Na Instrução dos principiantes, Hugo apresenta o treinamento em que eram conduzidos, sob a guia do mestre de noviços, os recém-chegados à escola, cujo objetivo era aprender “o bom termo e a medida adequada em todas as palavras e ações”, isto é, a disciplina: como se comportar e governar o corpo ― no caminhar, nos gestos, na fala, no tratamento dos outros e nos modos à mesa. Esse aprendizado de autodomínio corporal era anterior ao estudo das letras descrito no Didascalicon, pois, segundo o mestre, “os movimentos desordenados do corpo refletem a corrupção e a dissolução da mente”, e, para ingressar no caminho da sabedoria, é preciso antes imprimir na mente, pela disciplina do corpo, a forma da virtude.
Pequeno no tamanho, gigante na mensagem. Nesta breve obra o mestre Hugo discorre sobre a conduta de vida: aquilo que precede aos estudos filosóficos e teológicos propriamente ditos. Ensinamentos refentes ao modo de se portar diante das pessoas, à conduta adequada e condizente a cada tipo de ambiente; ao que falar, quando falar, de que modo falar, a quem falar, e principalmente quando calar. Mestre Hugo explica muito bem as corrupções e deformações da mente são expressas em movimentos desordenados do corpo, e que tais movimento desordenados e caóticos não podem ser subestimados, antes devem ser corrigidos por meio da disciplina, com a finalidade de ordenar a mente.
Fiquei bastante impressionado com a leitura deste livro, que serve a todos os brasileiros, não apenas os que procuram a vida intelectual. Aqui a ênfase recai na postura, no comedimento, na expressão verbal e não verbal, nos gestos, na forma de andar, comer e se portar. O equilíbrio dos gestos e das ações aponta para o equilíbrio da alma e do ser, algo que modernamente tem sido enfatizado na psicologia e neurociências atuais (cf. os primeiros capítulos de 12 Regras para a Vida, de Jordan Peterson). Tal conhecimento era senso comum na Idade Média, infelizmente esquecido e relegado ao ostracismo pelo cinismo e incivilidade moderna. O livro é bastante claro e fácil de ler, lembrando em estilo a obra Regras para a Vida Cotidiana, de Louis Lavelle. Enfim, é uma obra recomendadíssima, inclusive deveria ser lida antes de qualquer introdução à vida intelectual ou à leitura, incluindo aí as outras obras de Hugo de São Vitor.
O livro é pequeno em tamanho, mas inabarcável em conhecimento no que diz respeito a iniciação na vida intelectual, pois o mesmo de forma sucinta expressa os bons modos de agir para alcançar a ordem nas mais variadas formas de manifestações da alma, seja no campo "físico" em como agir, seja no campo "metafísico" no trato com os demais.
Acredito ser imprescindível a quem busca não somente a compreender como os medievais pensavam sobre a importância da ordem para o estudo, mas também resgatar e aplicar tais conhecimentos em suas práticas diárias.
Livro sucinto porém rico e muito objetivo, é exatamente o que faz resplandecer este livro com conselhos aos principiantes de Hugo de São Vitor. Cada capítulo traz uma bagagem de conhecimento riquíssima.