Clara, portuguesa, regressa ao Brasil onde em tempos perdeu a visão e um amor. A luz das páginas do Padre António Vieira ilumina a sua busca.
A Eternidade e o Desejo, o novo romance de Inês Pedrosa, explora o Brasil moderno em diálogo com a vida aventurosa do jesuíta do século XVII, Padre António Vieira, um mestre canónico da literatura portuguesa.
A autora de Fazes-me Falta revisita os lugares percorridos pelo padre em terras de Vera Cruz, pela mão de Clara e Sebastião. A portuguesa regressa à Bahia, onde em tempos perdeu a visão e um amor, guiada pela luz dos textos de Vieira.
Born in 1962, Inês Pedrosa earned a degree in communication sciences from the Universidade Nova de Lisboa before working in the press, on radio, and on television, earning several journalism awards and serving as director of the Casa Fernando Pessoa publishing house from 2008 to 2014.
Previously, she was a columnist for the Portuguese national newspaper Expresso, for which her column was awarded the 2007 Prize for Parity for Citizenship and Gender Equality, and she is currently a columnist for Lisbon's weekly newspaper, Sol. Pedrosa has published eighteen books, including the prize-winning novels In Your Hands (winner of the 1997 Prémio Máxima de Literatura in Portugal), Eternity and Desire (finalist for the 2009 Portugal Telecom Award and the 2010 Prémio Correntes d'Escritas), and The Intimates (winner of the 2011 Prémio Máxima de Literatura). Her work has been published in Brazil, Spain, Italy, and Germany. In Your Hands is her English-language debut.
"Amo os teus dedos frios e firmes, Emanuel. Amo a lentidão com que introduzes cada um dos teus dedos na minha boca. Amo a leveza da tua língua avançando pelas minhas coxas. Tocas-me apenas com a extremidade da língua, sabes a que ponto o pouco que se dá faz crescer o desejo. (...)" e assim continua uma das melhores passagens deste A Eternidade e o Desejo.
Para quem não sabe, este livro foi publicado em 2007 e foram alguns anos de intervalo entre o grande sucesso de Inês Pedrosa - Faz-me Falta. A escritora visitou o Centro Nacional da Cultura, no Brasil, e foi é a partir dessa viagem que se desenvolve esta história. Conhecemos os protagonistas Clara e Sebastião, que decidem visitar a Bahia e fazer o mesmo percurso do padre António Vieira. Esta personalidade, homenageada por todo o livro quer seja pelas referências feitas pelas personagens quer pelos excertos colocados no livro, é uma das paixões de Clara e o que a faz mudar de vida: historiadora e professora de uma universidade. Já Sebastião limita-se a segui-la por esta viagem até ao Brasil de António Vieira, mesmo sabendo que a sua amada também quis ir atrás de um outro amado - o que a deixou cega. E, sinceramente, não há muito mais a acrescentar para além deste resumo ao livro.
Em questão de enredo, não há muito a dizer. O leitor fica a conhecer alguns dados históricos em relação à Bahia de António Vieira mas também nada em profundidade e o mesmo se passa com as personagens, essa foi a minha impressão: conhecemos uma Clara que quer ser independente - mesmo com a incapacidade física - a nível de personalidade e um Sebastião, antes selvagem e sem capacidade de amar alguém que se deixa apaixonar por ela, completamente prisioneiro do seu sentimento e dependência. Não há muito mais e é neste aspecto que o livro peca. Para não falar da quantidade elevada de excertos de escritos de António Vieira. Não posso dizer que foi uma das melhores leituras dos últimos tempos mas também não foi má.
Do título divide-se a obra em duas partes: uma a Eternidade, outra o Desejo; essas duas coisas tão parecidas que ambas se retratam com a mesma figura, nas palavras de António Vieira no seu "Sermão de Nossa Senhora do Ó".
Começa-se com Clara e termina-se com Clara, uma portuguesa que acompanhada de um amigo, Sebastião, resolve regressar ao Brasil e voltar a pisar os mesmos lugares por onde os dois Antónios passaram. O seu tão estimado Padre António Vieira que nos vai acompanhando ao longo deste livro, em transcrições parciais e escolhidas com afinco, conferindo um significado ainda maior às palavras de Clara, que regressa nesta viagem ao lugar onde em tempos perdeu a visão e um amor, também de seu nome António. E onde volta para se reencontrar consigo mesma. E também conhecer uma outra Clara e um Emanuel, que se revelarão fundamentais ao desenvolvimento da personagem e dos próprios laços entre esta e Sebastião, entre esta e o Brasil e Portugal.
Em "A Eternidade e o Desejo" são constantes os jogos de palavras bem ao género da prosa poética, verificando-se o mesmo com o cruzamento das falas pensantes das personagens: sob a forma de diálogo, em pensamento, em correspondência escrita que trocam à distância. Um tema, duas opiniões que se opõem, convergem na discussão cruzada, para divergir novamente.
Oscilando entre uma escrita mais simples e uma mais complexa, o que lhe confere uma certa vivacidade, a obra prima em termos originais não tanto pela história de Clara por si só, mas sobretudo pela escolha acertada e combinada de excertos dos Sermões do Padre António Vieira com a história de vida de Clara. Uma leitura leve e libertadora e, de igual modo, intensa. Sendo que no final, acabamos certos de que a eternidade e o desejo têm muito mais em comum do que aquilo que numa primeira leitura possamos imaginar.
"Todos os objectos deste mar imenso do mundo, e mais os que mais amamos, são as ondas, que umas sobre outras entram pelos nossos olhos; e ainda que as lágrimas dos mesmos olhos tenham tantas causas para sair, como o sentido do ver, pode mais que o sentimento do chorar, vemos quando havíamos de chorar, e não choramos, porque não cessamos de ver".
A história da invisual Clara, fundida na luz das reflexões de Pe. António Vieira, em que se realça o seu conceito de "amor fino", esse que "não busca causa nem fruto", e onde o sarcasmo e a ironia procuram esconder o drama da sua história de amor incomum, como incomuns são as histórias verdadeiras dos amores que ousam.
Estava muito entusiasmada para ler este livro, achei a permissa interessante e a capa da nova edição é simplesmente fenomenal, não podia ter ficado mais desiludida. Percebe-se a intenção da autora com a sua escrita poética e floreada mas não atinge o nível que penso que pretende, no entanto torna a história enfadonha e de revirar os olhos. A história é contada também a partir de pequenos excertos do Padre António Vieira, que em maior parte do livro eram a única coisa que me fazia continuar a ler. As personagens são superficiais, o principal trato de personalidade da personagem principal feminina é a sua cegueira, no fim de 200 páginas já começa a chatear ler sobre o quão difícil é ser-se cega. O protagonista masculino mais desinteressante era, sendo que o único trato retratado era a sua obsessão por Clara.