Duas pessoas que foram outrora um casal encontram-se passados dez anos de se separarem. Ela, lisboeta, condu-lo a ele, o estrangeiro, por diferentes percursos na sua cidade, enquanto desnovelam memórias.
Na tentativa de estabelecer um passado comum, raros são os trajectos que coincidem. Resta-lhes os nomes de certas ruas, de certas cidades — Buenos Aires, Berlim, Marselha, Beirute que se tornam topografias íntimas, que não poderão mais ser visitadas, como o nome da filha que nunca tiveram.
Nasceu em Lisboa em 1982. É licenciada em Design de Comunicação pelas Belas-Artes de Lisboa e doutorada em Estudos Culturais pela European University Viadrina, na Alemanha. Em paralelo à criação literária, escreve para teatro, faz apoio dramatúrgico e dá aulas. Na editorial Caminho tem publicados três romances, dois livros de contos e um livro infanto-juvenil. O primeiro romance «Diálogos Para o Fim do Mundo» ganhou o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho 2009. «O Museu do Pensamento» foi considerado pela Sociedade Portuguesa de Autores o melhor livro Infanto-Juvenil de 2018; e o romance «Ecologia» foi finalista do prémio APE, PEN, DST, Casino da Póvoa e semifinalista do Prémio Oceanos 2019. Em teatro, começou por escrever para o Festival Teatro das Compras. A primeira peça longa, «Quarto Minguante», foi encenada por Álvaro Correia no Teatro Nacional D. Maria II em 2018. No mesmo ano foi-lhe atribuída a Bolsa da DGLAB, com a qual escreveu «Corpo/Arena», que iria estrear em Itália, não tivesse a Covid19 cancelado tudo.
No ano passado, li "Ecologia", da mesma autora, e embora nada tenha a apontar à escrita da Joana, e embora até ache a ideia muito original, "Ecologia" estava longe de vir a ser considerado um dos livros da minha vida, seja lá o que isso for. No entanto, ao ler esse livro, pensei: "este livro não me emociona, mas não há dúvida que esta autora tem aqui qualquer coisa".
A minha intuição estava certa. "A História de Roma" teve em mim um efeito que não esperava, embora, sem o saber, precisasse dele. Ainda me questionei: "Silvéria, não estarás a adorar o livro porque te revês em várias opções desta Joana, em vários pensamentos e desencontros pelo mundo?". Podia ser isso, que também o é, mas é bem mais do que isso. O que me fez realmente conectar com este livro - o que não aconteceu com "Ecologia" -, e vocês vão rir-se, mas é verdade, é que aqui a Joana Bertholo "partiu a louça toda". Uma espécie de Annie Ernaux com estilo próprio, mas igualmente apaixonado, desvairado, irracional, incompreensível para os outros, intenso, diria mesmo que sofrido e sofrível. Um livro desalinhado e não muito "aprumadinho", mas transparente. Em literatura, a transparência é quase um ato de coragem.
Eis um livro sobre o que podia ter sido e não foi. Sim, porque o que não foi também pode dar um livro...e dos bons!
4,5***** Joana Bértholo conquistou-me pela sua escrita original, sensível e autêntica, daquelas que colocam o dedo nas feridas da alma até que, eventualmente, tenham significado ou façam sentido (coisas distintas) ou até deixarem de doer.
A História de Roma é um livro sobre viagens em sentido lato, é sobre escapar e regressar outro(a), assimilar e incorporar paisagens e pessoas como se fossem lugares. É sobre pessoas como lugares onde somos e estamos e às quais regressamos ou das quais fugimos. Pessoas e lugares aos quais pertencemos e deixamos de pertencer.
"Em viagem, cada pessoa junto de quem nos apeamos é um novo território, com as suas múltiplas atmosferas, fases férteis e de pousio que ciência nenhuma adivinha. A cada um a sua forma de chover, o seu jeito de dar fruto. Há gente que é à beira-mar, de bom convívio, ou escarpada. De quando em quando, encontrar alguém com desertos dentro, com paisagens interiores absolutamente tropicais."
A maternidade (ou, termo horrível, não-maternidade, a negativa como forma restante de identidade) é outro dos temas centrais.
"Trazer uma pessoa ao mundo deve ser como inaugurar uma capital ou descobrir uma floresta virgem. Todas as cidades ou florestas previamente visitadas devem significar pouco perante aquela nova topografia. Imagino que será necessário determinar cada costume de raiz, cada recinto ou cruzamento. Tornar-se mãe não andará longe de recomeçar a civilização."
Também o amor está lá. O amor correspondido por inteiro ou em partes, as diferenças no peso e na medida com que os amantes se dão, o dano inerente. Não só o amor dos amantes, mas igualmente o amor filial, o amor dos amigos, ao qual preferimos chamar amizade.
"Disse que não imaginava a vida sem isso. Sem o quê?!, perguntaste, confuso. Sem o salto de fé! Sem gostar de alguém a pleno peito, com repúdio a qualquer prudência, a cuspir no rosto da cautela."
Depois deste primeiro livro que leio da autora vou obviamente ler mais dela, provavelmente tudo, e desconfio que isso irá mexer comigo como só a boa literatura sabe fazer.
Talvez uma opinião menos comum sobre o livro. Apesar de ter gostado do livro, alguns pontos negativos: - O tempo das 2 narrativas (passado e atual - 10dias em Lisboa) nem sempre são claras. - História muito inverosímil: um estranho na Feira do Livro “É ele” + encontra-o na casa da frente do trabalho + é o palhaço + encontra-o numa festa. Não sabia que era a mesma pessoa? Mas persegui-o e beijou-o. Vai a Marselha porque acha que o viu num vídeo? Persegue diariamente uma mulher desconhecida? - O tema da maternidade torna-se cansativo, como se se estivesse a justificar constantemente. - Qual o romance de Sara e João de que fala nas páginas 200 ss? - Não me identifiquei com a protagonista, alguém mais instável e descontrolada. - Relevância do último capítulo em Maputo?
Apresenta-se-me mais como um livro de viagens (quem sou onde e quando?) e um livro sobre a maternidade. E, acima de tudo, um livro sobre a complexidade e fiabilidade das memórias. O que aconteceu? É real ou imaginário?
Este livro foi-me apresentado como uma história de amor e acabou por ser tão mais do que isso. Quando o percebi, achei que me iria sentir defraudada no final, mas não foi o caso. Adorei este livro, ainda que a escrita da Joana Bértholo por vezes fosse desafiante, principalmente por ter um vocabulário tão rico (grande vantagem de ler no Kobo: dicionário à distância de um toque). O ritmo é original e frenético, nem sempre sendo muito fácil de acompanhar, mas pontuado com pequenos páragrafos onde encontramos reflexões bem interessantes. A exploração de temas como a maternidade, o luto, a memória e a importância do "sítio" de onde somos para as pessoas em que nos tornamos fizeram com que gostasse muito deste livro. Sei que o vou levar comigo para várias discussões pela vida fora.
Gostei muito deste livro! Para além de estar muito bem escrito leva-nos a viajar. É também maravilhosa a maneira como nos troca as voltas no final deixando-nos com vontade de o reler com uma nova perspectiva. Já o terminei há uma semana e ainda não me consegui libertar dele.
Uau! Que obra! Tenho mesmo que vos falar dela com mais pormenor! Num vídeo em breve no cantinho habitual! Só lhe aponto um pequeno defeito - o final...
Escrita lindíssima e bastante fluida, mas não consegui perceber grande coisa desta história e do porquê de ter tanto hype.
Não gostei de nenhuma das personagens, andei sempre entre o “agora estou a gostar” para o “já estou perdida”. Senti que não havia fio condutor, partes desconexas de tudo, dispersas… senti que as coisas caíam um pouco de paraquedas…
Já tinha ouvido muito bem e muito mal deste livro e da escrita da Joana Bértholo. Esperava estar do lado que adorou a história. A escrita é realmente bonita e tem frases que relemos vezes e vezes sem conta de tão bonitas que são; mas a história… que nó no meu cérebro! Se calhar o problema é mesmo meu, mas creio que não é livro para mim. E talvez esta autora também não seja para mim.
Hoje passei muito tempo a ver fotografias daquele ano, dez anos atrás. Uma em particular, a única que tenho de Buenos Aires quando tu já não estavas. É uma foto de grupo. De pé, eu, o Juan e a Osa. O Juan segura um pincel e uma capa de cartão, que finge pintar. Sentados à nossa frente, o Ricardo, com o queixo cortado pelo enquadramento, e um rapaz de quem esqueci o nome. Pouco se vê da cartoneria: na parede atrás de nós a imagem de Che Guevara, a preto e branco, de charuto alçado, junto a duas insígnias em cartão. Uma brada Eloísa Cartonera num abuso de cores disponíveis e outra, pintada de amarelo e azul, carrega a sigla CABJ — Club Atlético Boca Juniors.
A História de Roma é um romance sobre um casal que se reencontra após 10 anos de separação.
Ao longo de dez dias, enquanto percorrem as ruas e locais icónicos de Lisboa, as memórias vão se desenrolando e muitas narrativas são contadas.
É que Lisboa não chega a ser um lugar, é mais o princípio de todas as coisas.
São relatos de vida - versões diferentes de uma mesma história - de viagens, de escolhas, de amor e de perda, de ser mulher, de ser mãe ou não ser mãe.
Gostei da intensidade e do ritmo em que a narrativa se desenrola. Gostei da escrita, e com certeza será uma autora a seguir com atenção.
Que bela surpresa foi este livro. Foi o primeiro livro da Joana Bértholo que li e vou querer ler mais. Muito bem escrito, com uma voz muito própria.
Uma portuguesa e um estrangeiro separados há 10 anos voltam a encontrar-se, por uns dias, numa visita dele a Lisboa, cidade onde ela agora reside.
Pela voz dela somos levados ao passado que tiveram em comum e a partes da sua vida depois da separação. Aos encontros e desencontros em várias cidades: Buenos Aires, Marselha, Berlim, Beirute e no presente, Lisboa. Ao que foi dito ou não dito, o que foi esquecido, o que foi real ou imaginado.
Ao mesmo tempo, é uma viagem íntima e sensível pelas escolhas, pela personalidade e pelo sentir da narradora. Uma reflexão sobre uma geração que se movimenta pelo mundo e que por vezes não se sente de um lugar. Também uma reflexão sobre o que a sociedade ainda impõe às mulheres, nomeadamente relativamente à maternidade.
"Até na linguagem, repara: sou mãe ou não sou mãe. Sou mãe ou não-mãe, para simplificar. Assumo uma identidade positiva ou a alternativa é um não ao centro do ser." (pag.191)
"A representação comum da mulher que não quer ser mãe é a de que é ambiciosa e focada na carreira. O oposto da preguiça, portanto. A ironia é que até este estereótipo representa uma conquista, pois só é possível graças à luta das gerações precedentes, que me permitem dar por garantida a ambição de trabalhar e de me realizar além do marido e dos filhos. Isso parece hoje ganho, e um ganho; mas só que não funciona em detrimento de, mas por acumulação. Podemos mas também devemos querer tudo: a profissão em que nos embrenhamos; família e prole numerosa, tanto quanto as amizades cultivadas com encontros regulares; e ainda salvaguardar o tempo para aquele jantar a dois e para o casal. (...) O resultado não é ainda uma geração de mulheres livres mas de supermulheres. Conheço um punhado: guerreiras, maravilhosas, com um sorriso de olheira a olheira, cronicamente esgotadas." (pag.194-195)
Fiquei agarrada logo no início e não descansei, lendo com urgência, em suspenso relativamente ao que viria a seguir. E no final, só tive pena que tivesse acabado tão depressa. Gostei muito desta história, principalmente da forma como foi contada.
Uma história que me é dificil explicar e que me suscitou dúvidas relativamente ao que pensar sobre aquilo que li nestas 300 páginas. Muitas apreciei, outras dispensaria. Atraiu-me a escrita pelo seu conteúdo esmerado e confessional , mas por outro lado, inquietou-me e entediou-me em certos momentos, apesar de o tédio ser rapidamente destronado por parágrafos belíssimos com desabafos que me despertaram os sentidos, os sentimentos e a memória. Uma narradora que nos conta tanto sobre a vida e a morte, os encontros e desencontros, os amores e desamores, o desejo e o indesejado, as possibilidades e impossibilidades. Uma história do que foi e do que poderia ter sido?.... Por me ter deixado tão pensativa, desconcertada e por me lembrar tantas vezes dela, a História de Roma merece as estrelas atribuídas.
Um favorito de 2023. Aliás, atrevo-me a dizer que ocupa o lugar de favorito da vida. Bastou-me ler as primeiras páginas para o perceber. Começo a escrever e sei logo à partida que não conseguirei fazer jus ao que sinto por este livro. Há tanta coisa que fica por dizer.
Esta foi uma leitura muito íntima, muito pessoal. É um livro sobre o que podia ter sido e não foi. Sobre os nossos "e se..." e a vida que ficou por viver. Sobre um amor que deixou de ser, sobre a maternidade e uma filha que não nasceu. Sobre a multiplicidade de verdades. Sobre o passado, mas também sobre o futuro. É a história de uma lisboeta e um estrangeiro que outrora partilharam um amor. Passados 10 anos reencontram-se em Lisboa e regressam às suas memórias. Mas há algo de muito curioso neste livro. Há pouca intervenção por parte do homem, tornando-se num longo monólogo centrado na própria narrativa da mulher. Foi algo que me fascinou, especialmente olhando de uma perspetiva mais psicológica. Como poderia a protagonista compreender a “verdadeira” narrativa, se não para para escutar? Vemos como existem diferentes verdades, i.e., o amor entre duas pessoas foi vivido de forma distinta para ambas. Será um mais válido que o outro?
“E se...” eu tivesse seguido outro caminho? “E se...” tivesse feito algo que no passado não tive a coragem de fazer? E, ainda que sempre tenha tido o sonho de ser mãe, há muito que me questionava: até que ponto é que será moral? Até que ponto é que engravidar não será, no fundo, um ato egoísta da minha parte?
A escrita prendeu-me logo desde o início e foram várias as passagens que me comoveram (arrastem para ver algumas). É um livro simples, mas arrebatador, completamente visceral. Tive a sorte de encerrar este ciclo com o lançamento do livro na Casa Independente, em Lisboa, e foi tão bom poder falar um pouco com a Joana.
Tenho pena de não ter gostado. Tive de desistir pois, embora consiga ver muito potencial na escrita da autora, a narração na segunda pessoa e o cliché do romance deixaram-me desiludida. Hei de ler mais da autora porque, pelo que entendi, os outros são muito diferentes deste. No entanto, estou entusiasmada por ouvir a autora amanhã
gostei. obrigada a todos os que me recomendaram este livro. como não apreciar um livro duma mulher portuguesa que não fala de relacionamentos duma forma hipersexualizada, mas duma maneira quase normal? e de questões como feminismo, maternidade e capitalismo? no entanto, as passagens mais interessantes sobre esses temas já as vi abordadas em tiktoks (sorry, são um veículo importante do feminismo actual e das relações interpessoais) pelo que de novo só o facto de serem escritas em português num livro impresso. achei o final curto e confuso (porquê falar do pai? maputo pareceu meio enfiado à pressa), mas ainda assim coerente. por último, queria gritar à personagem principal que ela gosta mais dele que ele dela. e tenho uns links de tiktoks para lhe mandar
Este livro da Joana Bértholo, explora a amizade e o amor de um casal que passado 10 anos reencontram-se em Lisboa. Ela portuguesa, ele argentino, foram conhecendo vários pontos geográficos. O livro descreve que durante o reencontro, ela conta sobre o passado e o presente enquanto casal.
Tem uma escrita realmente muito boa, no entanto não gostei muito da história deles, achei clichê e sem grande impacto ou aprendizagem sobre o amor deles e os detalhes durante o convívio.
Parecem-me que a minha opinião perante este livro vai ser impopular, mas sinceramente não foi uma leitura que me comoveu. Talvez o próximo livro seja para melhor.
Logo nas primeiras páginas, percebemos que “A História de Roma” é um livro para se ler sem pressas. A autora escreve de uma forma exemplar: desafiante e ao mesmo tempo apaixonante para quem a lê.
Há momentos desta história que parece que se torna a nossa história. No final de contas, esta é uma história sobre os “e se…” da vida e a forma como construímos as nossas memórias que quando confrontadas com as memórias dos outros (na mesma situação) percebemos que são diferentes.
Um livro muito interessante que nos proporciona uma jornada de reflexão sobre temas profundos.
Com muita pena minha, não posso dizer que tenha gostado deste livro. Um caos frenético, histórias por explicar, pormenores confusos e muitas palavras para ver no dicionário. Aprecio uma linguagem rica, mas tanto não, - talvez o problema seja meu por não saber o seu significado - porque chegou a um ponto em que já me perdia no desenrolar das frases. Terminei o livro e senti que nada ficou.
antes de me apaixonar pelo enredo desta história, apaixonei-me pela escrita de Joana Bértholo: não a consigo comparar a mais nada que tenha lido; de tão única e poética que é. leio sempre de lápis na mão, mas neste livro dei-lhe ainda mais uso do que o habitual. muitas vezes sublinho frases em livros porque me identifico com elas. enquanto lia este livro, não há dúvida que o fiz algumas vezes por me identificar com aquilo que estava escrito, mas a maior parte dos sublinhados devem-se ao meu encanto e embevecimento com a escrita da autora.
não me surpreende que se trate de um livro premiado (vencedor do prémio literário fundação eça de queiroz 2023) e mesmo não conhecendo sequer o resto dos nomeados, posso dizer, de antemão, que é um prémio merecido, porque acho que é um dos melhores livros portugueses que já li.
quanto ao enredo, penso que, de certo modo, retrata uma experiência universal e comum a muitos de nós: o confronto das memórias e da imagem que construímos das pessoas com aquilo que verdadeiramente aconteceu e com aquilo que elas realmente são; e a angústia dos «e se» da vida. explorando temas como a maternidade (especialmente a decisão de não ser mãe e o que advém da mesma), a influência dos lugares por onde passamos na construção da nossa personalidade, o amor e as suas vicissitudes, Joana Bértholo apresenta-nos reflexões de extrema importância – escritas belissimamente – sobre os mesmos.
«se duas pessoas que um dia se quiseram tanto se sentam na margem de um rio sem concordar na direção da maré, como é possível algum dia chegar a contar a história de um povo, de uma guerra, de uma revolução?»
«a minha missão única é tentar perceber o que aconteceu, num sofrimento mudo que me imobiliza.»
«teria de saber explicar o que nem eu compreendia: de que forma a descrição deste homem se desdobrara em possibilidades e, com o tempo, o original deixara de estar acessível. queria saber explicar aos meus amigos que se todas as variantes pudessem ser um bocadinho verdade, nenhuma seria a verdadeira, e o que de facto aconteceu perderia poder sobre mim.»
«ao sexto dia fiz essa experiência: seria a incompreensibilidade das nossas recordações uma questão de distância? geográfica, temporal, emocional?»
Só mesmo o já marcado encontro com a escritora me levou à leitura, depois de inexplicáveis indecisões, preconceitos, sei lá, que compulsivamente punham qualquer outro livro à frente deste. Já tinha até sido livro do clube de leitura Slower e ignorei. O que é certo é que, uma vez aberto e lidas as primeiras frases, agarrou-me e não larguei até o acabar. Uma história de amor (ou de Roma, ou da não-Roma) que nos leva numa linha narrativa, para depois se entrelaçar, ou desenrolar, ou embaraçar. Um casal ou o encontro entre duas pessoas são duas histórias, duas perspectivas, muitos desencontros.
Comprei e comecei a ler este livro, sabendo apenas que a minha grande amiga Rita o tinha adorado. Não sabia do que se tratava, nunca tinha lido qualquer review, nem sequer a contracapa. Pensei que era uma história de amor para depois o começar a ler e perceber que era bem mais do que isso. Que experiência foi ler Joana Bértholo e que experiência foi acompanhar a história destas duas personagens.
Ler autoras e autores portugueses é isto. É bom sair da bolha, ler coisas que nos acrescentam, deixar de alimentar a nossa língua como a estranha, como a “cringe”, como a demasiado elaborada e aborrecida. A leitura é um hobby, sim, mas não é tão mais rica quando nos marca? Quando levamos a história connosco? Que se desmistifique que literatura portuguesa é somente Eça, Camões, Saramago – também o é, mas é tão mais que isso. Que se desmistifique que não lemos em português porque fomos forçados a ler Os Maias na escola. Ainda bem que fui, honestamente. Leiam o que vos apetece, mas não deixem de ler o que é nosso: o que é nacional é bom e Joana Bértholo é tão bom!!
Este é, sem qualquer dúvida, um livro que irei levar comigo durante muito tempo (já o terminei, saí de casa e trouxe-o comigo na mesma para ir lendo as passagens que fui sublinhando a caminho do trabalho); é, sem qualquer dúvida, o meu favorito deste ano.
Vai ser difícil de competir com est’a História de Roma.
Fico tão contente e orgulhosa quando leio livros de autores/as portugueses que sinto que são obras de arte!
A escrita é belissima - e funcionou bem comigo - é muito íntimo. Adoro que seja passado em vários pontos do globo.
A Joana é uma "unreliable narrator". Há a dúvida permanente do "será que isto aconteceu mesmo assim?". Não me lembro de alguma vez ter lido algo que explorasse tão bem o tema da parcialidade da criação de memórias. O mesmo momento vivido por duas pessoas pode deixar marcas completamente diferentes.
Nunca tinha lido esta autora. É sempre uma corrida contra o tempo tentando uma cobertura inteligente dos clássicos sem perder as novidades que estão constantemente a sair.
JB tem uma escrita muito cuidada, usando e abusando da língua portuguesa, sempre na procura da palavra, às vezes quase esquecida, mais perfeita e mais adequada para aquele espaço do puzzle. É que a JB não basta que a peça encaixe apenas, importa também que os gradientes da cor que transporta produzam a imagem mais harmoniosa, a que se quer naquela área do quadro.
A estória é boa, interessante qb e vertiginosa, existencial e introspectiva.
"Revemos a perspectiva de um e de outro sobre um passado comum que nunca se encontra." 💭
Começo por afirmar que acho esta capa bastante peculiar e a escolha do título também tem muito que se lhe diga 😉 ao contrário do que o título indica, este não é um livro de cariz histórico nem nada que se pareça. Foi o primeiro livro que li de Joana Bértholo e, apesar de não ter ficado encantada com esta história, fiquei com vontade de ler mais da autora.
Tinha algumas expectativas em relação a este livro, porque sei que é um livro adorado por muitos leitores. Também queria muito ter adorado, mas não foi o caso. Fiquei indiferente, acho um livro facilmente esquecível e não me marcou. O que eu senti nesta leitura pode ser resumido numa palavra: meh 🤷🏽♀️ não aquece nem arrefece 🥲 e é muito triste quando isto acontece. Gostei da escrita da Joana, mas não senti nada pela história nem pelas personagens.
É uma história de amor, mas mais passada na cabeça da protagonista do que na realidade? A protagonista vivia obcecada por um homem, que se estava a marimbar para ela? Mas nem sequer consegui entender a origem desta obsessão, visto que aconteceu tudo de forma tão rápida, simples e superficial... não sei, posso ser eu que sou um coração de pedra, mas não consegui mesmo sentir-me ligada às personagens e ao enredo.
No entanto, gostei muito das reflexões sobre maternidade e dei por mim a desejar que o livro fosse antes um ensaio. Adorava ler a perspectiva da Joana Bértholo sobre maternidade e as pressões da sociedade num livro exclusivamente de não-ficção.
Sei que a minha opinião vai contra a corrente da maioria e, apesar de não ter adorado o livro, não posso deixar de o recomendar, sobretudo para conhecerem a escrita maravilhosa e a capacidade da autora em manobrar e brincar com a língua portuguesa.
Curioso o impacto que as expectativas têm num novo livro. Há uns meses comecei e larguei este livro sem opinar. Aborreceu-me e não me consegui conectar com a viagem nostálgica. Quando o reiniciei, agora, e sem expectativas, rapidamente me encantei com a escrita ritmada e a linguagem cuidada e desarmada de Joana Berthólo que me levou a um romance em Buenos Aires, depois de uns dias de reencontro em Lisboa, dez anos depois, em que desfia estas memórias. A percepção é que se trata de um romance autobiográfico e o não é (segundo o que ouvi). O enamoramento com as cidades é outro atrativo desta história de Roma (anagrama de amor).
O diálogo que se estabelece com a ideia da maternidade. Brilhante.
3.5 Queria ter amado este livro, tinha expetativas altas (talvez demasiado) mas não funcionou tão bem comigo quanto eu esperava.
Acho que é sem dúvida um belo livro, a escrita da Joana é muito boa. Revi-me muito em algumas partes sobre as memórias, especialmente em como as pessoas têm perceções diferentes sobre o mesmo momento ou acontecimento. A parte sobre a não maternidade é também uma reflexão interessante.
Este livro vai direto para um dos meus preferidos. Não achei um livro fácil de ler, mas a escrita íntima, sensível, por vezes irracional e sofrida, fez que entrasse na história de uma forma urgente e arrebatadora. Não consigo bem explicar por palavras. Aconselho muito!