As Crónicas de Allaryia são já um clássico da high fantasy portuguesa, aproximando-se, com este quinto volume, do furioso clímax da odisseia iniciada cinco anos atrás. Neste novo capítulo das Crónicas de Allaryia, os companheiros que deram início a uma quase ingénua demanda n A Manopla de Karasthan estão separados, perdidos, desesperançados. Embora poucos o saibam, a esperança reside em Aewyre Thoryn, mas cada um dos companheiros terá um papel a desempenhar no vindouro conflito. Privados do poder da sua união, vêem-se confrontados com a iminente imersão de Allaryia nas trevas que todos já julgavam desbaratadas. Porém, Seltor, o precursor destas, aprendeu com os erros do passado e os seus propósitos não aparentam de todo ser o que dele se espera... Nº de Páginas: 584
"Frequentei a Academia de Sta. Cecília durante um ano. De seguida ingressei na Escola Alemã de Lisboa, que frequentei desde o jardim de infância até ao 12º ano. Ganhei uma perspectiva diferente através do contacto com uma cultura tão sui generis e tão antagónica à nossa como a dos alemães. Cedo cultivei um gosto pela literatura fantástica, atiçado pelo meu interesse pela Idade Média e por uma fortuita descoberta durante o 8º ano na biblioteca da escola: A Tolkien Bestiary. Desde então a fantasia tem sido para mim uma insaciável paixão. Principiei a fazer os esboços de uma aventura aos 16 anos, que lentamente foram evoluindo para uma obra de quase 600 páginas. Concorri com A Manopla de Karasthan ao Prémio Branquinho da Fonseca, organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian e o jornal Expresso, em Janeiro de 2001. Fui informado de que era o vencedor em Novembro desse mesmo ano. Estabeleci contacto com a Editorial Presença em Janeiro de 2002 e o livro foi publicado em Abril, seguido em Dezembro desse ano por Os Filhos do Flagelo, o segundo volume da saga, e assim iniciei a minha carreira literária. Completei três anos do curso de Línguas e Literaturas Modernas, até me aperceber de que já escolhera o meu caminho na vida, e de que já caminhava nele.", in Filipe Faria
Vagas de Fogo, o quinto livro das Crónicas de Allaryia, dá uma reviravolta interessante, acredito que poucos tivessem antevisto ao colocar o destaque em Quenestil. No final do livro o Eahan torna-se um personagem mais completo e com um futuro (ainda) mais relevante na história, o qual estou muito curioso em (re)descobrir.
Aewyre (e Kror por arrasto) neste volume toma um lugar mais secundário. O seu arco narrativo continua a ser proeminente, mas não acontecem eventos assim tão relevantes, é como se estivesse a “guardar” para eventos mais importantes.
Longe da “ribalta” e com avanços pouco significativos nas suas narrativas continuam Lhiannah, Worick e Taislin que continuam em Ul-Thoryn, com os dois primeiros ainda prisioneiros em Allahn Anroth. Slayra tem um destino quase igual, passando praticamente toda a narrativa sentada e a dar de mamar aos filhos, mas “salva-se” quase no final com uma surpreendente jogada que lhe irá (de certeza) levar a novos e excitantes caminhos. E Allumno? Faz só duas aparições apenas para vir confirmar que está em acelerada rota de colisão com o seu mestre. E Seltor, o Flagelo, o Anátema? Bem esse está cada vez mais estranho e mais interessante para o leitor que sou com os seus actos que até os seus mais leais súbditos estranham.
E Dilet, o Bobo, finalmente revela-se ao mundo como a criatura verdadeiramente maligna que é.
Quanto à escrita, já tinha mencionado que entre o primeiro livro e o segundo existe um salto considerável na qualidade da escrita do Filipe e neste volume volto a notar um salto, mas desta vez é algo mais especifico: as cenas de lutas. Até este livro as descrições das lutas eram invariavelmente longas e detalhadas a um nível tal que, no meu caso, ao invés de me envolver faziam-me querer passar à frente. Assim ao quinto livro o Filipe muda mais uma vez para melhor passando a deixar de lado o acessório e a concentrar-se no essencial e assim deixar espaço à imaginação do leitor para preencher os espaços em “branco”. Apenas lhe posso dar os parabéns por tal decisão.
**Aviso: O texto que se segue pode conter spoilers e uma considerável quantidade de sarcasmo.** **Aviso 2.0: Tudo o que se segue provém da minha opinião pessoal. Ou seja, não têm qualquer valor para ninguém que não eu.**
Novamente as personagens principais encontram-se separadas o que, a meu ver e tal como no livro anterior, melhora consideravelmente o desenrolar do enredo. Ao passar mais tempo com cada personagem consegui-mos compreender melhor as suas motivações. Todavia, a meu ver, temos "PoV's" de demasiadas personagens. Não digo isto a nível numérico, podiam até ser cem personagens "PoV". Como na "A Essência da Lâmina" o termo "PoV" não será o mais correcto para as "Crónicas de Allaryia", o narrador (mais sobre ele adiante) é omnipresente, sabe tudo sobre todos, omitindo apenas o que lhe convém para tentar criar algum mistério no enredo. Por vezes saltando entre os pensamentos de várias personagens, num mesmo capítulo sem quebra de parágrafo. E eis a primeira problemática.
Não digo que temos acesso a tudo, por exemplo não faço ideia qual seja o plano final de Seltor (com certeza algo que faça sentido, visto que é a personagem mais intrigante do livro), contudo grande parte dos acontecimentos é "estragado" devido ao leitor ter acesso aos pensamentos de várias personagens (felizmente não todas). Por exemplo, a revelação da identidade e planos de Dilet foi inesperada e com sentido (também havemos de lá chegar). Como não tive acesso aos pensamentos da personagem toda aquela revelação foi intrigante. O mesmo não se pode dizer, por exemplo, de Tannath. Leio um capítulo centrado nele, onde a personagem revela o que planeia fazer... depois obviamente não há nenhum impacto quando leio um capítulo centrado em outra personagem e Tannath aparece para fazer precisamente aquilo que foi exposto à uns capítulos atrás. Não há qualquer empatia com o espanto, medo ou pânico das outras personagens, pois o próprio livro já me tinha dado "spoilers" sobre o que iria acontecer. Devido a este detalhe na escrita do autor (a nível do português continua perfeito, na minha opinião), acho que a história perde algum potencial. Há certos capítulos que me conseguem prender e, aquando do final, me fazem passar imediatamente para o seguinte. Mas outros, fazem-me perder a vontade de continuar, lá está, especialmente quando relevam o que vai acontecer em algum capítulo subsequente.
Voltando agora ao narrador. Desde o primeiro livro que a história nos é narrada por uma personagem, Per...Pre... (não me lembro como se escreve o nome... mil desculpas), enfim algo acontece logo no começo num "capítulo" (anexo) intrigante onde, aparentemente, o próprio narrador é morto! Quem é que está a narrar a história agora? Contudo não notei grande diferença de estilo, apenas desapareceram os textos iniciais e finais assinados pela personagem. Mas achei positivo, algo inesperado. Ninguém espera que o narrador morra a meio da saga tal como o animador dos Monty Python and the Holy Grail.
Partindo agora para um olhar sobre as personagens, este livro centrou-se muito em Quenestil que, juntamente com Slayra, se comportou como uma criança (ou talvez como um adolescente mal humorado) durante o decorrer de todo o enredo. Ambas as personagens mereciam simplesmente um par de estalos e um balde de água fria, o mundo está a acabar, os amigos deles lutam pela sua sobrevivência, e estes dois esqueletos sem cérebro andam a fazer birrinhas! O que vale é que tudo em seu redor era muito mais interessante que as duas personagens. Para mim teria sido mais intrigante (acho que estou a usar muito esta palavra hoje) se tivessem sido exploradas as características do local onde se encontravam, do povo e dos conflitos com os grupos vizinhos... quer dizer, isto foi abordado e explorado... mas podia ter sido muito mais aprofundado em vez de perder tempo com as duas crianças (Quenestil e Slayra, não literalmente os dois bebés). O Quenestil está completamente perdido, a Slayra estava grávida e ele não deu o mínimo de apoio. Depois do parto, mesma coisa, nem foi ver as crianças... epá estava na dúvida se eram dele ou não, porque não olha para eles? Ele e a Slayra não são o mesmo tipo de elfo eahan! Se as crianças são dele, com certeza devem ter alguma característica dele! Abra os olhos e vá ver! Mas não... anda feito barata tonta e depois acaba a meter-se onde não devia. A Slayra, compreendo que sofreu imenso devido ao Quenestil, mas também não pensa nas consequências da sua vingança... ou melhor, pensa em si, assegurando um lugar como uma das mulheres lá do outro chefe... mas então e as crianças? O tal chefe pode nem as aceitar e manda-las matar... sei lá, isto ainda está em suspenso para o próximo volume. Chega destes dois.
A personagem principal, Aewyre cresceu imenso neste volume. Na minha opinião tornou-se na personagem mais interessante do grupo original. Juntamente com Kror e outras duas personagens (também interessantes), tenta finalmente regressar a Ul-Thoryn, com imensas peripécias e contratempos pelo meio. Aproveito aqui para mencionar que este livro teve poucas cenas de luta, comparativamente aos anteriores, o que é muito positivo (a meu ver). Kror também se tornou muito mais denso como personagem, até acabo a torcer por ele. O pobre coitado não quer saber da Essência da Lâmina, não precisa dela, apenas quer regressar a Karatai, onde se pode dizer que foi feliz. Relativamente a Kror, Aewyre até demonstra um lado mais negro, com as suas acções para com este.
Todo o enredo em volta de Ul-Thoryn representa uma das minhas partes favoritas, contudo vou-me focar num pequeno detalhe que achei "negativo"... não propriamente negativo, até positivo... que impressionou mas dececionou um pouquinho ao mesmo tempo. (Frase confusa não?). Dilet, esperou tantos anos para executar a sua vingança... e depois deitou tudo a perder. Se ele tivesse ficado calado, os cortesãos, guardas e etc teriam começado todos à pancada na mesma devido ao teixo, com as restantes personagens principais no meio, ele apenas teria de se colocar num local seguro a ver a desgraça... e depois matar os seus alvos (caso estes ainda estivessem vivos). Mas não... depois de décadas a planear a preparar, deitou tudo a perder para fazer um típico discurso de vilão. Este capítulo foi bom e mau ao mesmo tempo, muita cena de luta, mas morreram muitas personagens relativamente relevantes. Todavia acho que foi o ponto alto do livro, o culminar de enredos que já vinham desde o primeiro volume.
Terminando agora com Seltor. A personagem é das mais intrigantes da história, ainda não percebi bem qual é o seu objectivo (ainda bem), suspeito que talvez ele não seja o típico "dark lord"... talvez até pelo contrário, estará ele a tentar salvar o mundo, e as personagens (sem se aperceberem) a tentar impedi-lo de alcançar esse objectivo? Todos aqueles deuses pareceram-me muito estranhos... este é um dos mistérios que me dá vontade de ir já começar o próximo livro. Contudo não se livra de uma criticazinha! Novamente, o problema da revelação do que acontece com certas personagens. Para mim, Seltor devia ser a personagem mais misteriosa de todas, apenas aparecendo quando interage com alguma outra personagem e não como foco de um capítulo. Acho que teria sido muito mais impactante se, ao longo do enredo, fossem sido deixadas pistas de que algo se passava com os deuses... estes não estavam a responder aos seus fieis e assim. Isto acontece, mas não é mistério nenhum, pois temos capítulos centrados em Seltor, onde este anda a matar os deuses... mais uma vez inviabilizando o potencial mistério.
E já se faz tarde, vou ficar por aqui. Desta vez vou dar o benefício da dúvida ao livro, acho que tudo tem vindo a melhorar desde o primeiro volume. Vou dar um 4/5 a este... mas é um 4 pequenino. Isto ainda pode crescer.
Após o surgimento de um mal antigo, Aewyre e os seus companheiros seguem diretrizes diferentes mas que na realidade os levariam ao mesmo objetivo.
Allaryia sofre com a guerra e com o mal que resurgiu, o que leva a população a desconfiar dos eventos e de todas as pessoas estranhas que apareçam nos seus vilarejos.
Aewyre segue um treino rigoroso, de forma a que consiga dominar algo que lhe é mais ou menos nato, mas que não compreende na totalidade.
Quenestil e Slayra teriam um destino bem diferente, que os levaria a um local inóspito e que os faria pensar na sua vida.
Lhiannah e Worick, seguiriam um caminho diferente mas familiar a Aewyre, mas com uma missão difícil pela frente, e que os levaria a estranhar como o mundo de Allaryia se estaria a tornar.
Alumno, iria seguir um rumo digno, mas que lhe traria consequências e o faria questionar tudo o que surgiria daí para a frente.
Mais uma história fantástica criada por Filipe Faria, que leva o leitor a pensar muito sobre os eventos que sucedem.
Separados, perdidos, sem rumo... É como se sentem os nossos companheiros desta longa demanda. A cada volume parece que encontram cada vez mais dificuldades, tudo parece mais sombrio e a esperança é cada vez menor. Mas é o futuro de Allaryia que está em risco e eles não vão desistir tão facilmente, nem que seja por aqueles que amam.
Vagas de Fogo é um livro extenso em que muito se passa e se desenvolve. Seltor está cada vez mais forte e persegue todos aqueles que lhe poderão fazer frente começando pelos deuses. Até o pilar começa a ficar infectado... Quando damos conta o Anátema tem tentáculos por todo o lado!
Um dos focos deste livro é Quenestil. O shura passa por momentos bastante atribulados com o seu eu interior. A sua missão em proteger os ehlan está cada vez mais difícil e o povo que os abrigou nesta parte da história, traz-lhe ainda em que pensar pois estão em eminência de guerra com Tanarch. Quenestil vê-se então numa situação em que tem que superar os seus próprios demónios e acaba por criar um sentimento de compaixão em nós bastante grande.
Também Alumno enfrenta grandes desafios aos seus ideais e já não sabe se até no seu mestre Zoryan pode confiar. A princesa e o thuragar encontram-se presos no castelo de Aereth e o nosso guerreiro Aewyre nem imagina o que se passa no seu reino.
Poderia caracterizar 'Vagas de Fogo' como o livro do caos nesta saga, pelo menos até agora. São lutas atrás de lutas, destruição atrás de destruição e fica quase impossível imaginar uma luz ao fundo do túnel.
A escrita do autor mantém-se característica. Nota-se alguma evolução desde o primeiro volume, mas penso que continua a pecar um pouco nos 'tempos mortos' que houve principalmente a meio do livro. Sendo um livro bastante denso, com quase 600 páginas, e toda aquela acção que houve no final e que me fez acelerar a circulação do sangue fez um pouco de falta noutras partes para a leitura não morrer. Faltando apenas dois volumes para o final das Crónicas de Allaryia confesso que estou bastante curiosa por saber como é que o autor lidou com todos os 'destinos'. Gostei.
Não sei se gosto muito do rumo que este livro leva em relação a certas personagens. E ficaram algumas coisas pendentes, alguns mistérios, que não sei bem se me agradam ou não. Dependem da resolução final...
Another highlight on this amazing story. The destinies of the characters starts to unravel but not too much! Just enough to keep the reader from laying down the book. The story keeps on getting better and I truly recommend it to any fantasy books lover.