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Cartas a um Jovem Terapeuta

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Respeitado pelos seus pares, admirado pelos intelectuais e querido pelos pacientes e leitores, Contardo Calligaris é uma unanimidade no país. Italiano de nascimento, ele conquistou os brasileiros com seu jeito lúcido, claro e provocativo de abordar questões comuns a homens e mulheres, não importando a idade e convicções políticas, filosóficas e religiosas. Há pouco mais de dez anos publicou a primeira edição de Cartas a um jovem terapeuta. Fez tanto sucesso que, agora, Calligaris lança uma nova edição ampliada com mais conteúdo para os temas já abordados, como a vocação profissional, o primeiro paciente, amores terapêuticos, o dilema “curar ou não curar” e até questões práticas e o que fazer para ter mais pacientes. Mas Calligaris introduz outros pontos também fundamentais na formação do psicoterapeuta, como as condições necessárias para seguir a profissão, quanto custa e o que é preciso ler. Aborda também, de uma forma muito sincera, a sempre conflitante e contraditória relação com a família. E responde uma pergunta muito frequente: por que os terapeutas enxergam tudo pelo prisma da sexualidade?

176 pages, Paperback

First published January 1, 2007

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About the author

Contardo Calligaris

22 books58 followers
Contardo Calligaris é psicanalista e cronista italiano. Doutor em psicologia clínica pela Universidade de Provence, iniciou seus estudos nas áreas das letras e da filosofia. Em 1975, foi aceito como membro da Escola Freudiana de Paris, onde morou até 1989. Lecionou na Universidade Paris 8 e teve aulas com os filósofos franceses Roland Barthes e Michel Foucault, além de acompanhar os seminários ministrados pelo psicanalista francês Jacques Lacan, uma grande influência em sua formação.

Em 1985, veio ao Brasil para o lançamento de seu primeiro livro de psicanálise, Hipótese sobre o fantasma. Posteriormente, acabou fixando residência no País, onde reside até hoje. Suas reflexões se concentram na condição humana da sociedade marcada pela obrigatoriedade da felicidade, do gozo, da beleza e dos excessos. Estudioso das questões da adolescência, considera esta a etapa da vida que possui uma intensa carga cultural e que se caracteriza como uma das mais potentes fontes de energia da atualidade. A adolescência é um dos seus livros mais lidos e estudados.

Além de atender nos seus consultórios em São Paulo e Nova York, é colunista do caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo, no qual escreve sobre psicanálise e cultura. Publicou mais de dez livros, incluindo dois romances e uma peça teatral. Criou a série de televisão intitulada Psi, exibida no canal a cabo HBO. Foi professor de estudos culturais na New School de Nova York e professor convidado de antropologia médica na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Também faz parte do corpo docente do Institute for the Study of Violence, em Boston.

Contardo Calligaris, em seu trabalho, conduz as pessoas à reflexão sobre a existência humana, contribuindo para amenizar as angústias provocadas pelos desafios contemporâneos e pelo confronto com o outro, que pode limitar os prazeres e contradizer as certezas e seguranças.

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Displaying 1 - 30 of 128 reviews
Profile Image for Adriana Scarpin.
1,734 reviews
April 9, 2020
Há uns dez anos venho adiando a leitura desse livro, o adiamento foi até uma boa porque a editora Planeta relançou Cartas a um Jovem Terapeuta ano passado em versão ampliada com algumas dezenas de páginas a mais e que delícia é isso aqui. Calligaris sempre foi ótimo de se ler e aqui não é diferente, além do que ele transcende a questão de abordagem e pode ser lido por todos os terapeutas de orientação teórica diferente da psicanálise pois é uma aula não só de como ser psicoterapeuta, mas também de humanidade.
Profile Image for Simone Audi.
122 reviews8 followers
March 15, 2022
Cheguei neste livro sim com algumas expectativas e não posso deixar de dizer que foi decepcionante.

Contardo começa suas cartas apontando os traços de caráter que esperaria de um bom terapeuta/analista:

“1-) Um gosto pronunciado pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas por mais diferentes que elas sejam de você....
2-) uma extrema curiosidade pela variedade da experiência humana com o mínimo possível de preconceito. Você pode ter crenças e convicções. Aliás, é ótimo que as que as tenha, mas, se estas convicções acarretam aprovação ou desaprovação morais pré concebidas das condições humanas, sua chance de ser um bom terapeuta é muito reduzida, pra não dizer nula.

... se você tiver opniões morais prontas sobre a metade dos atos possíveis nesta terra, é melhor deixar a profissão de terapeuta para quem tem mais indulgência pela variedade da experiência humana.”

E o que uma pessoa que escreve isto aí em cima e por vezes neste mesmo livro se refere aos cristãos como boçais é?
Será que ela é esta pessoa que se interessa pela variedade da experiência humana?
Será que ela tem convicções morais pré concebidas?

Realmente temos boçais de todos os credos, inclusive ateus e agnósticos.
Avance desarmado!
Profile Image for Gabriella Vieira.
123 reviews22 followers
March 5, 2019
Uma leitura supostamente obrigatória de quando eu ainda cursava Psicologia - no início de 2015 - e eu só estou realizando agora.
Todo o meu respeito e admiração as/aos psicoterapeutas/psicanalistas. Por mais que eu me encaixe na maioria dos "pré-requisitos" que um/a analista deve ter, os quais o autor cita ainda na primeira carta de seu livro, acredito veementemente que eu não tenho estruturas mentais e psíquicas pra assumir essa profissão.
Por mais que eu sinta grande interesse e curiosidade pela área e vira e mexe leia algo relacionado à psicologia, psicanálise, etc., lendo este livro pude reforçar ainda mais a escolha certa que fiz de abandonar o curso de Psicologia ainda no segundo período e passar a estudar Pedagogia.
34 reviews1 follower
March 22, 2022
Mais do que conselhos aos iniciantes na psicoterapia, esse livro traz ótimas colocações sobre empatia e sobre o exercício ativo da escuta. Uma boa e breve apresentação do que significa ser psicoterapeuta e do que é necessário para seguir a área. Muito boa também a contextualização do cenário da psicoterapia no final do século XX.
Me surpreendeu bastante como são desenvolvidos os traumas e a relação com a infância. Ainda há muito o que descobrir.

(Fico feliz toda vez que meu exercício de ligar o gravador e falar despretensiosamente é validado)
Profile Image for Camila Lacerda.
22 reviews
August 27, 2021
Leitura muito fluida e agradável que ao mesmo tempo ensina. Recomendo muito para quem tem curiosidade de saber mais sobre o processo de análise e o ofício do terapeuta.
Profile Image for Paula.
50 reviews4 followers
March 19, 2023
Três ocasiões em que estive na mesma sala em que a psicanálise e que permanecem bem vivas na minha memória: 1) quando precisei estudar um artigo de Melanie Klein sobre masturbação infantil durante a graduação em Psicologia, 2) quando meu pai me levou a uma sessão de análise com um “analista” que foi rápido em rotular e declarar meu comportamento “rebelde” e demonstrar a sagacidade dos seus cortes lacanianos mas inútil em enxergar o luto da perda da minha mãe, e 3) quando descobri que meu professor de Psicanálise estava atendendo meu ex-marido para ajudá-lo a lidar com a nossa separação (e sabia da ligação entre seu analisando e sua aluna). Difícil gostar ou sequer simpatizar com esse negócio.

Mas Contardo veio como contraponto a essas experiências horríveis. Uma argumentação assertiva mas humana, uma clareza de pensamento que vi poucas vezes na vida (e veja o desafio de ser claro e simples no mundo de arrogância intelectual que a psicanálise pode ser), uma capacidade linda de dialogar para além das suas fronteiras estereotípicas e coexistir com a neurociência, com a psicologia social, com as psicoterapias, com a psicofarmacologia, com a psiquiatria, com a condição humana.

Queria ter lido esse livro antes da graduação. Sua simplicidade e singeleza parecem pertencer a um mundo diferente do que eu conheci por acaso ou azar. Ainda acho que teria me inclinado à Gestalt, à logoterapia e à psicoterapia existencial - como fiz -, mas teria acenado para a psicanálise pelos corredores da faculdade e da vida como quem diz “ei, amigo, como vai?”.
Profile Image for Gabriele.
175 reviews
March 4, 2022
Meu reencontro com o clássico livro de início de curso de psicologia hehe

Decidi revisitar esse livro nesse momento da minha vida que é um reinicio e que eu sinto que estou precisando de um empurrãozinho amigo dizendo que vai dar tudo certo e que eu posso encarar meus desejos e novos caminhos de uma forma mais tranquila. Obviamente o livro não traz respostas (até porque psicanálise né), mas traz histórias, reflexões e acho que sim, no final, um empurrãozinho.

Nada demais, mas era o que eu lembrava do livro e o que eu esperava dele
Profile Image for Ariela Pfeifer.
9 reviews
February 10, 2022
Ler (e reler) esse livro é extremamente importante pra qualquer psicólogo.

"Em alguma medida, inevitavelmente, o paciente se identifica com o terapeuta. Concordo também com a ideia de que isso implica uma responsabilidade do analista. Ora, sua responsabilidade é de viver quanto mais próximo possível de seu desejo, de forma que, se o paciente procurar um exemplo em você, será o exemplo de quem ousa se permitir o que deseja." (p. 209)
Profile Image for Letícia Jost.
21 reviews1 follower
January 24, 2024
"Muito mais trágico me parece o destino de quem atravessa a vida sem se molhar, como se os efeitos (felizes ou nefastos) escorressem sobre a pele como água sobre as plumas de um pato."

É impossível ler esse livro e não revisitar minhas sessões de análise dos últimos 3 anos. Calligaris, com gentileza e assertividade, entrega o que promete: um livro que seja um ponta-pé inicial na trajetória acadêmica de um terapeuta ou simpatizantes com a teoria psicanalítica. Simples e leve de ler, ainda que preserve a "tarefa" que a psicanálise tem de fazer com que enxerguemos o mundo de uma maneira mais profunda.
Profile Image for Cristal Library.
143 reviews2 followers
October 14, 2025
Me deparei com esse livro diversas vezes durante a graduação, mas agora que ingressei na clínica, não poderia ser um momento melhor para ter feito essa leitura!
Ele me foi emprestado repentinamente, e bateu uma nostalgia imensa do tempo em que eu esbarrava com os livros certos no momento certo.

Profile Image for Diana Ferroni bast.
1 review1 follower
January 26, 2014
Eu recomendo esse livro não só para os terapeutas psicanalistas, mas vale para todos os psicólogos. Interessantíssimo o seu estilo de crônica e a contextualização histórica da psicanálise, a política e a cultura. Se certa forma, tudo ainda é muito atual e apesar de seguir linha teórica diferente dentro da psicologia, eu consegui identificar aspectos comuns a nossa prática.
Profile Image for Michael Aliendro.
3 reviews
June 26, 2017
no momento estou cursando psicologia e durante meu percurso (até aqui) nunca pensei em seguir pela clínica. dois pontos implicaram num desvio dessa posição: minha análise e esse livro. penso que poderia ter lido esse livro antes. contudo, não foi esse, afinal, meu próprio tempo?

tentarei seguir desarmado
3 reviews4 followers
January 2, 2021
Leitura fácil e agradável. Autor entra em vários tópicos da prática como psicoterapeuta com graus variados de profundidade, mas tentando não ser demasiado técnico. No fim, sinto que esperava um pouco mais, talvez por ser tão recomendado. Acredito também que muito da experiência compartilhada quanto à aridez da prática estão um pouco datadas.
Profile Image for Rai.
30 reviews1 follower
January 9, 2025
poxa, muito lindo! gostei de tanta coisa escrita. acima de tudo, que bom que resolvi tirar a poeira dele pra lê-lo, depois de tantos anos guardado e jogado pela minha casa. fiz muitas anotações e pensei bastante sozinha. em meio a essas cartas, fiz as minhas próprias - as que procuravam respostas em outro (?) e as que eu tentava responder. livro curto mas demorei, leria de novo. que bom que sublinhei várias partes. acho que é uma recomendação legal pra quem gosta de psico e tem curiosidade sobre a clínica. queria poder ler mais.

pretendo ainda editar aqui e trazer algumas falas que marquei no livro e que me marcaram !
Profile Image for manu galathynius.
45 reviews
January 8, 2025
Um bom livro,gostei muito da parte em que o autor trazia contextos históricos e "atuais " e de como abordou vários temas de uma forma interessante, é notório o quanto é estudioso e a forma como descreve os fenômenos psicológicos pode ajudar muito na compreensão,entretanto em alguns momentos o autor simplesmente fala sua opinião cheia de pré conceitos que não acrescenta em nada na prática terapêutica. Além de expressar sua intolerância religiosa com força em vários momentos,tirando essas partes desnecessárias é um livro bom pra se ter um conhecimento básico de um processo terapêutico.
Profile Image for Gautherot Marie.
30 reviews3 followers
November 7, 2025
Não tenho nenhuma pretensão de ser psicóloga ou psicanalista mas me peguei lendo esse livro porque como ex « analisanda » a psicanálise me seduz. Bom livro, bons pontos, fiquei curiosa para saber mais sobre a formação do Contardo.
Profile Image for Isabel.
80 reviews8 followers
April 24, 2022
feliz por ter lido esse livro :)
Profile Image for Henrique Cassol.
137 reviews2 followers
October 1, 2022
Contardo, gentilmente, escreveu este livro despretensioso para servir a futuros aspirantes de psicologia. O livro é dividido em cartas fictícias escritas com temas variados sobre valores, moral, dinheiro, postura profissional, entre outros a estes jovens com intenção de cursar psicologia. Embora superficial do ponto de vista acadêmico, ele não deixa a desejar nas suas considerações sobre o ramo da psicanálise.. Exemplos:
Sobre a família: “A família, em suma, é o que inventamos de melhor para garantir a sobrevivência dos rebentos e da espécie; ela é também uma instituição que tende a perpetuar ordem social e ideologia; nisso, ela se choca com os anseios de autonomia do indivíduo (e sobretudo do indivíduo moderno. Em geral, a família é promovida como valor por ideologias que querem conservar e reproduzir o mesmo mundo. Muitas vezes, a família é inimiga das ideologias que querem mudanças. Se você quiser promover algum tipo de transformação no mundo, é preciso autorizar os filhos a desobedecerem aos pais, a serem diferentes de seus pais. Portanto, se você quer manter a ordem estabelecida, seja ela qual for, defenda a família como um valor - é o que fazem os regimes totalitários e autoritários.” “Os cristãos defendem a família como se fosse um valor cristão, quando, de fato, ela é apenas um valor para qualquer ideologia dominante que lute para se manter dominante.”
Profile Image for Carolina Marconi.
31 reviews3 followers
October 28, 2021
Resolvi ler esse livro perto de começar a clínica escola, por indicação tanto de amigas da área, quanto da minha própria analista. Ele serve pra tirar dúvidas, contar experiencias proprias e acalmar várias das possíveis ansiedades de quem adentra a área. Em alguns pontos acho um pouco liberalista demais pra mim e senti falta de alguns recortes. Nem tudo é resistência psicanalítica, algumas coisas são limitações sociais e financeiras.
Profile Image for Emanuel.
27 reviews10 followers
July 19, 2020
Embora seja muito bem intencionado e escrito, sinto que Cartas a um jovem terapeuta não me cativou tanto quanto eu ansiava. Talvez isso tenha acontecido por conta de minhas expectativas no livro de responder todas às perguntas que têm me afligido, ou ao menos respondê-las da forma que eu esperava. De qualquer maneira, acredito que um título mais honesto ao livro deveria ser "Cartas a um jovem psicanalista", pois é nessa abordagem que o autor descreve e embasa sua argumentação.

Não que seja algo ruim; afinal, quando se é psicólogo, é muito comum embasar nossas falas diante de nossa abordagem, pois é o terreno que mais conhecemos. Entretanto, embora a psicanálise seja de longe o embasamento mais conhecido da psicologia (e também o mais optado), acredito que um livro destinado aos iniciantes ou até mesmo aos curiosos deveria desmistificar mais essa visão e abordar o trabalho do psicoterapeuta de forma mais ampla, com um toque de cada vertente. Em alguns capítulos, confesso que pulei as vivências do autor em seus congressos sobre Freud e Lacan, porque de forma alguma isso me despertou interesse. Acredito que não contribua, tampouco, para aqueles que pouco ou nada sabem sobre a história da psicologia em si, e para quais o livro vai ser a primeira experiência.

Acredito piamente que uma experiência muito melhor sobre o processo de entrevista e os pontos almejáveis de um terapeuta podem ser discorridos no livro A entrevista de ajuda, do Alfred Benjamin. Penso isso porque o trabalho de Benjamin abrange desde Freud até Rogers, de uma forma muito mais fácil para o leitor absorver.

Talvez outros leitores gostem mais dessa experiência do que eu, principalmente aspirantes à psicanálise. Não é um livro que recomendaria a amigos, não por seu conteúdo em si, mas pela forma como ele foi abordado e pelos aspectos que não contribuem nada para o fluxo da leitura.
Profile Image for André Selonke.
194 reviews5 followers
July 4, 2024
nenhuma psicoterapia, seja ela qual for, deveria almejar a dependência do paciente.

Um gosto pronunciado pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas, por mais diferentes que sejam de você.

Uma extrema curiosidade pela variedade da experiência humana com o mínimo possível de preconceito.

os travestis são mais preocupados em definir sua identidade do que afobados em gozar como míticos hermafroditas.

fantasia do pedófilo é propor ou impor seus desejos a um sujeito que mal entende o que está sendo feito com ele e com seu corpo. É uma fantasia de domínio e sobretudo de domínio pelo saber.

Espera-se que o terapeuta ou analista empurre o paciente na direção de seu desejo. Aliás, é por isso que uma terapia leva tempo, porque, antes de empurrar, é preciso que esse desejo consiga se manifestar um pouco.

A terapia tem a tarefa de levar o paciente a reconhecer seu desejo; essa é a condição necessária tanto para praticá-lo como para contê-lo e descartá-lo.

a renúncia é sempre maior do que precisamos para viver. E renunciar aos prazeres é a primeira coisa que estamos dispostos a aceitar, como se isso fosse um remédio.

Qualquer médico pode sofrer de todas as doenças que ele trata, e um terapeuta pode lidar com níveis bem altos de sofrimento psíquico.

“vontade de viver” é muito mais que a persistência necessária para não se matar: é a sensação (em grande parte inconsciente) de ter o direito de estar no mundo, de ser de alguma forma bem-vindo aqui, e portanto de poder ousar. É dessa sensação que nasce a coragem de se aventurar, pagar o preço de nosso desejo e correr o risco.

Nenhuma terapia dinâmica pode alterar os fatos de uma vida, mas pode, isso sim, alterar a narrativa dos fatos–e isso talvez seja decisivo.

no decorrer de uma terapia, todos descobrimos que a família que nos criou, por mais que tenha nos proporcionado uma infância agradável, é a fonte principal de nosso sofrimento neurótico.

O interessante tem a ver com duas coisas: com o conteúdo (geralmente não há nada mais interessante para um indivíduo do que o enigma de seu próprio desejo) e com o foco, ou seja, com a assiduidade e a intensidade

Qualquer família acolhe e cria seus rebentos num emaranhado de desejos, medos, esperanças, rivalidades, ciúmes, amores, ódios, indiferenças piores que o próprio ódio e, claro, com expectativas explícitas ou silenciosas de pais e outros antepassados (próximos e distantes).

os pais querem criar os filhos como cópias do que seus próprios pais (os avós da criança) teriam esperado deles (os pais), mas que eles não conseguiram ser.

prefiro os analistas cuja curiosidade para com o mundo, a vida e a cultura se estendam além das quatro paredes do consultório.

quem idealiza acaba se apaixonando.

idealizamos nosso objeto de amor para verificar que somos amáveis aos olhos de nossos próprios ideais.

nem o psiquiatra nem o psicólogo clínico se formam para serem psicoterapeutas.

Há uma diferença relevante entre ler como estudante, que deve dar conta do que aprendeu, e ler como terapeuta em formação, que interpreta os textos a partir da experiência singular de sua própria terapia ou análise.

o sofrimento psíquico é como a massinha de modelar de nossa infância; você não a quer num determinado quartinho da casa de boneca, empurra com força, consegue deslocá-la, mas ela não sumiu, apenas se insinuou pelas frestas e reaparece no quarto ao lado.

é preciso não ser feliz para correr atrás da felicidade e de seus substitutos.

O que chamamos de “normalidade” não é um padrão estatístico do desejo, mas é a resignação comum à mediocridade imposta pela repressão de nosso desejo.

no que a gente fala, opera uma lógica interna, que nós não percebemos. Quanto menor nossa intervenção na escolha e na organização do que falamos, tanto mais essa lógica interna poderá nos levar a dizer coisas inesperadas por nós mesmos, a descobrir algo que estava em nossos pensamentos sem que soubéssemos.

É possível se esconder de si mesmo por trás de racionalizações e assuntos preparados. Mas é possível também se esconder por trás de associações quase poéticas, que pulam de palavra em palavra.

cada relação é um encaixe em que convivem, mais ou menos harmoniosamente, as neuroses de todos os interessados, é claro que mexer num dos elos significa atrapalhar a vida de todos.

confiou a ponto de autorizar-se a atender, continue.

A psicanálise coloca o sexo ao centro de seu entendimento do mundo porque a cultura ocidental cristã fez do sexo o centro proibido do mundo.

Na verdade, muitos transformam sua luta contra a neurose em arte, ou seja, são artistas contra sua neurose, e não por causa dela. Mas entendo a pergunta: ser artista graças à sua neurose (ou mesmo à sua psicose, ao seu alcoolismo etc.) é um grande mito romântico.

Um trauma é isso: um evento, mais ou menos difícil, que, num segundo momento, não consegue ser integrado à história do sujeito.

entender que nossa infância nos define talvez seja mais uma maneira de idealizar a infância, de confirmar o lugar de destaque excessivo que nossa cultura atribuiu às crianças (e a nos mesmos como crianças).
Profile Image for giovanna :).
20 reviews
January 7, 2024
"Cartas a um Jovem Terapeuta" tem como seu maior objetivo, como diz o subtítulo, "reflexões para psicoterapeutas, aspirantes e curiosos". Nele, por meios de cartas e bilhetes, o autor responde, de maneira clara e dinâmica, as principais dúvidas de muitos aspirantes terapeutas, sendo elas de nível profissional e pessoal.
Em suas cartas, Calligaris conta a sua história, compartilhando suas experiências na vida pessoal, sempre abordando paralelamente questões da terapia psicanalítica. O primeiro capítulo - que é totalmente direcionado à questão da vocação profissional - leva à reflexão sobre as condições pessoais para o ingresso na área de psicoterapia ou de psicanálise. Indicar as características de um bom psicólogo pode parecer uma tarefa difícil, mas o autor se arrisca compartilhando algumas que acredita serem essenciais, como, por exemplo, o apreço pela palavra, a curiosidade acerca da experiência humana, o interesse por desconstruir preconceitos e, até mesmo, uma boa dose de sofrimento psíquico.
Gosto quando ele aborda, de maneira ousada, a importância de conhecer técnicas outras, ainda que se queira utilizar a psicanálise como método ou teoria explicativa do funcionamento psíquico. Vejo já na faculdade uma espécie de segregação do conhecimento onde estudantes dos primeiros períodos rejeitam algumas abordagens enquanto colocam outras em pedestais, por mais que estejam só no começo das suas formações acadêmicas.
A cura é outra grande polêmica abordada no livro.
Curar ou não curar? Muitos psicoterapeutas recusam a ideia de que se tenha uma proposta de cura em relação ao sofrimento psíquico dos pacientes, o que entra em choque com a expectativa de vários pacientes que, muitas vezes, buscam a análise com a ideia de resolver alaum problema bem definido. É importante para quem pensa em se tornar terapeuta ter conhecimento acerca desse debate, e mais importante ainda, se atentar ao fato de que o terapeuta não é um bastião da realidade e nem da sociedade. Fazer um paciente rever suas individualidades já é um avanço e é preciso que haja a possibilidade de escuta a partir do que ele está dizendo para além do entendimento do analista.
O livro segue passando por diversas questões, sendo elas mais práticas - como o pagamento, a duração das sessões e supervisão - ou mais subjetivas - como a experiência do primeiro paciente e o amor terapêutico ou de transferência.
Calligaris, em seu tom bem-humorado, tranquiliza o leitor com suas histórias pessoais. O livro não é extenso e, por ser escrito numa linguagem bastante acessível e simplificada, é uma leitura leve e agradável, realmente ideal para jovens psicoterapeutas, aspirantes e curiosos.
Profile Image for lívia.
28 reviews
March 10, 2024
ainda sinto a ausência de meias estrelas nas avaliações do goodreads. ponho 4,5 aqui.

o livro tem o formato de uma coletânea de cartas que respondem perguntas a um sujeito que, inicialmente, interessa-se na profissão de psicoterapeuta.
apesar de assuntos densos e contextos lacanianos (o qual eu ainda não conheço bem), eu achei a leitura fluida e descontraída em compreensão. creio que essa estrutura de comunicação direta em resposta a dúvidas auxilia muito esse papel. gostei bastante desse livro.

não foi se não crucial ter lido esse livro no início da minha formação em psicologia (segundo período da faculdade). agradecimento especial à professora que requisitou a leitura.

coloco aqui um trecho do último capítulo que reflete minhas visões kunderianas de valorização do pesado.

“Pensando bem, não sou tão neutro quanto disse. É verdade que nada me parece patológico, a menos que seja, direta ou indiretamente, o objeto da queixa do paciente. Mas você tem razão, há uma coisa que prezo e outra que, de uma certa forma, antagonizo e tento contrariar, mesmo que não seja objeto de queixa.

Prezo a qualidade da experiência vivida. Mas a qualidade não é uma questão de agrado ou desagrado; a qualidade da experiência é função da intensidade com a qual nos permitimos viver, O destino (digamos assim) nos serve pratos variados: alguns dolorosos, outros jocosos e festivos. O importante, para mim, não é que os dolorosos sejam evitados; o importante é que todos sejam saborosos, ou seja, que topemos saboreá-los.

É muito raro, por exemplo, que entenda o trabalho psicoterápico como uma forma de consolação que tentaria atenuar o impacto de uma lembrança ou de um evento penosos. Das várias formas possíveis de infelicidade, a que me parece mais aflitiva não é necessariamente a que mais dói. Muito mais trágic o me parece o destino de quem atravessa a vida sem se molhar, como se os efeitos (felizes ou nefastos) escorressem sobre a pele como água sobre as plumas de um pato.”
Profile Image for Dayane Magalhães.
41 reviews20 followers
June 2, 2020
***Algumas Quotes Destacadas*** <3:

"Um gosto pronunciado pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas, por diferentes que sejam de você."

"Uma extrema curiosidade pela variedade da experiência humana com o mínimo possível de preconceito."

"... que sua prática adianta. Sabe porque a prática que você propõe a seus pacientes já curou ao menos um: você."

"A escolha da direção ou do caminho não deve ser decidida por uma norma, nem mesmo por uma sabedoria. Espera-se que o terapeuta ou analista empurre o paciente na direção de seu desejo. Aliás, é por isso que uma terapia leva tempo, porque, antes de empurrar, é preciso que esse desejo consiga se manifestar um pouco(...) muito mais do que a vontade de ensinar os outros e de mexer com suas vidas, é importante, como já lhe disse, a aceitação carinhosa da variedade das vidas com todas as suas diferenças."

"prefiro os analistas cuja curiosidade para com o mundo, a vida e a cultura se estenda além das quatro paredes do consultório."

"Prezo a qualidade da experiência vivida. Mas a qualidade não é uma questão de agrado ou desagradado; a qualidade da experiência é a função da intensidade com a qual nos permitimos viver. O destino (digamos assim) nos serve pratos variados: alguns dolorosos, outros jocosos e festivos. O importante, para mim, não é que os dolorosos sejam evitados; o importante é que todos sejam saborosos, ou seja, que topemos saboreá-los."

"Eles querem mudar, e você também, junto com eles, pode querer que eles mudem. Mas uma mudança não é coisa que possa ser imposta. Ela não virá da imposição do rigor abstrato da técnica que você aprendeu, do setting no qual você se formou ou da teoria com a qual você escolheu justificar suas palavras e seus atos terapêuticos. Ao contrário, para que uma mudança aconteça um dia, é preciso que uma relação comece; e uma relação só pode começar nas condições que são irrenunciáveis por seu paciente. Em suma, avance desarmado."
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Profile Image for Isa ☾.
187 reviews223 followers
October 25, 2024
"Muito mais trágico me parece o destino de quem atravessa a vida sem se molhar, como se os eventos (felizes ou nefastos) escorressem sobre a pele como água sobre as plumas de um pato."

eu comecei esse livro esperando algo totalmente diferente do que acabei encontrando, o que não quer dizer que tenha sido uma experiência ruim. Calligaris tem um jeito com as palavras que é como se ele tivesse uma relação extremamente íntima com elas, e sabe usá-las da melhor forma possível. Esse livro tem uma narrativa semelhante a uma conversa, e é impossível se entediar com a maneira que ele escolhe contar os eventos. eu simplesmente amei e creio que, posteriormente, voltarei nesse livro milhares de vezes. Como uma jovem quase terapeuta, essas cartas acalmaram muitas das minhas preocupações com meus futuros pacientes.

apesar do fundo psicanalista (que não é minha abordagem), a experiência de leitura continua sendo extremamente proveitosa. Existem coisas ditas que, sim, não se enquadram no meu contexto de psicoterapeuta, mas a mensagem por trás das histórias ensinam lições valiosas independentemente da abordagem que a gente escolhe para guiar nossas sessões.

a minha parte/citação favorita acaba por ser enorme, então vou deixar aqui uma que amei tanto quanto: "Tenho a ambição, ao contrário, de ajudar meus pacientes a viver de tal forma que, chegando o fim, eles possam dizer-se que a corrida foi boa."

avance desarmado.
Displaying 1 - 30 of 128 reviews

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