«‘Quando vejo o cor-de-rosa parece que se referem a mim.’ A mui tatuável frase de Almada Negreiros numa das páginas d’A Invenção do Dia Claro ecoou no meu âmago para lhe dar sentido. Descreveu uma dimensão importante da minha existência e verbalizou um sentido de identificação que sequer havia realizado em consciência. Tocaram os sinos. Acendeu-se a lâmpada. É mesmo isso: quando vejo o cor-de-rosa parece que se referem a mim!»
Ora confessional, ora furiosa, mas sempre perspicaz, inconformada e inteligente, além de totalmente entregue à experiência da «matrescência», Capicua dá ao leitor uma caixa de bombons em forma de livro.
Crónicas, pequenos textos, poemas e algumas letras, para rir, chorar e acenar com a cabeça em jeito de concordância –às vezes, surpreendidos por não termos reparado no mundo como Capicua faz.
Aquário é uma moldura, um recorte ou, se quisermos, uma janela para os mares interiores de Ana Matos Fernandes.
Palavras fluidas, que disparam rascunhos de canções, críticas sociais, rasgos de esperança, amor e desabafos
A Capicua é uma daquelas pessoas que me dá imenso prazer ouvir falar. Não me canso. Gosto muito da abordagem que ela tem da vida e revejo-me em muitas das suas ideias e ideais (não tanto o gosto desmesurado por praia, vá). Este livro de crónicas, com um contributo muito pessoal, é só mais um exemplo do quanto que é agradável conhecer esta mulher.
Sou suspeita porque sempre me identifiquei muito com a Capicua.
Enquanto lia este livro foram tantas as vezes em que disse: 'caramba, esta sou eu' ou 'podia ter sido eu a escrever isto', mas não fui eu. Foi ela, porque ela sabe escrever, sabe tocar em pontos que são comuns a todos nós. E é esse sentido de compreensão que me preencheu! Obrigada!
Este é o primeiro livro que termino depois de a Inês ter nascido. Não é fácil encontrar tempo e disponibilidade mental para ler quando tenho um bebé de dias (agora quase mês e meio) em casa. Aliás, não é fácil encontrar tempo, disponibilidade ou rotinas para nada. Os bebés, parece-me, são o kryptonite das rotinas. Comecei três outros livros, muito bons por sinal, mas não estava a conseguir dar-lhes a atenção que mereciam. Então, quase como que por mensagem do santo padroeiro das mães ensonadas, saiu o Aquário da Capicua. Crónicas, textos, letras. Construções de ideias que me permitiam um ou dois textos com cabeça tronco e membros antes de deitar. Temas nos quais me revejo, que estão agora, mais uma vez, à flor da pele. A escrita é uma delícia, eloquente sem ser fanfarrona, deixa-me a querer mais. Gostei de navegar nestas palavras e nesta cabeça que pensa tanta coisa da mesma forma que eu. A somar a isto, calhou bem, agora que entra na minha vida uma filha. Li para ela pedaços. Li porque gosto de ler para os meus filhos. Mesmo que não entendam as palavras. Li porque gosto que os meus filhos vejam a mãe a ler e percebam que os livros nos acrescentam sempre algo. Li porque quero que saiba sempre que, de entre muitas coisas aqui tão bem esplanadas, o lugar da mulher, o lugar dela que um dia será mulher feita, é onde ela quiser.
Estas crónicas são uma lufada de ar fresco, um docinho de chocolate, água salgada no cabelo, pão quentinho e estaladiço, cheirinho a manjerico, cor de rosa, purpurinas, sei lá… tudo de bom! Acabam por ser também um género de autobiografia porque a Capicua vai-nos relatando vivências na infância, juventude, início da vida adulta e na maternidade. Gostei muito muito muito.
Primeira experiência com um livro de crónicas e, sabendo que sou muito suspeita, adorei! Que belo livro para começar 2025.
A Capicua é das mulheres que mais me inspira e ter acesso a estes bocadinhos da mente dela foi fascinante e muito aconchegante. O livro pode ter mais de dois anos, mas nem por isso os temas são menos relevantes, nem os tiros menos certeiros. Leiam!!
4,5⭐️ Capicua escreve (e BEM) sobre infância, sociedade, cultura, maternidade, feminismo, sobre os encantos e desencantos da vida, a beleza da língua portuguesa, a pandemia e os malabarismos constantes da arte e da profissão de um artista inserido em quotidiano lusófono, transportando-nos de mão dada e lado a lado, ao longo de todo o caminho. Por 300 páginas, somos amigos de longa data, confidentes íntimos, parte da família. Por momentos, estamos lá, as suas histórias são as nossas histórias, a sua visão é registada pelos nossos olhos, chegando, em momentos, a ser difícil dissociar-nos do que lemos. A escrita é lírica na sua simplicidade, familiar no seu tom, próxima, nossa. Ler Capicua é refrescante na imersão que proporciona, especialmente porque, apesar das vidas distintas que levamos, partilhamos uma realidade contemporânea, um pool de referências, de preocupações, de mecanismos de escape. Uma leitura que recomendo a todos, sem dúvida, sem exceções e, claro, especialmente a quem, como eu, já é fã de longa data do seu trabalho.
Simpatizo com a Capicua, gosto das letras e da sonoridade da sua música, e li as crónicas que foi publicando na revista Visão. Por isso, comprei este seu livro numa feira do livro, aproveitando a sua presença para lhe pedir uma dedicatória.
Estas crónicas, poemas e pequenas notas, em conjunto, resultam numa espécie de autobiografia, pois dão a conhecer algumas das suas facetas, alguns dos seus gostos e convicções. Não existe uma ordem cronológica mas os textos estão agrupados em quatro temas. O primeiro é mais pessoal e a autora fala sobre recordações da infância, do que gosta de fazer, das suas motivações. A segunda parte é dedicada às suas geografias, às viagens, aos seus sítios preferidos. Na terceira parte estão as suas causas, temas sociais e políticos, e também experiências e inquietações nos tempos da pandemia. Por último, a autora fala de maternidade.
A escrita é simples mas bonita e carregada de significado e emoção. Gostei muito desta leitura e tenho que destacar o texto "Sobre a exaustão" que tem uma mensagem muito importante e tão verdadeira, que todos deveriam ler.
Ler um bocadinho de Capicua antes de ir dormir foi uma excelente ideia. Que ser humano :) E um bom livro de crónicas, em que há variados temas a serem falados, não se centra sempre no mesmo, nunca chega a tornar-se repetitivo
Conheci a Capicua através de uma entrevista que deu ao Diogo Faro e fiquei fã dela. Confesso que a sua música não conheço bem. Agora através da sua escrita fiquei uma admiradora ainda maior. A autora, a Ana, a Capicua, mostrou ser uma série de coisas, mas para mim mostrou-se sobretudo ativista, feminista, crítica, mulher portuense orgulhosa, mãe, artista, prá frente. O livro está organizado numa espécie de 5 capítulos temáticos, e os temas que explorou de que mais gostei foram o feminismo, a crítica social e política, o Porto e a maternidade.
Gostei tanto de algumas crónicas, às vezes por me identificar, outras vezes por achar muito importantes, que várias foram lidas em voz alta para serem partilhadas, e uma ajudou a estimular uma discussão (saudável).
Algumas das crónicas (que incluem também anotações e poemas) de que mais gostei foram: Janela, Jane Fonda, Erro, Corações ao alto, Destino, Mar, Palavras, A luta, Palavras, Medusas, Ainda bem, Algumas reflexões sobre o (anti) racismo, Matrescência, Ser, Brincar, Três.
Alguns excertos que achei deliciosos:
"Já repararam que «avô» e «avó», juntos no plural, convergem no feminino «avós», ao contrário da regra?" in Avós
"Não porque ache injusto [ganhar pela terceira vez o título de Best European Destination], porque continuo a dizer que o Porto é uma cidade belíssima e que sabe acolher como nenhuma. É castiça, na sua mistura de cinza, ouro e azuleijo. Meio tosca, meio burguesa. Dá de bem comer e beber (o que já chegava para encantar), mas arrebata porque ora se esconde, sorumbática, por ruelas escuras e tortuosas, ora se debruça em paisagem sobre o rio, fazendo dele sala de estar. Ora se apresenta sólida, numa sobriedade de granito, como aparece descomposta, tropeçando ladeira abaixo em seus casebres, misturada com os gatos e as gaivotas, toda torta. O Porto nunca foi para meninos. É chuvoso e mal-humorado de manhã. Ciumento e pouco dado a despedidas, Mas, quando voltamos, não aguenta a birra e recebe de pontes estendidas aqueles que lhe têm devoção. Tem (como já disse) a dimensão perfeita da domesticidade, e é o melhor lugar do mundo para passar o domingo à noite (além de ter os melhores rissóis)." (aqui substituiria por torradas). in Destino
"Preciso de água, como as plantas, só que salgada. Quando passo perto do mar e o vejo a entrar pela janela do carro, sinto uma espécie de sede, que não é de beber, mas de mergulhar. Todos os anos se repete a privação e todos os anos os anos prometo a mim mesmo um (utópico) verão na areia, só para ver se é possível fartar-me dele, e não fazer mais nada que não ler, dormir e flutuar. Flutuar é aliás um dos prazeres da vida mais menosprezados e uma das artes mais intuitivas (porém, delicadas) que podemos praticar. Para mim, sempre foi fácil. É só estender o corpo na água como numa cama infinita, e senti-lo derreter para depois levitar, numa espécie de lençol fluído que nos embala docemente." in Mar
"Vivemos numa longa praia, num país que se encosta ao litoral, como quem vem à varanda ver o mar." in Saber-a-pouco
"(...) fui vivendo com o Brasil dentro de casa e com o português do Brasil dentro do ouvido. Esse português com pimenta, musicado pela deliciosa falta de respeito pelo português canónico. Esse português elástico, inventivo, jovem, em que o calão da semana passada é sempre obsoleto, e vale tudo, menos cristalizar." in Palavras
"Quando dizemos o que fazemos, normalmente usamos o verbo ser. Como se fôssemos a nossa profissão, aquilo em que trabalhamos. Dizemos que somos médicos, ou jardineiros, ou atores. E mesmo sabendo que ser é muito mais do que fazer, identificamo-nos com o nosso ofício, mesmo que ele não seja uma vocação, e usamo-lo para nos situarmos no mundo. Ora, além de a nossa profissão ser muito mais uma função do que um elemento identitário, na maioria dos casos, grande parte das vezes nem sequer é uma escolha ou vocação." in Ser
"Quem me dera andar assim pelo mundo, com o peito sempre diante dos pés e olhos devoradores. Obrigada por me levares pela mão e por teres a bondade de me limpar os óculos que o tempo embaciou." in Três
O mergulho neste Aquário revelou-se mágico e uma experiência enriquecedora, porque a Capicua tem poesia na alma e consegue, com muita pertinência e empatia, envolver-nos nos assuntos mais diversos. E mesmo quando estes não nos servem, por não os vivenciarmos [como a maternidade, no meu caso], há um laço que nos une, que nos deixa predispostos a escutar/a ler, já que se torna quase palpável o seu entusiasmo ou o seu inconformismo; o seu fascínio pelas pequenas coisas ou a fúria perante cenários que diminuem o outro. Dividido em crónicas, pequenos textos, poemas e letras de canções, é um livro ao qual farei por regressar: porque me revi em pensamentos e sentimentos e porque, nestas páginas, tive a doce sensação de estar em casa.
5⭐️ Se capicua já me invadia as paredes, as janelas e os tapetes com a sua voz agora invade-me as estantes com as suas palavras e que bom que é. Partilho com ela o amor inexplicável pelo mar, pela praia e pela casa de verão. 2025 está a ser um ano de muito boas leituras e este não foi diferente. Já admirava a capicua e a sua forma de juntar palavras formando um caldo bonito mas vê-la neste registo, foi ainda melhor. Acho que dava muito dinheiro para voltar a ler este livro pela primeira vez outra vez. Dos melhores! 💗
(Agora estou triste porque o acabei demasiado rápido)
Leitura fácil, a expor e falar abertamente na primeira pessoas sobre os temas sensíveis das mulheres, a maternidade, o puerpério, sobre a desigualdade entre géneros na nossa sociedade. Gostei muito, para além da prosa, vai alternando com poesia. Sublime, senti-me bastante identificada.
Está na altura de dizermos todos que a Capicua é uma das melhores que temos a trabalhar com palavras em Portugal — nas letras de músicas e nas crónicas. Quase me atrevo a dizer que será uma das melhores em tudo o que decidir escrever.
"Em suma, se não podes vencer um interesse que nem sequer percebes, junta-te a ele, porque o amor é, muitas vezes, isso de acompanhar o outro precisamente nas coisas que não conseguimos acompanhar." (p. 276)
Adoro a Capicua e, no entanto, não consegui morrer de amores por esta compilação das suas crónicas. Talvez por ter sido mãe, por termos estado em pandemia, tenha sido difícil encontrar temas, adicionar espaço e otimismo aos dias. Nota-se muito essa claustrofobia (e o amor pelo bebé) nestas páginas. E eu, que não sou mãe e que já superei os desamores da pandemia, fiquei fora do contexto e só queria ler as letras das canções que sei que tão bem escreve e que resumem tudo isto no tamanho que este tudo deve ter.
Este livro foi uma companhia simpática ao longo dos últimos meses e que certamente irei reler no futuro e recomendar a amigos. Fui lendo sem pressas, uma crónica ou um poema de cada vez, mas respeitando a ordem, porque o meu perfil obsessivo não me permitiria fazê-lo de outra maneira. Já há algum tempo que sou fã das letras da Capicua, por isso não fiquei surpreendida com o facto de estar a gostar muito desta outra forma de expressão do seu génio artístico. Gosto muito da forma como ela consegue captar pensamentos e emoções em palavras, como se fosse algo simples. Reconheço contudo que o facto de ser mulher, viver no Porto e estar a acompanhar de perto a maternidade da minha irmã e os primeiros anos de vida da minha sobrinha, facilitaram que me conseguisse identificar e interessar pelas várias temáticas abordadas no livro, algo que pode não acontecer com todos.
Sou fã da música da Capicua. Não sou tão fã de livros de crónicas. Normalmente se gosto de ler crónicas faço-o em sede própria, pelo que sempre me pareceu “preguiçoso” pegar em crónicas disponíveis em outros meios e lançar um livro (a olhar para ti Ricardo Araújo).
Mas no caso da Capicua nunca tinha lido uma única crónica dela, pelo que é um não factor.
O talento para a escrita não fica atrás do talento musical da Capicua. Foi um prazer ir tendo noção, numa primeira fase, o caminho que a levou à música e ao RAP e numa segunda fase, estando a passar agora pelo mesmo, o nascimento de um filho.
A Capicua é mulher, nortenha, mãe, e entre muitas outras coisas escreve pelos cotovelos ! Adorei o livro pois vi - me reflectida nela muitas e muitas vezes. Adoro a forma de escrever, a linguagem fluida e as palavras escolhidas nem sempre óbvias . Aprendi e chorei e ri ao ler o livro. A capa também é gira e eu também gosto do cor de rosa mas prefiro o cinzento . Obrigada Capicua ! Continua a escrever por favor !
Recomendaram-me este livro quando eu mal conhecia o trabalho da Capicua. Na realidade só conhecia umas 2 músicas. Também nunca tinha lido um livro de crónicas. E mesmo perante estes factos li o livro e adorei! Adorei a escrita da Capicua. E adorei a sua forma de ver e contar as coisas banais do dia a dia. Fiquei com uma certa vontade de ler mais crónicas. E de ficar mais atenta, não só às suas músicas mas também às cenas banais do nosso cotidiano.
Não me sinto confortável em dar uma avaliação porque sinto simplesmente que este livro não é para mim e não é justo eu avaliá-lo. A escrita da Capicua é muito bonita e há partes que gostei muito, no entanto maior parte não foi “relatable” - principalmente os textos sobre a maternidade - e como é muito mais velha que eu, é difícil me relacionar com o que ela escreve.
No entanto, para quem esteja numa fase de vida semelhante, acredito que será uma experiência incrível.
O livro mais casa de sempre! A cada página virada um cheiro um sabor uma sensação. Foi como entrar numa máquina do tempo. Nostalgico mas com cheiro a futuro. "Choro sempre mais com as coisas mais belas do que com as mais tristes". Por isso è que não consegui parar de me emocionar. O livro mais Belo! 👏👏💗
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"Mal se ensaia uma conversa sobre alternativas ao modelo capitalista, começa o enxovalho e o clamor por adultos na sala. (...) como se a doxa do crescimento-acima-de-tudo ainda fizesse algum sentido. Vamos prego a fundo em direção ao penhasco e ainda há quem ache que faz diferença estar numa carroça ou num Porshe. (...) apetece pedir majs crianças na sala (...)."
Sou fã da Capicua enquanto cantora e letrista, por isso estava desejosa de ler as suas crónicas. Consegues ver logo as suas caracteristicas de escrita, talento, sabedoria e inteligência. Oh tanto que aprendo com esta mulher! Pelo caminho um trocadilho aqui e uma metáfora ali. Mal posso esperar pelo próximo livro ou concerto :)