Em plena pandemia, um médico reformado está confinado na casa onde vive só, atormentado por recordações dolorosas, quando lhe bate à porta uma mulher que ele nunca viu, mas que garante conhecê-lo bem. Duas irmãs que nunca se separaram um único dia caem num inesperado abismo e, por causa de um incidente, passarão sete anos sem se ver. E quatro cães desempenham papéis importantes nas vivências das personagens principais, cujas vidas acabam por se cruzar da forma mais inesperada.
Cuidado com o Cão é uma narrativa comovente sobre amor e redenção. Um livro carregado dos mais fortes e inconfessáveis sentimentos, e onde subitamente surge o enfermeiro Luís Gustavo e onde o carismático médico Pedro Gouveia assume um papel preponderante.
Sem constituírem nenhuma série, O Pianista de Hotel, Jogos de Raiva e Cuidado com o Cão têm a particularidade de tecer uma rede de personagens que se cruzam continuamente. Mas se é verdade que cada um destes romances tem uma história autónoma e se basta a si próprio, também é verdade que no seu conjunto constroem algo maior, um universo único onde estamos sempre desejosos de regressar.
RODRIGO GUEDES DE CARVALHO nasceu no Porto, a 14 de Novembro de 1963. Licenciado em Comunicação Social, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, profissionalizou-se na RTP. Actualmente é subdirector de Informação da SIC. Em 1997 recebeu o Prémio Especial do Júri do Festival FIGRA, em França, pela reportagem A condição humana, sobre as urgências hospitalares. Em 1992 estreou-se na escrita, com o romance Daqui a Nada, vencedor do Prémio Jovens Talentos da ONU, conhecendo uma reedição pela Publicações Dom Quixote, em 2005. Nesse ano lançou o best-seller A Casa Quieta e assinou o argumento da longa-metragem Coisa Ruim, co-realizada pelo seu irmão Tiago Guedes. É ainda autor de A Mulher em Branco (2006), Canário (2007), O Pianista de Hotel (2017), Jogos de Raiva (2018) e Margarida Espantada (2020).
Depois de "O pianista de hotel" esperava que este livro me arrebatasse, pois algumas das personagens voltam a surgir aqui. Até meio estava rendida à história, mas depois parece que RGC se esquece das gémeas, cuja narrativa é abruptamente terminada para dar ênfase a Pedro Gouveia, com a entrada de uma personagem que torna bastante óbvio o que acaba de acontecer na vida do médico. Daí em diante, o livro parece seguir uma série de acontecimentos que se assemelham às novelas e perdi um pouco o interesse. No fim, parece que se cola tudo à pressa. Bastante longe dos sublimes Pianista, Margarida e Jogos, os romances da 2a fase do autor. Embora tenha gostado do Cão, não me convenceu ( é um 3,5).
🐶💛 “Cuidado com o cão. Não conhece a razão. Mostra-lhe quem manda, quem é o patrão. O cão é só bicho, vasculha no lixo que fareja na rua, passa noites inteiras a uivar à lua. Cuidado com o cão. Apanha-te a mão, o braço, o peito. E chega ao coração. E no coração o cão deita-se e não. Não te deixa nunca mais. Se entras ou sais, se ficas ou vais, o cão fica à espera e só espera a tua mão. Se por vezes queres ou já não, se pensas ainda na solidão. Venhas triste ou zangado, feliz ou mutilado. O cão ao teu lado. Deitado. Dentro do teu coração.” - Rodrigo Guedes de Carvalho
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“Luciana nunca tinha tido um cão, não poderia saber o que é suposto acontecer ou considerado normal. O mesmo se aplica ao Palito, que do existir por aí conhecia apenas a fome e a fuga. Tiveram de ensinar e aprender ao mesmo tempo, o que não demorou muito e se revelou fácil - a vida era estarem sempre juntos.” - Rodrigo Guedes de Carvalho
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“É sempre o Sininho. São todos o Sininho. Pedro Gouveia olha para o cão. Está a dormir. Já não vai a sítio nenhum e ainda bem, ele agradece receber na sala confortável o Sininho, que trás no olhar todos os que foram o Sininho antes del, e Pedro Gouveia tem a certeza de que o Rafa está na sala, também a dormir, sem frio ou fome ou o chumbo da espingarda no quadril, e a Mafalda está também na sala. O que ela gostaria , pensa o pai, de escutar Petra Chissomo a dizer que os cães nunca nos deixam e que a morte deles não existe, apenas se revezam a regressar para junto de nós.” - Rodrigo Guedes de Carvalho
A escrita é maravilhosa. Tem uma certa dificuldade inicial para montar o puzzle das personagens, mas depois de superar esta dificuldade é só aproveitar a paisagem e deliciarmo-nos com cada palavra
Início da leitura: 12/01/25 Término da leitura: 17/01/25
Rodrigo Guedes de Carvalho conquista-me pela forma como me convence a entrar na história e na vida das personagens que cria. A intensidade psicológica, as emoções retratadas e as vidas que nos apresenta compõem um enredo que me agarra e me deixa a matutar nas personagens como se elas existissem de facto. A última parte da história peca por não apresentar, na minha opinião, a mesma intensidade e, consequentemente, um esfriar da ação da narrativa. De qualquer modo, as personagens são encantadoras, bem como as suas histórias. Motivos para ler um livro: desperta sentimentos e leva-nos a "conhecer pessoas".
Adorei!!! Há livros que parece que quando os lemos na altura certa nos transmitem a mensagem que precisávamos ouvir. Repleto de emoções, uma encruzilhada de personagens que nos cativam imediatamente e o amor aos animais. Aos cães da nossa vida.
Por motivos diversos, tem sido cada vez menos frequente escrever reviews aqui no Goodreads. E, no entanto, hoje tinha de o fazer.
Celebrizado como pivô de noticiário, Rodrigo Guedes de Carvalho (RGC) é, também, um grande escritor. E, embora pudesse ir pela via dos best-sellers mais ou menos bem-conseguidos, como alguns dos seus colegas no jornalismo, RGC optou pelo mundo mais desafiante (e talvez mais ingrato) da pura literatura.
Assim, neste recente "Cuidado com o cão", RGC volta aos ingredientes que lhe reconheço de outros títulos por si escritos: um olhar atento, personagens com tanto de "bons" como de "maus" (humanos, no fundo), e aquela forma certeira como explora os fantasmas e demónios das suas personagens - e que, mais que isso, podem ser os fantasmas e demónios que, mais coisa menos coisa, todos trazemos dentro.
Deste modo, é a partir da vida de Pedro Gouveia, um cirurgião de 79 anos, que o enredo evolui: a juventude, a conquista de sucessos, a vida que acaba para as que mais ama. E, para as várias etapas da vida, o elemento comum são os cães - que talvez sejam sempre o mesmo cão - que surgem como mecanismo de redenção e, literariamente, como ponte para a outra história (a das gémeas) que corre paralela com igual intensidade.
Em resumo, e de forma simplista, tenham noção que está aqui um grande livro!
Mas gostava de ler outro livro do escritor, acho que escreve muito bem mas contudo a história não me cativou por muito tempo (tornou-se repetitiva e aborrecida).
Se no início quebrei no entusiasmo por esta última trama do RGC com o reencontro com o Dr. Pedro Gouveia (O pianista de Hotel) que me deixou com o coração na boca, rapidamente recuperei com a ação de Luciana. E a partir daí foi um carrocel de emoções e um carinho cada vez maior por estas personagens tão humanas que se tornaram próximas, e que me acompanharam mesmo quando não estava entre as páginas do livro. E é isto que adoro num bom romance, quando sou transportada para uma estória que é muito atual, com vidas que reconhecemos e não são existências felizes mas completas. Alguns assuntos são caros ao RGC como as doenças mentais, a disfuncionalidade de alguns relacionamentos, a pressão das redes sociais mas há sempre um tema dominante: os afetos.
Cuidado com o cão que dorme no coração. E são quatro cães, ou apenas um, mas é um romance que emociona e vicia. Como os outros três que o precederam. Gostei muito.
Este romance fecha o ciclo iniciado com O Pianista de Hotel, desta vez a partir de Pedro Gouveia e as suas agruras. Mas juntam-se também outras personagens, as gémeas trapezistas, cujas histórias se entrelaçam com a de Pedro Gouveia, e uma personagem que parece saída do realismo mágico, Petra. A solidão e a catarse são temas fortes, sempre com a música dos Beatles que percorre o romance.
Nos seus romances, a vida acontece. Pura e dura, sem "arranjos florais" ou subterfúgios. Nada é deixado ao acaso e há sempre lugar para temas da atualidade, como maus tratos a animais, violência doméstica, entre outros. O ser humano na sua essência...a melhor pessoa é também capaz do pior... E faz todo o sentido que assim seja!
Que livro! Que maravilha de estória! Uma estória atual, com várias estórias que podem ser parte do cotidiano de qualquer um. Uma estória cheia de emoções. Magistral como o autor nos consegue fazer criar afecto pelas diversas personagens, tanto pelas humanas como pelos animais
Gostei muito, mas houve passagens que me fizeram lembrar novelas ou romances de cordel, coisa que o autor diz não apreciar... Senti-me envergonhada comigo mesma quando constatei que no fundo eu e se calhar tantas pessoas, somos na verdade preconceituosas, vivemos de ideias pré-concebidas e de estereótipos, embora pensemos que não... Quando o médico Pedro Gouveia pergunta à enfermeira Adriana se ela é irmã de uma Luciana que está no Magalhães Lemos, tendo em conta a personalidade da Luciana, não pensei que ela fosse enfermeira como a irmã... Pensei que lá estivesse internada... Quando descobri que afinal a Luciana também era enfermeira parece que senti vergonha do meu pensamento anterior... Já falei com duas ou três pessoas que tiveram a mesma ideia... No fundo, somos mais preconceituosos do que pensamos ..
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Agradável surpresa! Não tinha qualquer expectativa (ou talvez tivesse, por comparação com outros jornalistas pseudo-escritores) e, talvez por isso, conseguiu deixar-me uma impressão bastante positiva. Gostei em particular da composição com vários tempos presentes e do ritmo do enredo. Pena que lá mais para o final grande parte da "acção" seja condensada nas reminiscências "pós-vida". É como se o final tivesse sido um pouco atalhado por falta de "espaço paralelo" com outras personagens. Ainda assim, muito bom.
Adorei o livro! O livro que li anteriormente, o pianista do hotel, fez-me perceber melhor a escrita do Rodrigo, e como tal, encantei me pelo livro, comecei a ler pelas "entrelinhas" e a entender melhor o que ele queria dizer. Gostei muito do final, apesar de ter sido um pouco apressado, mas adorei. Recomendo a leitura.
Rodrigo Guedes de Carvalho tem um estilo de escrita muito próprio que eu adoro. Este é o terceiro livro que leio deste autor e em todos fiquei de queixo caído. Adoro a forma como ele pega nas personagens e as entrelaça. Como nos faz amá-las numa página e odiá-las na seguinte. Como dá, literalmente, a volta ao texto e transforma frases vulgares em verdadeira poesia.
Como costume, não vos vou revelar nada sobre a história, se quiserem ler a sinopse saberão onde está disponível. Posso adiantar-vos que ficarão comigo duas gémeas cuja ligação é explorada de forma genial. Ficará também um pai dedicado, esposo imperfeito, corroido pela dor. E, por fim, um cão. Ou talvez mais do que um, apesar de serem sempre o mesmo.
Se nunca leram nada do Rodrigo Guedes de Carvalho por puro preconceito (o título de figura pública pode arrastar alguma descrença) não sabem o que estão a perder. Sem dúvida, um dos meus contadores de histórias preferidos.
Foi o primeiro livro que li do RGC e fiquei muito surpreendida. Não esperava uma escrita tão lírica, sobre temas que se resumem na tragédia da vida humana. Algumas vezes tive de parar para respirar e absorver o que estava a ler. Li num dia e sem dúvida irei ler todos os outros do autor
Adorei! É um livro completamente diferente dos que estou habituada a ler e a escrita de R.G.C. surpreendeu-me, fazendo-me lembrar de Saramago (aproximação mais forçada, claro). Trata-se de uma narrativa motivada por um retrato (fiel) do quotidiano e de realidades que nos são próximas - alguns segmentos são referentes ao período pandémico e ao modo como a esfera social lidou com a situação. A história é interessante, sobretudo porque das 4/3 personagens centrais, há uma alternância na focalização de ambas e nas linhas temporais. As descrições e adjetivações são múltiplas e enriquecedoras. Por vezes, pode até dar a sensação que são exaustivas e desnecessárias, mas, nos capítulos seguintes, entende-se o porquê da sua inclusão e como são uma fonte de cultura. Por isso, é daqueles livros que dá vontade de ler ininterruptamente, para que as peças encaixem e tudo faça sentido. Talvez o final seja a única coisa a apontar de menos positiva, porque achei "muito apressado".
Não entendi de todo este livro 🫤 O plot não me faz sentido nenhum. Começa a contar a história de uma gémeas trapezistas cujo background de artistas circenses não tem relevância nenhuma para a história. Até parece que o RGC quis escrever uma história passada no mundo do espetáculo, mas que a meio se arrependeu 🤷♀️ Depois entendemos que quer falar sobre a vida de um médico que entendemos no início que morreu. Aparecem uma série de cães na história que também estarem ou não estarem vai dar igual. Não será preciso ter cuidado com o cão 😅 E as personagens são tão fracas, principalmente as personagens secundárias amigas do Doutor Pedro Gouveia. As gémeas cuja história acompanhamos durante todo o livro , têm um percurso e um final aborrecido. Nada contribuiram para a história principal. O RGC é também muito respetivo a narrar os eventos. A escrita é boa e entendo que seja um livro mais sobre emoções do que ações propriamente ditas, mas a história deixa muito a desejar. Creio que se conseguiria o mesmo efeito com uma história melhor contada.
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Que boa surpresa. Lindo. Devastador e doloroso do início ao fim. Este é daqueles livros que realmente só começam a fazer sentido a partir do meio, mas depois disso é impossível largar.
“Mas vivemos, vive-se com o resto de nós. E novas esperanças nascem depois, devagarinho. Somos assim. Somos isto.”
“No dia 25 de Dezembro de 1995, Pedro Gouveia chorou de felicidade com o cão morto aos pés. Parece uma gralha, quem é que pode chorar de felicidade com uma morte, caramba. Mas tem explicação. Pedro Gouveia abraça o cão que viveu quinze anos na casa, o cachorrinho que a filha trouxe uma manha da miséria gélida das ruas, e que acaba de partir embalado pelo amor, sem ter vivido um dia de fio ou fome ou pancada.”
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Primeiro livro que li do autor. gostei da escrita, sendo que a história é um pouco complexa para uma leitura leve. tem várias personagens diferentes, cada uma com uma história própria e longa, e estamos até ao final à espera que certas linhas se cruzem
edit: se gostam muito de cães como eu CUIDADO poderão chorar
Eu apaixonada me confesso. O RGC consegue sempre contar histórias como ninguém, ninguém mesmo. Cria personagens com uma densidade e humanidade extraordinária… personagens que erram como todos e também escondem os seus erros. Personagens que ficamos a conhecer de tal forma que não queremos largar. Em mais um romance que em tantos momentos parece poesia pura fala-nos de um médico (já visto noutros livros do autor) em todas as suas vertente - marido, pai e dono de um cão, mas também médico, colega… Tal como nos apresenta duas gémeas com uma relação entre elas muito especial. Faz-nos chorar a morte, sofrer com a distância, viver a angústia de erros do passado, experimentar o medo das decisões difíceis e ainda reviver os períodos difíceis de isolamento e confinamento que vivemos. Porque o RGC conhece muito bem as pessoas, cria pessoas como ninguém.
Se tiverdes oportunidade, escutai a versão audiolivro, narrada pelo autor. Uma maravilha. Um livro que se materializa numa espécie de realidade aumentada, estamos lado a lado com as personagens, rimos e choramos lá, com eles.
"E eu amo-te, e eu amo-te, e eu amo-te E eu amo-te, e eu amo-te, e eu amo-te E eu amo-te A paz virá, a paz virá A paz virá com o tempo Um tempo virá, um tempo virá Um tempo virá para nós..."
“Cuidado com o Cão”de Rodrigo Guedes de Carvalho foi um misto de emoções, de apreciação e frustração. Há algo de envolvente e carismático na escrita e na forma como RGC observa a condição humana, mas, ao mesmo tempo, a narrativa torna-se extremamente cansativa.
A minha principal dificuldade foi lidar com a repetição e estrutura narrativa. A leitura torna-se pesada, não tanto pela densidade dos temas, mas porque a sucessão constante de tragédias acaba por diluir o impacto de cada uma.
Há uma sensação de que o sofrimento se acumula por efeito de catálogo, quase como se o objetivo fosse apenas chocar o leitor, em vez de explorar verdadeiramente as consequências emocionais de cada uma destas experiências. O resultado é uma narrativa saturada de adversidades, onde cada novo drama parece apenas mais um “next trauma, please”, pior que uma novela onde já não se sabe o que inventar de tragédia para os personagens.
A personagem Mafalda, que inicialmente me pareceu uma das personagens mais bem construídas do livro, perde profundidade a meio da narrativa. A trajetória, que prometia um desenvolvimento coerente e equilibrado, é bruscamente interrompida para dar lugar a mais um momento traumático. Esta foi uma de muitas decisões narrativas que fizeram com que sentisse que o livro desperdiça o potencial das suas personagens ao preferir o efeito e choque imediato em vez de uma introspeção cuidada.
Os últimos capítulos, curiosamente, são os mais equilibrados e interessantes, com algum surrealismo à mistura. Ainda assim, depois de tanta dor concentrada, senti-me quase anestesiada. É como se o livro tivesse gasto toda a energia emocional demasiado cedo para que o final tivesse qualquer tipo de impacto no leitor.
Em suma, “Cuidado com o Cão” tem uma escrita fluida e partes de sensibilidade emocional, mas acaba por pecar pelo excesso. Falta-lhe espaço para respirar e para permitir que o leitor sinta, em vez de apenas assistir a mais uma e outra desgraça.