Esta obra analisa o modo como o regime ditatorial português do Estado Novo e a sua polícia política contaram com portugueses para denunciar outros, de que forma os recrutaram e porque aceitaram muitos colaborar com a polícia, prejudicando e destruindo vidas. Revela também que muitos se candidataram a informador da PIDE/DGS junto da tutela do Ministério do Interior ou de outros organismos do Estado, mas também que muitos menos foram aceites por essa polícia para o serem. Com recurso a exemplos, demonstra de que maneira uma cultura de denúncia abalou o sentido ético em Portugal, marcando a sua História de forma trágica.
IRENE FLUNSER PIMENTEL nasceu a 2 de Maio de 1950, em Lisboa. Licenciou-se em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1984) e conclui o mestrado em História dos Séculos XIX e XX, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com a tese Contributos para a História das Mulheres no Estado Novo: as organizações femininas do Estado Novo (Obra das Mães pela Educação Nacional e Mocidade Portuguesa Feminina), 1936-1966 (1996), onde se doutorou em História Política e Institucional Contemporânea, com a tese A polícia internacional de defesa do Estado/Direcção Geral de Segurança (PIDE-DGS) 1945-1974 : história da polícia política do Estado Novo (2006). Foi bolseira de pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, com um projecto sobre a justiça política pós-25 de Abril, e é investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC-FCSH/UNL). Colaborou ainda, entre 1994 e 2008, na revista História, da qual foi editora até final de 2001. Publicou diversos artigos de História em jornais e revistas portuguesas e estrangeiras, sobre diversas instituições do Estado Novo - organizações femininas e de juventude, polícia política -, a Segunda Guerra Mundial, o nacional-socialismo alemão e o Holocausto, entre outros temas. Colaborou em enciclopédias, dicionários e obras conjuntas. Participou em exposições, colaborou em documentários e programas de rádio e televisão e intervém regularmente em colóquios, conferências e seminários. Distinguida com o Prémio Pessoa (2007), com o Prémio Seeds of Science, na categoria «Ciências Sociais e Humanas» (2009) e com a a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores (2025) e foi condecorada com a Ordem Nacional da Legião de Honra pelo Governo de França (2015).
Os informadores da polícia política não foram tantos como se pensou (acreditar que metade do país espiava o outro ajudava ao medo e à apatia), mas existiram. E muitos foram informadores, nem sempre por entusiasmo ideológico, mas também pela remuneração, a sensação de partilha de poder e o simples desejo de prejudicar alguém. Apesar disso, e de as comunidades saberem quem eram os informadores, poucos foram julgados e punidos por essa acção. Esse facto, conclui Irene Pimentel, contribuiu para que o assunto se perdesse na memória colectiva, mesmo que a delação não fosse bem aceite mesmo durante a ditadura. Ao perder-se do discurso público, interroga-se Pimentel, em que medida não terá isso contribuído para a repetição de comportamentos durante a democracia e para um fácil branqueamento da ditadura que hoje se ouve e lê nalguns círculos, acrescento eu eu?
Apesar da obra proporcionar algumas informações historicamente interessantes, o sentimento final é o de algum revanchismo contra o regime que vigorou até 1974. Em todas as informações proporcionadas sobre a autora são sempre convenientemente ocultadas as suas ligações à esquerda em Portugal, mas vale a pena ler a página da wikipedia (em inglês) sobre a mesma: "Pimentel was politically active until 1978. She had Marxist-Leninist views. After leaving school she spent a year in Paris, together with the large number of Portuguese Communist Party (PCP) and other Portuguese exiles. After the April 1974 Carnation Revolution, which overthrew the Estado Novo, she worked with the Communist Electoral Front (Marxist–Leninist), which participated in the elections for the Constituent Assembly that drafted Portugal's new constitution." Na minha visão, é sempre complicado ser juiz em causa própria. O que me causa estranheza em certos sectores da esquerda em Portugal, é a crítica que é feita constantemente aos métodos do regime quando, na realidade, a intenção (à data da revolução), era substituir uma ditadura de direita por uma de esquerda, onde os métodos seriam seguramente os mesmos - talvez se substituisse o Tarrafal pela serra da estrela para dar um gostinho a Sibéria. De resto, acho importante que a memória não desapareça e que é importante que todos os crimes sejam denunciados, principalmente aqueles que ficaram por punir. Ainda assim, acho alguma graça a muitos que hoje ostentam o título "anti-fascista" como se de uma medalha se tratasse. Um grande anti-fascista foi por exemplo Joseph Stalin, e nem por isso deixou de ser um dos maiores criminosos da história. Não houve "bufos" na União Soviética???