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PT, uma história

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A mais completa e refinada análise da experiência petista antes, durante e depois dos anos no poder.

O PT foi o grande vencedor de eleições presidenciais da Nova República, produziu seu líder mais popular e, de certa forma, representa as vitórias e derrotas do Brasil no período. Talvez por isso, também tenha virado o bode expiatório dos defeitos do sistema para parte do público brasileiro.
Com prosa brilhante e argumentação rigorosa, o sociólogo Celso Rocha de Barros passa a limpo meio século da história nacional e reconstrói a trajetória da mais amada e mais odiada de nossas agremiações políticas. Para além de esmiuçar as idiossincrasias da legenda, PT, uma história joga luz sobre as possibilidades e os limites da experiência da sociedade brasileira, uma democracia de alta desigualdade, com viés conservador.

691 pages, Kindle Edition

First published October 14, 2022

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About the author

Celso Rocha de Barros

3 books6 followers

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Displaying 1 - 22 of 22 reviews
Profile Image for Luiz Eduardo Antonello.
91 reviews5 followers
December 29, 2022
4.5

Um ótimo panorama não só da história de um partido, mas também da história brasileira nos últimos 40 anos - tudo que nos fez chegar até aqui.
A parte final do livro é bastante carregada de opiniões pessoais do autor demonstradas de forma mais direta - entendo que esse é o revés de apresentar um "passado a quente", algo que mal acabou de acontecer ou que ainda está acontecendo e do que não sabemos as consequências possíveis. Mas para mim se destaca a parte inicial, principalmente a que se refere a formação do partido e a união dos movimentos sociais que o compuseram.
Um livro que serviu também, para mim, para reavivar memórias e colocar no lugar histórias que vi e vivi quando ainda era criança ou adolescente (nos governos Lula I e II) - todos nós que somos dessa geração que cresceu nos governos do PT temos um certo emaranhado de memórias dos grandes eventos que são difíceis de organizar, acredito, esse livro ajuda a fazer isso.
A conclusão do livro é muito boa - a ideia de que o partido que nasceu das bases agora volta como aquele que terá que fazer o acordo por cima e segurar a democracia que ajudou a construir mesmo a contragosto é muito boa.
(Não o partido sonhado, mas o partido real por ser o único sobrevivente - e sobrevivente apenas porque sonhado [ou construído] - é que deve segurar nossa democracia no lugar. Espero que consiga.)
Profile Image for Fabio Augusto.
172 reviews6 followers
January 11, 2023
Ainda bem que eu li esse livro. É um texto de enorme validade histórica, pois durante pelo menos as décadas de 1970 a 2020, a história do PT se confunde com a do Brasil. Além disso, é muito bem escrito. Apesar de grande (mais de 500 páginas), é gostoso de se ler, num ritmo bem parecido com as colunas da Folha que o Celso escreve toda segunda.

Apesar de não haver uma divisão formal, há três partes principais. A primeira é sobre a formação do partido. Aqui o texto me parece mais útil para quem é petista. Para o público geral não petista, como é o meu caso, saber dos detalhes dos debates entre trotskistas, maoístas e autonomistas pode ser dispensável.

A segunda parte é sobre o PT perto do poder e sua relação com os demais partidos. Os embates com o PSDB são interessantes e o autor é bem ponderado em descrevê-los. Fica claro que, se temos algum cheiro de social democracia por essas bandas (leia-se: algum esforço para que todo mundo coma e more minimamente), é graças a esses dois partidos. Deu vontade de ler os Diários da Presidência do FHC.

A terceira parte é sobre a queda. O fim da Dilma, com uma boa explicação sobre os cálculos políticos dos principais atores do período, de Dilma a Temer, de Aécio a Eduardo Cunha e até os movimentos como o MBL recebem uma análise bem respeitosa. É uma análise bastante razoável. Como é um período mais fresco na memória, é menos novidade, mas ainda assim tem seu valor.

Tomara que a gente tenha mais livros como esse contando essa história por diferentes lentes.
Profile Image for Otto.
32 reviews1 follower
January 12, 2023
Sinto que figuras importantes na história do PT, pelo menos para rápidas citações, nunca apareceram. Mesmo não sendo os mais influentes no partido, peguei o livro achando que, em algum momento, veria os nomes das irmãs Rolnik ou de Félix Guattari, devido à sua famosa entrevista com Lula, mas entendo que não tenham aparecido.
Mas não haver nenhuma menção à senhora Marisa Letícia Lula da Silva é algo que me é grave, ao tratar da história do PT, considerando sua importância nas origens do partido. Mesmo se limitando a atos simbólicos, talvez merecesse no mínimo uma menção ter costurado a primeira bandeira do PT? Outra ausência que notei foi em relação ao programa Minha Casa Minha Vida, no segundo governo de Lula, cuja importância na reação brasileira à crise de 2008 é considerável.
Um diferencial na qualidade desse livro é em relação às suas fontes. Entrevistas de primeira mão com diversos dos citados ao longo da história, incluindo membros da oposição, como FHC, e as diversas "entrevistas em off", que traziam sempre as informações mais interessantes, enriquecem bastante a obra.
Profile Image for Jonathan Mendonça.
37 reviews
December 2, 2025
Celso Rocha de Barros já era um dos comentaristas políticos mais inteligentes e com maioe taxa de acerto que eu acompanho. Neste livro, se prova capaz de enxergar para além da militância e do partidarismo com coerência afiada. Equilibra a vontade de “ver um Brasil que poderia ter sido” - de Brizolas ou Pallocis prosperando suas ousadias - com “o Brasil que se deu” através da fome de poder que não mede consequências. É um espelho histórico apurado do dia a dia parlamentar brasileiro, que assusta e encanta pela semelhança dos anos 80 com a atualidade. Bom de ler, melhor ainda de saber.
Profile Image for Eduardo Lima.
197 reviews2 followers
April 4, 2024
história de ideias e pessoas movidas por ideias a fazer política de baixo pra cima, depois de cima pra baixo, e todos os problemas que vieram com essa troca vertical. é um livrão, de pesquisa impecável e constantemente divertido. o Celso me surpreendeu escrevendo tão bem e fazendo uma leitura dessas ser tão gostosa. é maravilhoso!
Profile Image for Felipe Martins.
16 reviews2 followers
November 11, 2022
Uma leitura fantástica, detalhada e bem escrita a respeito das condições que levaram à criação do Partido dos Trabalhadores aos moldes de como ocorreu, ao seu movimento rumo à centro-esquerda/social-democracia, à sua derrocada institucional pós-2014 e ao seu retorno com a tarefa de (tentar?) reconstruir o ciclo democrático do país iniciado no final da década de 80, arriscando ao fim do livro um palpite sobre como poderá vir a ser a atuação do partido nessa tarefa daqui em diante.

O livro é bastante generoso em fornecer notas e referências sobre as afirmações apresentadas, ainda que haja uma quantidade razoável de referências que são descritas como informações “em off” e entrevistas dadas pessoalmente ao autor pelas partes envolvidas. Também me incomodava eventuais especulações e extrapolações pessoais do autor que não apresentavam embasamento direto - até aí, porém, imagino que o livro nunca se propôs a ser uma exposição completamente objetiva dos fatos.

Recomendo muito o livro para entender melhor toda a complexidade que envolve a existência do que parece ser, nesse momento, o único partido político a existir como “de facto” nesse país e possivelmente criar expectativas mais realistas sobre o que se pode esperar do terceiro mandado de Lula em 2023 - se não por esses motivos, recomendo apenas pelo fato de ser uma leitura bastante agradável considerando a densidade do assunto discutido aqui.

Profile Image for Adriana  Bacelar.
135 reviews
June 24, 2023
Muito bom! Alguns trechos, principalmente quando fala das políticas econômicas não é de fácil compreensão, mas no geral é um relato muito bem feito e de uma maneira direta da história desse partido que tem tantos mitos, tanta gente que construiu a política do Brasil na nova república. Narra momentos dolorosos que culminaram no golpe de 2016 e na ascensão da extrema-direita e da desgraça do Bolsonaro. O PT é muito mais que Lula, mas ao mesmo tempo Lula é a personificação do PT.
Essa é uma leitura que todo o Brasileiro deveria ler para deixar de falar besteira sobre o antipetismo e reconhecer a importância desse partido para o país, mesmo com os equívocos no caminho. Esse ano mais que nunca temos que reconhecer, sem o PT e sem o Lula, o Brasil estaria ainda numa situação muito pior que começou em 2016 e tornou-se muito pior a partir de 2019.
Profile Image for André.
127 reviews16 followers
August 28, 2023
O Partido dos Trabalhadores (PT) é um fenômeno único na história da república brasileira. Fundado em 1980, foi o único partido de massas, orgânico, criado por baixo, por grupos heterogêneos e com militância engajada. Foi, também, uma espécie de resposta brasileira tardia aos partidos socialdemocratas europeus, que se constituíram um século antes, enraizados nos sindicatos que surgiram durante a paulatina industrialização do velho continente. Segundo o historiador Perry Anderson, o PT foi o único partido de massas criado a partir do movimento sindical após a Segunda Guerra Mundial.

Celso Rocha de Barros, sociólogo com doutorado em Oxford e ex-filiado ao PT, dedicou quatro anos ao projeto de escrever um livro sobre a história do PT. Baseado em extensa bibliografia e em 65 longas entrevistas com personagens relevantes na trajetória do partido, Celso escreveu um livro fascinante e envolvente, sem o tom emocional de algumas de suas colunas na Folha de São Paulo.

O livro começa no final dos anos 70, mostrando os diversos movimentos sociais que deram origem ao PT, como o feminismo, a esquerda católica e a esquerda radical; contudo, foram os sindicalistas que deram maior força ao nascente partido, pela capacidade de mobilizar as massas e pela experiência política que adquiriram no trato com os donos do poder. No entanto, muitos dos líderes mais influentes do partido nas décadas seguintes vieram de fora do sindicalismo.

Uma das teses de Celso é que o sucesso do PT não era inevitável. O partido enfrentou muitas dificuldades no início, como falta de dinheiro, resultados eleitorais pífios e estrutura de funcionamento precária. Até as eleições de 1989, dizer que o PT seria o maior representante da esquerda brasileira na década seguinte era uma aposta arriscada. Leonel Brizola, talvez a figura mais forte da esquerda até 1989, sempre teve uma relação complicada com o PT; PCB e PCdoB tinham força própria no movimento sindicalista e estudantil; figuras importantes da esquerda brasileira durante as décadas de 70 e 80 preferiram ficar no estruturado MDB a apostar no PT; a ascensão do Papa João Paulo II, em 1978, refluiu o movimento da esquerda cristã latino-americana; por fim, a crise econômica dos anos 80, a crescente globalização e o início da virada neoliberal pelo mundo tiraram força do movimento sindical, a principal base do PT.

Outro importante fator que dificultou a vida do PT foi que, comparado aos partidos europeus, que tiveram décadas para passar do radicalismo inicial para a socialdemocracia, o PT teve que caminhar para o centro em 20 anos e sem mudar a geração de dirigentes que fundou o partido. Para piorar, esse centro estava bem mais distante das ideias de esquerda quanto comparado ao centro para qual os partidos socialdemocratas europeus caminharam. Não foi à toa que o PT perdeu muitos de seus quadros no processo.

Celso também defende que a história do PT não é a história da ascensão de Luís Inácio Lula da Silva. Para quem passou a acompanhar o PT nos últimos 20 anos, é difícil visualizar o PT para além do lulocentrismo. Celso argumenta que Lula sempre foi um personagem importante na história do partido, mas o PT lulocêntrico passou a existir apenas após a eleição de Lula para a presidência, em 2002.

Por fim, Celso analisa o paradoxo do PT ser um partido de massas tardio, que surgiu em um país periférico e já no declínio do sindicalismo brasileiro, que atingiu seu auge no final dos anos 70 e início dos 80.

O livro de Celso Rocha de Barros é uma obra indispensável para quem quer entender a trajetória do PT e sua influência na política brasileira. Celso narra com maestria os principais fatos, personagens e conflitos que marcaram a história do partido, desde sua origem até os dias atuais. Apesar da óbvia simpatia pelo PT, me parece que a história contada por Celso é bem equilibrada, sem passagem de pano nos momentos mais inglórios do partido e de seus principais personagens. Contudo, são muitas as pessoas e eventos citados por Celso, algo que pode ser um pouco difícil de seguir para quem não tem boa familiaridade com a política brasileira.
Profile Image for Marcelo.
72 reviews2 followers
March 22, 2023
Celso Rocha de Barros se propôs a escrever uma história do PT, mas acabou escrevendo uma história da política brasileira do meio da ditadura, passando pela redemocratização e pela nova República, até chegar à atual crise da democracia. O que já dá uma ideia do mote do livro: o PT perpassa todos esses períodos, suas transformações sendo grande indicativos das transições na política brasileira.

Algumas ideias importantes que são discutidas:

- A criação de um partido extremamente basista, a partir da congregação de diversos movimentos
- A relação conturbada com os movimentos marxistas, que faziam parte do PT, mas queriam liberdade para continuar com suas posições
- A grande discussão entre a democracia como valor tático ou estratégico, com a adoção deste último
- Uma formação de partido que, por ser extremamente basista e forjado na oposição, não tinha qualquer plano ou ideia de governo no início, que teve que ser criado na marra. Os distúrbios com os primeiros governantes eleitos eram fortíssimos.
- Relacionado a isto, o fato de que o PT é o grande partido sem poder institucional no Brasil: não possui um grande veículo midiático, ou apoio judiciário, empresarial ou militar. Ele surge das bases. No entanto, foi a sua gestão por 20 anos fora do poder público, como oposição, que garantiu que se tornasse um partido forte, possibilitando ainda alguma resistência frente à crise da democracia (veja-se o PSDB como o exemplo contrário).
- A dificuldade do PT de lidar com a desindustrialização. Apesar de hoje o partido ser visto como a preferência dos pobres, ele era dos operários, e teve que fazer um esforço consciente para chegar aos mais pobres. O que fazer quando não existe mais um SENAI para recomendar aos pobres, como Lula havia podido fazer? Vem daí a ênfase do partido em dialogar com o andar de baixo, usando políticas redistributivas - embora o DNA delas já estivesse no partido.
- Ainda, a dificuldade ao lidar com a migração do centro ao longo dos anos 90. Com a ascensão neoliberal após a queda do muro de Berlim, o centro do debate público migrou para a direita. Ao PT, coube se moderar e caminhar ao centro, mas este centro já não era o mesmo que encontrou os partidos socialistas europeus, algumas décadas antes, quando estes se moderaram. Que acordos a direita tinha a oferecer ao PT nos anos 90? A moderação do PT, neste sentido, foi mais difícil.
- A dificuldade imposta pela polarização. Vem desde os anos 80 a vontade de unificar o PT e o PSDB, unindo o operariado socialista e a social democracia – algo que aconteceu nos partidos de esquerda da França, dos EUA e da Inglaterra, por exemplo. Seria a trajetória natural dos dois. Porém, a ditadura roubou o tempo de discussão e apressou tudo. Além disso, PT e PSDB sendo polos opostos em eleições fizeram com que os elementos mais extremos de ambos os lados se alinhassem nestes paralelos, impossibilitando convergências. Só veríamos parte desse desejo realizado em 2022, com Lula + Alckmin.
- Como Celso recupera no último capítulo, cabe agora ao PT restaurar a democracia brasileira, em grave crise. No entanto, ele é justamente o ator que ficou por fora da última redemocratização, sendo o responsável pelos acordos da redemocratização “por baixo”, junto aos movimentos sociais, mas excluído dos acordos “por cima”, chefiados pelo PMDB e pelos outros partidos.

Em suma, talvez um dos maiores méritos seja possibilitar uma leitura de dentro, acompanhando os grandes atores do PT em momentos pivotais como a queda do socialismo, o Mensalão, o governo Dilma etc. Essencial para quem quer entender a trajetória da política no Brasil.
Profile Image for Gabriel Miranda.
49 reviews
February 8, 2023
"Em 2011, a Fundação Getúlio Vargas publicou uma pesquisa, conduzida pelo economista Marcelo Neri, analisando a evolução da pobreza e da desigualdade na primeira década do século XXI. Em oito desses dez anos, o Brasil foi governado pelo PT.
Em um certo ponto do relatório, há uma lista dos grupos que mais progrediram na década. Ela parece saída de um panfleto de fundação do PT listando quem o partido pretendia representar: "A renda de grupos tradicionalmente excluídos, como negros, analfabetos, mulheres, nordestinos, moradores das periferias, campos e construções, cresceu mais no século XXI." A renda dos brasileiros negros subiu 43%, contra 21% dos brasileiros brancos. A renda dos brasileiros analfabetos cresceu 47%, contra queda de 17% dos brasileiros com curso universitário. A renda dos brasileiros nordestinos subiu 42% contra 16% dos brasileiros do Sudeste. Segundo o estudo da FGV, entre 2001 e 2011, a renda dos 10% mais pobres cresceu 69,08% per capita e a dos 10% mais ricos cresceu 12,8%. Como disse Neri, a renda dos pobres brasileiros, na era Lula, teve "crescimento chinês"."
Profile Image for Bruno Assaz.
87 reviews4 followers
February 12, 2025
Não há como falar sobre democracia brasileira sem falar do Partido dos Trabalhadores, provavelmente o mais consistente dos partidos políticos brasileiros desde a redemocratização. A missão a que o autor se propôs, de contar a história do PT, certamente não foi tarefa fácil, e fico feliz que tenha sido o brilhante Celso Rocha de Barros a tê-la escrito. "PT, uma história" é um livro excelente, uma leitura indispensável para entender a democracia brasileira e como chegamos até aqui. O trabalho do autor foi primoroso, com dezenas de entrevistas (com petistas e não petistas) e incontáveis horas de pesquisa, e o resultado dificilmente poderia ter sido melhor. Recomendadíssimo.
Profile Image for Harvey Hênio.
626 reviews2 followers
May 1, 2024
Celso Rocha de Barros, o autor desse livro, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, servidor federal e colunista do jornal “Folha de São Paulo”.
Em 2019, depois de muito refletir, aceitou o desafio de contar uma história do Partido dos Trabalhadores, o notório e polêmico PT, amado e odiado apaixonadamente em proporções incomodamente iguais dentro do contexto de polarização que caracteriza o Brasil (e o mundo) atualmente.
Utilizando com muita propriedade a sua experiência como colunista político na “Folha de São Paulo”, o autor se sai muito bem e mesmo ferrenhos detratores do partido não teriam do que reclamar (caso se dispusessem a atravessar suas 691 páginas), pois o livro, em momento algum, ameniza ou distorce momentos polêmicos da história do PT.
Celso Rocha de Barros narra, ancorado numa profusão de dados e depoimentos, as origens do PT, suas ligações com a esquerda da Igreja Católica e com o movimento sindical sediado no ABC paulista e a atuação decisiva de seu personagem seminal, o hoje, mais uma vez, presidente da república, Luís Inácio Lula da Silva. São igualmente instigantes e esclarecedoras as digressões do autor acerca dos dilemas ideológicos que sempre fizeram parte do PT; a saber: a sua aproximação com a esquerda socialista e reformista, a sua distância do comunismo (ao contrário do que muitos erroneamente sustentam, o PT nunca foi comunista), a polêmica acerca da natureza “social-democrata” do partido (motivo de críticas de agremiações mais à esquerda que criticam pesadamente o PT a despeito de, ocasionalmente, a ele se aliarem), as polêmicas, e muitas vezes dolorosas, alianças com a “centro-direita” tradicional da política brasileira em função da construção da “governabilidade”.
Num ritmo ágil (a despeito das centenas de notas de pé de página que, muitas vezes, quebram o ritmo da leitura) e quase como numa narrativa de suspense e aventura o autor descreve e analisa o difícil início como uma agremiação quase nanica que se relacionava de forma tensa com o regime militar que estava nos seus estertores quando o PT foi criado em 1980, o gradual e consistente crescimento, as dolorosas derrotas para Collor e FHC, a difícil (e até hoje algo tensa) relação do partido com as pautas LGBTQIA+, antirracistas e ambientais, os apoteóticos “anos Lula” (2003/2010), os tensos anos Dilma (2011/2016), os estragos provocados pela operação “Lava-jato” (que o PT, em momento algum, mesmo podendo fazê-lo, nunca barrou), as insistentes, polêmicas e histéricas denúncias de corrupção, o declínio após o impeachment (golpe?) de Dilma (o pior momento do PT), a prisão de Lula, a gradual recuperação do prestígio do partido, a soltura de Lula e a disputa contra o “bolsonarismo”.
Excelente e esclarecedora leitura acerca de um partido que, a despeito das polêmicas, talvez seja a única instituição que mereça o título “partido” em função de sua organicidade, resistência, resiliência e fidelidade de seus milhões de adeptos.
Vale a pena reproduzir alguns trechos do capítulo final do livro intitulado “Democracia em Crise”. Disse o autor:

“É provável que os anos seguintes causem grandes transformações no PT. Será que ele se dissolverá de vez na velha política, como aconteceu com o velho PMDB de Ulysses Guimarães? Desistirá da moderação e se tornará mais um sintoma da crise da democracia brasileira? Como os intelectuais petistas pensarão essas transformações? Com que forças da esquerda internacional o PT vai encontrar mais possibilidades de diálogo? Que novas políticas públicas serão criadas para conciliar os interesses dos pobres, dos operários industriais e da classe média? [...]
O que parece provável, ao menos quando esse livro termina de ser escrito, é que a tarefa de reorganizar a democracia brasileira ficará com o PT e seus aliados. Isto é, ficará com o partido que não participou da “democratização pelo alto” dos anos 1980. Se isso se confirmar, é preciso desejar sorte aos petistas em sua nova tarefa.
Em 23 de março de 1979, ainda durante as jornadas grevistas do ABC, um grupo de operários organizou um protesto no Paço Municipal de São Bernardo. Sentaram-se no chão de modo que, vistos de cima, a posição de seus corpos formasse a palavra “Democracia”. Antes que se posicionassem, a polícia apareceu e os expulsou de forma violenta. Há uma foto de Juca Martins em que é possível ler “DEMOCR” e o começo de um “A”. O simbolismo é claro: os operários tentavam reconstruir a democracia brasileira, mas a repressão fez com que a tarefa permanecesse incompleta.
Nos últimos anos, as forças do obscurantismo tentaram mais uma vez apagar a democracia escrita nas ruas. É hora de os metalúrgicos e sua turma voltarem a reescrevê-la. Talvez se chamarem mais gente, seja possível concluir o texto”.

Para finalizar é igualmente válido reproduzir a conclusão de uma resenha sobre o livro publicada na revista “451” (Março de 2023) de autoria de Luiz Augusto de Campos, sociólogo e cientista político.

“Com o retorno do PT ao poder, a leitura do livro se torna urgente. Mas como Barros frisou, as soluções bem-sucedidas no passado dificilmente serão mecanicamente transponíveis ao novo contexto. O Brasil é outro, o PT também. Por isso o êxito do novo governo dependerá mais de sua capacidade de produzir um projeto nacional criativo e aglutinador do que de uma filosofia da história que busque isolar “o atraso” para liberar “o progresso”.

Leitura vital que contribui de forma fundamental para o entendimento dos dilemas do Brasil atual.
Profile Image for Carla Tunes.
50 reviews1 follower
March 7, 2023
Leitura fluida, apesar dos muitos detalhes, fatos e datas que um livro sobre a história de um partido pode conter. O início do livro, que trata da criação do PT, da participação dos movimentos sociais, das comunidades eclesiais de base, dos papéis de políticos de peso do Brasil, como Brizola, Ulisses Guimarães, FHC e tantos outros, é um ótimo retrospecto da História do Brasil da segunda metade do século passado pra cá. Muito interessante a parte sobre os bastidores da redemocratização e da Assembleia Constituinte.

Conheci vários eventos dos primeiros mandatos do PT no governo. Os últimos, terminando com o impeachment da Dilma, já estão mais frescos na memória. Foram feitas várias análises econômicas sobre esse período, sobre as quais gostaria de ter mais conhecimento para poder avaliar.

Achei a visão do autor bem equilibrada (não imparcial, pois isso não existe) mostrando erros e acertos do partido, dentro e fora do governo, suas várias tendências internas, das mais trotskistas às mais moderadas, e sua transformação ao longo dos anos. Me surpreendi com a ideia de que o PT seja o último partido social-democrata (à moda brasileira) que resistiu de pé a essa onda de extrema-direita que está avassalando o país e o mundo.
4 reviews6 followers
April 2, 2023
if you want to understand the Brazilian left

This is the book…it is well researched and quite critical if also sympathetic to the phenomenon of the PT, Brazil’s largest and most successful left wing party.
6 reviews
January 17, 2025
Livro que conta uma história que demonstra como o PT é um partido que muda o jogo político brasileiro ao mesmo tempo que é mudado por ele.
Leitura interessante sobre o processo de democratização brasileira.
Importância da independência de classe de um partido.
Profile Image for Paulo Reimann.
379 reviews1 follower
December 11, 2022
Gigantic

A clear view about Brazil's recent history. By far the best book about the subject. Superbly written, fluid and easy reading. A must read.
Profile Image for Ramiro Breitbach.
64 reviews4 followers
March 6, 2023
Muito bem pesquisado e bem escrito. Claro está, porém, que o autor tem forte identificação com o partido. Ok, é UMA história do PT, nao ta proibido que haja outras.
Profile Image for Alexandre.
202 reviews3 followers
August 15, 2023
Ótimo registro histórico, principalmente do início do partido.
Displaying 1 - 22 of 22 reviews

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