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O Professor Refém: Para Pais E Professores Entenderem Por Que Fracassa A Educação No Brasil

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O que pensam os professores que atuam com nossos filhos nas salas de aula? Quais são suas maiores dificuldades? Sentem-se preparados? Como veem a educação que os pais dão hoje às crianças? Que avaliação fazem do sistema educacional brasileiro? Com a clareza, a sensibilidade e a contundência que marcaram seus trabalhos anteriores, a educadora Tania Zagury responde a estas e outras questões, fazendo uma análise fundamental e pioneira do sistema educacional brasileiro fundamentada cientificamente, a partir de pesquisa inédita com cerca de mil e duzentos professores em todo o Brasil. Uma obra importante não só para professores, mas também para pais, que terão oportunidade de entender o que vem ocorrendo com os profissionais que trabalham na formação de seus filhos. E também para autoridades e instituições, pouco habituadas a ouvir o professor. As angústias e impossibilidades concretas do professor que atua nas salas de aula são aqui dissecadas, lançando luzes sobre o porquê do fracasso do ensino, que angustia a todos nós. Tania mostra que as sucessivas mudanças do sistema de ensino no Brasil, especialmente a partir de 1970, não foram acompanhadas das condições necessárias à sua execução, ou seja, mudaram-se as leis, mas não a realidade na sala de aula. As novas relações familiares e a falta de limites das crianças minaram a autoridade do professor ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, transferiram para a escola atribuições tradicionais da família. A indisciplina e a falta de motivação das crianças tornaram-se, em consequência, dois dos maiores problemas dos educadores. Nesse contexto, o professor se tornou uma espécie de refém do excesso de tarefas, da família, da sociedade e das decisões educacionais equivocadas. Ao mesmo tempo, segundo Tania, é ele o verdadeiro herói brasileiro ― afinal, poucos profissionais se dedicariam tanto com tais condições de trabalho. O professor refém chega para reforçar a preciosa parceria entre pais e professores, bem como entre os que planejam e os que executam as políticas educacionais. E para demonstrar que não haverá solução para a educação brasileira enquanto não se investir na formação continuada do professor e em medidas passíveis de serem efetivamente executadas.

301 pages, Paperback

Published January 1, 2006

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Tania

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Profile Image for Amanda Alexandre.
Author 1 book56 followers
April 5, 2023
O debate sobre educação no Brasil encontra-se completamente sequestrado por narrativas políticas. De um lado, temos quem acredita na velha educação, mais autocrática, e punidora. Do outro, a práxis pedagógica mais moderna, que no afã de contrariar a pedagogia da palmatória e do "ajoelhar no milho", correu demais na direção oposta e não dá consequências às atitudes dos alunos, sempre com o argumento de que "eles são crianças" e precisam ser protegidos de si mesmos.

O resultado é terrível. Muitos alunos só tem a chance de trabalhar sua sociabilidade na escola e, vivendo em um ambiente sem consequências, chega à idade adulta despreparado para viver em sociedade, tanto em termos de emprego (porque vem de um sistema que não o responsabiliza por sua parte no processo de ensino, a dedicação e o esforço) quanto do lado social (porque viveu em um ambiente onde desrespeito não era do todo tolhido).

Fui professora durante esta última época. Perdi a chance das vezes em que a gestão escolar falhou em ser minha parceira, das vezes em que uma reclamação de um pai me impediu de disciplinar uns "alunos-chave" (para usar um termo educado) da turma. Inclusive, já fui humilhada por um pai e mordida por um aluno, situações estas que me fizeram chorar depois. Um aluno do segundo ano, ao receber direções do que deveria fazer, sentou no chão, chorou e disse que iria me processar. E o que falar da vez em que recebi uma bronca por não esconder dos pais que eu estava gripada?

E olha que ensinei durante somente 4 anos em escolas particulares caras. Imagine o estresse acumulado de quem fica 30 anos nessa carreira.

O timing em que li este livro também é de assustar. O livro chegou em minha casa no mesmo dia em que um aluno de 13 anos esfaqueou uma professora de 71 anos em uma escola pública aqui no Brasil. O aluno havia cometido injúria racial no dia anterior contra colegas e no outro dia, se vingou da professora que lhe chamou atenção. Agora, que o menino tem sido alvo de ódio coletivo (que aliás, tem zero implicações legais na pena que ele deverá cumprir), há muitos pedagogos se condoendo com o assassino.

Esse debate é emblemático: enquanto a sociedade clama por mais segurança para professores e alunos, mais medidas para agir contra bullying e agressões, os especialistas se mostram mais preocupados com a saúde mental do agressor do que a dos agredidos. Como se no Brasil tivéssemos recursos suficientes para nos preocuparmos com a saúde mental de todos os envolvidos, ao mesmo tempo, sem deixar ninguém pra trás (a maioria das escolas não tem psicólogos suficientes, e o contingente público de assistentes sociais é minúsculo em todas as esferas da Administração Pública). Até agora, não vi ninguém se perguntando o porquê do rapaz poder ir à escola no dia seguinte depois de ter cometido um crime (racismo) nas dependências da escola.

Quando fazia faculdade em 2018, uma época cheia de tensões políticas, um aluno do curso de Medicina deu um tapa em uma professora. Ele sofreu zero consequências e tampouco teve seu nome divulgado, para ser protegido. E o que falar do escândalo da UnB, em que um aluno foi filmado ameaçando agredir uma funcionária e outra aluna... e continua estudando na instituição. Em São Paulo, uma aluna de medicina roubou quase 1 milhão de seus colegas. A Universidade fez o certo expulsando-a, mas teve que reativar sua matrícula à força pela justiça.

Na escola em que trabalhava, um aluno de 3º ano quebrou a boca de uma estagiária. O aluno continuou na escola no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido. A estagiária foi demitida.

De todos os aspectos da educação brasileira, este é o que me frustra mais. A sociedade está tomada pelo imediatismo, egoísmo e arrogância e a escola é boazinha demais para fazer a sua parte para mitigar isso.

Outro ponto importante que Tania Zagury aponta é o debate burro entre preparar o aluno "para o mercado" ou "para a sociedade". Este debate é tacanho, tomado de narrativas políticas e nunca deveria ter existido. É muito difícil um cidadão exercer o seu senso crítico se está desempregado e mal tem estabilidade para poder pagar o básico. Então a escola deve sim, preparar o aluno para o mercado, mesmo que seja somente nas competências sociais (o que raramente faz). Enquanto isso, a educação brasileira torce o nariz para o conceito de empregabilidade, um dever de casa que consideram muito "capitalista", e todo ano despejam milhares de jovens no mercado sem chance alguma de ser empregado.

Ao meu ver, é irresponsável e até cruel, fazer um filho de pobre ralar durante 4 anos nas universidades para que ele se forme sem nenhuma habilidade que o traga para o mercado. Mas muitas universidades agem como se, durante o curso superior, não fosse possível inserir habilidades de mercado E senso crítico, um argumento que seria válido se os cursos de nível superior durassem 6 meses ou um ano, mas não os longos 4 anos que são tortuosos para quem precisa da bolsa de 400 reais de foco acadêmico. Até os horários dos cursos são, muitas vezes, terríveis pra quem precisa trabalhar. Não é todo mundo que pode se dar ao luxo de passar anos longe do mercado. A maioria dos pobres não podem, pelo menos. A hipocrisia de quem faz simpósios sobre desigualdades sociais, mas não faz o mínimo necessário para se ajustar à realidade de seus alunos mais pobres me irrita.

De todos os argumentos levantados pelo livro, o mais onisciente é sobre como a gestão pública no Brasil é amadora. Mudanças são feitas baseadas em opiniões e não em experimentos científicos (vide Novo ensino Médio), sem treinamento e alocação de recursos anterior (vide Novo Ensino Médio) e, depois, a cobrança ao professor é feita sem que ele tenha os recursos necessários para fazer o que precisa (vide Novo Ensino Médio. Ou qualquer outra medida implementada nas últimas décadas). De novo, para um livro que foi escrito há quase quinze anos, a forma como ele acerta é de assustar.

Zagury fala com a autoridade de quem não só é especialista como entende, e muito, o lado do professor. O pragmatismo com que fala é raro no debate atual sobre educação. Aqui, sonhamos com o caviar quando não temos nem o arroz e feijão.
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