Duas vezes em meados do século XVI, o mercenário e arcabuzeiro alemão Hans Staden aportou nas costas do recém-descoberto Brasil. A primeira, em 1549, passando por Pernambuco e pela Paraíba; e a segunda, em 1550, quando chegou na ilha de Santa Catarina, dirigindo-se posteriormente à capitania de São Vicente, no litoral sul do atual estado de São Paulo. Na segunda viagem, como viera a bordo de um navio espanhol, foi preso pelo governador-geral, o português Tomé de Sousa, e em seguida capturado pelos índios tamoios, inimigos dos tupiniquins e dos portugueses e aliados dos franceses. O jovem Staden viveu para contar o que paisagens virgens, riquezas inexploradas e a prática ritual do canibalismo, do qual por muito pouco não foi vítima. O livro com o seu relato foi publicado em 1557, em Marburgo, Alemanha, ilustrado por xilogravuras anônimas baseadas nas suas descrições, e imediatamente tornou-se um best-seller em toda a Europa. Trata-se da mais acurada e impressionante descrição do banquete antropofágico - o festim canibal praticado pelos povos Tupi. É, também uma das primeiríssimas reportagens realizadas sobre os povos que viviam no que viria a ser o Brasil, um eletrizante relato feito por um estrangeiro em um mundo estranho.
Se a galera do MEC, ou seja lá quem cria os currículos escolares, não tivesse uma visão tão afetada de literatura, todo mundo já teria lido esse clássico na escola e tomado conhecimento desse relato incrível de sobrevivência. Não só a linguagem é muito acessível, mas a história é divertida e cheia de curiosidades sobre o embate cultural e religioso entre índios, portugueses, espanhóis e franceses durante a nossa colonização. Muito melhor do que “O Ateneu”, "Racionais MC's" ou seja lá o que eles estão dando para as crianças lerem hoje em dia.
O cara é um cuzão, mas é legal ver como funcionava a vida dos nativos, especialmente o fato deles acreditarem que cada país tinha seu deus cristão diferente e que todos existiam ao mesmo tempo
Um livro de muita precisão. Trata-se de relatos factuais - coisa que não se encontra em outras obras do mesmo tema, e é aí que está seu grande diferencial. Esse livro é um mergulho real no Brasil colonial. Uma obra que gerou grande repercussão e inspirou vários movimentos e produções artísticas no mundo todo.
Livro fascinante. Um relato simples e direto das aventuras de Hans Staden em um Brasil recém descoberto, cheio de perigos na forma de selvagens canibais e feras desconhecidas. As ilustrações, os detalhes sobre a cultura dos índios, muitas vezes omitidos nas aulas de História, fazem com que esse livro valha muito a pena.
muito divertido de ler. facilmente podia ser um filme infantil desses com um protagonista mentiroso mas carismático que sempre consegue se salvar das situações porque tem muita lábia e uma sorte absurda. com menos gente sendo esquartejada talvez
Onde estavam esses livros quando eu vivia meus tempos de colégio? Um documentário dos melhores sobre um Brasil primitivo e banhado numa barbárie ritualista fascinante. Genial. Obrigatório.
O livro “Duas viagens ao Brasil” de Hans Staden, trata-se de um relato de um viajante mercenário alemão, sobre as duas viagens que fez ao Brasil, na época colonial! O livro começa, é claro, com o relato da primeira viagem - que iniciou em 1548, ano em que Hans Staden parte para o Brasil com um navio pertencente aos portugueses. Trata-se de uma viagem mais breve do que a segunda (16 meses), com relato das paradas nas ilhas portuguesas e, finalmente, do seu primeiro contato com o Brasil (são mencionadas, inclusive, Pernambuco, Paraíba, Olinda, o consumo de mandioca e palmito, pau-brasil, as tribos indígenas do local, os rivais espanhóis etc). A segunda viagem, iniciada em 1549, foi muito mais extensa, durando vários anos. Dessa vez, Hans Staden vai ao Brasil em um navio de espanhóis, com o objetivo de fundar cidades espanholas no Brasil, desafiando os portugueses. Hans Staden descreve as tribo dos Tupininquins, aliados dos portugueses, e a sua rivalidade com a tribo dos Tupinambás, estes aliados dos franceses (além de mencionar diversas outras tribos e a sua demarcação territorial, como os Carajás). Durante a viagem, o navio espanhol que Hans Staden viajava naufraga, e ele acaba sendo capturado pelos portugueses - tendo que trabalhar para eles por 2 anos (na defesa de uma aldeia portuguesa). Certo dia, Hans Staden sai para caçar, e é capturado por Tupinambás, que o mantêm preso por 9 meses. Neste período em que foi prisioneiro, Hans é testemunha de uma experiência única com os nativos, aprendendo os seus costumes e idioma. Todavia, Hans acreditava que os indígenas eram cruéis, pois praticavam o canibalismo. Hans descreve inúmeros eventos em que os inimigos eram desmembrados, assados em fogueiras, e comidos pela tribo dos Tupinambás (os indígenas acreditavam que comendo o inimigo, adquiriam o seu nome - as suas qualidades). É claro, ele sobreviveu para contar a história, mas não falarei como. Opinião pessoal: o livro é sensacional, e um dos raríssimos depoimentos do Brasil colônia, aos olhos de um europeu. Foi fascinante acompanhar o Hans Staden em sua aventura - uma viagem no tempo! No final do livro tem alguns capítulos dedicados somente a descrever as paisagens do Brasil, os “animais estranhos”, e os hábitos dos nativos (“o que comem e plantam 🌱”, “como constróem as suas moradias”, “como fazem o fogo”, “como cortam sem machados e facas”, “como temperam os alimentos”, “como noivam”, “como se adornam as mulheres” “como escolhem o nome de seus filhos”, “qual a sua maior honra”, “por que comem inimigos” etc. Hans Staden explica, inclusive, 3 receitas diferentes de como os Tupinambás cozinhavam a mandioca 🍠🍠🍠🍠🍠🍠🍠🍠 . Essa edição possui uma introdução muito boa do Eduardo Bueno, que afirma “O Brasil não alimenta a sua própria mitologia histórica. Se o fizesse, Hans Staden seria um personagem presente no nosso cotidiano” (de fato, me surpreende esse livro ser tão pouco conhecido por nós)!
Sabe quando se fica divagando sobre " uh, a natureza/a cidade/o clima/o mar/etc. é um personagem no livro tal"? pois bem, Deus é um personagem em Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden.
Como uma pessoa que conhece bem as paisagens em que a ação desse livro se passa, é curioso pensar como algumas delas não mudaram quase nada. (Aliás, fiz uma certa triangulação mental com as gravuras e tenho quase certeza de que o que ele chama de Superagui é na verdade a atual Guaraqueçaba (ou quiçá algum lugar obscuro na Baía dos Pinheiros, vai saber (mas, de novo, a gravura parece indicar Guaraqueçaba)): eu não consigo acreditar que possa ter havido uma vila portuguesa no atual punhado de casas de Superagui), afora que os caiçaras no geral não comem mais os alemães desavisados, infelizmente.
—De todo modo, graças à graça por Deus concedida a Hans Staden, este improvavelmente escapa de virar sopa pros gentios — algumas vezes, e por pouco. Esse livro pode ser facilmente apreciado tanto por aqueles que têm um interesse particular em algum dos temas que lhe tangem quanto por um "leigo" pego de susto. É surpreendente como sua forma se assemelha às histórias de pocahontas da vida, mostra que elas não divergiram tanto dessas narrativas de viagem das quais são simulacros quanto se esperava (exceto pelo supracitado caráter religioso. Não podemos desacoplar um homem seiscentista de Deus).
É sabido que tomar a perspectiva que muitas vezes se aprende na escola de que as guerras entre grupos indígenas foram puras proxywars das metrópoles é ter uma visão bem enviesada da situação, mas esse livro postula que na verdade há uma segunda proxywar em andamento, entre o deus cristão e os maracás tupis, através de uma sequência de milagres e comentários casuais retroativamente proféticos. Hans Staden e a história nos indicam indubitáveis o vencedor.
Há alguns momentos brilhantes, como Hans Staden acreditando que os pajés são possuídos pelo demônio até vê-los pessoalmente e concluir que os índios não passam de "uns tolos e iludidos", ou quando ele, mal humorado ao ver o cacique comendo a coxa cozida de seu amigo, diz que "Se os animais silvestres não comem seus iguais, então homens também não deveriam comer outros homens", para o qual recebe a resposta "Eu sou onça"; não obstante, não possui o subtexto quasi-mitológico que encontramos n'A Carta De Pero Vaz De Caminha A El Rei D. Manuel Sobre O Achamento Do Brasil, por exemplo. Leva coisa de algumas horas para ler, de todo modo, então é dever ser lido
Livro que teria inspirado Tarsila do Amaral a pintar o "Abaporu" e motivado o movimento antropofágico.
Leitura rápida, a história é dividida em 2 partes. Na primeira o alemão relata como veio parar no Brasil e sua convivência como prisioneiro dos Tubinambás, que queriam almoça-lo.
A segunda parte, que merecia mais atenção, narra costumes, cultura e tecnologia do nativos. Detalha os rituais das práticas canibais.
O livro tem um alto fervor cristão e a antropofagia serve para reforçar o título de selvagens enquanto europeus pilhavam, estupravam e matavam com armas de fogo. Apesar de tudo, é um dos poucos relatos precisos dos povos nativos, poucas décadas após a chegada dos europeus..
Excelente livro onde o protagonista nos relata suas primeiras expedições para o Brasil com detalhes de lugares, comidas, animais e rituais indígenas bem como as inúmeras frotas de espanhóis, portugueses e franceses que aqui aportavam.
Que livro delicioso, que história saborosa! Sério! O relato de Hans Staden é uma das melhores coisas que você lerá na vida! Rápido, fluido, divertido, instrutivo e nutritivo, ele te alimentará a alma e o cérebro com emoções e conhecimentos que você nunca soube que precisava, até agora. Leia! Leia enquanto come um bom pedaço de fígado! Hummmmmmm!
Livro sobre um Alemão que é capturado por índios canibais Tupinambás. Primeira vez que tive contato maior e real interesse na cultura indígena da época e não curti não. Era tenso
Estou bem desapontada com esta leitura. Achava que ia ser muito boa, mas acho que esse Hans Staden era um bom safado xD. Ele nada mais que usa seu Deus para conseguir se livrar da morte dentro da tribo dos Tupinambás. O tempo todo agradece a Deus por ter sobrevivido, e usa deste artifício para por medo nos indios. Quando eles adoecem, é porque o Deus de Hans quis. Achei isso extremamente ridículo! Além do mais tenho minhas dúvidas se metade desta história realmente aconteceu :/. Seria bom ver mais pesquisas e estudos sobre esta figura e este livro.
Mais uma daquelas coisas que eu encontro e me pergunto: Porque não conhecia esse livro? Porque não é uma leitura escolar obrigatória já que possui um suco cultural indispensável? Aiaiai... O capitulo 29 da parte 2 é uma das coisas mais gores que já li, meu estomago revirou algumas vezes. Desconhecia o elemento "ódio" na antropofagia (exofagia). Muito rico isso aqui."
O prólogo fenomenal de Eduardo Bueno me deu um gás tremendo pela leitura, esse livro foi a inspiração de Abaporu e do movimento antropofágico. Os relatos de um alemão que foi capturado por tupinambás no litoral paulista e sobreviveu por 9 meses, graças à uma série de sortes o que faz desse livro um testemunho de fé. Esse deveria ser leitura obrigatória na escola
Quantas culturas e nações não foram varridas para baixo do tapete da história, seja pelo extermínio por povos hostis, competição ou pela mais simples e singela passagem das eras? A única coisa que sobrevive às areias do tempo e tem a capacidade de registrar essas lembranças é a escrita. Muitos povos que não à dominaram, desapareceram imersos na ausência de informações e tiveram os poucos vestígios de sua memória apagados.
Porém, de vez enquanto a ação indireta de outros agentes: viajantes, exploradores, estudiosos e ironicamente os próprios conquistadores, acabam por imortalizar esses povos na memória, através de estórias, documentos e relatos.
O relato de Hans Staden é um dos mais instigantes testemunhos de um Brasil selvagem, uma nação ainda encerrada em seu embrião, onde povos ancestrais indígenas vagavam por florestas imponentes e singravam rios e mares, travando eternas batalhas para assegurar um território que estavam fadados a perder.
É um dos mais agradáveis “diários de viagem” que já tive o prazer de por as mãos. A narrativa, toda dedicada a Deus como agradecimento aos milagres “por ele concedidos”, não é uma ladainha religiosa, mas um verdadeiro retrato congelado do litoral brasileiro ancestral. Hans Staden concede vida à nossa natureza, ilustra as relações conturbadas entre os Europeus, e faz um competente ensaio etnográfico sobre os povos nativos que habitavam a região: discorre sobre sua distribuição e comportamento, suas táticas de batalha, arquitetura, relações sociais e hierarquia, religião e é um dos únicos relatos de uma testemunha ocular de um chocante ritual canibal tupinambá.
Findada a aventura, fica a tristeza deixada pelo desaparecimento de um povo e os rastros que o tempo esmaeceu. Hoje eu caminho ali pelo sertão de Mambucaba, por florestas e pastos, na presença de um povo pacato que se adapta à uma urbanização crescente, e nunca antes tinha me dado conta de sua história ancestral. Era exatamente ali que séculos antes, europeus assustados se escondiam em seus fortes, suportando o ataque feroz de índios guerreiros e onde rituais antropofágicos eram executados com toda sua sacralidade e imponência!
Procurei o livro inspiridao pela colecao Terra Brasilis do Eduardo Bueno, onde pela primeira vez fui exposto a acontecimentso nas primeiras décadas do Brasil Colônia. Em particular o relacionamento entre as diferentes tribos do litorial brasileiro com o portugueses, espanhóis e franceses. O livro do Hans Staden relata a experiência do alemão Hans Staden, mas al longo da narrativa é possível se imaginar naquele tempo e perceber como viviam os povos indígenas do litoral (em particular os Tupinambás, com quem, conviveu Hans), o que comiam, parte dos seus rituais, como se relacionavam e, claro, a cultura da antropofagia, um canibalismo ritualístico que envolvia tortura física e principalment psicológica, colocando por terra a idéia do bom selvagem. Excelente livro, super recomendado pra quem se interessa minimametne por história do Brasil, pela cultura dos povos indígenas/ originais ou um boa narrativa.
A short easy to read book. The accounts of this german soldier of fortune show in a peculiar description, the rituals of life, death, day to day, wars, warriors, children, women, ornaments, etc of the native Brazilian inhabitants that lived in the coastal area between Rio de Janeiro and São Paulo. The "horrors" described by this soldier, as savages do not differ much of the savagery of the crusades or the catholic inquisition against jews and nonconformists. This guy says that God saved him miraculously but it is not that way. He had good communication skill and also he was traded with the natives and used his knowledge against the superstitions of the natives. It was the base of anthropophagy, a movement of the modern art movement of 1922 proposed by the intellectuals of São Paulo. in writing, painting, plays, music, and others.
Uma história que eu já sabia de cor (minha avó vivia me contando quando eu era menor, principalmente quando a gente cruzava a rua Hans Staden para ir ao mercado em Ubatuba, e também me deu de presente a versão do Monteiro Lobato), mas nunca tinha lido a original. A segunda parte do livro é praticamente uma descrição antropológica feita muito antes da antropologia ter sido criada, com todos os problemas que um homem do século XVI pode ter, é claro, mas, ainda assim, divertido e muito, muito interessante.
Legal também como testemunho de um mundo em que relatos de viagem faziam sentido, quando ainda existiam diferenças entre os vários cantos do mundo e nem todas as pessoas usavam a mesma calça jeans.
Incrível obra de valor histórico, escrita em 1557, poucos anos depois do "achamento" da Terra de Santa Cruz pelos portugueses e da instituição das capitanias hereditárias, quando a terra ainda era objeto de disputa por portugueses, espanhóis e franceses. Na primeira parte do livro, o autor traz relatos de suas duas viagens e, na segunda, narra costumes e características dos povos indígenas, especialmente dos Tupinambás, de quem foi cativo. Hans Staden ressalta o caráter belicoso das tribos indígenas, que tinham o costume de devorar seus prisioneiros. Os indígenas, ora aliados de portugueses, ora aliados de franceses, também tinham conhecimento de guerra, o que vai de encontro à visão ensinada nas escolas de povos dóceis e passivos aos invasores europeus.
De leitura fácil, mas bem diferente do modo que escrevemos nos dias de hoje, Hans Staden, alemão, nos leva ao Brasil da década de 50 onde encontramos índios canibais espalhados por todos os lugares e onde acabamos nos deparando com palavras que, originadas das línguas desses nativos, nos fazem perceber o quanto realmente nosso português foi influenciado por eles.
Você pode estar achando estranho o livro se passar na década de 50. É que esqueci que é 1550 e não 1950! :)
Documento histórico que nos pinta uma imagem rústica, grotesca em vários momentos, mas bonita em outros, do início do nosso imenso País!
Achei a história de Hans Standen incrível, chegou a ser até inacreditável às vezes! Ele deve ser uma das pessoas mais sortudos que já pisou na terra (além de ter sido capturado por canibais...)
Não me surpreende que ele tenha atribuído os eventos que lhe salvaram a vida à Deus, porque se eu tivesse passado por uma situação dessas e saí viva graças a algumas coincidências com tempestades e mortes.. uffe, pode crer que estaría berrando por toda europa sobre a benevolência de Deus.
Às vezes fiquei cética sobre o quanto que eles queriam pintar o reconto como verídico... mas tbm não tenho motivo para crer que não é.
Em fim, recomendo o livro e achei que foi útil para entender melhor as relações entre os tribos indígenas da época e a própria terra brasileira!
O ser humano é regido por instintos, não importa o quão pseudorracional procure ser na construção coletiva de seus sistemas e operações. Esse relato, inúmeras vezes, me bate como piada, vista a postura do homem cuja religião é a ideologia dominante do seu vasto pedaço de terra. Hans Staden, como o bom cristão que é, deslegitima, ridiculariza ou demoniza as crenças dos tupinambás, que se utilizam da fé como presságio, honra e proteção, enquanto ele próprio agradece ao seu Deus por uma chuva que veio, por uma doença que atacou ou foi embora ou outros tipos de acaso que coincidiam com seus objetivos e lhes prolongavam a vida.