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Fanny Owen

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Fanny Owen é uma história verídica passada em 1850 entre José Augusto Pinto de Magalhães (proprietário da quinta do Lodeiro, poeta rapaz triste e desinteressado da vida), Fanny Owen (filha do coronel Owen, auxiliar e conselheiro militar de D. Pedro aquando das lutas liberais) e o próprio Camilo Castelo Branco, com apenas vinte e três anos e , portanto, ainda longe do romancista famoso que viria a ser mais tarde.

222 pages, Hardcover

First published January 1, 1979

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About the author

Agustina Bessa-Luís

128 books227 followers
Agustina Bessa-Luís was born in Vila Meã (Amarante) in 1922. Her father's family was from the north of Portugal and her mother was Spanish.

She lived her childhood and teenagehood in the region of Douro, Minho and then Coimbra in 1948. She married Alberto Oliveira Luís in 1945 and after 1948 she moved to Oporto.

She started writing at the age of 16 and in 1950 she published her first novel, Mundo Fechado. In 1952 her talent was recognized with the award Delfim de Guimarães, for her book Sibila, which also received the award Eça de Queirós the next year.

In 1958, she gave her first steps in theatre, writing the play O inseparável.

Between 1986 and 1987 she was the director of the diary O Primeiro de Janeiro in Oporto. Between 1990 and 1993 she was the director of D.Maria II Theatre in Lisbon and a member of the Alta Autoridade para a Comunicação Social.

She is a member of the Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres in Paris, of the Academia Brasileira de Letras and the Academia das Ciências de Lisboa, being also recognized at Ordem de Sant'Iago da Espada (1980), Medalha de Honra da Cidade do Porto (1988) and degree of "Officier de l'Ordre des Arts et des Lettres", given by the French government (1989).

Various works have been translated in various countries and some were adapted to the cinema, such as Francisca, Vale Abraão and As Terras de Risco by Manoel de Oliveira. Her novel As Fúrias was adapted to the theatre by Filipe La Féria.

At the age of 81, Agustina Bessa-Luís received the Camões Award, considered the most important portuguese award.

Agustina Bessa-Luís nació en Vila Meã (Amarante, Portugal) en 1922, de madre española y padre portugués. Es miembro de la Academia Europea de las Ciencias, las Artes y las Letras de París, de la Academia Brasileña de las Letras y de la Academia de las Ciencias de Lisboa. Sus numerosos libros le han valido las más importantes distinciones, como la de Santiago da Espada (1980), la Medalla de Honor de la Ciudad de Oporto (1988) o el grado de Oficial de la Orden de las Artes y las Letras del gobierno francés (1989). En 2004 recibió el galardón literario más importante en lengua portuguesa, el Premio Camôes.

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Community Reviews

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206 (33%)
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1 star
25 (4%)
Displaying 1 - 30 of 63 reviews
Profile Image for Luís.
2,375 reviews1,371 followers
January 16, 2025
In Fanny Owen, Agustina Bessa Luís, whose writing and talent for developing a historical fresco had already seduced me in A Corte do Norte, stages a host of characters, in addition to the beautiful and enigmatic Fanny Owen, in particular, that of the writer Camilo Castelo Branco, to whom we owe Amor de Perdição, considered the most extraordinary romance novel of the Iberian Peninsula.
In a novel of manners in the period novel (mid-19th century), Fanny Owen depicts love as the daily life of these people from northern Portugal and the intrigues of all kinds that go with it—a remarkable historical fresco by one of the great ladies of Portuguese literature.
Profile Image for Ana.
230 reviews91 followers
October 15, 2019
Foi o primeiro livro que li de Agustina Bessa-Luís e será com toda a certeza o último. Com base numa história verídica sobre um dramático triângulo amoroso, a senhora Agustina escreveu aquilo que deve ser o romance mais enfadonho do mundo e conseguiu a proeza de, durante o mês em que me arrastei nesta penitência, quase ter assassinado a minha paixão pela leitura. O romance serviu de base ao filme "Francisca" de Manoel de Oliveira, sobre o qual não me pronuncio porque não vi.
Tratando-se de uma autora multi-premiada e multi-condecorada pela sua obra, de certeza que o livro, na verdade, não é nada disto que eu disse e eu fui, apenas e tão só, vítima de uma bad trip causada por qualquer coisa que me andaram a pôr na sopa.
Profile Image for Maria Ferreira.
227 reviews50 followers
December 17, 2017
Foi a minha estreia com a autora. Demorei um pouco a compreender a sua escrita, pouco vulgar, mas com o decorrer da leitura apanhei-lhe o jeito e adorei o estilo. a escrita tive de me socorrer do dicionário várias vezes, mas sem dúvida que me atraiu e quero ler mais desta autora.

É um livro que retrata vidas verídicas de meados do século XIX, no norte de Portugal, especificamente da região do Douro, terra natal da autora. Mais do que uma região, fala-nos das pessoas, retrata a alta sociedade Portuense, as relações entre homens e mulheres, as paixões, os amores não correspondidos, os casamentos arranjados, os filhos ilegítimos, o adultério, a morte como consequência dos atos levianos de cada um.

Fanny Owen é uma jovem com pouca beleza física, mas com uma beleza intelectual que fascina Camilo Castelo Branco e José Augusto. O gosto pela literatura, a estrutura do pensamento, o discurso soberbo e assertivo, algo invulgar nas mulheres desta época, fascina os dois homens, cujo resultado só poderia terminar em tragédia.

“Este excitante que o símbolo consolida na história das relações humanas foi o que deveras atuou no processo destas vidas. Todos os equívocos, contratos misteriosos, fantasias demolidoras raivas egoístas que marcaram a passagem de Camilo e José Augusto um pelo outro significavam o combate aceso que o símbolo determina no homem. A escola de Viena trouxe um esclarecimento parcial ao movimento das paixões; mas depois disso surgiu a necessidade de observar a atitude dos homens como um fator de violência que ultrapassa de longe a condição sexual e os seus problemas. Desde que o homem deixou de combater pela apropriação de bens imediatos, como a caça que o outro tinha obtido, ou a mulher, quando esta rareava na própria tribo, passou a guerrear pelo símbolo desses mesmos objetos. O instinto básico de satisfazer necessidades foi substituído por um estímulo de razões abstratas. A violência é uma mitologia do excesso. Se alguma coisa simboliza o excesso – e Fanny era uma totalidade de condição angélica-, isso pode tornar-se num motivo de guerra em que passem todas as forças da alma, todas as potências do espirito, a perfídia, a traição e a guerrilha moral, e, por fim, a morte.” (p. 170)

O livro é tudo isto e muito mais, recomendo a sua leitura.

Para quem gosta de cinema, o filme do livro foi realizado por Manoel e Oliveira e tem por título Francisca, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=KEuUJ...

Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila-Meã, Amarante, a 15 de Outubro de 1922
Biografia: http://www.clabl.pt/pt/agustina/biogr...
Profile Image for Carla.
285 reviews85 followers
February 9, 2018
Agustina Bessa-Luís é uma escritora com uma incrível capacidade de criar ambientes em tempos históricos idos e este romance comprova-o. Enquanto leitores somos submersos por esse mar de referências ajustadas ao romance de forma natural, nunca sentindo a introdução de algum elemento como forçada. Tudo se encontra no seu devido lugar.
Para além desta, diria quase perfeição, no que toca à reprodução histórica, Agustina ainda alcança brilhantismo ao oferecer-nos essa reconstituição envolta numa escrita apenas classificável de magnífica.
A história é singela, vivendo muito da caracterização das personagens que acompanhamos em peripécias várias e cresce muito no último terço quando Fanny assume mais protagonismo, embora também se note que desse protagonismo advém alguma sobreposição de informação que estranhamos porque parece não coincidir com a imagem criada das personagens. Ao acontecimento charneira da obra, seguem-se alguns episódios menos claros porque não consistentes com a psique intuída de Fanny.
Camilo é a personagem mais consistente da obra, percorrendo-a sempre imutável na sua peregrinação enquanto amigo, escritor, conselheiro, homem social.
Fanny pulsa para além da obscuridade na sua leveza diáfana de espírito cândido e José Augusto soçobra só, distante do Marão onde recorrentemente se embrenhava.

As matas de carvalheiras riscavam-lhe a pele, e as altas giestas da serra da Abobreira eram como um rio de juncos, um Nilo verde onde mergulhava o cavalo até aos flancos.

Sente-se a presença do Ultra-Romantismo Camiliano nesta “Fanny Owen” repleta de amores trágicos, mas Agustina crava a sua marca distintiva na obra ao tecê-la com um fio narrativo complexo disfarçado de simplicidade e ao deixar-nos um conjunto de personagens psicologicamente intricadas. Fica-nos a natureza humana com as suas luzes e sombras e reflexos, tão bem descrita numa citação de Plotino no final da obra.
Profile Image for Sara Jesus.
1,675 reviews123 followers
February 20, 2021
A história de um amor obsessivo. Fanny, a mulher que capta a atenção de dois homens distintos. José Augusto e Camilo Castelo Branco. O morgado libertino e o futuro escritor. Este livro retrata o Douro e a sociedade do século XIX.
Profile Image for André.
25 reviews
December 21, 2015
"Quem distingue os vivos e os separa dos mortos? Eu podo as minhas videiras como dantes cortava a garganta do inimigo: para não gelar de tristeza e não corar, porque as flores e os frutos que rebentam à minha volta não me dão alegria. Debaixo da luz mentirosa da Lua não vemos que o amor e o ódio mantém entre eles um pacto amplo e constante. Respeitemos esse pacto e aqueles que o cumprem."

Numa descrição simples deste livro poder-se-ia dizer que é uma história de amor entre José Augusto e Fanny Owen, com o Camilo Castelo Branco a ter um papel proeminente no desenrolar da acção. Mas, o amor que vivem as personagens principais não é o que estamos habituados em outras obras mais "simples". Aliás nem sei se verdadeiramente José Augusto e Fanny em algum momento, mesmo no da paixão secreta e proibida, se amam. Parece-me que ambos procuram no outro algo que não são. Procuram um símbolo, uma representação ideal de um ser perfeito e por isso a vida que levam após o casamento é repleta de infelicidades.

Camilo Castelo Branco, o famoso escritor, entra também na história. Podemos até afirmar que que é o catalisador de muito do que se passa entre Fanny e o morgado do Lodeiro. É uma personagem complexa, tal como todas as outras, que mantém uma amizade peculiar com José Augusto.

Para além deste trio central, temos uma exploração, com muita ironia, da burguesia portuense da altura e da vida existente nas quintas nas margens do Douro. Há, igualmente, passagens muito interessantes sobre o cerco do Porto e a guerra civil portuguesa contadas por Manuel Negrão, que combateu ao lado de um general inglês, e Dona Maria Rita, mãe de Fanny e que viveu o cerco do Porto.
Profile Image for CCB.
74 reviews62 followers
July 30, 2025
Um livro de Agustina em que Camilo Castelo Branco é personagem e que efabula sobre um episódio conhecido da vida deste não tinha como errar para mim, que me pelo por noveletas do Romantismo, quanto mais camilianas melhor. A devoção à santa da casa Agustina também nunca é por demais repetir. A ironia da voz da autora e a visão mordaz e lúcida sobre a natureza e o espírito humanos são as melhores características da Agustina, a par com a escrita magistral, à qual não existem palavras elogiosas que façam jus.
Em correspondência com Manoel de Oliveira, que adaptou esta obra ao cinema, Agustina escrevia-lhe (parafraseando) que o realizador era um romântico, e tinha uma visão de Fanny Owen como uma história de amor. Ela, por outro lado, não era uma romântica, escreve, mas uma estudiosa atenta da alma humana, e como tal não estava tão certa de que fosse uma história de amor. Absolutamente certeira, Agustina é uma clarividente estudiosa da natureza humana, e aí reside o seu génio.
Profile Image for Paulla Ferreira Pinto.
266 reviews37 followers
August 2, 2020
A minha estreia com esta autora.
Sem dúvida domina a arte, tem passagens brilhantes, de uma enorme sagacidade, retrata com beleza e profundidade uma época e pinta os personagens com traços muito próprios.
Mas...
Insinuam-se preconceito nas entrelinhas? Rigidez de princípios? Sobranceria intelectual e até moral?
Seguramente um modo de relatar pouco claro, no que respeita à história de Fanny, Camilo e José Augusto -mas não quanto ao demais-que não me permitiu entender bem as razões deles, a mensagem da autora e o fio das motivações entrelaçadas.
Incapacidade minha por certo, mas alguma soberba na escrita que me deixou um pouco desconfortável.
Contudo, pelo demais que referi, voltarei à sua obra.
Profile Image for Isabel.
99 reviews23 followers
February 20, 2016
"No meio desta gente estão seis suicidas: por dívidas, por decepção amorosa e porque não fazem carreira. Fora os que acabam tísicos, e com pneumonias porque se esqueceram das galochas e do guarda-chuva. A vida é um balde de lixo espalhado ao acaso pelo chão e assim parece inofensiva na face da terra. Cada fragmento tem uma história e essa história contém o infinito. Somos todos uns brutos decididos a impormo-nos pela poeira que levantamos."

Profile Image for Ritinha.
712 reviews136 followers
August 21, 2017
Não tenho um quark que seja de empatia para com histerias românticas. Mas a escrita da Agustina tudo torna tremendamente apelativo.
Profile Image for David Pimenta.
374 reviews19 followers
January 28, 2014
Ler uma obra de Agustina Bessa-Luís não é sinónimo de um livro à beira mar, com a cabeça a ser recheada com entretenimento e uma prosa razoável, em que só existem alguns momentos para o leitor trabalhar a tão chamada massa cinzenta. Agora, terminada a leitura de Fanny Owen , percebo porque muitos chegaram a apontá-la como uma possível vencedora do Nobel de Literatura – algo que nunca chegou a acontecer, infelizmente. O tipo de escrita, pelo menos na Fanny Owen , é de uma beleza incalculável e é o grande destaque ao longo do livro. Não se tratam de frases recheadas de enfeites, de palavras bonitas e com um grau de dificuldade extremo em certas vezes. Parece-me a mim, como simples leitor e na flor da juventude, que apesar da dificuldade existe naturalidade na forma como Agustina escreveu esta obra. Como se falasse daquela forma e segundo algumas entrevistas que vi, realizadas à filha da escritora, a Agustina escrevia da forma que falava e por isso é que não compreendia porque é que muitas pessoas achavam os romances da mãe difíceis. Não achei a história de Fanny Owen particularmente complicada, até está longe disso mas houve momentos em que era necessário pensar um pouco para compreender a intenção da escritora em determinadas passagens. Terminada a leitura das pouco mais de duzentas páginas penso: “Não é nesta dificuldade superficial que está o prazer da leitura?” Já quando tinha terminado a leitura de A noite das mulheres cantoras da Lídia Jorge me tinha ocorrido o mesmo pensamento.

O livro Fanny Owen conta a história de um triângulo amoroso. É um triângulo amoroso entre José Augusto, Fanny Owen e o reconhecido escritor português Camilo Castelo Branco. Reconhecido pelo livro Amor de Perdição , pelo menos na minha geração. A obra está dividida em três partes: a primeira parte dá a conhecer a sociedade burguesa do Porto no século XIX, os protagonistas e a família Owen, a segunda oferece ao leitor a forma como se desenrola o romance entre Fanny e José Augusto e a última retrata o tormento do casamento entre os dois e o final trágico. É a tragédia que abunda esta história. Para Camilo, por amar Fanny mas não ser correspondido, pelo escândalo pela forma como José Augusto se apaixona e quer casar com Fanny e pela descoberta da troca de correspondência entre Fanny e Camilo – José Augusto, ao ler as cartas, pensa que o amigo Camilo foi o primeiro homem na vida da futura esposa.

São temores de outros tempos, preocupações mais simplistas pelas formas como foram elaboradoras mas podem permanecer na atualidade. Não é a primeira vez que um rapaz desconfia quando vê a troca de mensagens entre a namorada e outro rapaz não é? A caraterização das personagens e a forma como escreve são os pontos fortes neste livro da Agustina Bessa-Luís. Há tantas voltas que se pode dar neste livro e é essa a sua riqueza. Não posso, nem quero descrever mais a história do livro. Para um romance histórico, a narrativa desenvolve-se de uma forma lenta, ao contrário do que é habitual nesse género literário. Mas aconselho vivamente aos que se consideram maduros e não querem unicamente um livro para preencherem de nada os vazios que têm na inteligência. Só não dou as 5 estrelas pelo desenrolar da história, pela forma como aconteceu - muitas vezes acabou por desagradar-me.

E, antes de ler este livro, aconselho a verem este documentário sobre a vida da escritora. Foi por isto que a minha curiosidade nasceu, por outras palavras, a necessidade em ler pelo menos um livro da Augustina: http://www.youtube.com/watch?v=BrvDXC... e também este pequeno documentário da Renascença: http://vmais.rr.sapo.pt/default.aspx?...

4/5
Profile Image for Miguel Duarte.
132 reviews55 followers
January 23, 2018
https://www.comunidadeculturaearte.co...

Este artigo faz parte do Ano Agustina, no âmbito do qual, ao longo de 2018, a Comunidade Cultura e Arte lançará, a cada mês, uma crítica a um livro da obra de Agustina Bessa-Luís, neste momento a ser reeditada pela editora Relógio d’Água.

No Porto do séc. XIX, dois amigos boémios apaixonam-se pela mesma jovem mulher, sendo que um deles, intimado pela mesma, a rapta para com ela se casar por procuração. As expectativas face à relação saem, no entanto, goradas, e, no espaço de um ano, ela morre, enferma, de desgosto, vítima de tuberculose; um mês depois morre ele, em Lisboa. A jovem mulher era Fanny Owen, filha do coronel Hugh Owen, inglês combatente na guerra peninsular, fixado em Portugal após casamento com D. Maria Rita, filha de um abastado comerciante de vinho do Porto e educada “na corte de Carlota Joaquina, o que não era garantia nenhuma de educação.” Os dois amigos José Augusto de Magalhães – o raptor de Fanny -, morgado e medíocre poeta, e o outro Camilo Castelo Branco, o tal que se tornou um dos maiores escritores da língua portuguesa.

Partindo desta história verídica, Agustina Bessa-Luís escreve em 1979 o romance histórico "Fanny Owen", após, segundo a própria, Manoel de Oliveira lhe ter pedido para escrever os diálogos de um filme que ele quereria fazer sobre Fanny Owen, e que veio a ser Francisca, de 1981. Oliveira desmente em posterior entrevista que tenha sido ele a pedir algo a Agustina, afirmando, como indica Hélia Correia no prefácio à mais recente edição do livro pela Relógio d’Água, que “não houve nenhuma combinação prévia. Li o livro e fiquei encantado porque a ideia de fazer Fanny Owen já a trazia comigo há muito tempo.” Quer se concorde em qual das versões está a verdade ou não, é um facto que a história deste dramático triângulo amoroso, que Agustina decide contar, marca também a primeira colaboração entre a escritora e o realizador Manoel de Oliveira.

"Fanny Owen" é relato dos acontecimentos, de como evolui a relação entre as três personagens, de como se processa a relação amorosa que culmina na morte do casal, mas é, muito mais que narrativa, análise das motivações das personagens, retrato racional de situação fogosa, com o distanciamento que permite a Agustina não cair nos exageros dramáticos das personagens. Nesse sentido, Fanny Owen é, mais do que apenas romance, um cruzamento com o ensaio – na medida em que é reflexão – e talvez por aí lhe chegue a fama de ser uma escritora de leitura difícil, com uma linguagem talvez um pouco arcaíca, porque ler Agustina é ter de penetrar a fundo no significado do que escreve, é não ter medo de seguir até às últimas consequências o que afirma, ainda que há partida nos julgássemos distantes de semelhantes expressões ou pensamentos. Não poupando ninguém e por entre mordaz sarcasmo, Agustina traz, ao profundo dramatismo da história real, a clarividência da sua escrita que, embora de intricado pormenor, flui de forma alcançável a muito poucos na língua portuguesa; lista onde se inclui certamente Camilo que, apesar do título focar a atenção na personagem feminina, faz, com José Augusto, uma parelha de personagens principais, com toda a primeira parte do livro dedicada ao desenvolvimento da amizade de ambos, antes ainda de se deixarem envolver pela figura de Fanny.

Desde o início que a relação entre ambos foi ambivalente, uma amizade mantida “mais pela confiança nos seus enigmas do que pela solidariedade nas expansões”, mas a verdade é que, apesar do desprezo posterior de Camilo face a José Augusto, “havia de facto uma afinidade entre a alta inteligência de Camilo e a limitação intelectual e moral de José Augusto: ambos eram insensíveis à aparência das coisas e buscavam nelas o real. Mas enquanto José Augusto não era sacudido da sua imobilidade senão através dos sentidos, Camilo não podia conceber outro processo senão o de ordenar os seus conceitos de acordo com as experiências.” É nesta relação meio bipolar que floresce a história, e é assim que ambos conhecem as duas filhas do coronel Owen e de D. Maria Rita.

Inicialmente, é Maria, a irmã mais velha de Fanny, que José Augusto corteja, mas “a certeza de ser facilmente amado matava nele o amor” e, vendo em Fanny, que mantinha com Camilo uma relação mais íntima, um símbolo do inalcançável, deixa-se por sua vez seduzir por ela. Fanny torna-se um método de salvação. Como diz Agustina a certa altura, “Para ele, Fanny não era uma mulher cujas virtudes se revelariam fictícias no momento em que ela amasse. Era apenas uma imagem capaz de produzir na sua imaginação todas as metamorfoses necessárias para chegar ao próprio campo entrincheirado da paixão. José Augusto era um homem de paixão; Camilo, um homem de sensações. Entre eles estava Fanny, que servia ambos – os desejos insaciáveis e as fraquezas que nascem dos sentidos traídos.” Fanny não é, no entanto, meramente uma vítima da acção de José Augusto, é ela própria quem o intima a seguir com o rapto que não é mais que uma fuga de Fanny por ele auxiliada, exausta do ambiente que vivia em casa, fruto da relação opressiva que mantinha com a irmã e a mãe.

Mas a obsessão de José Augusto “provinha menos do amor que da insatisfação de certo modo sublime da sua existência”, impossibilitando qualquer possibilidade de sucesso numa relação que não deixa de perturbar Camilo, que a vê feita “com o meu desejo, a minha alegria, o meu sofrimento. Eu dei-vos uma alma e, com ela, tudo do que uma alma é capaz.” Camilo vê em si o arquitecto da união de Fanny e José Augusto, a relação deles o primeiro romance que compôs. Por ele criada e por ele disposta, a relação seria também por ele inevitavelmente destruída. “Eu posso embrulhar essa alma na minha sombra e levá-la comigo. E vocês, depois?” Fanny, “incapaz de se satisfazer com a realidade pelo muito que a sua imagem fora falsificada através dum sedicioso culto do prazer”, ficara apenas com o ”simulacro do amor.”

Como propriedade própria do triângulo, não era só Camilo que fabricava a relação de José Augusto e Fanny, ela própria, “pólo libidinal de toda a intriga”, tornara “aquilo que foi uma simples afeição de boémios”, entre Camilo e José Augusto, numa obsessão desencadeadora de “acções exorbitantes.” José Augusto acaba por ser, ao mesmo tempo que o personagem mais complexo, o maior peão na história, e por entre uma crítica muito feroz às suas acções, há da parte de Agustina uma enorme clêmencia face aos actos por ele levados a cabo. Confessa admiradora da obra de Camilo escritor, não poupa as críticas à sua conduta pessoal, e se se propõe escrever este livro terá sido tanto pelo sórdido do acontecimento como pelas responsabilidades de Camilo no mesmo. “Camilo usava a língua portuguesa para ficarmos informados sobre a sua vontade de poder, de conquistar a atenção, a fama e alma da Praça” e “aquele morgado [José Augusto], que seria inofensivo se o deixassem ser apenas um lógico com riscos hereditários, foi, nas suas mãos, um desgraçado acima das suas posses. E um personagem.” Com Agustina, o personagem tornou-se ele.
Profile Image for Luís Paz da Silva.
63 reviews19 followers
July 8, 2019
Tenho, de há muitos anos, um profundo interesse pela cidade do Porto, sobre a qual possuo uma modesta mas entusiástica biblioteca de umas duas centenas e meia de obras. Vem isto a propósito de dizer que a história de Fanny Owen não me era desconhecida antes da leitura desta obra. Na verdade, a Vila Alice - morada da família Owen em Vilar do Paraíso - ficava a escassos 3 quilómetros do apartamento onde vivi os primeiro 4 anos de casado.
Tinha por isso natural curiosidade na leitura desta obra que, por sortilégios ocultos, nunca se cruzara comigo antes das reedições vindas agora a lume a pretexto da recente morte da Autora.
É um livro compente, bem escrito. Não concordando com António José Saraiva que afirma, sem hesitação, ser Agustina a maior romancista portuguesa de sempre (e suponho que esta afirmação se insira nas prístinas discussões nascidas aquando do Nobel de Saramago e da comoção gerada na comunidade literária de então), não me custa reconhecer o valor da vilameã, que a coloca num patamar elevadíssimo das lusas letras.
Mas há reparos a este livro. Muitos deles, estão detectados no prefácio que Hélia Correia assina e encontram-se maquilhados pela pó-d'arroz da veneração. O prefácio de Agustina limita-se a constatar o óbvio mas com singela honestidade: que a história não resulta da imaginação.

Ora o reparo maior que faço, é que o livro não é sobre Fanny Owen ou sobre José Augusto: a tragédia deste casal é meramente pretexto para Agustina escrever sobre Camilo. É um livro sobre Camilo, que está por toda a parte e sempre. Os retratos psicológicos de José Augusto, o mais próximo amigo de Camilo de então, são sempre relacionados com o genial escritor portuense (na verdade nascido em Lisboa e criado em Vila Real...).
O título dado a este livro equivale a, reunindo os Evangelhos num livro, chamar-se-lhe "A História de Lázaro".

Todavia, Agustina não é uma hagiógrafa e esse é o maior mérito do romance: trata sempre Camilo de forma justa, não hesitando em apontar defeitos (e Camilo tinha-os aos molhos!) à revelia da profunda veneração que pelo escritor indisfarçavelmente sente.

Os defeitos são, a meu ver, dois: "infectada" por Camilo, Agustina escreve como Camilo. Erudita da obra camiliana, não desperdiça um centímetro quadrado para citar o ídolo (de resto, ela avisa disso mesmo na prólogo) o que, não tendo nada de errado, a leva muitas vezes a enviesar o texto pondo os personagens a citar amiúde Camilo a propósito de tudo e de nada. Ora: nesta época, Camilo era um cronista, detestado por metade da cidade, a monumental obra literária ainda estava no tinteiro. Porque haveria de ser tão citado - até por Judite, a caseira de José Augusto na casa do Lodeiro? ("Para quê? Ele tem o coração de vinha d'alhos e a alma dele é uma garrafeira, como disse o Senhor Camilo (...)").

Depois, alguns diálogos não são credíveis: ninguém, nem no início da segunda metade do século XIX, fala de forma tão literária. Algumas das frases de Fanny, na fase final do romance (e da vida), são simplesmente impossíveis - a não ser na boca de cena de um teatro.

Conclusão: gostei de ler, mas não me levantou do chão (à parte umas quantas frases admiráveis) - e isso é sempre um pouquinho decepcionante.
Profile Image for diario_de_um_leitor_pjv .
781 reviews141 followers
October 26, 2022
26/10/2022
Releitura maravilhosa. Este livro de Agustina pela escrita, pela história e pelas personagens é imperdível.
Bem na realidade, é um livro com Camilo como personagem. Logo é um livro a ler e reler.
Profile Image for Rodrigo.
29 reviews
May 4, 2013
Este livro conta a história entre Fanny Owen e João Augusto e, paralelamente, a amizade que ele nutria pelo escritor Camilo Castelo Branco. O melhor do livro é, sem dúvida, a escrita: a prosa de Agustina Bessa-Luís é de uma beleza sem igual. A história é bastante interessante, bem construída, com uma construção de personagens bastante bem conseguida e uns diálogos lindos, com uma escolha de palavras perfeita. O filme (para o qual o livro foi encomendado), realizado por Manoel de Oliveira está, também ele, muitíssimo bom, mantendo-se fiel ao livro. Recomendo a sua leitura a toda a gente, bem como a visualização do filme! 4*>/b>.
Profile Image for Adriano Sousa.
18 reviews
January 28, 2016
Augustina faz em Fanny Owen um retrato da relação amor-ódio entre Camilo e o seu amigo e modelo Augusto. Apesar de ser de certa forma uma retrato da vida do escritor nota-se o cunho da escrita de autora quer seja através da descrição implacável dos personagens como através da profundidade do retrato das idiossincrasias das suas relações. Um livro pungente e arrebatador apesar do ritmo proprio da Agustina que tem o poder infinito da evocação e da dimensão que imprime aos seus personagens.
Profile Image for Matilda.
79 reviews2 followers
August 29, 2025
Este livro meteu-me num reading slump brutal e só o terminei porque sabia que seria estúpido não acabar um livro com umas míseras 195 páginas que demorei quase 1 mês a acabar.
Se a história é interessante? Sim. Mas atualmente seria um áudio de 5 minutos sem a necessidade de inserção de dez adjetivos pomposos que em pouco complementam a história, assim como menções de pessoas novas irrelevantes até literalmente a penúltima página da história.
Fiquei desapontada. Desculpa, ABL, mas não sei se te darei outra oportunidade.
Profile Image for Mariana.
564 reviews119 followers
March 26, 2019
this book disappointed me. I was expecting much better.
With time jumps without explanation and many omissions, this book is confusing from start to finish.
the first half of the book has immense descriptions which contrasts with the last half of the book that is written in haste as if the author wanted to dispatch the story!
Profile Image for Iceman.
357 reviews25 followers
February 5, 2013
Um livro muito mau, chato, sensaborão, com uma estória puéril, sem qualidade e que é um tormento ler.
No entanto é a minha opinião. Considerar um livro de Agustina como mau pode parecer um sacrilégio, porém é isso mesmo que ele é: mau, sem interesse e imensamente aborrecido.
Profile Image for Filipa.
352 reviews32 followers
December 18, 2013
Embora minimamente interessante, não é este o livro que me convencerá a explorar a obra de Agustina. História demasiado trágica para mim e fraco cuidado desta edição não ajudou nalgumas questões de português, que me pareceu demasiado rebuscado.
Profile Image for Maria.
35 reviews2 followers
April 19, 2016
Nele, a mais crua verdade de um coração em delírio ou em chamas ou em sôfrego apagamento; aqui, eis os que perpetuam, como doce forma de vida, uma fé roída. Um livro esplêndido, que dá vontade de morder.
Profile Image for Francisco De Andrade Fernandes.
139 reviews
October 6, 2024
The book is written beautifully and I love the portrait of Porto and Gaia (where I am from) in the 19th Century, but the plot is so dry, I couldn't get into it.
Profile Image for Liliana José.
3 reviews
August 10, 2020
Este livro lê-se ao ritmo pausado da luz de uma candeia, que reflete uma sombra misteriosa que desenha a história de um amor infeliz. A história enigmática de Fanny Owen, José Augusto e Camilo Castelo Branco transporta-nos até ao Norte de Portugal, a lugares onde o Douro sobressai, em meados do século XIX. Maria Owen, Maria Rita, sua mãe, e o coronel Owen são personagens que se destacam, também, na narrativa. As peripécias e paixões apresentadas ilustram as metamorfoses da alma humana e da ordem das coisas, tal como a melancolia do devir. A ilusão do primeiro amor, a ingenuidade, a esperança, o sentimento, a vaidade, a inveja, o ciúme, a perfídia, a calúnia, todos os obstáculos que se criam ao amor, e a consequente desilusão.
A transcrição das passagens seguintes demonstram, na minha opinião, a genialidade da escrita de Agustina numa obra que surpreende, mas não nos prende: "Fanny passou os limites que a natureza pôs aos sentimentos. Não merece portanto ser feliz" (Bessa-Luís, 2002: 132); "Esta menina não sabe nada da vida. É um mau casamento. O que tarde se aprende não traz experiência, traz desilusão" (Bessa-Luís, 2002: 163); "O que não é um equívoco? Dentro de nove meses, e por equívoco, nasce uma criancinha que continua a série de equívocos e assim até ao infinito" (Bessa-Luís, 2002: 178)"; "Conheço agora um demónio que se chama obstinação. O bocejo tornou-se a minha emoção mais autêntica. Aprendi que se pode usar de mais vivacidade nos afectos quando estamos longe das paixões. Toda a gente devia saber isto. Devia-se ensinar nas escolas" (Bessa-Luís, 2002: 193).
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March 27, 2024
"A má memória é essencial para escrever romances e para os poder viver; na vida e nos romances, tudo se repete. Quando a boa memória existe em abundância tudo resulta em fracasso; porque o génio não convence se não estiver aturdido com certa dureza de espírito que não dá conta de quanto a fantasia é coisa venerável pela velhice que testemunha."
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