Viajam quando a cidade dorme. Entram cedo e saem tarde. Estão em todo o lado, porque é raro o edifício, público ou privado, que as dispense. São discriminadas, porque são, muitas delas, imigrantes. O que fazem não produz nada de material, de palpável, de preferência nem um grão de pó. Aqueles para quem o fazem mal sabem ou reconhecem que elas existem.
«Sentes que quando és das limpezas te tornas invisível em relação às outras pessoas», diz Ana Isabel. Este livro retrata as vidas distintas de treze mulheres e um homem e uma profissão em comum: as limpezas industriais. Traz para a luz a realidade ignorada de quem precisa de umas costas de aço, de uns braços bastante competentes e de força, não só física, para limpar o que os outros sujam, sem se preocuparem muito em lhes agradecer.
"Nas limpezas há sempre alguém que suja de dia e alguém que tem de limpar à noite."
Este retrato traz para o dia as vidas das pessoas que limpam de noite. São mulheres, e homens também que, a meio da madrugada já estão nas paragens de autocarro à espera da carreira que os levará ao destino. Limpam escritórios, bancos, hospitais, o parlamento, aeroportos, autocarros da Carris. Isto enquanto muitos de nós ainda dormem. Pessoas que, na maior parte dos casos, ganham a remuneração mínima mensal garantida, isto se, entretanto a sua empresa não perder um concurso público e as/os funcionárias/os ficarem num limbo, sem saber quem lhes vai pagar.
Algumas são pessoas que se agarraram a este meio de subsistência porque, pela cor da pele, pelo sotaque, por morarem nas periferias/dormitórios de Lisboa, não conseguem mais nada. Outras usam isto como uma ponte para um futuro melhor enquanto estudam e outras porque ficaram grávidas e têm de sustentar os filhos.
Estas são histórias das trabalhadoras da limpeza industrial, porque também há as trabalhadoras do serviço doméstico, que ganham à hora mas não têm tantos benefícios como as do serviço industrial, não tendo muitas vezes casas suficientes para completar horários, daí resultando baixos rendimentos no fim do mês, tendo, como no caso aqui relatado, de recorrer às refeições da Comunidade Vida e Paz.
E também há uma distinção entre as/os trabalhadoras/es de limpeza das grandes cidades (Lisboa, Porto, Coimbra), muitos sindicalizados, que por isso reivindicam os seus direitos e sabem se estão a ser explorados ou prejudicados e têm o STAD (Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Actividades Diversas) para os apoiar e receber as suas queixas, e as/os trabalhadoras/es de cidades mais pequenas, que, como no caso aqui relatado, nem acesso aos recibos de vencimento têm se não o solicitarem, ou nem um cacifo para guardar os pertences têm.
Mais um excelente retrato da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
«Tu sentes que quando és das limpezas te tornas invisível em relação às outras pessoas.» A invisibilidade é o que mais incomoda Ana Isabel, e há duas situações que tornam este preconceito bem visível - uma acontece durante o trabalho e a outra parte da desvalorização da profissão."
“O trabalho das mulheres das limpezas não produz nenhum material. No final do dia, não há nada que elas possam entregar, nada palpável. Até ao século passado, este trabalho era definido como não produtivo, já que dominava a ideia de que não acrescentava valor à economia. Hoje, a definição é diferente, mas na prática pouco mudou.”
Neste retrato a autora faz uma associação clara entre a classe trabalhadora das mulheres de limpeza e a classe social que a íntegra. Novas ou marcadas pelas circunstâncias e idade, solitárias, emigrantes ou mulheres de cor, muitas oriundas da periferia e bairros de Lisboa, são elas que dão voz a este livro e a uma realidade ainda presente, de descriminação e invisibilidade social. Uma leitura necessária e de consciencialização.
Um livro simples mas muito importante sobre a dura realidade das pessoas que trabalham nas limpezas. Devia ser leitura obrigatória, em especial para os pouco humildes que andam neste mundo.
Este foi o primeiro livro que requisitei na Biblioled, na versão audio, e foi uma boa experiência.
Reúne histórias muito interessantes de várias mulheres e um homem que trabalham nas limpezas, um trabalho omnipresente mas que passa tão despercebido. Achei a narração bastante boa.
⭐ 4.0 Um bom retrato das dificuldades e condições precárias que os empregados do setor das limpezas lidaram e ainda lidam na atualidade. Um trabalho que merece maior dignificação e menos invisibilidade, tanto em relação às outras pessoas, como a nível de legislação e proteção laboral.
Um livro pequeno mas cheio de histórias e testemunhos que nos fazem pensar. Invisíveis conta-nos as histórias de vários "trabalhadores de limpeza". A forma como está escrito e como descreve o dia-a-dia, destas pessoas, que tantas vezes para nós são "invisíveis" é avassaladora e faz-nos reflectir. O livro tem uma escrita simples e acessível. Recomendo muito!
Uma linguagem simples e atrativa sobre um tema que - aparentemente - nos passa completamente ao lado. Uma visão profunda e interessante sobre o trabalho de limpeza em Portugal
Gostei muito de ler sobre estas invisíveis sobretudo no tempo da pandemia. Há uma parte mais técnica sobre os contratos entre instituições públicas e empresas de limpeza que só percebi porque tenho contacto com isso no local de trabalho. Senão custava-me a perceber, mas não porque estivesse mal explicado, é que o próprio sistema é estranho. E claro que quando a coisa corre mal, já se sabe que é que fica a perder…
Uma colecção de histórias reais, duras e menosprezadas, de quem limpa os espaços por onde andamos sem que reconheçamos o esforço e abnegação destas mulheres (esmagadoramente), que por pouco dinheiro e muito sacrifício nos trazem um conforto que nos parece natural.
Um banho de realidade que agradeço à jornalista Rita Pereira Carvalho e à FFMS. É bom, útil, formativo, e até transformador, irmo-nos cultivando com estes relatos. Talvez inculque em alguns de nós alguma consciência que antes não possuíamos.
Se vos perguntasse à partida, sem conhecerem nada sobre este livro, saberiam quem seriam “As invisíveis”?
Pois, as invisíveis são todas aquelas pessoas que estão em todo o lado e ninguém as vê, todas aquelas que são ignoradas por não produzirem nada de material, todas aquelas que viajam enquanto nós dormimos.
Sim, são todas as mulheres e homens que têm como profissão as limpezas industriais.
Neste pequeno, mas grande livro, são retratadas as vidas de 13 mulheres e 1 homem. Vidas duras, sofridas, física e psicologicamente.
Em cada história fiquei a conhecer melhor o que pensa e o que sente quem é invisível. Como é a vida destas pessoas, todos os dias. O que as leva a trabalharem nas limpezas. O porquê de só terem esta saída profissional e não outra.
Dei por mim, a fazer uma retrospectiva do meu comportamento em vários locais por onde me cruzo com estas mulheres e homens.
Dei por mim, a analisar o meu local de trabalho e perceber todo o funcionamento da contratação destes serviços.
Dei por mim, a dar realmente a verdadeira importância a este serviço e as estas pessoas.
Sim, porque tenho a certeza, que depois de lerem este livro verão tudo com outros olhos.
Já agora, quantas empregadas de limpeza viram hoje?
Leitura interessante que lembra as dificuldades que enfrentam os trabalhadores dos serviços de limpezas, mas que bem podiam ser de tantos outros serviços. Gostei do único capítulo que aborda a questão em cidades mais pequenas.
“Viajam quando a cidade dorme. Entram cedo e saem tarde. Estão em todo o lado. São discriminadas, porque são, muitas delas, imigrantes. E o que fazem não produz nada de material, de palpável, de preferência nem um grão de pó”
"Estas profissões, que foram das que praticamente não puderam parar durante a pandemia, ganharam um estatuto de trabalhador essencial (mesmo que não assumido socialmente). Humanizar estes papéis que permitem o funcionamento dos nossos transportes, empresas, hospitais e outros, constitui uma dívida de gratidão social."
Dou 5⭐️ porque o único problema deste livro é mesmo ser curto, e, chegada ao fim, gostava de poder ler mais. O trabalho desenvolvido pela Rita com esta publicação foi louvável. Cresci no Alentejo onde a maioria das pessoas não tem formação superior, nem tampouco tiveram recursos ou oportunidades para a ter. Com a sorte de me terem sido consignados outros voos, e de ter partilhado auditórios em várias faculdades com pessoas com backgrounds académicos e classes económicas muito distintos dos destas “senhoras da limpeza”, cedo aprendi, não obstante, que os valores e educação dos seres humanos não se prendem com a sua escolaridade ou funções que desempenham. É lamentável que o ser humano continue a olhar para o trabalho de limpeza, absolutamente essencial ao nosso bem estar, saúde e segurança, como um trabalho menor. Foi um prazer e um privilégio ler os testemunhos de pessoas tão lutadoras e obstinadas. Obrigada a todas/os, e obrigada à Rita, por lhes dar voz. “Falou-se em “linha da frente” do combate ao novo coronavírus. Contaram-se histórias de médicos, de enfermeiros e, a certo momento, alguém se lembrou de dizer que também existem outras pessoas dentro dos hospitais. E lá estavam elas - onde, na verdade, sempre estiveram. Só nunca foram vistas nem ouvidas palmas dedicadas às empregadas de limpeza em Portugal vindas das janelas e varandas às 22h em ponto, como foi feito para outros profissionais.” 🤍
Este livro tem 82 páginas e é composto por várias histórias de quem trabalha na limpeza. Pessoas que não são notadas pelos outros e que muitas vezes quando notadas, é por motivos de desdém. Um livro pequeno, mas com grandeza suficiente para nos fazer refletir sobre situações com as quais nos deparamos diariamente,mas que pouca ou nenhuma atenção nos despertam. Um livro que nos acrescenta conhecimento ao revelar-nos alguns dados estatísticos e que é essencialmente "um abre olhos" para a necessidade de mudarmos de conceitos e sobretudo, mentalidade.
Foi um livro que me identifiquei com ele, trabalhei 18 anos na área e a autora descreve bem o dia a dia das empregadas de limpeza. Somos realmente invisiveis, mas muito necessárias, pois se não existir essa classe trabalhadora muita gente que nos torna invisiveis morreria atulhado em lixo. As empregadas de limpeza (os homens incluídos) não são invisiveis, são é exploradas e mal pagas.
Este livro retrata uma realidade socialmente invisível, relacionada com esse trabalho "de sombra" tão necessário que são as limpezas industriais e domésticas. Relatos, perfis, percepções e testemunhos tão necessários para nos ajudar a compreender esta realidade.
Um livro com retratos de mulheres (e um homem) que ganham a vida a fazer limpezas industriais. Vidas duras que nos mostram uma realidade quase invisível, já que são pessoas que muitas vezes trabalham de noite/madrugada e cujo trabalho parece não "produzir" nada.
Este é o terceiro livro em versao áudio que oiço através da BiblioLED, a plataforma online de empréstimo de livros das bibliotecas portuguesas. Têm sido todos livros publicados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, de não ficção e sobre temas actuais. Cada livro representa uma grande reportagem sobre um tema e até agora recomendo todos os que ouvi!