História da Beleza no Brasil - Volume 1

by Denise Bernuzzi de Sant Anna

Há séculos, a beleza distingue e desperta invejas. Ela é objeto de desejo, instrumento de poder e moeda de troca em diferentes sociedades. No último século, o corpo transformou-se em algo tão importante, complexo e sensível quanto outrora fora a alma. Esta obra, que combina trabalho rigoroso e linguagem saborosa, mostra o que se faz para buscar a beleza – e como esse conceito muda com o tempo. Desde o garbo e a elegância nos primeiros anos da República até a atual banalização das cirurgias plásticas, História da beleza no Brasil trata das transformações ligadas aos padrões estéticos e aos cuidados com o corpo, mas também do martírio causado pela feiura e da tumultuada luta para driblar o envelhecimento, a solidão e o fracasso.

Genres: History

Paperback

Published January 1, 1900

Reviews

[Marcelo Costa · Rating 5 out of 5]

Livro de grande importância para que reflitamos sobre toda a massificação de informações sobre produtos estéticos nas mídias que nos influenciam a querer alcançar um ideal estético que muitas vezes não são compatíveis com os nossos reais ideais de vida. A autoria explícita muito bem toda dinâmica sócio-política (e econômica) sobre a indústria farmacêutica e consequentemente estética que existe há tempos no país e que modifica constantemente os ideais de “beleza perfeita”, sendo que estes são condicionados a consumos efêmeros de produtos e serviços no país.

[Mariana Leal · Rating 5 out of 5]

Sensacional! Fala sobre a construção do mito da beleza (para homens e mulheres) no Brasil, e como ela foi influenciada por outras culturas até chegar à atualidade. O texto é bem jornalístico, trazendo propagandas de cada época e muitas referências para aprofundar mais o assunto

[Tainah · Rating 4 out of 5]

Para quem estuda gêneros ou publicidade, é uma excelente obra para compreender os padrões estéticos e ideais de beleza ao longo da história brasileira, moldados por fatores culturais, sociais, econômicos e políticos desde a era colonial. Corpo-moda-estética-sociedade.

O Brasil sempre esteve em diálogo, submissos inclusive, a influências externas. Existe aqui uma cultura de importação de artigos, modas e ideais que, certamente, é um reflexo direto da herança colonial, que, para além de moldar nossa identidade, perpetuou o olhar voltado para o externo (ou o outro) como referência.

O Brasil, antes e hoje, absorveu aspectos do american way of life, para além dos consumos, mas também sobre nossas percepções de corpos e beleza. A herança colonial afeta nossas construções culturais enquanto sociedade e indivíduos.

Naturalmente, a beleza-estética vai para além da autoestima; há, pelo caminho, construção histórica e social. Ainda que não necessariamente explícitas, o trabalho de Denise traz analogias que claramente são profundas marcas deixadas pela escravidão e racismo no Brasil. E logo a beleza é instrumento de exclusão e hierarquização social. Daí se evidencia a obsessão do brasileiro (mais que qualquer outra nacionalidade) com o banho, que é para além do autocuidado e higiene; há camadas de outros significados construídos ao longo das décadas para hoje ser o dito "é parte da cultura". Da ausência ser selvageria, passando pelo corpo branco europeu a ser exaltado, pele de estrela de corpo branco de Hollywood, até tornar-se hábito cultural.

A discussão sobre a importação de padrões estrangeiros — sobretudo europeus e, mais tarde, americanos — reforça como a herança colonial e o racismo internalizado moldaram a mentalidade brasileira. Isso fica evidente nas práticas de embranquecimento, nos produtos de clareamento de pele e na valorização de características fenotípicas que negam a diversidade do Brasil.

Desde os influenciadores de outrora — como o cinema, artistas, rádios e jornais — até a era atual dos influenciadores digitais, existe uma continuidade: a propaganda é força central que molda desejos, padrões e comportamentos. Não apenas dita o que consumir, mas também cria necessidades que, muitas vezes, nem existiam. A "vontade" do indivíduo é constantemente fabricada; mesmo quem tenta se blindar das mensagens publicitárias acaba sendo afetado indiretamente, pois vive em uma sociedade que absorve e normaliza esses padrões. Essa dinâmica, que já era intensa nas décadas passadas com a televisão e a publicidade impressa, hoje é amplificada pelas redes sociais. Isso reforça a ilusão de escolha, enquanto padrões de beleza, consumo e comportamento são continuamente impostos. A mudança de padrões — seja de beleza, moda ou valores sociais — raramente vem de uma transformação espontânea; ela é planejada e implementada por indústrias inteiras. A pessoa brasileira está sempre correndo atrás de um ideal estético, financeiro, cultural inatingível, que, além de ser mutante, reforça hierarquias sociais e econômicas em um país de completa e histórica desigualdade.

Os corpos femininos continuam sendo disciplinados para atender padrões sociais que servem para atender o desejo masculino, numa construção cuja função em sociedade da mulher é conquistar e agradar um marido como meta final de sua vida. As mulheres têm que moldar seus corpos, comportamento, pensamento; têm que ser jovens, belas e submissas. Em última instância, isso é uma ferramenta de controle. O valor da mulher está totalmente conectado à sua aparência. Logo, quando envelhece, perde importância. O que não ocorre com os corpos masculinos, que se valorizam por sua experiência, inteligência e posição social. O que evidencia que o corpo feminino é um produto para consumo. Ou, no caso das naturalmente (mas nunca independente) abastadas financeiramente, um dote. Então, tal qual um material, é: propriedade.

Há uma insistência ainda, que vela de desviar o foco das mulheres de sua liberdade, autonomia e desenvolvimento, mas que, em última análise, quer que ela seja alienada. E a propaganda, a indústria da beleza e a mídia, ano após ano, reforçam diferentes padrões e moldes aos quais a mulher tem que se sujeitar para ser aceita.

A beleza vai muito além da aparência.

[Guilherme Smee · Rating 4 out of 5]

É relativamente fácil encontrar livro que versam sobre a História da Beleza no mundo ou que tracem considerações aprofundadas sobre estética no sentido de gosto. Contudo, é mais difícil de se achar livros que abordem a beleza a partir do recorte da população brasileira. Este livros de Denise Bernuzzi de Sant'Anna cumpre esse papel, delineando os ideiais da beleza no nosso país a partir da Proclamação da República em 1889. Denise desenvolve sua análise principalmente através de revistas magazines publicadas daquela época até hoje, se apoaindo fortemente em colunas de beleza e estilo e na publicidade de produtos voltados para a beleza. Ela também cita algumas obras literárias e fenômenos do cinema e da televisão, embora com menor ênfase. O resultado é um trabalho necessário e que aborda diversas facetas da beleza e da feiura e de estereótipos estéticos de masculinidade e feminilidade com as peculiaridades características do recorte do estudo, a cultura, o povo e as vicissitudes e disossincrasias do Brasil.

[Jaqueline · Rating 5 out of 5]

"O conselho publicitário “sinta esse prazer” supunha a autorização de estar consigo e cuidar do corpo. A feiura passou a relacionar-se não apenas com a falta de sorte ou de saúde, mas também a ausência de sensibilidade. A feia seria entendida como alguém incapaz de se contentar com a própria vida, discernir seu charme e tirar proveito de seus dotes. Por isso, quando não se tinha uma boa aparência, o melhor, sugeriam os conselhos, era fazer um exame de consciência. Beleza se tornava o resultado de um empreendimento pessoal dependente de uma escuta dos próprios sentimentos. Se essa escuta fosse acurada e se a mulher fosse empenhada e disciplinada, a feiura teria sempre alguma solução."

Este livro mostra como a ideia de beleza foi mudando no Brasil, com o uso, principalmente, da publicidade. A autora traz anúncios que ajudam a entender cada época e muitas referências, para quem quiser se aprofundar. Ela mostra como a nossa relação com o corpo mudou com o tempo e com a influência da indústria da beleza. É escrito de forma clara e acessível e é muito interessante.

[Vitória · Rating 3 out of 5]

Um overview sobre a relação de brasileiros e brasileiras com a beleza e como ela mudou ao longo dos anos. Por vezes, se lê mais como uma história da publicidade de produtos de beleza do que qualquer outra coisa – algo perdoável, visto a proximidade entre os assuntos.

Não é um livro que se aprofunda tanto nas nuances da relação do brasileiro com a beleza como o titulo dá a entender, mas é fácil de ler e passa rápido.