Shirley Marlone mergulha na escuridão de uma praia deserta. Às suas costas, deixa um hotel cinco estrelas e os programas com turistas ricos. À sua frente, só existe a necessidade de inventar um novo dia. Não é a primeira vez. Não será a última.Uma morte, que todos sabem ter sido criminosa e todos dizem ter sido acidental, não muda a vida de quem matou ou apenas assistiu, nem a de quem adivinha o que houve mas prefere fingir que nada sabe. O que muda, na verdade, é uma noção estabelecida sobre narrativas ficcionais e sobre o papel de narradores, leitores e escritores. Como receber as informações de alguém que avisa que mente, sobre fatos cujo desfecho é preciso intuir? Não existe fronteira clara entre coisa inventada e a concretude de dados. Ou entre narrativa e descrição do ato de o narrador conta uma história em tempo real, enquanto, no computador, a escreve. O leitor já não se enquadra na definição de receptor passivo de uma linguagem, é também participante ativo de um evento, ao decidir em quem ou em que deve acreditar. O cenário é a subida do Vidigal. Das ruas e locais da favela, citados no romance, aos trajetos e preços da Kombi comunitária; do nome das professoras que davam aulas na escola Almirante Tamandaré na época da infância da personagem Meire à história do morro narrada para os turistas, é tudo verdade. Há outras verdades, a serem descobertas pelo leitor.
Nascida no Rio de Janeiro em 1947, é diplomada em literatura pela Universidade de Nancy, França, e mestre em comunicação pela UFRJ. Escreve sobre arte contemporânea no site Aguarrás.
eu não sei muito bem o que pensar sobre esse livro. é uma leitura que demanda muita atenção, mas que também prende muito o leitor. é uma obra que não se entrega, apesar da narradora ter diversos devaneios - sobre o futuro, sobre o passado, sobre cenas hipotéticas, sobre tudo - que entregam muito sobre quem ela é. é um livro assim meio incompleto, que de fato, como diz a sinopse, faz do leitor muito ativo. aliás, não recomendo ler a sinopse, porque o livro em si não é como ela resume, não vá esperando isso. mas vá. é uma boa obra, diferente de tudo o que já li. quero devorar todos os livros da autora agora.
“Mas acho que de repente posso conseguir o que, percebo agora, sempre quis: a total banalidade. Nenhum olhar atento sobre mim, seduzido ou indignado. Nada. Não quero nada.”
‘Mas damos só alguns passos antes de desabar no chão sujo de terra, as costas apoiadas no muro, embaixo da inscrição azul já desbotada que diz: “Os guerreiros jamais serão esquecidos”. ‘