Maria dos Remédios tinha cinco anos quando perdeu a família nas cheias de 1967. Pais, irmãos, avós, tios e primos, todos foram levados pelo rio de água e lama em que se transformou o periférico bairro da Urmeira.
No dia do enterro da mãe, em 1974, Toni, prestes a completar dezanove anos, foi expulso da sua casa em Campo de Ourique. o pai, membro conservador da burguesia lisboeta, recusava-se a ter um filho homossexual.
Quando se conheceram, nos anos 80, época do boom da moda portuguesa, ela era uma modelo cada vez mais popular, ele um afamado decorador. Naquela altura, tinham Lisboa a seus pés. Só que a cidade estava em transformação e a vida é feita de escolhas e decisões que são capazes de mudar definitivamente o rumo de uma vida. Hoje, Maria dos Remédios vive na rua. Toni estica os dias num apartamento decadente. Só lhes restam as recordações e a amizade que nutrem um pelo outro. em que momento se perderam?
Maria José da Silveira Núncio é Doutorada em Sociologia e professora universitária. No âmbito da sua atividade profissional é autora de trabalhos académicos e pedagógicos. Nasceu em 1969, é casada e tem dois filhos.
O momento em que nos perdemos traz-nos a história de duas personagens, Maria dos Remédios e Toni intercaladas entre pequenos capítulos. Durante os três últimos capítulos fiquei com uma sensação de que algo estava a faltar, Maria José tem uma escrita muito fluente que prendeu-me bastante, gostava que o livro tivesse sido maior mas ter o tamanho que tem só me fez sentir mais a história e agarrar-me aquelas personagens humanamente imperfeitas. Gostei muito dos capítulos da Maria dos Remédios mas os do Toni foram os que me prenderam mais (A história da Maria dos Remédios começou-me a prender mais ao menos a partir do momento em que ela começou a trabalhar como modelo). Um livro muito humano. Aquela referência ao António Variações deixou-me com algumas lágrimas nos olhos.
Gostei mesmo muito deste livro. A escrita da autora é incrível, todo o enquadramento que nos faz. Adorei. É sempre um gosto ler um livro português, onde conseguimos visualizar de forma muito mais realista as personagens e o ambiente envolvente. Gostei mesmo muito. Um livro de certa forma triste, mas muito muito bonito.
“O Momento em que nos Perdemos” narra a história de dois amigos, Remédios e Toni, ao longo de vários anos.
A história é-nos contada pela voz das próprias personagens, em capítulos alternados, algo que gostei muito, pois permite-nos perceber bem os seus sentimentos e angústias e determinar exatamente o momento em que se perderam e como chegaram à difícil situação em que se encontram na atualidade.
Gostei muito deste passeio pela década de 80 e do enquadramento que a autora faz da sociedade e mentalidade Lisboeta da época. A escrita de Maria José Núncio é muito bonita e envolvente e o livro tem momentos muito tocantes. Os capítulos curtos e intercalados tornam a leitura muito célere e fluída, dando aquela vontade de ler “só mais um capítulo” 😅
No entanto, esperava que houvesse mais interação e mais episódios partilhados entre os protagonistas. Senti que faltou algo… Também tive pena que o livro não fosse maior e tivesse explorado, com mais detalhe, alguns momentos.
Apesar disso, gostei de conhecer a autora e espero voltar a ler algo dela! 🤗
“E, ao recordá-los, atingiu-me a pior das nostalgias: a daquilo que poderia ter sido. (…) Dos sins que deveriam ter sido nãos, dos nãos que jamais poderiam ter sido ditos. (…) Tantas vidas que poderiam ter sido vividas e que ficaram para trás, a pairar (…)”
Se este livro não fizesse parte do Livra-te eu jamais o teria lido (e teria ficado a perder). Desanimei quando reconheci a autora como uma das comentadoras da crónica criminal de um dos programas da manhã da TV (com vergonha admito o meu preconceito...) mas assim que comecei a ler fiquei altamente viciada.
Os capítulos curtíssimos são intercalados entre as histórias da Remédios e do Toni, e não consegui decidir qual das histórias gostava de ler mais, ficava igualmente embrenhada nas duas, sempre na ânsia e expectativa, sempre a terminar um capitulo a pensar "só leio mais este" e a continuar sempre "só mais um".
Fez-me lembrar os livros da Rosa Lobato Faria... não sei se pelas personagens, se pela trama, se pela construção, se pela linguagem... foi muto bom!
A apontar tenho apenas o uso excessivo de alguns pontos de exclamação (!) e gostaria ainda que houvesse mais até porque o livro é muito pequeno. Teria sido bom (e creio que havia espaço para tal) saber o que aconteceu com uma personagem que não aparece, mesmo que não viesse a cruzar-se nunca com a Remédios ou com o Toni.
Uma agradável surpresa! Irei certamente ler outros livros da Maria José Núncio com esperança de encontrar este tom adorável.
Adorei a escrita e gosto sempre muito de narrativas na primeira pessoa, com pontos de vista intercalados e em capítulos curtos. Ambos os relatos transparecerem uma certa apatia e as personagens podem parecer ter pouca profundidade mas acho que foi intencional, e, a meu ver, vai de encontro às personalidades reveladas ao longo do livro. O facto de saber o desfecho à partida, aguçou-me a curiosidade, dado que nunca perdi o interesse em continuar a leitura. Adorei a viagem a um tempo que não é o meu e conhecer melhor esta geração na sua juventude. É um livro que dá que pensar e foi combustível para algumas reflexões pessoais. Mas foram os últimos parágrafos que, apesar de já desconfiar desde o início, me deram um arrepio pelo corpo inteiro que se libertou num curto escorrer de lágrimas.
Uma ótima leitura. Conclui várias vezes ao ler este livro que o português é realmente uma língua linda, carregada de sentimento e emoção.
Gostei muito de ambas as personagens principais (Toni e Maria dos Remédios). No entanto, e talvez por me ter identificado mais com a Maria dos Remédios, acabei por achar essa personagem mais bem explorada. A sua perspetiva enquanto criança foi bastante bem conseguida. Mas assim que ela entrou na vida adulta, senti que as várias camadas da personagem que foram surgindo foram muito bem exploradas (uma Maria dos Remédios amedrontada pela vida vs uma Paola desinibida e sem limites).
A pontuação de 4 ⭐️ deveu-se sobretudo aos retratos de uma Lisboa vibrante e irreverente dos anos 70/80 (muitas vibes de António Variações). Adorei verdadeiramente essa vertente do livro porque sempre senti um fascínio pela cultura portuguesa e vida durante essa época.
“Havia uma Lisboa a nascer, na ilusão de ser europeia e de poder ser rica. As pessoas queriam sair, divertir-se, vestir-se bem. Abriram novos bates no Bairro Alto e discotecas na Avenida 24 de Julho. A malta mais vanguardeira misturava-se, nas velhas boites do Cais do Sodré, com os chulos e as putas que ainda por lá se acantonavam. Fumavam-se chinesas por todo o lado e snifava-se cocaína com a descontração de quem fuma um cigarro.”
Os ótimos protagonistas tornaram esta leitura numa experiência bastante prazerosa. Adorei a descrição da realidade lisboeta e de alguns momentos marcantes da nossa História pelos olhos das personagens, diria que foi o ponto mais forte do livro para mim. No entanto, o reduzido número de páginas deixou-me com a impressão de que esta é a versão compactada de uma história que merecia mais profundidade e detalhes em vários pontos.
Neste livro acompanhamos as vidas, que se cruzam a dada altura, de Toni e Maria dos Remédios que tiveram uma vida glamorosa nos anos 80 mas que acabam por cair em desgraça. A autora conduz-nos através destas páginas para percebermos os caminhos que ambos escolheram e que os levaram ao que vivem na actualidade.
Toni é um homossexual que foi expulso de casa pelo pai, um burguês conservador, no dia do funeral da mãe, em 1974. Maria do Remédios foi a única sobrevivente da família nas cheias de 1967 e foi entregue à madrinha que a criou. As suas vidas cruzam-se na Lisboa dos anos 80, ela como modelo e ele como decorador, e entre os dois nasce uma amizade que se prolonga pela vida fora acompanhando as mudanças que a cidade atravessou até à actualidade.
Gostei muito deste livro principalmente porque me fez viajar no tempo embora eu não tenha vivido as mesmas experiências que estas duas personagens. Só tenho pena que a autora não tenha desenvolvido mais a história. O tema era tão interessante que merecia muito mais.
Gostei muito do livro e da história que nos é contada de dois amigos, ora de um ponto de vista, ora do outro. Ler sobre a Lisboa dos anos 80, e sobre a vida das pessoas na altura foi um exercício muito interessante. Adorei a escrita e todas as temáticas abordadas no livro. Muito boa leitura!
Bom livro que retrata a sociedade portuguesa dos anos 80 como eu nunca tinha lido. Um óptimo ritmo de leitura! Só peca mesmo por não ter mais. Senti que faltam partes, faltam diálogos e faltam talvez momentos chaves de desenvolvimento das personagens. Mas ainda bem que li e a escritora vai ficar debaixo de olho! Obrigada ao clube do livro Livra-te por, mais uma vez, dar a conhecer livros que de outra forma não conheceria!
Ainda bem que foi o último livro que li em 2022... Foi dos livros que mais me marcou e um dos que eu mais queria ler este ano por isso fez todo o sentido ser assim ❤️
gostei do livro, no entanto senti que faltava mais desenvolvimento e profundidade. neste livro acompanhamos as vidas, que se cruzam de Toni e Maria dos Remédios que acabam, de formas diferentes, por cair em desgraça. é muito interessante o facto de percebermos previamente como está a vida das personagens e, depois sim, o que os levou à actualidade. o ponto alto são, sem dúvida, as descrições de época.
Um murro no estômago daqueles que não nos deixam parar de ler! A história do Toni e da Maria dos Remédios deixa-nos agarrados ao livro, tal a forma realista como está contada. A simplicidade da escrita ajuda muito a dar essa sensação de que o Toni e a Maria estão algures sentados a escrever as suas memórias
O que mais gostei foi a amizade entre os protagonistas e que foi mesmo das amizades mais verdadeiras. Gostei da escrita da autora, que os capítulos fossem pequenos e de ficar com uma visão do Portugal desta época.
Um livro muito duro, que nos mostra como tudo é efémero, e que sem família, de sangue ou de amor, a vida se torna tão vazia que é mais miragem e sobrevivência animal. Uma história com glamour, cores e texturas, e com sabor amargo, de pessoas podiam saltar da página pra realidade.
TW: Referência a Violência e Suicídio, Drogas, Doença e Morte
Náufrago. Talvez seja a palavra que marcará a minha memória desta história, porque há uma constante sensação de ir ao fundo, nem sempre com a capacidade de emergir - pela força das circunstâncias ou pela falta de vontade. Por oposição, há um traço de permanente sobrevivência, muito por culpa da amizade que se manifesta como principal fonte de salvação. A escrita da autora envolve-nos na sua simplicidade e no seu ritmo fluído, proximal, que nos desperta o desejo de saber mais, de descobrir o depois. E enquanto deambulava por esta história a duas vozes, oscilando entre a angustia e um salto de fé, comovi-me, ri-me, senti-me a afundar nesta tristeza que, ironicamente, tem algo de belo. Pelo meio, como se a vida fosse um jogo de sombras e perdas subtis, mas com um impacto barulhento no quotidiano, é fácil perceber que nem sempre é evidente o momento em que nos perdemos; que, se calhar, nos vamos perdendo aos poucos, até já não ser mais possível colarmos todos os cacos. Ainda assim, faltou-me algo, porque gostaria de ter mais momentos de interação entre os protagonistas - creio que a narrativa ficaria com outro brilho. Preferências à parte, é uma história que nos desarma, que nos transporta para os anos 80 e que nos deixa a refletir sobre problemas sociais graves, até porque não deixa de tecer um retrato da sociedade portuguesa.
Este foi o primeiro livro que li da autora e foi sem dúvida uma experiência positiva. Gostei muito da escrita e da forma como a narrativa é apresentada, alternando os pontos de vista das duas personagens principais.
Nesta história, conhecemos Maria dos Remédios e Toni, e seguimos as suas vidas e a forma como se entrecruzam ao longo de várias décadas. As narrativas são contadas em linhas temporais desfasadas, dando alguma complexidade à interpretação do que lemos em cada capítulo, em relação com o ponto de vista alternativo. Ambas as personagens foram largamente desenvolvidas, mas em Remédios a evolução da personagem é mais notória, uma vez que a acompanhamos desde criança até adulta. Também gostei de ler sobre o contexto social em que a história se desenrola, a Lisboa dos anos 70-90, e a forma como são exploradas a realidade LGBTQIA+ e o mundo da moda nesse época.
No entanto, o livro peca por ser tão curto, o que não permite explorar a fundo alguns momentos chave da vida de cada um, mas principalmente a relação de amizade entre ambos - várias vezes referida em página como longa e duradoura, mas relativamente pouco aprofundada em termos da ação.
Vai quase copy-paste do que comentei no "Livra-te", que isto é mesmo assim: Acho que é daqueles livros que não me ia chamar a atenção para ler se não fosse pelo Livra te, e ainda bem, porque gostei muito ♥︎ Adorei a escrita intercalada com as diferentes perspectivas (e até diferentes tempos porque o Toni estava quase sempre uns anos mais à frente) , lê se super bem, super fluído e capítulos curtinhos sempre com vontade de continuar a ler Deixou me a pensar imenso sobre as voltas que a vida pode dar... Achei curtinho! Estranhei estar a meio (mais ou menos) e eles ainda nem se terem conhecido! Soube a pouco porque gostava que tivesse havido mais interações deles os dois e mais história!! Portanto isto reforça ainda mais o quão o livro estava a ser bom e não me importava nada que continuasse mais!
Adorei este livro! Sinto que foi como escalar uma montanha; de início, estamos tranquilos, devagarinho a preparar o grande momento em que chegamos ao topo; vamos calmos e confiantes. Depois, chegamos ao topo e há todo um misto de sentimentos e não cabemos em nós de alegria e excitação. Por fim, vem a descida e o voltar à base, um regresso à base agridoce, que vai muito além do expectável. É triste, desolador, mas, ao mesmo tempo, bonita a ligação das duas personagens principais que subiram e desceram a montanha. Adorei! Gostei também que a história tivesse decorrido, sobretudo, nos anos 70-80, em que sentimos um Portugal a largar a ditadura e como isso tem impacto na vida das personagens, nos detalhes da história e nas descrições que nos transportam para aquela época, não só em termos políticos como sociais.
Vou, certamente, ler mais livros desta autora. Adorei!
literatura portuguesa com temática gay é um fenómeno raro por isso quando vi este livro à venda em Lisboa fiquei surpreso e imediatamente o agarrei. li, em dois dias, estas duzentas páginas que nada mais são do que um conjunto de histórias que já aconteceram tantas vezes que acabam por se tornar um cliché quando transferidas para literatura. senti falta de mais profundidade e de diálogos, para realmente saber quem são estas pessoas. ainda assim, acho que é uma bela representação do panorama lgbt nos anos 80/90 e um bom momento de leitura.
ADOREI! A história da Remédios e do Toni prende-nos desde o início e transporta-nos para a década de 80 e para um Portugal saído de uma ditadura feroz! Estas duas histórias contam a vida de muitas pessoas que viveram à época! A escrita da autora é maravilhosa e recomendo mesmo muito a sua leitura ❤️
A escrita é incrível!!! Adoro a maneira como a autora escreve. No entanto, não consegui achar este livro satisfatório. Parece que há uma buildup para se perceber tudo o que aconteceu e depois..... Pronto acontece e fiquei um pouco underwhelmed. Mas é um livro que se lê muito bem, com os seus altos e baixos.
Este livro narra uma história muito cativante e que nos mantém atentos, pela necessidade de saber mais sobre a vida das personagens. É uma reflexão profunda sobre como a vida não é linear e, acima de tudo, sobre como a alteração das circunstâncias pode impactar o rumo da mesma. Numa nota menos positiva, o livro deixou-me em suspense e no final senti que a história não teve um remate.