Em seu romance de estreia, Jarid Arraes — autora vencedora dos prêmios APCA e Biblioteca Nacional — traz uma história impactante e impossível de esquecer, focada nas consequências do abuso físico e psicológico de crianças. Com uma prosa ágil e habilmente construída, ela mergulha fundo em uma narrativa sobre como as marcas da infância são construídas e como é possível lidar com elas.
Em uma cidade do interior do Ceará, uma família vive uma sequência de avó, mãe e neta estão presas em uma teia complexa e violenta de abuso e negligência. A dureza das expectativas criadas e não cumpridas, do ciúme doentio e do desejo de absoluto controle estão presentes neste primeiro romance de Jarid Arraes. Ao retratar o cotidiano de Amanda, jovem de doze anos que mora sozinha com a avó desde a morte da mãe e do avô, Arraes cria uma narrativa envolvente e brutal sobre os traumas vivenciados e passados adiante. Amanda vai enfrentar desafios cruéis e dolorosos pelas mãos daquela que devia ser seu porto seguro, mas é também lá que a menina descobrirá o poder do primeiro amor e a força necessária para superar qualquer obstáculo. Cerceando cada vez mais o dia a dia da jovem, a avó constrói um lar que muito se assemelha a uma prisão e, sob o pretexto de visões religiosas, suas atitudes levam a neta ao limite. Com uma carreira já estabelecida com livros de contos e literatura de cordel, Jarid Arraes lança seu primeiro romance, tão aguardado por quem já conhece seu trabalho. Com uma história complexa e profunda, Corpo desfeito é uma estreia inesquecível.
Nascida em Juazeiro do Norte, na região do Cariri (CE), em 12 de Fevereiro de 1991, Jarid Arraes é escritora, cordelista, poeta e autora do premiado “Redemoinho em dia quente", vencedor do APCA de Literatura na Categoria Contos, e dos livros “Um buraco com meu nome", “As Lendas de Dandara” e “Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis". Atualmente vive em São Paulo (SP), onde criou o Clube da Escrita Para Mulheres e tem mais de 70 títulos publicados em Literatura de Cordel.
Baita livro da Jarid Arraes. Sendo eu alguém com questões familiares mal resolvidas, foi uma leitura angustiante de se fazer, tanto que li aos poucos. Mas vamos lá:
Corpo Desfeito acompanha três gerações de mulheres - avó, mãe e filha - de uma mesma família no interior do Ceará, e mostra como os abusos físicos e psicológicos sofridos por uma geração acabam afetando as seguintes. A escolha de Amanda, menina de 12 anos e mais nova da família, como narradora permite à Jarid Arraes encontrar um equilíbrio entre o lírico e a crueza, entre a fragilidade e a inconformidade de quem ainda se permite perguntar por quê. E isso dá uma baita força ao livro.
Importante dizer: Jarid explora esses temas sem descambar em nenhum momento para o violence porn. A intenção da autora é outra. Pode pegar sossegado.
"Tudo o que eu sabia fazer era observar a brevidade daquela noite, como se a paz estivesse sentada junto de nós, mas seu prato já estivesse vazio e ela, a paz, limpasse as mãos na saia se aprontando para levantar e sair."
De bônus há um componente religioso plantado logo no primeiro capítulo que vai ganhando mais espaço na segunda metade da trama. Não é o foco, mas dá um gostinho especial e encaixa bem no quebra-cabeça dos tabus. Fica a recomendação.
Por vezes falam-me de livros chocantes mas quando os leio percebo que são apenas sucedâneos de outros, os originais, versões branqueadas de livros primeiros.
Este, pelo contrário, fala-nos da maldade brutal, do mal enquanto traço de caráter, de uma originalidade primordial do sofrimento. É um livro que transpira verdade e que nos deixa sem chão.
Uma prosa bastante forte, violenta e intensa que vai descrever e associar os processos de amadurecimento com a brutalidade da socialização feminina aliada com as narrativas de culpa e vergonha da simbologia & fanatismo católicos. Jarid Arraes tem um bom controle narrativo para nos apresentar as reflexões da protagonista e também desenvolver o enredo na medida certa.
Eu vi um tanto de terror nessa história. Principalmente pela questão religiosa que me assusta bastante. É um livro sobre como traumas por meio da violência física e psicológica atingem mulheres de uma mesma família e acaba caindo em uma psicopatia religiosa fundamentalista. É pesado. É perverso. É uma leitura muito boa, mesmo achando que o final poderia ter sido diferente mais violento ou até mesmo sobrenatural. Vale a leitura.
Os traumas de família se repetem e transformam e é agonizante acompanhar as dores psicológicas e fisicas que Amanda tem que passar. Me deu vontade de chorar em alguns trechos. Mas ainda assim, não dá vontade de largar o livro, muito bom.
A história me impactou profundamente. A escrita da autora é muito crua e ela consegue com as palavras representar a angústia da vida real, que nem sempre dá todas as respostas do jeito que queremos.
"corpo desfeito", romance de jarid arraes, é uma narrativa intensa e visceral que mergulha nas cicatrizes deixadas por gerações de violência. ambientado no interior do ceará, o livro acompanha três gerações de mulheres marcadas por abusos físicos e psicológicos, revelando como traumas se perpetuam e moldam vidas.
a história é contada pelos olhos de amanda, uma menina de 12 anos que, com sua inocência e sensibilidade, nos conduz por um ambiente opressivo e sufocante. sua perspectiva infantil, ao mesmo tempo lírica e crua, expõe as dores silenciosas e os questionamentos profundos sobre fé, família e pertencimento.
jarid arraes constrói uma narrativa poderosa, onde a violência não é apenas física, mas também emocional e espiritual. a autora aborda a psicopatia religiosa e o fanatismo que corroem as relações familiares, mostrando como a fé pode ser usada como instrumento de controle e opressão.
a escrita de jarid é direta e impactante, sem rodeios, mas carregada de emoção. cada página é um convite à reflexão sobre as dores herdadas e a possibilidade de quebrar ciclos de sofrimento. a leitura é dolorosa, mas necessária, e nos faz questionar até que ponto somos moldados pelas experiências de nossos antepassados.
"corpo desfeito" é um livro que permanece com o leitor muito depois da última página, provocando um turbilhão de sentimentos e reflexões. uma obra essencial para quem busca compreender as complexidades das relações familiares e os impactos duradouros da violência.
pontos altos: a linguagem e as dinâmicas familiares narradas trazem muita identificação ou verossimilhança, o que prende bastante o leitor. a ambientação também segue essa linha e não parece artificial, surge aqui um novo romance do nordeste urbano, onde seu lunga, rouge e britney coexistem como referências. quanto à linguagem há a medida certa entre marcas da oralidade e simplicidade vs algumas pinceladas de prosa poética (me lembrou um pouco a carla madeira nesse sentido).
pontos fracos: há umas incoerências na escolha da narradora que dps de notada, põe em cheque mt coisa. parece que na segunda metade esses problemas se revelam: o enredo fica bastante circular/sem fluxo narrativo, o tempo e a construção dessa narradora-personagem se tornam incoerentes tbm, o final é apressado e meio anticlimático.
valeu a leitura, até porque foi bastante fluida. a escrita da jarid é muito boa e pega o leitor nessas identificações, só errou um tiquinho em algumas escolhas (finais sobretudo) — quem sabe se fosse um conto, talvez nem teriam rolado inclusive.
Uma metralhadora de violência com pouco enredo. Ele te prende porque você quer saber se a menina Amanda vai sobreviver, mas no fim a vó carrasca morre e pronto. Ela tá livre. E aí?
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“Era como tornar mais vazia, e oca, e murcha, uma menina de doze anos que já se sentia cheia de buracos.”
Corpo desfeito é um livro de sentimentos cortantes. Uma vida que não é muito vida, uma violência que começou há tantas gerações que já não se sabe mais de onde o mal se originou. Dor herdada é dor que continuará sendo herança.
Foi doloroso ler a história de Amanda, querer entrar no livro e libertá-la de tanta gente ruim, mas também foi uma experiência repleta de reflexões. Jarid Arraes me acertou em cheio com essa escrita.
Não conhecia a escrita de Jarid, mas fiquei simplesmente impactada pela dureza e profundidade de suas palavras. História pesada, bruta, mas que ainda assim consegue mexer demais com a gente. Recomendo muito! Leiam!
Impactante, visceral, um soco no estômago. Um livro triste mas ao mesmo tempo bonito e necessário. Necessário pra refletir sobre o patriarcado, sobre abuso, sobre traumas. Um livro que vai ficar na minha memória por um tempo, sendo processado.