Considerada a primeira novela pastoral da península ibérica, Menina e moça estende-se ao longo de um enredo composto por uma amálgama de romances de cavalaria, romances bucólicos e estórias românticas. A obra começa com um monólogo de uma menina refugiada na natureza, que nos traz memórias da sua juventude, angústias e tristezas, que projeta no cenário pastoral que a envolve. Ela conversa então com a Dona do Tempo Antigo, que lhe revela que só as mulheres são suscetíveis à tristeza e que, os homens, por sua vez, gozam de uma espécie de imunidade a esta emoção. Há, contudo, uma única exceção: os Dois Amigos, que servirão de protagonistas às narrativas que compõem o livro. Bernardim Ribeiro apresentou a Portugal muitos novos desenvolvimentos da literatura europeia do seu tempo: a novela sentimental, o bucolismo e várias referências aos escritores italianos renascentistas, esforços que se traduziram essencialmente na procura de um novo género de romance.
Bernardim Ribeiro was a Renaissance Portuguese poet and writer.
His father, Damião Ribeiro, was implicated in the conspiracy against King John II of Portugal. His Livro das saudades, mostly known as Menina e moça (taken from its incipit) and translated as Maiden and Modest in English, is one of the finest examples of the genre of pastoral romance in Renaissance literature.
Foi Frei Luis de Sousa de Almeida Garret que me encaminhou para a leitura de Menina e Moça de Bernardim Ribeiro. No Acto Segundo, Cena I, Maria falando com Telmo, menciona "Menina e Moça":
MARIA - «Menina e moça me levaram de casa de meu pai» - é o princípio daquele livro tão bonito que minha mãe diz que não entende; entendo-o eu. Mas aqui não há menina nem moça; e vós, senhor Telmo Pais, meu fiel escudeiro «faredes o que mandado vos é» (...) Almeida Garret, Frei Luis de Sousa, Acto Segundo, Cena I
Foi muitíssimo interessante ler esta obra de Bernardim Ribeiro. Era-me totalmente desconhecida antes de Almeida Garret a ter colocado no meu caminho. Fiz uma primeira leitura de Menina e Moça, ignorando o texto introdutório do professor Hélder Macedo, propositadamente para conseguir manter esta minha ingenuidade e tentar apreciar a obra sem influências.
Essa primeira leitura foi muito positiva. Desafiante também, por se tratar de uma obra do séc XVI, que ainda que preparada para o leitor de hoje e muito acessível, está escrita num português antigo, com uma sintaxe e vocabulário inevitavelmente diferentes do português actual.
A história deste livro é composta por várias outras histórias. No prólogo a narradora prepara o leitor para o que se segue e antecipa que nos vai contar a triste história da sua vida..."Menina e Moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe. Que causa fosse então daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube."... Faz ao leitor vários avisos de que contará uma história de enorme tristeza, como por exemplo "Se em algum tempo se achar este livro de pessoas alegres, não o leiam."... ou um pouco mais à frente, "Os tristes o poderão ler". Com tudo isto, fiquei imediatamente rendida a este discurso feminino tão pungente e sofrido, e interessada por saber que ocorrências foram aquelas que haviam marcado tão profundamente a existência desta mulher.
Mas ainda no prólogo, quando a nossa narradora se encontra junto a uma ribeira chorando e lamentando as suas mágoas, uma outra senhora surge na narrativa "Estando assim olhando para donde corria a água, senti bulir o arvoredo. Cuidando que fosse outra coisa, tomou-me medo, mas olhando para lá, vi que vinha uma mulher e, ponde nela bem os olhos, vi que era de corpo alto, disposição boa, o rosto de senhora, dona do tempo antigo".... "E entre uns vagarosos passos que ela dava, de quando em quando colhia um cansado fôlego, como que lhe queria falecer a alma".
Chegando as nossas duas personagens à fala, temos conhecimento que esta nova personagem, a "dona do tempo antigo" carrega também com ela muitas histórias de mágoas e sofrimentos, e que considera ser tal o destino de todas as mulheres. Afirma que os homens em geral não vivem vidas sofredoras como as mulheres, mas que conhece algumas excepções e propõe contar essas "histórias excepcionais". As nossas duas personagens concordam então em contar as suas histórias uma à outra, em jeito de consolo mútuo. Termina-se o prólogo, e inicia-se assim o discurso da "dona do tempo antigo" que nos revela as histórias de "Lamentor e Belisa", de "Bimarder e Aónia" e de "Avalor e Arima"... Estas histórias mantêm o tom que se iniciou no Prólogo, o de lamento, de dor, de destino, de saudade... São histórias muito pungentes e sofredoras. Por exemplo: "Ali houveram ambos triste pranto e entre si se diziam um ao outro palavras de muita mágoa, começada pela dor, rotas pelo pranto."
As três histórias que "a dona do tempo antigo" nos conta, levam-nos para um tempo de donzelas, cavaleiros e aventuras, como nos romances de cavalaria. Contudo não há aquele tom épico habitual dos romances de cavalaria, do herói que conduzido por nobres valores, ultrapassa inúmeros perigos e obstáculos para eventualmente encontrar um final feliz, para si e para a sua dama. Existe antes um tom de humildade, desgraça e fatalismo. Interliga-se também no texto uma forte componente bucólica, bucolismo esse que exponencia a mensagem dos desamores contados. Cheguei ao fim de coração nas mãos e julgo mesmo que destronou aquele que considero o texto mais triste que alguma vez tinha lido (Manfredo de Lord Byron).
No entanto ficou a faltar qualquer coisa, pois quando me parecia que talvez estivesse a começar a entender algumas ligações entre as histórias contadas, pressagiando que eventualmente até se poderiam relacionar com a nossa primeira narradora, eis que o livro termina. A última narrativa sobre "Avalor e Arima" foi interrompida de forma abrupta, dando ideia que o texto se encontra inacabado. Pensando sobre o que li, depois desta primeira passagem pelo texto, senti tudo isto muito portugues, muito "ai destino, ai destino"...muito ligado aos sentimentos de tristeza e de saudade, de humildade e de sofrimento que acompanham tanta vez a imagem do que é ser-se português.
Passou-se então algum tempo desde esta primeira leitura realizada em Junho e no passado mês de Janeiro decidi oferecer esta minha edição a um outro leitor interessado na obra. Antes de lho enviar, decidi ler a Introdução do Professor Hélder Macedo o que se revelou ser uma experiência quase tão interessante quanto a leitura da obra em si mesma. Tão interessante que me levou mesmo à releitura de Menina e Moça agora em Janeiro.
O professor Hélder Macedo começa por nos falar de Bernardim Ribeiro, poeta e autor português do séc XV/XVI, de quem se sabe muito pouco e sobre quem se especula muito. Bernardim Ribeiro terá feito parte da corte do rei D. Manuel, participado no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, mas terá por algum motivo desconhecido, caído em desgraça. Uma das lendas sobre Bernardim Ribeiro mais conhecidas (dramatizada por Almeida Garret em Um Auto de Gil Vicente) é a de que se teria apaixonado por dona Beatriz, filha do rei D. Manuel...um amor impossível. Mas a hipótese defendida pelo professor Hélder Macedo é a de que Bernardim Ribeiro seria judeu, um dos "cristãos.novos", judeus forçados à conversão (uma das nossas vergonhas históricas que me fez lembrar inevitávelmente o sangrento episódio da "matança da Páscoa"). Segundo esta hipótese, Bernardim Ribeiro teria sido forçado à conversão, mas secretamente continuaria a professar a religião hebraica. Diz-se também nesta introdução que este livro poderia ter um aspecto auto-biográfico, se entendermos os nomes como anagramas (por exemplo: Bernardim = Bimarder, ou Aónia=Joana, etc.). O facto da primeira edição deste livro ter sido editado em Ferrara, nas oficinas do judeu Abrão Usque (irmão de Samuel Usque), onde quase todas as obras editadas eram de cariz religioso judaico, também contribui para esta teoria.
Segundo o professor Hélder Macedo, Menina e Moça pode ser mais do que apenas uma novela sentimental, único significado que entendi na minha primeira leitura: "O encontro do Zohar e do cabalismo, não só me permitiu justificar ideologicamente os três aspectos convergentes que haviam ressaltado através da análise da obra de Bernardim Ribeiro, mas também me permitiu entender a profunda coerência semântica da Menina e Moça, reflectida numa narrativa que funciona a três níveis complementares de significado - o romanesco (novela sentimental), o místico (composição literária influenciada pelo teologia da cabala) e político (obra de ressistência à perseguição dos judeus)"(pag.42 da Introdução do professor Hélder Macedo)
Foi muito interessante para mim esta ultima hipótese da Menina e Moça enquanto obra de resistência à perseguição dos judeus. Seriam aqueles sentimentos de exílio, tristeza, saudade, sofrimento, etc., que encontrei e atribui ao "ser-se português" serem afinal frutos do exílio, da perseguição, dos horrores a que os judeus foram sujeitos nesta época não só pela mão da Inquisição mas também às mãos dos portugueses? Estando a ler tudo isto no mês de Janeiro, mês da libertação dos judeus do Holocausto, tudo isto bateu mais forte. Lembrei-me de um outro livro que li há muitos anos atrás: O Ultimo Cabalista de Lisboa de Richard Zimler, uma obra de ficção que aborda esta questão dos novos e antigos cristãos, e da perseguição aos judeus. Lembrei-me também de O Mercador de Veneza, uma peça de William Shakespeare onde o tema do fanatismo cristão e da perseguição ao judeus também se encontra latente.
A história é cíclica como dizem...dizem também que temos de lembrar para que nunca se repita o passado...contudo o passado repete-se e parece que ciclicamente teimamos em não aprender com os erros. Também em Janeiro passado, ocorreram eleições no nosso país com a subida dos votos na extrema direita... O meu coração gelou ao testemunhar mais este sinal da teimosia humana em repetir erros e de regredirmos civilizacionalmente por ciclos... Claro que este sinal é pequeno, à dimensão do nosso país, mas para mim bem preocupante. Ri-me quando Trump era ainda uma "anedota", quando Bolsonaro se quis candidatar...já não me volto a rir pensando ser impossível que lideres deste calibre cheguem ao poder de países democráticos e desenvolvidos.
Voltando à obra, ao reler também tentei perceber se continuava a achar a obra inacabada ou não, uma vez que se avança a hipótese de não se tratar de uma obra inacabada, mas de uma opção do autor, em jeito de inovação. Após releitura, para mim, continuou a ficar um sentimento de que falta o resto da história... Mas foi uma releitura muito proveitosa, embora confesso, foi o aspecto romanesco que me voltou a conquistar e a certa altura voltei a esquecer a procura por outros significados.
Para terminar, deixo uma curiosidade em relação a esta questão de ser ou não uma obra inacabada: numa das três edições que esta obra teve no séc XVI, na que foi feita em Évora, a obra está terminada. Contudo, hoje em dia, não se aceita que esse"acrescento" à obra tenha sido feito pela mão de Bernardim Ribeiro.
Menina e Moça, a Bernardim Ribeiro's novel, published three times in the 16th. Century: 1554 (Ferrara, with the title História de Menina e Moça), 1557-58 (Évora, with the title Saudades) and 1559 (Cologne, from the 1st edition), including the 2nd edition, an extension, which usually accepted as being of the author, until the chapter XXIV. The text represents a convergence of fictional topics, both in terms of literary history and in terms of content (through conversion to a meeting place, feminine and melancholy, from the Little Girl with a Lady, with whom she discusses stories of unhappy loves, which intertwined in the central action of fiction). Place and change become poles of a common loving nostalgia and the fatalism of suffering, making the stories interspersed, e.g. Aónia and Bimuarder, Arima and Avalor, insistent developments of the same and infinite pain of constant amorous mismatches. Love, nature, change and distance are the semantic constants of this book. That's the first in Portuguese literature to detach itself relatively from the conventions of contemporary fiction to assume the status of the female narrative of loneliness and longing, and intelligent and thorough analysis of the text of loving feeling, in its dedicated and painful aspect of consecration.
Um dos primeiros romances portugueses. " das mais conhecidas e das menos conhecidas obras" da literatura portuguesa. É uma história toda contada em monólogo
A leitura acaba quando o rouxinol se cala. Narra os amores do cavaleiro Lamentor e dama Aonia. Avalor é outra personagem importante na acção.
Encontra-se repleta de tristeza e melancolia
Foi a obra que estudei no 10 ano na disciplina Literatura Portuguesa
Recently while driving home, I heard John Estacio’s piece, “Saudades” on the radio. I was mesmerized.
What is saudades? Quoting Wikipedia,”Saudade is a deep emotional state of nostalgic or profound melancholic longing for something or someone that one cares for and/or loves. Moreover, it often carries a repressed knowledge that the object of longing might never be had again.”
A medieval love story gets the ball rolling. Published in 1554, we are plunged into the days of wandering knights and fair maidens. The story begins when a fair maiden hears the plaintive song of the nightingale, then it falls dead from its song. In her grief, she tells of her sadness to an older lady.
That lady tells how difficult it is for women to bear the longing for the past, even worse, they bear it even more on behalf of their men folk. A common refrain, “Weep much and curse the day I was born.” p. 159
Sounds bleak but a good story ensues.
A Maiden’s Tale. Once upon a time a wandering knight is travelling with his wife and her sister in far off lands. His name is Lamentor, a suitable name; his wife is Belisa and Aónia, her sister. They meet a squire guarding the bridge. He has pledged his love to the lady of the nearby castle.
Hell no, they cannot cross the bridge. A fight ensues. A word of caution: one must never fight a knight on a horse on a bridge. The man dies. They take his body to the castle. Eight days of mourning begin. His sister curses the knight.
Belisa is pregnant and goes into labour, but sadly she dies but the baby girl is saved. Lamentor blames this on killing the squire. They are besides themselves with grief.
Along comes Binmarder, a local. His aim in life is to take care of his head of cattle. Not the same cut one might say! Binmarder is immediately smitten with love for Aónia. He does he best to sneak into her room and is only prevented by her most protective maid servant. Best to marry off Aónia before trouble comes! Aónia is not happy but the maid servant gives her good advice, learn to live with it. Saudade!
Meanwhile, Lamentor and Belisa’s daughter Arima grows up to be a beautiful young woman and asked to serve in the royal court. She too will have a good husband but along comes Avalor. They fall in love but as it happens, he is sent away to sea.
Using these water motifs, like the disaster of the bridge, the sea also becomes a disaster. The ending is quite the surprise (oh, that bridge incident). Dear reader you must find a copy.
Resolution. Saudades, remembrance of things in the past (Proust where are you?), loves to remember, laments to forget, um grande magoar, with a great deal of “lagrimas, choras, e muito pranto,” especially in the Portuguese tales of old.
Quando encontrei a edição da Quidnovi de Menina e Moça esquecida numa estante da casa dos meus pais imediatamente me assustei ao ver o ininteligível português do século XVI em que estava escrita. A boa notícia é que tive a feliz ideia de procurar numa biblioteca uma versão com texto atualizado e anotado, tendo encontrado uma edição da Europa América dos anos 80. Foi um mundo de diferença!
Tendo encontrado esta edição, a leitura deste livro fez-se muitíssimo mais leve, ainda que seja, de todas as formas, uma leitura algo complicada pelos arcaísmos no texto. Ainda assim, foi um livro que me agradou bastante, uma mistura de romance bucólico e romance de cavalaria com poesia à mistura e muito bem escrito. Verdade seja dita, é um livro muito dramático, cheio de dor e sofrimento: tanto é que as vinte primeiras páginas não descrevem enredo algum, falando simplesmente da infelicidade das protagonistas. Ainda assim, ou talvez por causa disso mesmo, vale bem a pena a leitura.
Nunca pensei dizer isto sobre uma obra portuguesa do século XVI escrita por um homem, mas "Menina e Moça”, de Bernardim Ribeiro, exemplo da literatura renascentista e das novelas sentimentais, parece reconhecer a complexidade das emoções femininas, permitindo que a personagem da menina seja multifacetada e expressiva.
Um dos aspetos mais notáveis é a maneira como a personagem feminina é representada - Menina não é uma figura passiva ou submissa; pelo contrário, demonstra autonomia e inteligência e, embora seja importante lembrar que as ideias feministas atuais e o contexto histórico da obra são muito diferentes, vi em "Menina e Moça" uma perspetiva progressista das mulheres, para aquilo que se esperava do século XVI, pelo que desafiou algumas das normas de género estabelecidas.
Eu tentei ler isto tal e qual como me foi recomendado: devagar. devagarinho. O português de Bernardim é de uma época em que ainda não existia gramática definida mas, estranhamente, é fácil de compreender, tirando uma ou duas coisas. Isto mostra o génio que era, sem dúvida nenhuma. Sobre a história em si: não gostei nadinha, o excesso de tristeza e dramatização chateou-me bastante e perdi a conta do número de vezes que li a frase "ai, coitada de mim". Dou três estrelas por isto ser um clássico da literatura portuguesa...
É complicado querer estar naquele momento e naquele lugar. É uma obra demasiado temporal, boa para ler por curiosidade ou obrigação. Não suscita prazer! Parece a Casa dos Segredos dos tempos antigos. O mais estranho é aceitar a voz feminina do narrador. Um livro impossível de ler caso não se tenha conhecimento histórico.
Daqui a um ano ou dois posso mudar de opinião, acredito que a interiorização dos bons livros demora algum tempo.... mais do que a leitura! ... E que com a maturidade intelectual se aprende a gostar do que nos é cego no começo. E não era o verbo!
Acredito que o valor desta obra com aproximadamente cinco séculos é inestimável. Uma das preciosidades da nossa belíssima cultura portuguesa. Somos um país pequenino, mas com uma grande riqueza histórico-literária. Muito mais que a grandeza do seu conteúdo, ao meu ver, está a grandeza da sua concepção, em especial numa época em que as estruturas gramaticais da língua portuguesa ainda eram bastante pobres e dependente do latim.
Bucolismo, tristezas amorosas, anagramas e alusões históricas
Esta foi uma leitura particularmente interessante e fiquei com a impressão de que ali havia algo que me escapava. Não é como um Gonçalo Fernandes Trancoso que deixa exposto na obra suas intenções de maneira clara e sem reservas. Lendo sem nenhum contexto histórico, a pequena narrativa moldura na primeira parte da novela de Ribeiro, apesar de estabelecer bem a atmosfera (a terra se muda, como as cousas d'ella: e esta, porque passou o tempo de quando foi leda veo este de quando havia de ser triste) e a inclinação melancólica e tristonha dos personagens (sempre eu choro, ou estou pera chorar), sobre a própria trama fica uma certa vagueza. O nome dos personagens são todos anagramas e os eventos que ali se passam parecem aludir à outras coisas, mas nada é abertamente expresso. Expresso fica o bucolismo, o sofrer por amor e a linguagem leve e elegante do autor que delicadamente nos lembra; Nenhuma cousa ha, neste mundo, em que se deva ninguem muito de fiar.
Depois que terminei de ler Menina e Moça fui consultar o que foi dito sobre esse curioso livro e Teófilo Braga, que jamais vi falhar na elucidação de todas as coisas sobre literatura portuguesa, não falha aqui também. No seu livro chamado Bernardim Ribeiro e os bucolistas, ele explica todas as referências feitas na obra e quais os eventos históricos que ela faz alusão. Não vou elencar aqui tudo o que ele diz, mas o livro pode ser encontrado online gratuitamente já que está em domínio público.É engraçado como os críticos do século XX, quando veem que ali tem qualquer coisa de romance histórico, logo se animam.
Uma das coisas que me chamou a atenção foi o livro ter menos de bucólico do que se espera de uma obra dita como a primeira novela bucólica da península Ibérica. A maior parte pastoril da obra fica no primeiro capítulo. Esperava haver muito mais. A maior parte da obra é na verdade uma curiosa novela de cavalaria, focada em amores de final trágico. Ainda outra questão curiosa é a existência de uma continuação espúria da novela que por algum tempo se pensou ser do próprio Bernardim Ribeiro. Teófilo Braga nos informa sobre isso que era coisa muito comum nestas obras que houvessem continuações escritas por outra pena que não a do autor original.
Li este livro no âmbito da cadeira de literatura portuguesa do renascimento e humanismo. Tenho a dizer que gostei bastante do livro.
Bernardim Ribeiro presta neste livro uma homenagem às mulheres. Sublinha as suas dores e dificuldades numa época em que as mulheres eram vistas como maldosas e inferiores.
Gostei muito do tema amoroso no livro e todas as reflexões que se levantam sobre o mesmo.
É muito bonita a forma como este livro mostra os sentimentos das personagens, de uma forma profunda.
A minha história preferida foi a 3°, é uma pena não estar finalizada. Gostei muito do Avalor e também de Arima, e achei interessante o contexto de corte e também a história do pai de Avalor, que infelizmente não possui um fim.
Dou 4 estrelas, porque senti dificuldade a ler por causa do português arcaico presente na obra. Isso acabou por tirar algum prazer à minha leitura da obra. Tirando isso, adorei a obra e queria que fosse mais longa🥲.
1⭐️ menina e moça é um classico, e tenho a certeza de que daqui a uns 20 anos me vou arrepender de avaliar este livro com apenas uma estrela, mas foi um leitura muito monótona apesar de ter uma boa premissa e de fazer uma representação interessante sobre as mulheres naquele século do ponto de vista do autor, a linguagem é extremamente arcaica e acabei o livro sem perceber grande coisa, excerto o dialogo iniciar da miça com a dona do tempo antigo.
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Um romance português difícil e muito impressionante, narrado em primeira pessoa e publicado em 1554. É um precursor de vários aspectos: longos solilóquios à maneira de Shakespeare (o Bardo inglês nasceu em 1564), densidade psicológica, experimentalismos na linguagem. Em algumas partes, parecia que estava lendo um daqueles vanguardistas do século vinte (Joyce, Marinetti, Faulkner...). Imagino que uma tradução para o inglês causaria "frisson" na meio literário.
"Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe. QUe causa fosse então daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube. Agora não lhe ponho outra senão que parece que já então havia de ser o que depois foi.
No belíssimo romance de Bernardim Ribeiro, lê-se um entreter entre duas mulheres, uma que sofre e outra que já sofreu, e esta que narra uma série de pequenas narrativas que seguem feitos cavaleirescos, dos sofrimentos de Lamentor e Bimnarder, por exemplo. Com um início arrebatador, poético e muito interessante, o livro perde força na sua segunda parte; cuja autoria a partir de meados dela é duvidosa, contudo, o romance mantém seu caráter de sofrimento. Este problema é verificado especialmente porque a moldura narrativa, isso é, o diálogo entre as duas narradoras é praticamente esquecido e, ao fim, ele não é retomado, como se não fizesse parte do processo narrativo e moldura das histórias dos cavaleiros. De qualquer modo, o livro apresenta uma modernidade impressionante para um romance do século XVI, lançando uma narradora que diz escrever para si mesma, além de entretecer (aos moldes de mil e uma noites) histórias concatenadas que são sempre referidas por uma narradora que nunca para de narrar, aqui em um português de nível poético elevado - especialmente nos primeiros capítulos. Não é de se espantar que o romance tenha tido uma reverberação grande na literatura luso-brasileira no século XIX e começo do s��culo XX, com poetas como Machado de Assis, António Nobre e Oswald de Andrade tendo dedicado releituras dele em verso, todos eles verificando um fator indesviável da narrativa: uma estética da dor e daquilo que foi perdido: "Tombou da haste a flor da minha infância alada, Murchou na jarra de oiro o pudico jasmim: Voou aos altos céus Santa Águia, linda fada, Que d’antes estendia as asas sobre mim." diz António Nobre em seu Só, por exemplo. Acredito que seja um romance que valha a pena ser lido e relido, com a ressalva de sua notável perda de força poética e narrativa nos meados da segunda parte; em especial, seu valor jaz nessa estética do sofrimento e do desterro, do amadurecimento na dor da vida e no desamor, no abandono; fatores de luto fundamental na modernidade.
Publicado em 1554 (provavelmente escrito vários anos antes), "História da Menina e Moça" é a primeira obra de romance pastoril escrita (e passada) na Peninsula Ibérica. Bernandim Ribeiro é um escritor marcante que terá sido responsável pela introdução do boculismo e das sextinas na língua portuguesa.
"Em Bernardim[...]" escreve Jorge de Sena "[...] a melancolia mergulha no mais cruciante desespero, raiando pelo desvario de um fatalismo herético, muito diferente da anarquia heróica do lirismo camoneano".
Na segunda edição, com os seus acrescentos a obra é também retitulada como "Saudades", apesar de hoje em dia o livro ser conhecido simplesmente como "Menina e Moça". Esta é sem dúvidas, uma narração imergida do sentimento intraduzível da "saudade", exceptuando talvez, para o termo-irmão do galego "morrinha". E de facto até os galegos aparecem também nesta estória que reconta desaventuras do século XV ou anteriores, lê-se "Olhou o cavaleiro para o barbarismo da letra mudada na pronunciação de b por v,[...]" de resto igual falava o galego! Nota-se a união na época do galaico-português como língua una, com diferentes sotaques, algo que se vem a corromper com o passar das épocas, e que julgo que terá sido principalmente afectado com o linguicído desenfreado durante a ditadura Franquista. Foi interessante ler uma "écloga" virgiliana em prosa, apesar de um personagem declamar poesia de quando a quando. Diz-se que BR provavelmente não era um erudito, mas terá entrado em contacto com a obra de Virgílio e outros mestres do bucolismo latim, possivelmente durante a sua estadia em Itália. A obra é também uma excelente forma de entrar em contacto com o folclore português, arcaísmos, expressões antigas ou mesmo extintas, e ter alguma noção da evolução escrita do português.
neste momento da leitura direi que o livro parece prometer no que diz respeito há intriga, no entanto temos que admitir que poucos são os que conseguem escrever de forma melancólica e triste como B.R. que nos dá de forma espontânea e sem hesitação a verdade de certas alturas da vida, por isso para aqueles que dizem que este livro não se consegue entender ou que é de difícil compreensão, aconselho-os a lerem o livro calmamente durante um mês, verão que assim algo penetrará nas vossas mentes.
ao principio achava que não iria gostar devido ao português arcaico presente no livro, no entanto quando comecei a lê-lo e apanhei o jeito há coisa pode-se disser que foi um dos livros que mais gostei, devido ao difícil enredo presente e também às falas complicadas que originaram o muito tempo perdido a pesquisar informação acerca do livro, no fim da leitura posso disser que fiquei mais instruído sobre os assuntos relatados, que não são apenas de melancolia e tristeza abrangendo mais assuntos.
O facto de estar escrito em português arcaico faz com que demore a pegar nele... Mas não é por isso que não estou interessada nesta famosa obra. Para quando será lida, não sei.