculpa para a violência. Para o "perder a cabeça". E logo depois outra desculpa vem reforçar a primeira, o "é só porque te amo, se não te amasse não tinha ciúmes". É este último conceito, que deve ser bom mas é frequentemente mal usado, este de "amor", que deve ser analisado.
E se não servir para mais nada esta obra, que sirva para recordar todos quantos a lêem de que ainda hoje, tão longe já da Idade Média, ainda há quem use o amor como desculpa para as maiores atrocidades. E que embora a maldade não esteja em todos, a passividade está quase sempre, e cabe-nos a nós enquanto sociedade educar para que não se use o amor como desculpa para tudo. Para que se respeite o próximo, seja mulher ou homem.
Este livro realmente entranha-se. Se de manhã, quando o terminei, nem sabia bem o que dizer, agora as ideias surgem, já em mim como em mim ficou o livro.
Sim, O Remorso de Baltazar Serapião não é um livro bonito. Mas é um bom livro, que nos obriga a pensar. Mesmo que naquilo que já sabemos.
Duas semanas volvidas e algumas ideias mal arrumadas e eis que se formou uma espécie de opinião acerca do livro O Remorso de Baltazar Serapião do escritor português Valter Hugo Mãe. A acção deste romance desenrola-se na idade média e começa assim:
"A voz das mulheres estava sob a terra, vinha de caldeiras fundas onde só o diabo e gente a arder tinha destino. a voz das mulheres, perigosa e burra, estava abaixo do mugido e atitude da nossa vaca, a sarga, como lhe chamávamos."
O protagonista desta história é Baltazar Serapião, um homem igual aos outros, educado segundos os princípios e valores da época, instruído de que Ermelinda, a sua mulher, apenas existe para o servir e, portanto, encontra na violência e agressão a melhor forma de expressar o amor que sente por ela.
Não é um livro bonito nem de fácil leitura, não pela escrita, essa é toda aquela maravilha que por aqui já escrevi, mas antes pelo conteúdo. Não gostei das personagens, acho que a sarga é a única que se safa.
Levei alguns dias a reflectir sobre esta leitura por ter sido uma experiência demasiado emotiva e revoltante. Quis deixar que a raiva desaparecesse e que as ideias assentassem, mas a raiva não desapareceu. Penso que isto poderia ter resultado muito melhor se o autor não exagerasse na caracterização da mulher, para além de revoltante chegou a ser entediante ler todos aqueles comentários.
"Dizia o meu pai, a voz das mulheres só sabe ignorâncias e erros, cada coisa de que se lembrem nem vale a pena que a digam. mais completas estariam, de verdade, se deus as trouxesse ao mundo mudas. só para entenderem o que fazer na preparação da comida e debaixo de um homem e nada mais."
Quem já leu outras obras do autor vai certamente notar que esta é muito mais pesada e violenta. Esta não é uma leitura que queira guardar na memória.
Mas uma leitura incrível de um dos meus autores favoritos. Dessa vez, VHM nos apresenta um romance frio e cruel, abordando a natureza humana em sua forma selvagem. Literalmente selvagem, já que as personagens chegam até mesmo a apresentar características de animais. Ambientado na Idade Média, a obra traz como protagonista Baltazar Serapião, o primogênito dos Sargas, uma família pobre, sofrida e com uma história desastrosa. Pai, mãe, vaca e irmão moram todos numa pequena e miserável cabana a uma certa distância da Casa Grande. Tamanha a “animalização” dos Sargas, que eles são conhecidos por serem “nascidos de pai e vaca”. É impressionante como VHM consegue levar os sentimentos das personagens em seu nível mais intenso. Com sua escrita genial e extremamente poética, o autor constrói uma narrativa que incomoda, abordando a violência e submissão da mulher - com passagens que chegam até mesmo a embrulhar o estômago. No entanto, até nesses momentos mais cruéis, o autor consegue manter o seu lirismo inigualável… Não é por outro motivo que Saramago qualificou esse livro como um “tsunami literário”. Deixo aqui uma dica: para quem nunca leu VHM, não sugiro começar com essa obra. Fora isso, recomendo demais!
"sabe, senhor paulo, as mães são como lugares de onde deus chega. lugares onde deus está e a partir dos quais pode chegar até nós. porque só através delas nos encontramos aqui. e, por isso, não há mãe alguma que não mereça o céu, porque, em verdade, as mães transportam o céu dentro delas, e multiplicam-no a custo, como um ofício..."
Não é um livro fácil. A crueldade dos atos, a dureza da linguagem e a violência para com a mulher são marcas profundas desta história. Tal como dizia Saramago, este livro é um tsunami. Ouso dizer que é um furacão (e toda e qualquer espécie de catástrofe). Resta-me a certeza que a li no momento certo, sou fã incondicional de Valter Hugo Mãe. Brilhante!
Epá, não. Não lhe dou só uma estrela porque o mundo que Valter Hugo Mãe retrata aqui tem algum interesse histórico, assim como a linguagem que ele usa - arcaica. Mas não vale tudo o que José Saramago disse que valia. O que me desiludiu, porque Saramago era um génio, e o meu preferido. E não é só pela violência em si, como todos os reviewers têm mencionado. É porque a tal violência,na minha perspectiva, não serve nenhum propósito. Alguma violência seria necessária para pintar a sociedade que ele pretende retratar (misoginista), mas a força e quantidade da violência torna-a simplesmente absurda e ridícula. E, claro, a falta de uso de maiúsculas irrita-me. A desculpa que Mãe usa para o fazer é só mesmo isso - uma desculpa. O que ele quer mesmo fazer com a falta de maiúsculas é ser diferente. É como o uso da pontuação característico de Saramago. Mãe quer ter também uma estética própria reconhecível. Blah.
Ontem terminei este livro com uma raiva enorme do autor. As mulheres foram tratadas como lixo e viveram em prol dos homens. De certa forma, entendo os motivos de isso ter acontecido, afinal de contas o livro é narrado do ponto de vista de Baltazar, um homem super machista. Ainda assim, deixou-me revoltado, principalmente porque o protagonista sofreu uma maldição, mas quem teve de pagar por isso foi a sua mulher. Ele sofreu, é certo, mas não se compara ao sofrimento de Ermesinda, que mal nenhum fez. Enfim! Dou 3 estrelas, apesar de achar que o livro merece 2,5. A escrita do livro é muito rebuscada. As frases têm uma estrutura peculiar que, por vezes, dificultou a leitura.
Um dos livros mais admiráveis e inspiradores da língua portuguesa. E uma possibilidade de viajar no tempo, através da linguagem, graças ao talento, à imaginação e à intimidade com que Valter Hugo Mãe trabalhou o portugu��s. Ainda uma forma de experimentarmos, emocionalmente, como a crueldade opera, com a segurança possível que os livros permitem. Num país que herdou a violência através dos séculos, aqui nos chega uma história que se debruça sobre como é possível maltratar quem está perto e vive dentro das mesmas portas.
O homem cru, o homem bicho, o homem da religião, o homem do poder. Poético, fabuloso, inesperado. Violento, cômico, trágico. Trata do homem mais primitivo, seu lugar no mundo, no pensamento, na vida. Seus valores e desvalores. Trata do simplório sem sutilezas em uma forma poética. Aponta os vários lugares da mulher nesta hierarquia deus-homem-mulher- bicho. A ambiguidade de valores, verdades, sentimentos e vivências de cada um. Um livro em muitos, muitos livros em um com destreza no entalhe da linguagem que suscita grandes prazeres ao leitor! Mais uma vez admirado com Valter Hugo Mãe.
Se dúvidas ainda houvesse, esta obra deita-as por terra – é prova claríssima do indiscutível talento de Valter Hugo Mãe como criador de histórias. Afasta-se daquilo que atravessa obras já lidas e aconchegadas num cantinho especial, ou seja, de um pendor mais poético, carregado de sensibilidade, beleza e outras emoções que despoletam empatia para com as personagens (como "O filho de mil homens" ou "A máquina de fazer espanhóis") e abalroa-nos, usando as palavras do meu Saramago, com um tsunami que sacode violentamente os alicerces de todo o livrólico e amante da língua lusa. Começo por dizer que nenhuma mulher que se preze engole de bom grado a forma como o género feminino é retratado nesta obra – “uma mulher é ser de pouca fala, como se quer, parideira e calada, explicava o meu pai, ajeitada nos atributos, procriadora, cuidadosa com as crianças e calada para não estragar os filhos com os seus erros. (…) o mundo que as mulheres imaginavam era torpe e falacioso, viam coisas e convenciam-se de estupidez por opção, a suspirarem em segredos inconfessáveis, cheias de vícios de sonho como delírios de gente acordada, como se bebessem de mais ou tivessem sido envenenadas por cobra má.” (págs. 25, 26) Não só a visão que os homens têm do sexo oposto e que está espelhada no excerto transcrito fere o nosso orgulho como também as personagens femininas, retratadas como fornicadoras que de “deixam furar” por dez homens por dia, como bruxas dotadas dos poderes mais maléficos ou como simplesmente feias, vingativas ou torpes, espezinham a nossa essência e desencadeiam uma revolta surda que quase me levou a fechar a obra e amaldiçoar dois dos meus autores preferidos – o que a escreveu e o que a premiou e consequentemente recomendou. Contudo, essa revolta e sensação de orgulho ferido apenas se revelaram com mais veemência nas páginas iniciais da obra, já que a leitura de "O remorso de Baltazar Serapião" pressupõe que nunca esqueçamos a sua contextualização histórica – a ação desenrola-se em plena Idade Média, durante o reinado de Dom Dinis. Ora, valendo-me das sapientes palavras do meu Saramaguinho “… o que acontece é que aquilo cheirava mal, era feio”. O Portugal do século XIII era de famílias nobres, endinheiradas, exploradoras e do povo faminto, ignorante e dependente; de homens que apenas viam na mulher alguém em quem podiam libertar o fogo que lhes queimava entre as pernas, alguém que lhes devia total obediência, cujo lugar era dentro de paredes, cuidando do marido e da prole; de mulheres submissas, que encarnavam todas as tentações, pecados e outros lados demoníacos e que, como tal, nunca eram de fiar; de crenças, superstições, bruxarias, feitiços e de uma religiosidade que andava de mão dada com o paganismo. Valter Hugo Mãe cava assim um fosso entre uma Idade Média “… desinfectada, limpa como se houvesse detergentes de todo o tipo…”, recorrente em outras obras, criando uma narrativa onde nos sentimos verdadeiramente na Idade Média, onde tropeçamos em dom Afonso, o nobre da aldeia da família de Baltazar, a quem todos devem obediência e que abusa desse estatuto para deitar mão a toda a criada jovem e bonita que trabalhe em sua casa; onde convivemos com os “Sarga”, alcunha da família de Baltazar, amaldiçoamos os seus elementos masculinos por todos os horrores que praticam nas suas mulheres, encolhemo-nos de nojo por determinadas práticas que levam a cabo com animais e condoemo-nos da mãe Sarga e de Ermesinda; onde somos testemunhas da sujidade, da fealdade, do quão homens e mulheres pouco se diferem de bestas e de uma “comunhão perfeita” entre Deus, o céu, o inferno, superstições, feitiços e bruxarias. "O remorso de Baltazar Serapião" conquista-nos por tudo isto. Não é, no meu ponto de vista, uma obra de personagens que nos arrebatam como, por exemplo, Crisóstomo, Camilo ou Isaura de "O filho de mil homens". É uma obra de época e sobretudo um hino à genialidade criadora de Valter Hugo Mãe, que nada descura na sua composição, desde os nomes das personagens, a contextualização, o pensamento medieval, à primazia total das ações e reflexões masculinas face às correspondentes femininas (nunca soube verdadeiramente o que pensava Ermesinda e porque agia da forma como agia). Recorrendo de novo a Saramago – “… este remorso tem de ser lido como algo que traz muito de novo e fertilizará a Literatura.” (págs. 8, 9). Foi assim uma leitura que me conquistou mais pela sua forma que pelo seu conteúdo. Não tão preenchedora como as de "O filho de mil homens" ou a de "A máquina de fazer espanhóis". Mas que recomendo, porque Valter Hugo Mãe assim o merece.
Como todos os livros do autor que li até agora, está muito bem escrito. O talento para usar as palavras é inegável. Mas, oh valter hugo mãe, tanto talento podia ser usado em algo menos violento e menos brutal. A violência contra as mulheres no seu pior mas para mim foi demasiado. Senti-me violentada! Decididamente, quem quiser um livro para relaxar não pegue neste. Bom, tendo começado com 5 estrelas na máquina de fazer espanhóis (esse sim, muito, muito bom, tenho recomendado a toda a gente), 4 no apocalipse e agora 3 neste, espero pela leitura do último livro para desempatar...Mas agora, vai uma inofensiva Jane Austen para recuperar. Uf!
O Valter Hugo Mãe d'A Máquina de Fazer Espanhóis e d'O Filho de Mil Homens. Não sei o que é que lhe aconteceu depois deste livro, mas é este Valter Hugo Mãe que eu guardo. Um livro maravilhoso sobre uma história miserável.
(PT) O relato de Baltazar Serapião, irmão mais velho de Aldegundes e de Brunilde, filho de Afonso e alguém que não tem nome, que se apaixonou e se casou com Ermesinda, e depois foi trabalhar para os senhores da terra: Dom Afonso e Dona Catarina.
Confesso que este deve ser dos livros mais duros que já li. Apesar de se passar na Idade Média, pelos relatos e descrições do lugar, esta história contada da voz de um homem, que ama a sua mulher e uma maneira bem estranha, maltratando-a, é no mínimo, chocante.
A maneira como é contada, de forma muito "saramaguiana" - não admira que tenha ganho o prémio José Saramago - mostra que ali não há um final feliz. As superstições, os preconceitos, fazem desta mulher - aliás, todas as mulheres nesta história - pouco mais do que pedaços de carne, sujeitas às sevicias dos homens e do humor deles. Algo do qual não gostam e estão condenadas à morte às mãos dos maridos, do qual safam-se por serem "crimes de honra".
Aliás, já vêm de trás: o pai de Baltazar tem em baixa consideração as mulheres, a sua mulher, mãe de Baltazar, sequer tem nome e a vaca da casa é muito melhor tratada que Ermesinda, que por causa dos espancamentos e das sevícias, acaba mutilada, vítima dos maus-tratos.
Ouvir esta história pela voz de um bruto, não só mostra que eles amam como os outros, mas a maneira como exprimem esse amor é totalmente distorcida. Em suma, é um belo horrível, e se a ideia era essa, então cumpriu imensamente bem esse objetivo.
Para que vem a esse livro em busca da suavidade encontrada em Máquina de Fazer Espanhóis, levará um susto. O que senti ao ler esse texto, foi o inverso do que me provocou a Máquina. Em Máquina, percebi amor e senti forte empatia pelo protaganista-narrador. Em o Remorso de Baltazar Serapião senti completa antipatia por Baltazar. O que mais queria era me livrar logo do livro.
O livro retrata um cenário medieval. Mostra como as mulheres eram consideradas seres abjetos. As mulheres são humilhadas e violentadas ao longo de toda a narrativa. Mãe não poupa crueldades.
Numa crítica não sentimental, talvez se encontre valor na obra. Mãe maneja bem as palavras, nos provoca sentimentos. Não é um livro tolo. Mas fiquei a querer entender, o que pretendia o autor com texto tão violento? Em seu site, está assim escrito: "este é um livro que procura ostentar o massacre a que historicamente a mulher foi sendo sujeita por uma mentalidade machista dominante". Não há dúvidas que cumpre esse objetivo, mas me pareceu uma ostentação que pouco contribui para valorar as mulheres.
Passado na idade média, onde a mulher era tratada abaixo de um qualquer animal irracional, facilmente me dei por mim a fazer trejeitos ao ler certas partes do livro, cuja violência é explorada até ao limite pelo autor. Certo é que a condição da mulher na altura era essa, e baltazar nada de errado fazia para com ermesinda, a rapariga mais bonita da região. Bela aquando o seu casamento, mas que foi ficando feia devido aos maus tratos infligidos por baltazar, mais conhecido como o sarga dos sargas, por causa da vaca, acarinhada pela família, de quem se dizia que ser mãe de baltazar e seus irmãos...
Muito interessante. A primeira vista fica clara a intenção de criar uma arte não-paradigmática (e gore), onde a misoginia e violência extrema praticadas por Baltazar não são associadas por si a algo horrível. Com a perspectiva unilateral de Baltazar, cabe ao leitor fazer essa associação. É realmente terrível de ler e no final eu já não aguentava mais.
Estamos acostumados com o espetáculo da violência estatística. Se os dados sobre a violência contra a mulher e feminicídio não nos comovem porque números são inevitavelmente "frios", esse livro é um soco na boca do estômago. Leiam!
Essa edição tem o prefácio de ninguém menos que José Saramago. Ao falar sobre a obra, descreveu-a como um tsunami. Concordo. O remorso de baltazar serapião é bestialidade e violência, bruxas, almas perversas, místicas. Lingugem impecável desse autor que só me surpreende a cada livro.
“a voz das mulheres estava sob a terra, vinha de caldeiras fundas onde só diabo e gente a arder tinham destino. a voz das mulheres, perigosa e burra, estava abaixo de mugido e atitude da nossa vaca, a sarga, como lhe chamávamos.”
Assim vhm começa esse livro, de uma maneira que retrata e prepara o leitor para o que está por vir. Dolorido, pesado, violento - por vezes dá náuseas -, porém, importante! Mais uma vez vhm vem com seu brilhantismo todo demonstrar uma sociedade doente, preconceituosa e violenta que, no caso do livro, esmaga mulheres e desumaniza quem ali habita. A forma de escrita, um “tsunami estilístico, semântico e sintático”, como bem falou Saramago, faz com que no início seja estranho e difícil acompanhar a leitura, mas depois entendemos que essa forma de escrita te prende com atenção à história e faz com que nada se perca. Duro, denso, muito pesado, mas mais um grande livro de vhm!
Valter Hugo Mãe me pegou de surpresa. Comecei essa minha primeira leitura do autor receosa. Medo de me decepcionar após tanto furor em torno do autor, e também apreensiva ao abrir a primeira página do livro - parecia indecifrável. Mas segui adiante, e que sorte a minha, pois o remorso de baltazar serapião (em minúsculas mesmo, como faria o autor) se tornou uma das minhas leituras favoritas do ano. E com certeza lerei mais de VHM.
Por alguma magia, o que de início parecia uma escrita incompreensível acaba virando uma língua própria, da qual eu era fluente. Uma imersão no mundo de Baltazar.
O livro fala do ódio contra as mulheres - sutil no mundo contemporâneo, mas escancarado na Idade Média (período em que se desenrola a história). É impactante, nojento e revoltante. Não é um livro para todo mundo, mas, para quem estiver curioso, leia!
(só o primeiro capítulo já mata a pessoa. estou no quinto e não vejo como evitar a empolgação, é muito bem escrito de uma maneira imperfeita, tem detalhe, mas é vago, o personagem é estupidamente machista, mas sutil e burro, um pouco amoral, um pouco bicho. não sei. está sendo a minha melhor leitura contemporânea dos últimos tempos.)
Tenho certeza que é um livro que agrada poucos. Não é um livro para ter esperança ou conforto. É mais como um confronto. É encarar o absurdo e admitir que existe. E está aqui, o tempo inteiro acontecendo, bem embaixo dos nossos olhos que escapam, que se esquivam dessa realidade...
Uma poesia medieval sobre um dos temas mais atuais da nossa sociedade - a violência contra as mulheres. Não fiquei fã da forma como se coseu esta história, mas acreditei sempre no poder da mensagem que passou
Couldn't really understand the hype about this new portuguese writer... Couldn't stop feeling disgusted while reading about very sexist and abusive characters... Not my cup of tea.