ANA CRISTINA SILVA nasceu em Vila Franca de Xira, a 11 de Novembro de 1964. Professora no ISPA [Instituto Superior de Psicologia Aplicada] desde 1992, concluiu o doutoramento em Psicologia, na Especialidade de Psicologia da Educação pela Universidade do Minho em 2001, desenvolvendo investigação neste domínio. Tem artigos científicos publicados em revistas e obras colectivas portuguesas e estrangeiras. A sua estreia literária ocorreu em 2002 com a publicação do romance Mariana, Todas as Cartas. Em 2012, o seu romance Cartas Vermelhas foi seleccionado para a short list do Prémio Fernando Namora, facto que se repetiu em 2013, com a obra O Rei do Monte Brasil.
À procura da Manhã Clara é sobre a vida de Annie Silva Pais, filha única do último director da PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
Annie foi educada nas mais tradicionais regras conservadoras da época e do regime. A mulher existia para ser a mãe extremosa, a esposa dedicada, uma verdadeira fada do lar, submissa ao poder patriarcal do pai, do irmão e, mais tarde, do marido.
Embora Annie tivesse um espirito rebelde e fosse uma mulher de grandes paixões acaba por “fazer a vontade” à mãe e casar com um diplomata suíço, Raymond Quendoz.
Em 1962 o marido é colocado na embaixada Suíça em Cuba e ambos partem de Lisboa para Havana. Em Cuba tudo mudou, Annie acabou por se divorciar e juntou-se ao ideal comunista - uma posição completamente contrária à da família que era de apoio total ao regime salazarista – trabalhou como tradutora, fez parte do aparelho e dos Comités de Defesa da Revolução, em suma fez parte da revolução cubana e foi uma pessoa da confiança do regime de Fidel Castro.
Quando se deu o 25 de Abril de 1974 - o dia do Holocausto para a mãe de Annie - o pai foi preso e Annie regressou temporariamente a Portugal.
Esta foi a parte que mais interessante porque faz parte da nossa história recente (vivida por mim e por grande parte daqueles que irão ler o livro). Recordou-me o 25 de Abril (ao qual eu assisti porque tinha acabado de chegar a Portugal), o Verão Quente de 1975, o PREC, o 25 de Novembro, à subida da Aliança Democrática ao poder com Sá-Carneiro como Primeiro-Ministro, o acidente de Camarate e os primeiros tempos de Cavaco Silva.
Annie acabou por regressar a Cuba após a morte do pai, e é por lá que terminou os seus dias.
Um dos pontos negativos neste romance são as personagens que gravitam em torno de Annie. Não ficamos a conhecer verdadeiramente nenhuma, e mesmo a mãe, a grande antagonista de Annie, pareceu-me simplória e sem profundidade.
Já li muitos dos livros publicados por Ana Cristina Silva, se não todos mesmo. Gosto da sua escrita simples mas, ao mesmo tempo, poderosa. Às vezes nem se dá por ela o que, a meu ver, é algo muito positivo.
Creio que é o caso deste livro. Saber contar uma história de alguém desconhecido por muitos, mas fazê-lo de uma forma clara, intensa, que nos agarre de imediato às palavras é mérito que tem de se atribuir ao autor, neste caso, à autora!
Faço parte do número de pessoas que não sabia da existência de Annie Silva Pais, filha do último director da PIDE, e gostei muito de ficar a conhecer toda a sua irreverência, vontade indomável, numa época em que as mulheres portuguesas pouco tinham a dizer ao país, muito menos ao mundo.
Rebelde, num país que a queria submissa, Annie foi uma mulher fora da caixa e, aos poucos, soube o que queria fazer da vida, o que defendia e em que acreditava. Sempre em confronto com as ideias da mãe, que a queria dobrar às suas vontades, é, no entanto, com o pai, que adora, que vem a sentir mais desconforto devido aos ideais que abarca e que são o oposto dos preconizados pelo diretor da PIDE. Este dilema interno de amor/ódio vai marcá-la sempre. Defensora da liberdade e de ideais muito pouco salazaristas, é em Cuba que encontra o caminho que idealiza e que pretende seguir.
Muito, muito interessante, esta história, contada com mestria por esta autora, boa parte através de cartas que supostamente Annie escrevia mas não enviava. Apraz-me dizer que Annie era uma amante de literatura e adorei as referências a autores mencionadas aqui.
Interesting fictional narrative of the life of the daughter of the last director of PIDE (Portuguese political police), who ran away to Cuba and joined the communist regime.
Um livro que me apaixonou. Fez-me regressar à minha adolescência e às regras de bom comportamento impostas às meninas. Os medos do salazarismo. E depois... depois a revolução que nos fez sonhar com o Che Guevara. Como compreendo a Annie! Um livro a não perder para quem queira reviver. Ou para os mais jovens perceberam um tempo, por vezes, ainda incompreendido . Boas leituras
Leitura fluída e intensa de um tempo de Cuba e de revolução.
A capacidade de caracterização das personagens levadas a cabo pela autora, prendem de uma forma maravilhosa, onde a realidade e ficção estão muito bem engendradas.
O livro foi terminado em fevereiro deste ano, mas para um dia voltar.
A propósito de ingratidão, desde muito cedo que Dona Nina se viu confrontada com a insolência e rebeldia da filha Annie, a menina do papá, sempre tolerada, a gravidade do seu comportamento a ser esbatida pela autoridade paternal. Annie cresceu com demasiada liberdade, não só com os namorados, mas com as suas leituras e suscetível à influência de ideias subversivas.
À 𝑷𝒓𝒐𝒄𝒖𝒓𝒂 𝒅𝒂 𝑴𝒂𝒏𝒉ã 𝑪𝒍𝒂𝒓𝒂 é um romance biográfico sobre Annie Silva Pais, filha do director da PIDE, Fernando e de Armanda (Nita) Silva Pais. O pai que representa a opressão, o fascismo de um Portugal cinzento e pobre é, contudo, objecto do seu amor apesar do antagonismo ideológico que os divide; a mãe representa a futilidade, a hipocrisia e o bem-estar da burguesia durante O Estado Novo. Annie vive numa constante angústia, primeiro por saber que o pai, o seu herói, é um dos principais responsáveis pela ditadura e repressão instauradas no país e, segundo, por perceber que não é amada pela mãe. Esta antipatia vai manter-se ao longo da narrativa, agudizando-se sempre que Annie toma decisões antagónicas aos ideais dos pais. O carácter de D. Nita está sublimemente caracterizado. A futilidade exposta nos registos que anota na sua agenda, a vaidade que estampa nos vestidos que manda fazer; a aparência elegante e cuidada que mantém no meio em que circula; a inclemência e os ciúmes que tem da própria filha tornam-na numa mulher infeliz e insensível. Este aspecto fica ainda mais patente quando é confrontada com a prisão do marido e com a doença da filha. Annie educada num ambiente conservador e retrógrado sente-se sufocar. Consciente da sua beleza e inteligência, desejosa de liberdade e de contrariar a mãe, apaixona-se por homens estrangeiros que lhe confirmam as suas já convictas impressões de um país pobre, triste e torturado. Impulsiva, apaixonada e irreverente vai casar-se com um diplomata suíço que a levará até Cuba. E aí, tudo muda na sua vida. Annie vai viver intensamente a revolução cubana, vai conhecer figuras históricas que deixam marcas indeléveis, vai ter relações fantasiosas e apaixonadas com homens importantes. Vai dedicar-se intensamente à causa, ao ideal de um país completamente diferente do seu. Gostei imenso desta mulher “impulsivamente apaixonada” pela revolução cubana. A caracterização psicológica de Annie e da mãe, na narrativa, torna este livro emocionante e arrebatador. E é essa densidade que nos revela a natureza impulsiva e corajosa da protagonista, assim como a tensão constante entre mãe e filha, ao longo do romance, nos permite compreender o conflito de classes, a diferença geracional e as políticas instituídas nos dois países. Outro aspecto que me agradou bastante está relacionado com a estrutura. A inclusão de cartas escritas na primeira pessoa e que nunca foram enviadas, como nos é dado a conhecer no prólogo, que resumem e contextualizam o que vai ser narrado no capítulo seguinte, permite à autora ficcionar um pouco o que foi a vida real e conhecida de Annie. O leitor aceita esses factos narrados como verídicos pois está completamente embrenhado nos conflitos da protagonista e vive de igual forma as suas emoções, desgostos e paixões. Recomendo muito.
Gostei muito deste livro pela profundidade das personagens, pela maneira como a autora consegue conjugar as dimensões psicológica, social e histórica. Também gostei da estratégia narrativa: o romance começa e acaba com uma caixa de sapatos que não tem sapatos, mas cartas que Annie, a protagonista, escreveu mas nunca enviou. Através dessas cartas, ficamos a conhecer melhor as motivações, as contradições e partes do enredo. Como amar um pai que representa ideais opostos? Como amar uma filha que traiu os valores que lhe foram inculcados? Que "manhã clara" procuramos?
A escrita da autora é simples e emotiva. Gostei, em especial, da personagem da esposa do antigo diretor da PIDE, mãe da protagonista, descrita do ponto de vista da filha e da sua própria perspetiva. Uma mulher do regime que nunca se habituou a viver nos novos tempos pós 25 de abril, nos antípodas da filha, sem ideologias, uma cabeça oca que fazia do luxo uma obsessão e uma prioridade, mesmo com a filha às portas da morte.
Quando comecei a ler o livro não conhecia a história de Annie, mas o livro fez-me procurar querer saber mais. Acho que bons livros são aqueles que a escrita consegue nos ensinar histórias verídicas através da ficção. Foi bom que este livro me permitisse aprender um pouco mais da história da Annie Silva Pais. A escrita de fácil leitura contribuiu muito para o processo. Se tiverem possibilidade, leiam este livro.
Gostei muito. Além de falar sobre factos históricos, ficamos a conhecer a vida de Annie Silva Pais, a filha do último diretor da PIDE, que teve um percurso diferente do que seria de esperar, ao juntar-se à revolução cubana, os seus amores e desamores, a relação com o pai e a mãe. Duro no final!
O romance está estruturado de uma forma muito interessante, em que cada capítulo começa com uma carta e após esta introdução, o capítulo desenvolve os acontecimentos que envolvem o momento mencionado na respetiva carta.
Apesar de já conhecer um pouco da história da Annie, achei que este romance pormenorizou melhor o trabalho desempenhado que desempenhou em Cuba e que a autora captou muito bem a sua essência, fazendo-nos perceber melhor o que teria pensado em vários momentos ou o que terá levado a certas ações.
Encantada com a escrita de Ana Cristina Silva, vou sem dúvida querer mais dos seus romances históricos e baseados em figuras femininas notáveis.
As duas mulheres retratadas no livro não me geraram simpatia. Curioso, no entanto, que ambas se achassem em extremos políticos, nunca conseguindo perceber que a família está acima das ideologias políticas, e que ambas fossem igualmente incapazes de ver as atrocidades cometidas por ambos os regimes.