Edição bilingue: grego e português. A par dos evangelhos canónicos, existem outros (combatidos a partir do século IV e excluídos no século XVI) que mostram a figura e as ideias de Jesus Cristo sob um prisma muito diferente.
Antes da imposição de uma doutrina única no século IV, o cristianismo caracterizou-se pela diversidade de pensamento. A par dos evangelhos tornados canónicos, circulavam também outros, atribuídos a nomes como Pedro, Tomé e Filipe, que davam a ver a figura de Jesus Cristo sob prismas diferenciados. O Evangelho de Pedro emprega uma palavra que nunca ocorre nos evangelhos canónicos: «discípula». No único evangelho cuja autoria é atribuída a uma mulher (o Evangelho de Maria), a pessoa a quem Jesus confia a sua doutrina não é Pedro nem João, mas sim Maria Madalena. Muitos destes textos permaneceram desconhecidos até à segunda metade do século XX e o seu conteúdo ainda suscita controvérsia. No entanto, os evangelhos apócrifos constituem um estímulo para repensarmos, hoje, o cristianismo de forma menos dogmática e com mais espírito de inclusão.
A finalidade deste livro é dar a ler o material greco-latino em edição bilingue, com um comentário crítico-histórico tão imparcial quanto possível, trazendo esses textos de regresso em toda a sua plenitude, traduzidos das suas fontes originais.
Evangelhos de Tiago, Tomé, Filipe, Maria, Pseudo-Mateus, Pedro, Nicodemos, Natividade de Maria, Relatos da Paixão de Cristo, Narrativa de José de Arimateia, Evangelho dos Egípcios, Místico de Marcos, Evangelho copta de Maria, Relatório de Pilatos, Descida de Cristo aos Infernos, Evangelho de José o Carpinteiro, etc.
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Pela relevância e maneira como são explicados os conceitos, o contexto e as diversas interpretações de cada texto. Jesus Cristo foi e será sempre o centro de polémicas, desde os seus propósitos até à sua mensagem, desde do seu "futuro" ao nosso "presente", desde a sua memória à nossa realidade. Quanto mais soubermos, melhor conseguiremos "construir" este Homem, e acolhê-lo com maior verdade. Há textos inquietantes, que facilmente refutamos porque não crescemos com eles, mas o que faríamos com estes episódios se deles tivéssemos conhecimento desde sempre?
“Os Evangelhos Apócrifos”, com tradução de Frederico Lourenço, encontram-se numa edição cuidada. O Autor permite e incentiva o contacto com línguas desconhecidas para a maioria dos leitores (eu incluído), com a inserção do original grego ou latino na página esquerda e, na página direita, a respetiva tradução. A par deste cuidado, as notas que desenvolve sobre as passagens relevantes dos textos e, sobretudo, a introdução de cada um deles, com referências bibliográficas sobre os temas e o seu posicionamento trazem uma grande riqueza aos leitores que queiram aprofundar as questões, sem maçar aqueles que se ficam pela leitura destas páginas, assim, com melhor contextualização.
Um dos pontos fortes da introdução de cada texto passa também pela conjetura do momento em que terão sido redigidos e do seu possível Autor. Em muitos casos, o adjetivo “apócrifo”, no sentido objetivo de "secreto" ou "escondido", é perfeitamente encaixável neste âmbito; noutros casos, as indicações são mais precisas. Além disso, são-nos dadas informações sobre manifestações artísticas destes evangelhos, sobretudo na pintura. A esse respeito, salientam-se as obras que retratam a infância de Maria, desde a anunciação a Santa Ana, ou a sua apresentação no templo. Neste caso e noutros, a obra vale do ponto de vista literário e também como relato distante, necessariamente conjetural, de algumas dúvidas, inquietações e buscas de respostas por cristãos ou não cristãos (Como foi a infância de Maria? Como Maria conheceu José? Como foi a infância de Jesus? Como era fisicamente Jesus? Além dos 12, haveria outros discípulos? O que mais terá Jesus dito?), mas também detrações que se buscavam fosse contra diferentes ramos do cristianismo, fosse contra o judaísmo.
Contendo narrativas biográficas sobre a infância de Maria e de Jesus e textos com pendor gnóstico, esta obra é importante para se compreender certas teologias desenvolvidas pela Igreja Católica, no que concerne especialmente a Maria, e as doutrinas que foram consideradas heréticas no desenrolar da história do Cristianismo. Frederico Lourenço faz notas introdutórias aos livros e comentários aos textos demonstrativos de um investigador nato e imparcial. A leitura destes textos estimula-nos a refletir e a repensar certas posições dogmáticas que se defende a partir dos textos canónicos. É claro que estes textos não têm a mesma importância que os textos canónicos no seio da cristandade. No entanto, a leitura dos mesmos faz-nos "vislumbrar o modo fascinante e diferenciado como as várias gerações de cristãos entenderam e veneraram a figura de Jesus" (pg. 15). Apesar de considerar que os textos despertam a curiosidade, não consigo encontrar neles o valor ou caráter apologético que Frederico Lourenço pretende enquadrar.
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Excelente edição, que publica e comenta os evangelhos apócrifos, isto é, ocultos. Há múltiplas visões do cristianismo inicial, que foi plural, contraditório, tal como as comunidades cristãs iniciais. Os mais antigos do século II e os mais recentes (este limite é espantoso) do século XIII. Os comentários de Frederico Lourenço são úteis e estimulantes.
Com respostas sobre a conceção e nascimento de Jesus e curiosidades relativas à infância de Maria e Jesus. Assim como sobre Palavra, morte e ressurreição.