Muito da imagem associada às livrarias, aos livreiros e aos livros é tão romanesco como o que vai dentro deles. Existem, sim, o lado iniciático, o cenário algo apocalíptico e o papel do livreiro como guardião da cultura e de preciosidades esquecidas. Todavia, apesar desta retórica da resistência, há fenómenos recentes estimulantes, como a venda na internet ou as aldeias de livreiros, e ainda existem livrarias que respiram à vontade. Este é um livro sobre a história e a vida dos livreiros e das livrarias que terá certamente algumas historietas rocambolescas, mas que se guia pelo olhar da normalidade. Fala da diversidade da oferta actual, de bibliófilos, bibliotecas, leilões e livrarias independentes. Fala de esperança, porque enquanto houver livros, haverá muito mais do que leitores.
"Com todas as vantagens para o negócio, a compra de livros tem ainda outro atractivo. Para quem gosta de ler, a grande vantagem da profissão de livreiro está em ser o primeiro a escolher. Sentarmo-nos num armazém cheio de livros acabados de chegar e entretermo-nos a desempacotar surpresas, sabendo que poderemos guardar aquilo que quisermos, estará próximo do sonho de infância de gerir uma loja de doces. Por muito que o negócio obrigue a alguns sacrifícios e a vender certos livros que, num mundo ideal, guardaríamos, há sempre alguns que nunca chegarão a ser expostos. Guardam o prazer secreto e mil vezes satisfatório do livreiro."
"O preço apaga-se depressa de um livro que nos torna mais sábios, a que podemos voltar, ou que fica guardado na nossa memória. Há livros que nos ficam agarrados ao espírito de tal forma que se torna ridículo pensar que têm preço. Os grandes livros são espírito e são para o espírito, morrerão connosco, não suprem uma necessidade, no sentido em que não sabíamos que precisávamos deles e não voltaremos a precisar. Enchem-nos sem preencherem um vazio, são eles que criam a necessidade que resolvem, pelo que qualquer livro destes nos é dado, não entra na lógica da mercadoria."
Capaz de ser engodo para quem lê, já que chamar a este livro «A Religião dos Livros» parece exagerado, e o conteúdo não cumpre. Giro, ainda que o autor seja nitidamente preconceituoso, mas é na forma que mais desilude, por tão pedante.
Um ensaio que aborda o amor pelos livros, os livreiros e os alfarrabistas. Gostei de conhecer melhor o mundo dos alfarrabistas, adorei as histórias das livrarias independentes e saber a história sobre alguns dos primeiros livreiros. O autor também expõe os desafios que as pequenas livrarias enfrentam com o digital ou a concorrência das grandes editoras. Também procura retirar o romantismo que a maioria das pessoas coloca no alfarrabista. Demonstrando a luta constante para encontrar raridades e tentar colocar determinados livros a baixo custo.
Uma maravilha a leitura deste livro, pequeno mas grande, escrito por quem sabe, para quem gosta de ler, para quem gosta de livros (o que é diferente) e para quem gosta de histórias.
Uma escrita sublime (é Literatura!) mas muito prática, que tenta desconstruir e desdramatizar alguns mitos como o fim das livrarias ou a imagem romântica dos livreiros (concentrado na figura do alfarrabista Mendel).
Li deliciado e nostálgico “A religião dos livros – Alfarrabistas, livrarias e livreiros”, do Carlos Maria Bobone, que saúdo, e cheguei à conclusão de que é um opúsculo precioso num período de mudanças profundas neste mundo dos alfarrábios, do seu circuito e dos seus protagonistas. Fui trabalhar para o Bairro Alto em 1996 e, tendo cedo apanhado o vício dos livros por via do meu Avô materno, não podia estar em melhor zona da capital. Entrei e conheci o mundo dos alfarrabistas, estreitei amizades duradouras nas buscas intermináveis por “aquele volume” ou na ansiedade “daquela biblioteca” que estava a entrar. Recordo também com saudade a tertúlia bibliófila, onde conheci livreiros e outros doentes dos livros como eu. Foi a idade de ouro numa vida em que, hoje mais do que nunca, o espaço não chega para os livros que continuam a chegar. Senti-me, de facto, religado na leitura deste livro, que sintetiza muito bem um universo tão diverso como complexo, com os seus códigos e práticas, tão estranhos como intimidantes para os leigos nesta matéria. E, talvez por isso, tão fascinantes… Aqui encontrei locais que já não existem, pessoas que bem conheci e já não estão entre nós, mas também os que, como o Carlos Maria, continuam a tradição dos livros – isto é, a sua transmissão. Este livro abre, sem dúvida, a porta a mais obras sobre este tema tão pouco tratado. Um deles espero que tenha as histórias de livreiros que o Carlos Maria aqui aflora. Reconheci algumas e sei bem como ultrapassam qualquer exercício de ficção literária.
Coleccionar livros é diferente de lê-los, e este ensaio é justamente sobre os alfarrabistas e livreiros que alimentam o vício de quem ama o objecto livro. Não é um ensaio tenebroso, mas antes esperançoso para o futuro dos livros e das livrarias. Afinal, somos muitos aqueles que professamos a religião dos livros, especialmente aqueles de nós que lemos, mesmo que livros emprestados.
«Aqueles que acham que o livro já está morto são quase sempre aqueles para quem o livro nunca esteve vivo.» P.83
Pois bem, previsivelmente a última leitura de 2023. Gostei, mas a dado momento pareceu-me um pouco um catálogo de pequenos informações. Queria mais histórias de livreiros e de livros e menos factos!
«O preço apaga-se depressa de um livro que nos torna mais sábios, a que podemos voltar, ou que fica guardado na nossa memória. Há livros que nos ficam agarrados ao espírito de tal forma que se torna ridículo pensar que têm preço. Os grandes livros são espírito e são para o espírito, morrerão connosco, não suprem uma necessidade, no sentido em que não sabíamos que precisávamos deles e não voltaremos a precisar. Enchem-nos sem preencherem um vazio, são eles que criam a necessidade que resolvem, pelo que qualquer livros destes nos é dado, não entra na lógica da mercadoria» (p. 92)
Este pequeno livro é tão interessante!!! Eu gosto imenso de ler sobre estas diferentes prespectivas sobre o mundo da venda do livro, especialmente com os livros raros, que é um mundo completamente estranho para mim. Mas em tudo, este livro é uma perfeita leitura para quem gosta do mundo dos livros!!!
Um interessante, ainda que breve, retrato do mercado livreiro português. Sem fatalismo, nem deslumbramento. Ironicamente lido no formato ebook, que o autor desvaloriza, mas que parece crescer finalmente a bom ritmo no país.
Foi interessante refletir um pouco sobre o mercado dos livros, focado quase na íntegra na atual realidade comercial. Entre os dez e os onze anos passei muitas tardes no alfarrabista do Arco de Almedina em Coimbra, a aguardar que o meu pai saisse do banco, ali ao lado, na Ferreira Borges. Na realidade não tinha muito para fazer lá, era apenas um local onde ia trocar livros e aproveitava para ir ficando, a bisbilhotar livros cujo conteúdo pouco entendia. Vivia-se o início de um período novo na história do nosso país. Muitos livros podiam por fim ser lidos. Eu não tinha forma de o entender com aquela idade. Para mim, apenas havia magia no ar, gente peculiar que entrava e saia. Ficou desse tempo o gosto pelo cheiro a livros antigos, o deslumbramento quando me vejo frente a uma banca, uma estante, uma pilha de livros usados e o fascínio por adquirir livros assinados pelos antigos proprietários. Quarenta anos depois, apesar do nulo interesse que tenho por livros raros (considerando apenas o facto de serem raros), e talvez por essa razão, na minha imaginação o alfarrabista continua a ser o grande guardião de preciosidades, porque o valor do livro não está no preço, mas na mão de quem o escreve e nos olhos de quem o lê. Da mesma forma que não concebo a importância de uma peça de arte guardada num cofre, não entendo a importância de um livro que se compra para não se ler. Talvez todos nós tenhamos que guardar algo precioso da nossa infância, daí o confronto entre a realidade que este livro nos conta e a fantasia que perdura na minha imaginação.
"Com todas as vantagens para o negócio, a compra de livros tem ainda outro atractivo. Para quem gosta de ler, a grande vantagem da profissão de livreiro está em ser o primeiro a escolher. Sentarmo-nos num armazém cheio de livros acabados de chegar e entretermo-nos a desempacotar surpresas, sabendo que poderemos guardar aquilo que quisermos, estará próximo do sonho infantil de gerir uma loja de doces. Por muito que o negócio obrigue a alguns sacrifícios e a vender certos livros que, num mundo ideal, guardaríamos, há sempre alguns que nunca chegarão a ser expostos. o prazer secreto e mil vezes satisfatório do livreiro."
"Os grandes livros são espirito e são para o espirito, morrerão connosco, não suprem uma necessidade, no sentido em que não sabíamos que precisavamos deles e não voltaremos a precisar. Enchem-nos sem preencherem um vazio, são eles que criam a necessidade que resolvem, pelo que qualquer livro destes nos é dado, não entra na lógica da mercadoria."
O mundo por detrás dos livros. Livreiros, alfarrabistas e colecionadores. Em apenas 100 páginas a descoberta do que pode valorizar ou desvalorizar um livro raro incluindo a importância dos erros originais; conhecer detalhes de um mercado semi-obscuro em busca de raridades; e o debate se as livrarias estão a caminho da extinção ou não. Para quem gosta de livros, vale a pena conhecer um pouco mais desse mundo entre o escritor e o leitor.
Um livro sobre o mundo dos livros em Portugal (mas principalmente focado em Lisboa). Talvez devido à profissão do escritor deste livro, este dedicou-se muito mais ao mundo dos alfarrabistas do que das livrarias (de livros novos) ou dos livreiros.
Gostaria de ter tido um pequeno glossário sobre os termos usados ou pelo menos uma descrição do mercado dos livros para perceber um pouco melhor o papel do escritor, do livreiro, da editora, da distribuidora, da livraria…
A livraria ideal não tem livros. Os livros só estão nas estantes se ninguém os quis. O ideal da livraria é a circulação.(…) As estantes estavam vazias - este é um sinal da competência livreira. Não há nada porque os lucros eram interessantes e os preços apetecíveis e eram vendidos. Se aqui substituirmos livraria por qualquer outro tipo de loja e livro por qualquer outro tipo de bem, parece-me que estas afirmações serão sempre verdadeiras…
Mas de qualquer forma foi interessante ler sobre o mercado dos livros em Portugal.
Ouvi este livro em versão áudio através da BiblioLED, a plataforma online de empréstimo de livros das bibliotecas portuguesas.
É um ensaio em forma de livro muito interessante para quem gosta de saber mais sobre o livro enquanto objeto de coleção e enquanto produto. Foca-se maioritariamente no mundo dos alfarrabistas (ou não fosse essa a experiência do autor), algo que permite conhecer uma parte muito específica do mundo livreiro. Gostei particularmente da nota positiva com que termina.
Considerações fascinantes, plenas de conhecimento, amor e bom humor, sobre o livro enquanto objecto físico, especialmente no contexto nacional, uma preciosidade; quanto a mim, tenho alguns livros em papel, mas vou comprando cada vez menos, pelos vistos faço parte da minoria (e nem é no Kindle que "leio" - quer dizer, com os olhos - a maior parte dos livros, é no telemóvel mesmo...). Esta obra em concreto, usufrui enquanto audiolivro (o narrador chamou-lhe "audiobook", não havia necessidade; diga-se que a leitura de César Santos é muito competente). Aliás, adquiri na Audible uns quantos destes opúsculos da FFMS, se não os tivesse em áudio, não os pegaria. Nota (Setembro de 2023): no telemóvel, estou a ler o “Feuillets de cuivre“ de Fabien Clavel e em papel o "The Great Gold & Silver Rush of the 21st Century" de Mike Maloney, que comprei em formato físico por um dos motivos porque ainda compro livros impressos: não há edição digital.
Escrito pelo filho do dono da livraria Bizantina do Chiado, um livro curto, muito bem escrito e com histórias deliciosas dos frequentadores de alfarrabistas. Ficaram-me as histórias dos colecionadores que não leem mas gostam de mostrar que têm as versões mais raras, os leitores vorazes que precisam de uma 2a casa para armazenar livros ou quem vende livrarias privadas (grande parte herdadas) porque mudam de casa e não querem transportar toneladas às costas. Mas há muitas mais... Vale mais do que a pena.
O livro é um verdadeiro chamariz para amantes de livros: "a religião dos livros"? Um livro sobre livrarias? Não imagino quem resista.
Os livreiros existem e nós adoramo-los. São eles que nos oferecem aquela sensação magnífica de percorrer as estantes à procura de um novo livro para comprar, estantes que queríamos levar todas para casa se possível. Aliás, muitas vezes nos imaginamos no seu lugar, rodeados de livros, prontos a aconselhar algum leitor perdido. Todavia, o mundo dos livreiros, nomeadamente dos alfarrabistas, não é tão simples quanto parece nos nossos sonhos. É um jogo de risco, é uma máfia, é um teatro, é calculista mas também intuitivo. Afinal, a magia da livraria é isso mesmo: uma ilusão trabalhosa para o livreiro que, qual mágico, nos mete a sonhar.
Foi interessante perceber um pouco mais de como funcionam os bastidores dos alfarrabistas. Ainda assim, Carlos Bobone será um excelente livreiro, mas não um bom escritor (a intenção foi boa tenho a certeza).
Um retrato dos livreiros e alfarrabistas portugueses (com menções dos de fora claro) e como estes funcionam num negócio que não está para desaparecer mas a alterar-se com as novas tecnologias e necessidades. Desde vendas na feira da ladra, a vendas dos livros mais raros, a variedade de livreiros existentes e o bibliófilos que realmente lhes permitem continuar, é um resumo de fácil leitura do ramo. Um olhar para o outro lado que os leitores (na sua generalidade, existem excepções) não costumam pensar muito.
Seria interessante se eu quisesse ser livreira ou bibliófila, mas eu sou só uma simples leitora... meh...
"O mercado dos livros raros, como é um mercado de colecção, não de leitura, está dependente de tudo aquilo que torna o exemplar mais digno de nota." "aos coleccionadores, o livro só dá prazer no segundo que em que é comprado" "a quantidade de gente para quem o acumular de livros parece ser mais importante que a leitura é assombrosa." Pois, não... 😏
Este audiolivro é um breve resumo do mundo dos livros: a paixão que os leitores sentem em relação às suas bibliotecas e as mudanças trazidas pela tecnologia: como sobreviverão os alfarrabistas face ao poder da Amazon? Embora o foco do livro seja em Portugal, esta questão existe ao nível global, e o autor fala sobre, entre outras coisas, a famosa aldeia dos livreiros, Hay on Wye no país de Gales, que é um dos meus sítios favoritos.