Aluísio Azevedo, considerado o introdutor do naturalismo no Brasil, nasceu no Maranhão e 1857 e morreu em Buenos Aires em 1913. Neste livro foram selecionados trechos de 'Filomena Borges', 'Pegadas', 'O touro negro' e 'O mulato', sendo este o prefácio à terceira edição de 1889.
Era filho do português David Gonçalves de Azevedo e de Emília Amália Pinto de Magalhães. Seu pai era viúvo e a mãe era separada do marido, algo que configurava grande escândalo na sociedade da época. Foi irmão do dramaturgo e jornalista Artur Azevedo.
Desde cedo dedicou-se ao desenho através de caricaturas e à pintura. Em 1876 viaja ao Rio de Janeiro, a fim de estudar Belas Artes, obtendo desde então sustento com seus desenhos para jornais.
Com o falecimento do pai em 1879, volta para o Maranhão, onde começa finalmente a escrever. E em 1881, publica O Mulato, obra que choca a sociedade pela sua forma crua ao desnudar a questão racial. O autor já era abolicionista convicto.
O sucesso desta habilita-o a voltar para a Capital do Império, onde escreve incessantemente novos romances, contos, crônicas e até peças teatrais.
Sua obra é vista como irregular por diversos críticos, uma vez que oscilava entre o Romantismo açucarado, com cunho comercial e direcionado ao grande público, e outras mais elaboradas, pois deixava a sua marca de grande escritor naturalista.
Feito diplomata, em 1895, serve em diversos países, inclusive o Japão. Chega finalmente, em 1910, a Buenos Aires, cidade onde veio a falecer menos de três anos depois.
O Madeireiro —✲ 2.5/5.0 Falsos Conflitos e Falsos Personagens Conto | 10pp
Foi uma leitura obrigatória de uma disciplina. Aproveito para catalogá-lo aqui. Por sorte o conto não é lá essas coisas, e não posso dizer que a obrigação tirou-me o prazer da leitura e apreciação. Mas tem pontos de interesse que a análise fez surgir.
É um conto bem com a cara de conto de dezenove mesmo, com uma trama parecida com as do Machado. Aqui, temos um fio condutor bem simples, mas que se complica pela utilização do ponto de vista de um narrador-personagem, as limitações — e induções — que essa perspectiva implica.
Mesmo sem a dubiedade do relato, só com a limitação de uma visão pessoal, a quebra de expectativa final revela: falsos conflitos, conflitos que de certo ponto de vista são inexistentes, e até uma inversão entre clímax e desfecho: quando descobrimos o segredo do jogo, passamos a vê-lo outros olhos, a posição das peças e as regras mudam.
Anoto isso aqui para que eu mesmo me atente mais a esses casos, em que o protagonista-narrador não sabe das reais intenções de uma outra personagem; para me atentar mais às informações que chegam a um narrador-personagem. Há de se passar aqui por uma questão múltipla de dubiedade: se cheguei a conclusão de que o narrador-personagem é confiável, passa-se então para começar a questionar se o que dizem a ele pode ser também confiável; a posição da nossa perspectiva, se pode estar sendo enganado, etc.
O conto inicia da seguinte forma: nosso protagonista, sem-nome, bate em uma porta que, entendemos pelo contexto, já lhe era conhecida, e a partir de uma exposição inicial busca na memória, explica e relembra de tudo que se passou ali; da relação que esfriou, de uma viúva querida que conheceu, e da razão de estar ali mais uma vez: recebeu uma carta-pedido — a antiga amante quer as cartas amorosas de volta. O conto desenvolve-se nessa visita e nesse reencontro, onde amor, carinho, desejo e ciúme reacendem-se.
Uma outra questão que fica comigo é, como adaptaria esse enredo para nossos tempos atuais? Vi por alto uma adaptação do conto que mantinha a utilização de cartas, e focava mais na expansão do conflito, transformando uma personagem inexistente no conto, em um personagem falso, um ator interpretando um ator… soa interessante, mas todo o resto tem cara de bomba, e bomba não assistirei. O telefilme, para quem interessar, leva o mesmo nome do conto.
Me interessei mais em pensar como fazer a substituição das cartas por… mensagens de whatsapp? Fotos comprometedoras? Não sei se funcionaria, já que teria de mudar o tom do enredo, caindo mais pra chantagem do que para uma meiga "não lhe devolverei todas as cartas porque aí não terei mais desculpa para passar a noite contigo" que é endossada — cuidadosamente — pela viúva. Talvez abra espaço, pensando numa narrativa moderna, para uma tentativa forçosa de reatar os laços, que terminaria, aos moldes do Machado, em tragédia — uma tragédia violenta, ou a tragédia de passar toda uma vida presa por um relacionamento antigo.
Enfim, é pragmaticamente bem escrito, no diálogo e nas ações que se dão entre o personagem principal e seu antigo amor; mas não atinge o mesmo ponto alto de certas longas, mas boas descrições que já tinha visto n'O Cortiço; não tenho, entretanto, do que reclamar ou apontar má qualidade na escrita do Aluísio.