Perto de fazer quarenta anos, Hugo Gonçalves recebeu o testamento do avô materno dentro de um saco de plástico. Iniciava-se nesse dia uma viagem, geográfica e pela memória, adiada há décadas. O primeiro e principal destino: a tarde em que recebeu a notícia da morte da mãe, a 13 de Março de 1985, quando regressava da escola primária.
Durante mais de um ano, o escritor procurou pessoas e lugares, resgatando aquilo que o tempo e a fuga o tinham feito esquecer ou o que nem sequer sabia sobre a mãe. Das férias algarvias da sua infância aos desgovernados anos de Nova Iorque, foi em busca dos estilhaços do luto a cada paragem: as cassetes com a voz da mãe, os corredores do hospital, o colégio de padres, uma cicatriz na perna, o escape do amor romântico, do sexo e das drogas ou uma road trip com o pai e o irmão. Sem saber o que iria encontrar na viagem, o autor percebeu, pelo menos, uma coisa: quem quer escrever sobre a morte acaba a escrever sobre a vida.
Esta é uma investigação pessoal, feita através do ofício da escrita, sobre os efeitos da perda na identidade e no caráter. É um relato biográfico — tão íntimo quanto universal — sobre o afeto, as origens, a família e as dores de crescimento, quando já passámos o arco da existência em que deixamos de fantasiar apenas com o futuro e precisamos de enfrentar o passado. É também, inevitavelmente, uma homenagem à figura da mãe, ineludível presença ou ausência nas nossas vidas.
Hugo Gonçalves (1976) é autor de vários romances. Na Companhia das Letras, estão publicados "Filho do pai", "Revolução" (vencedor do Prémio Fernando Namora e semifinalista do Prémio Oceanos), "Deus Pátria Família" (semifinalista do prémio Oceanos), "Filho da mãe" (finalista dos prémios P.E.N. Clube e Fernando Namora), "O coração dos homens" e "Enquanto Lisboa arde o Rio de Janeiro pega fogo".
Guionista da série "Rabo de Peixe" (Netflix), foi correspondente de diversas publicações portuguesas em Nova Iorque, Madrid e no Rio de Janeiro, cidade onde trabalhou como editor literário.
Jornalista premiado e cronista, é um dos criadores do podcast Sem barbas na língua.
A ausência da minha mãe é aquilo que sou. Se ela não tivesse morrido, talvez nem sequer escrevesse. Teria outra identidade, outra história. Imaginá-la viva seria, portanto, uma forma de aniquilação.
Gostei muito da primeira e da terceira parte deste livro, onde Hugo Gonçalves consegue equilibrar muito bem a emoção e a contenção, num mergulho no passado cheio de amor e saudade. O retrato que faz da sua infância, das férias, dos avós, no que tiveram de bom ou mal, encheu-me de nostalgia. A parte do meio, porém, é um desvio total no tom, que se torna desagradável, e na escrita, que se torna demasiado pretensiosa. Nela o autor, fala dos seus excessos, o batido e irritante "sex and drugs and rock'n'roll", da sua incapacidade de se comprometer, do conflito com o pai, atitudes que eu poderia classificar de freudianas, se o autor não se tivesse adiantado a mim:
Foram precisos anos para aceitar que aquilo que julgava fazer-me especial era apenas uma colecção em fascículos de psicologia para principiantes.
Apesar da dor e da amargura, é um livro muito lúcido.
«Embora já tivesse lido romances do autor — Revolução e Deus Pátria Família —, a escrita de Hugo Gonçalves brilha especialmente neste formato, atingindo aqui notas de vulnerabilidade e intimidade que ainda não lhe conhecia. Adorei, adorei, adorei. Recomendo muito que o leiam, mesmo.»
"De noite, passeio sozinho pelas ruas sem vivalma ao redor do hotel. O sino da igreja marca a hora certa. Tenho comigo todos os meus mortos, todos os meus vivos, e sei agora porque, ao longo de todos estes anos, nunca arrisquei perguntar: e se a minha mãe fosse viva? É que, de todos os eventos biográficos da família, nenhum foi tão decisivo e irrevogável. A ausência da minha mãe é aquilo que sou. Se ela não tivesse morrido, talvez nem sequer escrevesse. Teria outra identidade, outra história. Imaginá-la viva seria portanto, uma forma de aniquilação."
Relato sofrido e que me cortou a respiração por diversas vezes. Não sei se foi motivado pela formação mais "jornalística" do autor, mas o tom de toda a obra é isento de floreados, é algo cru e contido. Mesmo assim, a dor de se perder um progenitor está latente de uma forma assombrosa e que nos arrepia.
Terminei a leitura deste livro, fechei-o, respirei fundo e senti a necessidade de me distrair com qualquer coisa que não exigisse muito do meu cérebro, porque me senti avassalada por ele. Foi demasiado intenso, e provocou em mim um tumulto que não esperava. Desengane-se quem pensa lê-lo de uma assentada já que não tem muitas páginas. Os sentimentos que despoleta não deixam…
Um relato entre o autobiográfico e o ficcional sobre a dor de um miúdo de 8 anos cuja mãe morre. Em tom nada lamechas mas fazendo sentir essa ausência todos os dias da sua vida desde então.
Não conhecia este autor e confesso que foi um acaso que me fez ter este livro em casa.. um leilão solidário da Animais de Rua… gostei bastante da escrita do autor, apesar de ter o coração um pouco tremido com o pesar que o livro transmite, mas adorei a maneira como o autor relata a sua vida real, sem filtros, sem esconder alguns momentos menos positivos na sua vida… fiquei curiosa para conhecer mais livros do autor..
Meu primeiro livro do autor. Auto-ficção, boa. Depois daquele Nobel sempre que uso a designação ‘auto-ficção’ sinto a necessidade de adjectivar: boa. É o ‘clássico’ livro do luto. A criança perde a mãe, mas não é uma mãe qualquer (perdoe-se-me a divagação: nenhuma mãe é ‘uma mãe qualquer’, é sempre a mãe de alguém, a nossa). Tivesse eu tido a perspicácia de questionar o título, antes da leitura, e teria feito objecção de consciência. Este não é, para mim, o ano de ler sobre a perda da mãe. Permito-me a intromissão na intimidade da família que nos é dada pelo facto de o autor a ter publicado em letra de forma. Alguns tenderão a culpar o pai: pai do antigamente e etc. e tal. Discordo. É uma família normal (no bom sentido) há dois irmãos, com uma relação saudável, há um pai sensível, que emigra (nessa altura o vocábulo usava-se com prefixo) e tem êxito profissional na Europa, numa área artística, onde se sente confortável e realizado, já a mãe, não. Por isso mesmo regressam a Portugal, onde a vida do pai se banaliza (no mau sentido). Já a relação com a mãe me parece mais sensível, mais 'especial', mais freudiana. O autor ocupa a primeira e a terceira partes do livro, numa linha de tempo ziguezagueante, contando-nos a tragédia da família e como ela o afectou. A parte central do livro é um pouco o resultado, na criança, agora adulta, e os ‘excessos’ da sua vida em diferentes lugares do mundo, designadamente a dificuldade em encorajar e nutrir relações minimamente duradouras. É curioso, ver por aqui, pelo Goodreads, como muitas recensões se dividem: identificando estas três partes, há os que apreciaram a primeira e terceira parte aborrecendo a parte central, que tem um estilo e ritmo próprios e porventura antagónicos, face às outras duas; e os leitores que decididamente se reviram nessa parte central, a excessiva e corrupiante, e não nas outras duas. Pareceu-me uma estratégia interessante e uma que lhe permitiu fazer uma ponte emocional com o leitor sem entrar na pieguice e na ‘auto-ajuda’. É ali, na parte central que se dá a conexão… Livro sobre a perda, sobre o luto, sobre a vida e sobre a morte. Gostei.
Quem gostou de "O ano do pensamento mágico", de Joan Didion, vai de certo gostar muito deste "Filho da mãe". Admito que fiquei extremamente fã do autor e da escrita escorreita, com humor e sem cortar no murro no estômago. Li num instante e destaco o equilíbrio entre cenários e tempos da vida - o crescimento, a perda, as diferentes formas de luto. Terminei de ler numa viagem de avião para Londres, local definidor da história, o que foi ainda mais impactante para mim. Li em ebook e vou definitivamente comprar em versão física para o poder emprestar a toda a gente. Parti imediatamente para "Deus Pátria Família" e espero agora o novo livro do Hugo Gonçalves, "Revolução", que deve chegar em setembro.
"A ausência da minha mãe é aquilo que sou. Se ela não tivesse morrido, talvez nem sequer escrevesse. teria outra identidade, outra história. Imaginá-la viva seria, portanto, uma forma de aniquilação."
Este é um relato bastante duro de um filho que perde a sua mãe para o cancro. Não estava à espera que fosse um livro tão pesado e que este relato fosse tão profundo!
São vários os estados que atravessamos neste livro que, além de falar da doença, fala de como se lida com a morte de uma mãe em tão tenra idade (mãe e filho ambos muito novos). Que marcas deixa esta ausência? Perder a mãe é a perda mais profunda que o ser humano experiencia - obviamente não comparável, de todo, com uns pais que perdem o seu filho; isso é toda uma outra estratosfera e tão irreal que nem há palavras. Mas perder a mãe tão novo logicamente que traz imensos pesos, constrangimentos e traumas.
Se não procuram um livro forte, não leiam este. Leiam quando se sentirem bem. Não deixem de o ler. Mas têm mesmo de se sentir emocionalmente bem.
Confesso que não conhecia o autor Hugo Gonçalves antes da edição deste livro. Foi-me recomendado no clube de leitura que frequento e atirei-me a ele sem medos.
Gosto de não ficção. De testemunhos na primeira pessoa. De relatos biográficos. Só podia dar certo. E deu.
Este relato cru, honesto e sem pudor sobre a morte da mãe do autor, sofrimento, da sua juventude e do que teve que enfrentar na vida. Uma narrativa que nos comove de uma forma incrível e inesperada, pois o autor consegue ser muito sóbrio na transmissão da sua dor.
"Quando, há trinta e dois anos, regressei a casa e fui procurar a minha mãe em cada quarto, comecei a esquecer a sua voz. Não tenho o casaco de peles, os desenhos do hospital ou as cassetes. Mas, porque somos aquilo que recordamos, nesse dia passei a ser também a sua voz, a sua memória, essa coisa humana - essa coisa assombrosa - de podermos amar aquilo que a morte tocou."
Há muito tempo que um livro não me emocionava tanto. Belo, duro, infinitamente triste. A morte tão precoce e sofrida de uma mãe jovem e como esse trágico acontecimento molda a vida de um miúdo, agora homem. A escrita é bonita e simples. Li lentamente, precisando de pausas para recuperar. Há muito tempo que não chorava numa leitura. O livro é magnífico💙
Que boas leituras me está a trazer este mês de Dezembro! Neste meu primeiro contacto com o autor Hugo Gonçalves, encantei-me com este seu "Filho da mãe". Este livro autobiográfico tráz-nos uma ode à sua mãe! Uma homenagem sentida, tão bonita, revisitando a sua vida desde a morte da mãe, 32 anos antes, até aos actuais 40 anos de vivências totalmente influenciadas por este acontecimento traumático da sua infância. É um grande orgulho ler mais um autor português tão bom! Ainda por cima descobrindo que tem, tal como eu, raízes na raia sabugalense. Gostei bastante da forma como se referiu à Lageosa da Raia, à sua antiga escola transformada em minimercado e à sua tradicional capeia raiana. Recomendo mesmo muito a leitura deste livro! Deixo-vos uma das muitas frases que sublinhei: "A perda maior é de quem morre, sem dúvida. Os vivos, afinal, continuam vivos. Mas, não morrendo no exato momento do outro, sobra para eles o restolho da separação. O luto, já se sabe, é um labor dos que ficam. Nunca se viu um morto a chorar num velório."
Gostei bastante. É quase palpável o sofrimento que o autor nos transmite. Um menino que aos 9 anos perde a mãe e como isso vai influenciar o seu crescimento. Vou querer ler mais de Hugo Gonçalves. Vou estar atenta!
"O que eu sentia era a brutalidade da sua ausência - inarredável, sem solução, o silêncio soprando nas veias como no interior das paredes de uma casa devoluta. Porém, muitas vezes falei com ela, fazendo uma espécie de telefonema intergalático, em que primeiro era preciso marcar o indicativo de um pai-nosso, e então, estabelecida a linha entre os mortos e os vivos, pedia-lhe que voltasse ou, pelo menos, e como rogava a avó Margarida durante as orações, que a sua alma estivesse na paz do Senhor."
Durante a leitura deste livro, passaram-me muitas coisas pela cabeça. Quando achava que o livro era sobre um adulto que traz à memória a ausência da sua mãe, falecida durante a infância, tornei-me mais pequena perante a dimensão da morte, onde se descortinaram várias camadas, uma após a outra, de uma forma exímia e tão bem escrita pelo autor.
Lembro-me de ler algures que depois de um parente ou alguém próximo falecer, a primeira memória a desaparecer é a memória olfativa. Depois o tempo trata de tudo o resto, até nos esquecermos do som da voz, do toque da pele e um dia, que desejamos que seja tarde, de cada traço e linha do rosto. O desaparecimento total desta mãe levou consigo todas as pequenas recordações físicas que poderiam ficar com este filho.
É a partir daqui, desta ausência, que anos após a morte da sua mãe, o autor procura pequenas recordações que o possam aproximar dela. Através desta busca, cria um livro onde descreve todas as pequenas repercussões que foram acontecendo após a sua morte. Em certa medida, grande parte da vida do autor e do seu irmão fica ditada desde este acontecimento, desde a relação com o único progenitor vivo (o pai), a rebeldia, a ausência, a procura de respostas e de si mesmo.
De todos os pequenos contextos em torno da ausência da mãe, destaco o que mais me chamou à atenção: o capítulo do meio foi o que mais me tocou, sobre o qual senti maior empatia mas também dor. Aqui falamos de um adulto, perdido, em busca de qualquer coisa. Talvez da mãe, talvez de tudo o que a sua ausência provocou. Há quem chame exibicionismo mas eu não sei que nome dar.
Quem conhece as resenhas que vou escrevendo, sabe que o que me prende aos livros são as emoções. Muitas vezes esqueço pormenores, nomes de personagens e grandes feitos que acontecem no livro. Mas fico com as emoções que tanta vontade tenho de capsular por acreditar que são a verdadeira essência dos livros.
A ausência sem reconhecimento, a corrida infinita do personagem principal em busca de algo foi o que me agarrou. Enquanto percorria as páginas angustiantes de um adolescente perdido, fiquei no vazio, num baque que ecoa para o infinito, presa aqui a uma emoção que não consigo descrever mas que esta frase pode, de alguma forma, fazer esse trabalho - "Uma noite em Nova Iorque, alguém me falou de um ditado judeu: "Deixa o teu filho ir o mais longe que puder, só então vai ao seu encontro e trá-lo para casa.". Fui o mais longe que consegui, mas a minha mãe não foi buscar-me. E tardei décadas até procurar o caminho de volta para ir ao seu encontro.".
Foi uma leitura voraz e masoquista. Voraz, porque a escrita e o enredo a isso obrigam. Escrita límpida, sem floreados de qualquer espécie, que vai directo àquilo que se sente. E que pode tocar e doer. Masoquista, porque houve alturas em queria parar, a emoção a isso obrigava, mas não conseguia. Porque, apesar de já não ter os meus Pais fisicamente comigo, não imagino a dor que é perder a Mãe numa idade tão pueril.
Apesar da diferença temporal e das idades da perda, tudo o que ali li é o reflexo puro e duro de um processo de luto. Que ameniza com o tempo, mas nunca sara. Nem quero imaginar, então, esse processo com trinta e tal anos, após aquela doença que dizem que é prolongada, mas que não prolonga absolutamente nada (sei do que falo porque do lado materno passou-se precisamente o mesmo). Só castra, desfaz, destrói sonhos e arranca. Num ápice!
Talvez um dos livros da minha vida. Ainda não consegui processar bem a leitura para decidir se figurará nessa lista.
finalmente cheguei à escrita de Hugo Gonçalves e que pequeno grande livro para me estrear. já tenho alguns livros do autor na minha mini-biblioteca pessoal e sei que vou querer todos. há aqui qualquer coisa que me chama e me puxa!
uma das características que mais me impressionou neste livro foi a sua vulnerabilidade e honestidade. crescemos com a velha máxima de que um homem não chora, tem de ser forte, não mostra emoções e quão errados estamos..
então para mim encontrar neste livro palavras de dor, de amor, de saudade de uma Mãe que foi por tão pouco tempo, escritas e vividas por um homem, foi refletir no quão necessário e importante é este tipo de escrita e de livro.
agradeço o acaso feliz de “me ter cruzado” com Hugo Gonçalves no lançamento do livro «Filhos da Chuva» de Álvaro Curia e ter ficado completamente encantada com a forma como falou desse livro. sei que saí dessa sessão a querer imenso ler «Filhos da Chuva» e a querer ler tudo o que Hugo Gonçalves escreveu.
«Uma noite, em Nova lorque, alguém me falou de um ditado judeu: "Deixa o teu filho ir o mais longe que puder, só então vai ao seu encontro e trá-lo para casa." Fui o mais longe que consegui, mas a minha mãe não foi buscar-me. E tardei décadas até procurar o caminho de volta para ir ao seu encontro. Essa é uma viagem que se faz sozinho. Quando, há trinta e dois anos, regressei a casa e fui procurar a minha mãe em cada quarto, comecei a esquecer a sua voz. Não tenho o casaco de peles, os desenhos do hospital ou as cassetes. Mas, porque somos aquilo que recordamos, nesse dia passei a ser também a sua voz, a sua memória, essa coisa humana - essa coisa assombrosa-de podermos amar aquilo que a morte tocou.»
Apesar de este ser um livro pequeno não é um livro que se leia num sopro, precisei de fazer algumas pausas. Muito íntimo e tocante, mas ao mesmo tempo cru e nada lamechas. Gostei bastante da escrita sem floreados mas que, mesmo assim, transborda de amor e saudade. Tal como um pai ou mãe nunca deveriam ter que passar pela morte de um filho, também nenhum filho deveria perder um pai ou mãe na sua infância.
“Filho da Mãe” explora o luto de um homem que perdeu a mãe aos 8 anos, com uma doença terminal. É não ficção, sem cair na lamechice e em lugares comuns.
Está escrito de forma escorreita, linda, tão crua e verdadeira, que é difícil não impactar, não empatizar, não tentar compreender a dor eterna que acompanha uma pessoa que perde a mãe em tão tenra idade.
É arrebatador e devastante ao mesmo tempo. Lê-se super rápido, porque é curto, mas não deixa de ser um convite a uma reflexão mais profunda sobre a vida.
É por livros como este que leio!
"De noite, passeio sozinho pelas ruas sem vivalma ao redor do hotel. O sino da igreja marca a hora certa. Tenho comigo todos os meus mortos, todos os meus vivos, e sei agora porque, ao longo de todos estes anos, nunca arrisquei perguntar: e se a minha mãe fosse viva? É que, de todos os eventos biográficos da família, nenhum foi tão decisivo e irrevogável. A ausência da minha mãe é aquilo que sou. Se ela não tivesse morrido, talvez nem sequer escrevesse. Teria outra identidade, outra história. Imaginá-la viva seria portanto, uma forma de aniquilação."
Este será um dos melhores livros que li este ano. É tão íntimo que me senti em cada lugar físico da vida desta família, não como uma intrusa mas guiada por um xaman, o autor, que na própria escrita do livro resulta a purga do seu xamanismo. A viagem é tão bonita e tão lúcida que torna-se comovente fazer parte dela. Fico contente que Hugo, o rapaz de 8 anos que procurou a mãe morta nos armários, a tenha encontrado aqui, dentro de si, onde sempre esteve.
Este é um livro de não-ficção onde o autor partilha connosco a dor de ter perdido a mãe quando era apenas uma criança e o impacto que teve na sua vida adulta. Um relato cru, duro mas num tom muito íntimo e pessoal, das suas memórias e os seus medos e inseguranças.
"É imperativo que eu enfrente, descubra e escreva na proporção exata da devastação que apagou tudo."
Um livro sobre a morte da mãe do autor e o impacto que essa perda teve em toda a família (e sobretudo nele). Com uma escrita impecável e sem melodramas desnecessários, mas também sem apagar a expressão do sofrimento, da dor. Um livro triste que gostei de ler.
"É assim que defletimos a dor, com sarcasmo e dureza."