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A República de chinelos: Bolsonaro e o desmonte da representação

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Em A República de chinelos: Bolsonaro e o desmonte da representação, Luciana Villas Bôas, professora da UFRJ com doutorado pela Columbia University, reúne dois breves ensaios em que realiza “investigações nada convencionais” — como diz Newton Bignotto no posfácio — sobre o cotidiano social e político do Brasil dos últimos anos, com foco nas eleições presidenciais de 2018 e nas atitudes do presidente eleito. No primeiro texto, intitulado “A República de chinelos”, a autora parte de uma fotografia oficial de Bolsonaro com seus ministros, em que o presidente calça chinelos e enverga sob o paletó a camisa de um time de futebol. No segundo, “Armas sobre a urna”, analisa as imagens de partidários de Bolsonaro votando com revólveres e pistolas, e a ação dos eleitores de Fernando Haddad que, em resposta, exibiam livros. O resultado é uma leitura inovadora sobre os mecanismos da representação política no século XXI, incluindo uma explanação clara do sentido do voto, da importância da distinção entre o âmbito público e o privado, e da pertinência dos encadeamentos simbólicos para a sobrevivência da democracia e do Estado de Direito no Brasil.

112 pages, Hardcover

Published January 1, 2022

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About the author

Luciana Villas Bôas nasceu na cidade do Rio de Janeiro e cursou a graduação e o mestrado em Letras na PUC-RJ. Doutora em Germanística e Literatura Comparada pela Columbia University, de Nova York (2005), é professora do Departamento de Letras Anglo-Germânicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 2009, e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura da UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Alemã da USP. É autora de Wilde Beschriftungen. Brasiliens historische Semantik in der Frühen Neuzeit (Königshausen & Neumann, 2017) e Encontros escritos: semântica histórica do Brasil no século XVI (Editora da UFRJ, 2019).

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Displaying 1 - 2 of 2 reviews
Profile Image for Guilherme Smee.
Author 27 books189 followers
April 14, 2022
Luciana Villas Bôas coloca à disposição do leitor um livro incrivelmente pertinente sobre as imagens que performam o simbolismo e a iconografia do bolsonarismo. Ela fala aqui sobre representação como um dispositivo que serve para substituir algo que está ausente. No caso do bolsonarismo, muitas imagens, símbolos e retóricas são usadas para cobrir o vazio das suas palavras, ou ainda, a ausência das palavras. Assim, Luciana Villas Bôas investe em dois fronts ou cases do bolsonarismo: o fato de Bolsonaro se vestir e se portar como "homem simples do povo" para se aproximar de seu eleitorado, tornado sua representação difusa pelo excesso de uso e manipulação de símbolos. O outro case é a eleição de 2018, em que eleitores de Bolsonaro levavam armas às urnas, enquanto os eleitores de Haddad carregavam livros. Assim, a autora investe no simbolismo destes três objetos: armas, livros e urnas. A República de Chinelos é uma ótima análise de como o bolsonarismo manipula as imagens para se apoiar num discurso e numa retórica vazia, recheada de mitos e concepções mentais coletivas que caem num vazio de significado.
Profile Image for Harvey Hênio.
626 reviews2 followers
February 13, 2023
Luciana Villas Bôas, a autora desse pequeno mas poderoso livro, tem doutorado em Germanística e Literatura Comparada pela Columbia University, Nova York. É professora do Departamento de Letras Anglo-Germânicas da UFRJ desde 2009 e publicou artigos sobre a primeira literatura e iconografia do Novo Mundo em periódicos nacionais e internacionais além de traduzir obras e organizar coletâneas, sobretudo, na área de História dos Conceitos. Atualmente dedica-se a um projeto intitulado “Um Brasil inédito” que investiga a relação entre a imprensa e a expansão colonial europeia a partir de textos franceses, ingleses, espanhóis e alemães sobre o Brasil no século XVI.
“A República de Chinelos: Bolsonaro e o desmonte da representação” traz uma acurada análise, elaborada pela autora, do efeito deletério do bolsonarismo sobre tudo aquilo que representa a república e o estado democrático de direito com o objetivo de facilitar a extinção desses dois pilares da sociedade democrática, inclusiva e plural.
É interessante como esse livro dialoga diretamente com outro grande livro que analisa os efeitos nefastos do bolsonarismo; o excelente “Linguagem da destruição: A democracia brasileira em crise”. Por Heloiza Murgel Starling, Miguel Lago e Newton Bignotto. Esse livro parte de uma tristemente famosa frase de Jair Bolsonaro, proferida em março de 2019 - “Nós temos é que descontruir muita coisa” - para demonstrar como o bolsonarismo pretende destruir tudo aquilo que não se encaixe em sua visão estreita e mesquinha do mundo.
Se em “Linguagem da Destruição” os autores partiam da triste frase acima reproduzida, “República dos Chinelos” parte de uma foto tirada no dia 19 de fevereiro de 2019 em que o presidente Bolsonaro, numa reunião oficial com ministros, aparece de chinelos estilo “Raider”, calça de moletom, camisa pirata do Palmeiras e um paletó amarfanhado para completar o “look”.
Alguns (na verdade, infelizmente, muitos) poderiam perguntar: “Qual é o problema?”
Vale a pena reproduzir parte significativa dos argumentos da autora para demonstrar, cabalmente, que tal insólita cena representa uma baita agressão às instituições republicanas:

“A roupa é mera externalidade, pura formalidade do poder. Uma prerrogativa das elites. Uma convenção a serviço da fraseologia do mainstream. Um atributo da classe política, corrupta, sensacionalmente criminalizada, degradada a parasitas que deveriam estar atrás das grades. Finalmente, surge no poder alguém de fora, alguém simples, torcedor de futebol, apreciador do moletom, adepto dos chinelos Raider. Alguém como nós. Não alguém acima de nós. Não alguém que sob a alegação de nos representar fatalmente irá nos usurpar. O problema é que o presidente é um servidor do Estado e o Estado diz respeito a todos os cidadãos da República, inclusive aos que não são torcedores do Palmeiras, aos que não gostam de futebol, têm alergia a moletom de nylon e preferem sandálias Havaianas. As atribuições e as responsabilidades específicas da presidência são definidas pela Constituição Federal. O presidente é uma função regulada política e juridicamente. Os seus atos devem zelar pelos direitos e deveres do estado democrático, ao mesmo tempo individuais e coletivos, fundados no princípio da igualdade perante a lei: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”. Vale a pena conhecer os termos da nossa Constituição, e revisitá-los, invocá-los, exigir que tenham representação? Seja como for, qualquer defensor do Estado democrático de direito exigirá que as disposições da Constituição deem forma ao exercício da presidência. O presidente não representa sua vontade individual, foi eleito para um mandato, para representar uma determinada organização política e honrar os seus princípios fundamentais. Enquanto representante de uma República Federativa tem a obrigação de transcender o seu corpo físico, a sua pessoa individual, para encarnar, personificar o que está sendo representado: O Estado Democrático de Direito, segundo os termos da nossa constituição. É por esta razão que o indivíduo de chinelos deve recolher-se sob a forma da liturgia, da indumentária, enfim, de todo o aparato que possibilita a investidura do cargo.
‘Há ainda um outro aspecto da fotografia que merece ser comentado. O presidente é eleito para um mandato, temporalmente circunscrito, para a realização de uma incumbência, missão ou delegação. Claro, no dia a dia, ele volta a ser o indivíduo Jair toda vez que ele sai de cena. A fotografia, entretanto, relativiza “temporalmente” essa separação; ela impede que se delimite exatamente a ocasião em que foi tirada, se num momento antes ou depois do expediente do presidente. Se num momento em que se deveria esperar encontrar o presidente no exercício da sua função, ou simplesmente o indivíduo Jair, desincumbido das suas tarefas diárias, dos negócios de Estado, pronto para o merecido repouso e para sair de cena. A indistinção não seria relevante se ela não integrasse um contexto marcado por transgressões sistemáticas das separações que constituem a organização espacial e simbólica da ordem política”.
“A República de Chinelos” (págs. 19, 20, 21).

Trocando em miúdos a autora afirma que ao não distinguir sua persona privada da sua persona presidencial, Jair Bolsonaro, na verdade, sob o disfarce do “homem comum”, está demonstrando todo o seu desprezo pelas instituições republicanas e pelo estado democrático de direito e ao dialogar, com tal insólito look, apenas e tão somente com seus apoiadores mais exacerbados, ele revela explícita e claramente a sua intenção de marginalizar todos aqueles que não coadunam com suas práticas e propostas.
A autora analisa, de forma precisa, tudo o que a foto de março de 2019 representa mas não apenas a foto. São instigantes também as considerações feitas sobre o pronunciamento a seus apoiadores transmitido de uma área de serviço para a Avenida Paulista em 2018 e o destempero da deprimente reunião ministerial de abril de 2020.
Destinadas a identificar Jair Bolsonaro como um “homem comum”, contra o sistema, estas representações, na verdade, destroem a ritualística do poder e deixam a descoberto todo o “o abuso do arbítrio, o monopólio da obscenidade”, nos dizeres, mais uma vez precisos, da autora.
É mais do que oportuno registrar que esse livro foi finalizado e publicado antes dos funestos acontecimentos do último dia 08/01/2023 em que os bolsonaristas, ao depredar símbolos da república federalista e do estado democrático de direito, pretendiam, ao fim e ao cabo, destruir a própria república federativa e o próprio estado democrático de direito.
Para encerrar é oportuno reproduzir parte do posfácio, de autoria do filósofo e professor Newton Bignotto:

“Sem pretender antecipar o que vai acontecer, Luciana Villas Bôas mostra as possibilidades concretas do presidente (Hoje ex presidente). Servindo-se de análises de aspectos múltiplos da realidade atual, o livro nos abre para a compreensão dos riscos que corre a democracia brasileira e para os caminhos que podem levar à sua destruição”.

Livro excelente, surpreendente e fundamental.
Leia e releia!
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