Eugênio Pontes, moço de origem humilde, a custo se forma médico e, graças a um casamento por interesse, ingressa na elite da sociedade. Nesse percurso, porém, é obrigado a virar as costas para a família, deixar de lado antigos ideais humanitários e abandonar a mulher que realmente ama. Sensível, comovente, "Olhai os Lírios do Campo" é um convite à reflexão sobre os valores autênticos da vida.
Erico Verissimo (December 17, 1905 - November 28, 1975) is an important Brazilian writer, who was born in Rio Grande do Sul. His father, Sebastião Veríssimo da Fonseca, heir of a rich family in Cruz Alta, Rio Grande do Sul, met financial ruin during his son's youth. Veríssimo worked in a pharmacy before obtaining a job at Editora Globo, a book publisher, where he translated and released works of writers like Aldous Huxley. During the Second World War, he went to the United States. This period of his life was recorded in some of his books, including: Gato Preto em Campo de Neve ("Black Cat in a Snow Field"), A Volta do Gato Preto ("The Return of the Black Cat"), and História da Literatura Brasileira ("History of Brazilian Literature"), which contains some of his lectures at UCLA. His epic O Tempo e o Vento ("The Time and the Wind'") became one of the great masterpieces of the Brazilian novel, alongside Os Sertões by Euclides da Cunha, and Grande Sertão: Veredas by Guimarães Rosa. Four of Veríssimo's works, Time and the Wind, Night, Mexico, and His Excellency, the Ambassador, were translated into the English language by Linton Lomas Barrett. He was the father of another famous writer of Rio Grande do Sul, Luis Fernando Veríssimo.
Eu devia ser muito mais paciente quando li este livro pela primeira vez, há muitos anos, porque guardava dele uma excelente impressão. Agora, achei-o maçudo e moralista. A minha grande embirração, porém, são as personagens. Eugénio, o protagonista é um choninhas e um eterno insatisfeito. Não está satisfeito quando é pobre, não está satisfeito quando é rico e não está satisfeito quando é remediado. E remói e relembra, e remói e relembra, capítulo após capítulo. O seu contraponto é a colega com quem se envolve, Olivia, um poço de virtudes, paciente e abnegada que prega a palavra de Deus sempre que abre a boca. Ganham o prémio do casal mais aborrecido do ano.
The novel, set in an urban landscape, follows the story of Eugênio, a boy from humble beginnings who initially feels ashamed of his family's poverty. Despite this, he perseveres, enabling him to attend prestigious schools and eventually graduate in Medicine. Though initially a source of shame, his family's influence plays a crucial role in his journey. The story is divided into two parts. The first is narrated in a flashback style, during which Eugênio's memories come to light during a trip he takes from a small town in the interior to Porto Alegre. The novel's title, drawn from the Sermon on the Mount, serves as a guiding principle for Eugênio's journey. It echoes Christ's advice to his apostles, suggesting that true happiness is found in simplicity and selflessness rather than in pursuing complex desires. The author skillfully portrays Eugênio's evolution from a person shaped by societal expectations to a self-aware individual who makes his own choices. This transformation is a central theme of the novel, highlighting the contrast between Eugênio's life before and after his journey of self-discovery.
No ínício da narrativa, o nosso personagem principal, Eugénio, encontra-se inesperadamente a enfrentar um dos momentos mais aflitivos e angustiantes da sua vida. A situação em que se encontra fá-lo passar revista às suas memórias de vida mais importantes e a questionar as suas escolhas.
É uma história muito marcante, sobre um homem e a sua existência, sobre escolhas e valores, relações e lealdades, mas vai para além da história de um só indivíduo.
O autor dividiu o livro em duas partes. Na minha opinião a primeira parte é bastante mais interessante que a segunda, embora seja na segunda que as questões da primeira parte transvasam para uma plataforma mais lata e transitam do individual para o social.
Na segunda parte, surgem questões económicas, sociais, políticas e religiosas de grande interesse. Esta segunda parte é ainda mais importante e interessante, se enquadrarmos a mensagem do autor no contexto em que foi escrita (entre as duas guerras mundias, no Brasil). Infelizmente, apesar de ter sido escrito nos anos trinta, algumas questões aqui expostas continuam incrivelmente actuais.
Gostei muito deste exercício de reflexão que a segunda parte me levou a fazer, mas a meu ver ficou um pouco aquém da primeira parte.
É um livro excelente, que aconselho sem margem para dúvidas. Infelizmente esta edição antiga do Círculo de Leitores deixa um pouco a desejar. Senti que a minha leitura foi um pouco prejudicada pela falta de qualidade da edição, por isso se forem ler este livro, escolham uma outra edição (existe actualmente uma edição disponível recente, do Clube do Autor)
"Só a vida ensina a viver. É preciso a gente ver tudo o que a vida tem de mau e de sórdido, para depois podermos descobrir o que ela tem de belo e bom, de profundamente bom."
Escrevo essa crítica com uma certa dor no coração.
Explico: Erico Verissimo é um dos meus escritores favoritos. Foi com a sua incrível saga O Tempo e o Vento que encontrei o despertar da minha paixão pela literatura, lá pelos meus catorze anos de idade. Foi nessa época que também li, pela primeira vez, Olhai os lírios do campo (1938). Na ocasião, lembro de ter amado o livro.
A memória dessa obra foi amalgamada no meu carinho por Erico, em um momento que ainda adentrava no universo da literatura com olhos muito jovens e pouco exigentes. Pois bem. Decidi, para começar o ano, reler essa obra que me marcou tanto na adolescência.
Apesar dessa narrativa ser a mais famosa e a mais lida de Verissimo, talvez seja a mais fraca. O tom educativo e pregador do livro, a meu ver, envelheceu muito mal. O que mais me chocou, no entanto, foi a construção das mulheres que surgem nessa obra: todas são rasas e separadas entre "puras" e "abnegadas" ou "lascivas" e "intelectualóides".
Olívia, que deveria ser o eixo emocional que nos conecta com o protagonista Eugênio, é irritante, etérea, abnegada, espiritual. Nunca, em nenhum momento, parece ter uma existência própria: ela vive para ouvir as lamúrias do chato Eugênio e para responder platitudes que envolvem Deus, paz interior e aceitação da vida. Ao se tornar mãe solteira em plena década de trinta em uma cidade (Porto Alegre) longe de pertencer ao centro "modernista" que reconfigurava as existências de mulheres, Olívia não sofre nada: seu amor meio inexplicável pelo insuportável protagonista continua límpido.
Claro, como Olívia é a personificação da "mulher ideal", não inspira a nenhum sentimento "vulgar"; ela não sente tesão, apenas se "entrega" ao pretendente. Ela satisfaz (à nível emocional, sexual e existencial) Eugênio, mas nunca percebemos sua pulsão pela própria satisfação pessoal e íntima (a não ser, óbvio, pela sua chatice relacionada a "paz interior")
Se a obra encontra a âncora nesse relacionamento, a Mariana de 27 anos encontra problemas que a jovem de 14 não percebia. Isso provém, acredito, não apenas das experiências e das aprendizagens com a vida, mas também do aporte literário adquirido ao longo dos anos. Depois de tantas leituras, Olhai os lírios... se torna um livro bobo, que se segura a um fio (graças à elegante e fluida escrita de Erico) da mais completa pieguice.
Um acontecimento na parte final do livro, que envolve o já reformado médico Eugênio e Dora, a filha do ex-amigo rico, entrega o golpe final dentro de uma narrativa que se imagina muito educativa, elevada, espiritual: Dora (mais uma mulher sem personalidade, que parece um pião do lamurioso Simão, do ausente pai e da alienada mãe) morre ao fazer um aborto ilegal. Eugênio se recusa a ajudar a mulher nesse ato "desprezível" (o livro entrega o mais absoluto tom conservador nessa ocasião - "todas as mulheres sonham em ser mães").
Enfim, uma pena que essa minha segunda leitura de Olhai os lírios tenha sido tão negativa. Encontrei uma obra, a meu ver, já envelhecida em seu discurso. Claramente, acredito, Olhai os lírios foi escrito por Erico para garantir um dinheiro (não julgo, ser escritor em Porto Alegre dos anos trinta não deveria ter sido fácil).
Se você quer ver Erico no seu auge, leia Incidente em Antares (1970). Nesse livro e em O Tempo e o Vento você encontra o verdadeiro Verissimo, que não merecia que Olhai os lírios do campo fosse o seu livro mais lembrado.
"Há na Terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão."
Há muito que tinha vontade de ler este livro, porque já muitas vezes tinha ouvido falar (bem) quer do livro quer do autor. Também ainda não tinha lido nada de Erico Veríssimo. Talvez por isso a expectativas eram grandes e a fasquia alta, mas achei a história demasiado sentimentalista e previsível. Gostei muito da primeira parte mas a segunda parte pareceu-me muito mais fraca e menos interessante.
✨“Mas precisamos de dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu. (…) E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do Mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que esta luta trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar.”✨
Sabem aqueles livros que já podemos dizer que foram dos favoritos do ano? “Lírios no Campo” foi um deles. Tanto que quando terminei a leitura, estive alguns dias de ressaca, nem sabia que sentido dar à existência depois dos meus liriozinhos 🌺
Como dizer adeus a um livro que fala tão intensamente à alma humana, que sabe transparecer tão nitidamente os mais altos valores humanos, da existência, que nos parecem tantas, tantas vezes despercebidos?❤️
Este é um livro tão maduro, tão poeticamente bem escrito. Foi escrito nos anos 30, entre as duas Guerras Mundiais, por isso apresenta temas de desigualdades económicas, políticas e sociais, no Brasil e no resto do Mundo. Mas são temas que podem tão perfeitamente transpor-se na atualidade.
✨“Porque só valem as experiências que fazemos com a nossa própria carne. Pode ser que isso tudo seja apenas um grande sonho. Mas sonhar também é humano.”✨
No início da narrativa, o nosso personagem principal, Eugénio, encontra-se inesperadamente a enfrentar um dos momentos mais aflitivos e angustiantes da sua vida. A situação em que se encontra fá-lo passar revista às suas memórias de vida mais importantes e a questionar as suas escolhas, a reviver a sua relação com a personagem mais bela e humana deste livro, Olívia ❤️
A partir daí, desenvolve-se uma história marcante, sobre a sua existência e consequentemente do indivíduo universal , sobre escolhas e valores, relações e lealdades. Daí ser um livro , na minha opinião, tão universal. Provavelmente, um clássico mais que intemporal. 🥰
✨“Só a vida ensina a viver. É preciso a gente ver primeiro tudo o que a vida tem de mau e de sórdido para depois podermos descobrir o que ela tem de belo e bom, de profundamente bom.”✨
Olhai os Lírios do Campo de Érico Veríssimo tornou-se num dos meus livros favoritos de sempre. Que obra incrível!!
Publicada em 1938, esta obra brasileira tem como protagonista Eugénio, um médico, que vive num conflito interior. Oriunda duma família bastante pobre, a personagem terá de escolher entre estatuto/riqueza/conforto e as relações que o ligam às suas entranhas, as relações que o tornam humano.
Este livro brasileiro pertence ao movimento neo-realista, explorando questões políticas, sociais, económicas e determinadas dicotomias. Ler este livro foi uma viagem ancestral. A escrita de Veríssimo, ainda que acessível, é dotada de uma qualidade avassaladora. Tive de ler e reler certos excertos, que me deixavam maravilhada. Recomendo este livro a todos! A literatura brasileira é mesmo incrível.
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Essa foi a obra que colocou Veríssimo em uma categoria de destaque na literatura nacional. De fato, o autor escreve muito bem e consegue, de uma forma sensível, cativa o leitor e envolvê-lo com os personagens. No entanto, confesso que essa não foi uma leitura que amei. É engraçado que ao escrever um prefácio a essa própria obra, 28 anos depois de sua publicação, o autor foi claro ao afirmar que “não tenho muita estima por este romance. Acho-o hoje um tanto falso e exageradamente sentimental”. E a verdade é que concordo um pouco com a opinião de Veríssimo sobre o próprio livro. A história tem como pano de fundo o romance entre Eugênio e Olívia e um conflito interno de Eugênio contra a sensação de inferioridade pela posição social em que nasceu. Assim, Eugênio, um estudante de medicina, de origem humilde, decide se casar com uma jovem rica e ingressar na alta sociedade. E é justamente isso que vai ser abordado na primeira parte do livro: a trajetória de vida de Eugênio, desde sua formação como médico, sua origem familiar simples e suas angústias com as escolhas que precisa tomar. Vale a pena sacrificar os próprios valores pelo dinheiro e pelo sucesso? Será que esse novo status social é suficiente para suprir essa sensação de inferioridade? Já a segunda parte me decepcionou um pouco e se distancia muito do que tinha lido até então. Ela é conduzida a partir das cartas deixadas por Olívia que, por sinal, é uma das personagens mais interessantes da obra. Só que nessa parte a leitura ficou bem mais arrastada e carregada de um sentimentalismo forçado a que o autor se refere em sua crítica ao próprio livro... As reflexões trazidas na primeira parte não são mais trazidas por Veríssimo, que passa a escrever uma simples “história de amor”. De qualquer forma, gostei muito da leitura e sinto que foi uma porta de entrada para o trabalho de Veríssimo, me deixando animado para conhecer outras obras do autor.
"Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente."
Apesar do autor não apreciar este seu romance, eu gosto por mim e por ele. Gostei muito quando o li há umas décadas e gostei ainda mais todo este tempo volvido. Porque se passagens há que se fixaram na memória (a noite de licenciatura de Eugênio e de Olívia, o facto de Anamaria não prescindir de adormecer agarrada à orelha do pai-algo que uma das minhas filhas tb fazia), a maior parte da prosa tinha completamente esquecido. Foi, por isso, com um enorme prazer, entre a angústia e a doçura, a novidade e o reconhecimento, que o reli. Encontro alguma razão nas reservas que Erico tem em relação ao romance, especialmente no que respeita à sabedoria emocional inumana de Olívia. Mas não deixa de ser encantador “ouvir” a mensagem que através desta personagem transmite. A humanidade não mudou no quase centénio que se interpõe entre a escrita deste e a actualidade. E de novo estão bem visíveis as garras do ódio e do mal. Por isso, se calhar, este continua a ser tão epidermicamente sentido. “O mundo seria insuportável se as criaturas tivessem boa memória.” Será ainda mais insuportável se não fizermos um esforço colectivo de memória.
Este livro foi a minha primeira experiência com Erico Veríssimo e meu primeiro romance de um escritor Rio Grande do Sul. O meu único ponto de contacto com a literatura sulista tinha sido através das crônicas de Luis Fernando Veríssimo, filho do Erico. É curioso como a literatura do sul do Brasil é "isolada" do resto do país. Eu sou do Rio de Janeiro e na escola tive acesso a obras de escritores do sudeste (Machado de Assis, Lima Barreto, Guimarães Rosa, etc), nordeste (Graciliano Ramos, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, etc).
Sobre o livro o que eu posso dizer é já começo discordando do prefácio escrito pelo Erico Veríssimo. Acho que ele exagerou bastante na autocrítica. Gostei bastante do livro e a história, apesar de em certos pontos ter um "vibe" de telenovela, conseguiu me cativar como leitor.
O livro é centrado no personagem do Dr. Eugênio Fontes, um médico relativamente bem conectado dentro da alta sociedade gaúcha graças ao seu casamento. A história começa com ele recebendo uma ligação do hospital onde está internada Olívia, seu verdadeiro amor da vida, a beira da morte. Eugênio, infeliz no casamento, sai em disparada para tentar ver Olívia pela última vez.
O livro tem duas partes distintas. Na primeira, temos a viagem de Eugênio para tentar se reunir com Olívia. Durante esta viagem somos apresentados às suas lembranças da sua infância/juventude/inicio da vida adulta miserável. O que eu posso dizer desta parte? Eugênio mostra-se um personagem completamente detestável, com um dom para o vitimismo que acredito nunca ter visto. O complexo de inferioridade de Eugênio é de deixar qualquer leitor se sentindo o "maior da aldeia". Eugênio, raso como um pires, tinha vergonha da família, queria sair daquele ambiente de pobreza, encontrar um mulher rica e da alta sociedade para casar. Durante o seu estudo de medicina conhece Olívia e ambos se apaixonam. Os caminhos dos dois acabam tomando rumos diferentes. Olívia vai para uma colônia de imigrantes italianos e Eugênio conhece Eunice, o arquétipo de esposa que ele idealizava (rica e influente). O casamento, como esperado, não funciona. Por outro lado, Olívia descobre-se grávida de Eugênio e dá a luz Anamaria. Eugênio, mais uma vez, não faz nenhum favor para a sua reputação junto ao leitor e é o típico pai distante. A primeira parte termina quando Eugênio, ao chegar ao hospital, recebe a notícia de que Olívia havia falecido.
A segunda parte do livro, a melhor na minha opinião, volta ao tempo presente. Eugênio recebe as inúmeras cartas que Olívia lhe escreveu mas nunca enviou e ao ter um contacto maior com Anamaria parece que "vira um chave" dentro dele. A segunda parte pode ser vista como a descoberta do verdadeiro sentido da vida para Eugênio. Erico Verissimo pode ter considerado, na sua autocrítica, que esta parte pode ter sido dramática e/ou filosófica demais. Eu, pelo contrário, achei a dose adequada. Acho que o distanciamento de Olívia torna as suas cartas plausíveis e a convivência de Eugênio junto a uma alta sociedade bastante superficial de Porto Alegre torna o seu "despertar" também plausível. Aqui vejo uma ligeira semelhança entre Eugênio e o Liévin do Anna Kariênina. Ambos ficam pensando e filosofando a respeito do sentido da vida. Algumas vezes resvala na filosofia barata, é verdade, mas, como disse antes, achei plausível diante da forma como a história se desenvolveu. Devemos notar que o narrador da história é claramente simpático a Eugênio e pode ter achado que esse floreado/drama a mais iria "ajudar a causa" de Eugênio junto ao leitor.
O livro tem vários personagens secundários fascinantes (Florismal, o Dr. Seixas e vários pacientes de Eugênio) e também retrata o ambiente no Brasil na época (revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder e o período pré-segunda guerra mundial). . Eu dou 3 estrelas a primeira parte, 4 estrelas a segunda e arredondo para cima a minha avaliação.
Gostei da leitura e, sem dúvida, vou ler outras obras do Erico Veríssimo.
Queria muito ter gostado mais desse livro e aproveitei ao máximo o que ele tinha de muito bom. Érico Veríssimo foi minha quarta leitura da #MLI2020 e escreve muito bem e sabe inserir os pensamentos e questionamentos internos do protagonista de forma natural no texto em terceira pessoa. Muitos dos personagens são marcantes, assim como seus discursos (a cena de Simão desabafando a respeito dos preconceitos que ele mesmo e seu povo sofriam por serem judeus, em plena ascensão do nazismo, é impressionante e tem muitos ecos das falas de Shylock, de O mercador de Veneza). Existem cenas excelentes do ponto de vista emocional, como a primeira cena protagonizada por Olívia e uma das minhas preferidas, em que Eugênio janta com o pai. As discussões a respeito do papel da medicina como direito a todos os cidadãos e do que eles chamam de socialização da medicina são de fundamental importância até hoje e a representação de algumas das diversas realidades brasileiras da década de 30 oferece dinamismo ao enredo e oportunidade de analisar e questionar as diferenças entre as prioridades para a elite e para o restante do povo. Mas não só de acertos se faz esse livro e o próprio autor apontou no prefácio que ao relê-lo achou a história "um tanto falsa e exageradamente sentimental" e de "uma filosofia salvacionista barata". Não tenho como discordar dele. Apesar de ser uma espécie de romance psicológico, o amadurecimento de Eugênio, o protagonista, se dá através de um processo ingênuo de redenção, da "valorização do que a vida tem de melhor além da busca desenfreada por dinheiro". E essa redenção chega até ele na figura de Olívia, uma personagem que é interessante pelo modo com que só sabemos dela pelos olhos de Eugênio, mas que por isso mesmo é tão dedicada, altruísta e nobre que mal nos convence como humana. Ela é menos uma personagem e mais um símbolo praticamente religioso e que sempre tenta converter Eugênio à crença de que deus é bom e justo - aí entra a tal filosofia salvacionista barata. Eugênio é salvo pelo amor de Olívia e isso poderia ter sido conduzido de maneiras melhores, e é aí que entra outro grave problema: a estrutura. A primeira parte do livro tem uma unidade temática e avança num ritmo que sempre acrescenta mais uma peça relevante à montagem do todo, além de encerrar com um sabor agridoce que combina com o tom do livro e do título. A segunda parte, ao contrário, mais parece uma colagem de episódios que não tem muita relação uns com os outros além da presença do protagonista em todos eles e dos ensinamentos que ele tira de cada uma dessas situações. Muitas passagens passam a soar como um didatismo moralizante e entediante. Como bem disse o escritor, "talvez Olhai os lírios do campo deva ser considerado mais uma parábola moderna na forma de romance do que um romance propriamente dito".
Leitura fácil, mas conseguiu me prender. Livro pessimista pela maior parte do tempo, mas é possível perceber o uma sutil, mas forte, esperança — junto com o desejo constante de lutar por um futuro melhor. O sofrimento de Eugênio o obriga a olhar para dentro de si e perceber o vazio que há ali -- o sofrimento o obriga a se tornar humano
Esse livro transpassa um lembrete, um aviso que pede para se guiar os olhos para as pessoas. É uma imagem de como a escuta e ajuda são as coisas mais belas que existem. "Tu uma vez comparaste a vida a um transatlântico e te perguntaste a ti mesmo: "Estarei fazendo uma viagem agradável?" Mas eu te asseguro que o mais decente seria perguntar: "Estarei sendo um bom companheiro de viagem?"
Um bom romance, interessante de se ler mas longe de ser uma obra prima. A primeira parte consegue-nos agarrar embora, por momentos, chega a ser lamechas. A segunda parte é algo episódica e entra por uma filosofia de vão de escada. Resumindo, identifico-me com a mensagem, lê-se como um bom entretenimento, mas fica a faltar alguma coisa para chegar a mais.
✨"Era uma tarde de fim de verão, a luz do sol tinha uma doce qualidade de madureza, o ar era macio e levemente azulado. Eugênio sentia uma calma aceitação dos homens e das coisas. Tudo estava bem e ele não desejava mais nada além da posse daquela paz interior que agora começava a entrever. A morte não o assustava. A sua sede de sucesso parecia extinta. Já não sonhava mais com glórias e principiava a não ter medo da vida. Sentia um desejo de ternura, de bondade, de gestos mansos. Mas sabia também que aquele instante ia passar, que amanhã haveria no ar, na luz do sol e na face das coisas um elemento qualquer de estranheza, de hostilidade que havia de provocar nele outras reações. Viriam momentos de fraqueza e desânimo. Surgiriam dificuldades, motivos de irritação. Os seus nervos seriam mil vezes postos à prova. A dúvida tornaria a entrar-lhe na alma. Mas Olívia ainda estaria na sua memória para ajudá-lo a vencer todas as crises, até que de novo viessem instantes preciosos como aquele de pura aceitação, de harmonia, de paz."
3.5-4: mas eu vou te falar, 30% da culpa é do próprio Érico Veríssimo e 70% do editor que colocou o texto como prefácio e não posfácio. O que se passa na cabeça de uma pessoa pra colocar um prefácio que desce o pau no livro? Porra, acabou com minha expectativa e aí comecei a reparar muito em todas as críticas q ele fez. Além disso, o Veríssimo esqueceu da história do irmão? Ficou faltando uma conclusão sobre isso.
Li aqui um caso de Manic Pixie Dream Girl de 1938. O moralismo e a prepotência me irritaram bastante apesar da forma que foi escrito passar a sensação de agradável. Eu não tenho mais cabeça de fazer review.
Me surpreendeu. Leitura leve e fluida, temas interessantes, mas um pouco moralista demais (chegando, como o próprio Erico Verissimo viria a reconhecer depois, a um sentimentalismo exagerado).