Trata-se de um mosaico afetuoso de experiências negras, um canto amoroso e dolorido. Na figura do personagem Fio Jasmim, Conceição discute com maestria as contradições e complexidades em torno da masculinidade de homens negros e os efeitos nas relações com as mulheres negras. O livro é um mergulho na poética da escrevivência e ao mesmo tempo um tributo ao amor sob uma ótica poucas vezes vista na literatura brasileira.
Conceição Evaristo was born in a slum in the south of Belo Horizonte, Minas Gerais / Brazil. She had to reconcile her studies with work as a domestic worker, until she completed her first years of study in 1971, at the age of 25. She then moved to Rio de Janeiro, where she passed a public competition for teaching and graduated in Letters at UFRJ.
In the 1980s, she contacted Grupo Quilombhoje. She debuted in literature in 1990, with works published in the series Cadernos Negros, published by the organization.
She holds a Master's degree in Brazilian Literature from PUC-Rio, and a PhD in Comparative Literature from Universidade Federal Fluminense (UFF).
Her works, in particular the 2003 novel Ponciá Vicêncio, address themes such as racial, gender and class discrimination. The work was translated into English and published in the United States in 2007. She currently teaches at UFMG as a visiting professor.
Conceição Evaristo, a escritora que você é… li uma review que fala que o personagem principal é o Fio Jasmin e fico em dúvida se a pessoa entendeu o livro. Fio, como muito bem diz seu nome, apenas conecta as personagens, ele é só um pano de fundo comum a todas as protagonistas. Que livrão, vou precisar ler uns romancezinhos baratos pra que meus próximos livros não sejam afetados.
Sem duvidas, uma escrita belíssima, recheada de trechos destacáveis, colecionáveis e memorizáveis. Contudo, tenho um cansaço enorme do eterno acolhimento aos meninos grandes. Tenho pouquíssima paciência pra romantização de homem que sempre encontra justificativa, poema e romance para os seus comportamentos irresponsáveis. Trauma de infância se resolve de outras formas, não passando de geração em geração o desdém pelo sentimento alheio, notadamente o das mulheres.
"Todas nós estamos sós, mas a nossa confraria não nos deixa sentirmos sozinhas. Somos e estamos umas com as outras. E, quando o vazio no peito nos atormenta, não nos entregamos ao desespero, compartilhamos a dor ancestral que existe em cada uma de nós."
não consegui me conectar com a historia e por mais que mil pessoas falem que os personagens principais são as mulheres que passam pela vida do fio jasmin, pessoalmente eu não senti isso lendo. no final senti que era mais uma justificativa para o babaca que fio era. fiquei triste por sentir isso mas não gostei mesmo.
Me decepcionei. Esperava um livro sobre várias outras coisas e ganhei um livro que cria um arco de redenção para um personagem que não ligava para nada que não fosse preencher uma tabela imaginária de mulheres a qual ele já pegou.
O livro começa bastante interessante Mostrando mulheres com diferentes perspectivas sobre liberdade e o uso do seu corpo. Depois temos a visão do Fio jasmim que não só por criação do pai mas também por pressão dos homens a sua volta se vê em um jogo de conquista de mulheres, em toda cidade que ele para, ele DEVE dormir com a mulher + falada/conhecida. Veemos o que essas mulheres pensam e por que se sujeitaram a tal situação onde são abandonadas ao amanhecer do dia. Aqui a autora fala muito sobre abandono (pai/marido/amante) e sobre a liberdade da mulher em querer escolher também uma relação de só uma noite. A autora deixa claro que quer falar sobre trauma geracional, todas as decisões tomadas pelos personagens veem de seu passado que é explicado a nós leitores.
O que mais abaixou minha nota, foi o final. temos um arco de redenção do Fio onde explica o por que ele age dessa forma, tudo por que no passado ele não foi escolhido como o príncipe de uma peça (sendo o único momento que o racismo aparece no livro) e por conta disso ele decide mostrar pra "sociedade" que ele é tão bonito quanto um príncipe e pode ter todas as mulheres ao seu dispor, porém, ele só se abre sobre isso quando encontra uma mulher lésbica que quer apenas uma amizade. Isso me deixou meio chateada pois ele poderia ter ser aberto com quem sempre esteve lá pra ele ou uma mulher que não fosse necessariamente lésbica, assim ele poderia ver uma mulher como um "igual" logo de cara.
uma narrativa que recria e estuda a construção da masculinidade tradicional e a forma como ela suplanta seu vazio, sua incapacidade de se afirmar, através da dominação e objetificação feminina. é um livro em que todo leitor já conhece as personagens, tanto falando sobre as mulheres quanto sobre (o canalha) fio jasmin, elas são nossas tias, primas, amigas, mães, trançadas em uma tapeçaria de dores, desejo e decepção. vi várias pessoas dizendo que esse livro é um "arco de redenção" pro "menino grande", mas não concordo, porque ele é claramente uma pessoa horrível do início ao fim, mas isso não significa que não seja importante investigar as construções culturais que tornam esses padrões de comportamento e a falta de reflexão a respeito deles tão comuns.
estou muito ansiosa pra conhecer mais da obra dessa escritora gigantesca que é a conceição evaristo em 2025
eu gostei muito da escrita, principalmente de algumas elucidações no final, mas a história......
pra mim, o livro se chama canção para ninar menino grande pelo fato dele ser um conjunto de narrativas que, simplesmente, são um conto de fadas que os homens contam pra si mesmos pra auxiliá-los a dormir melhor por serem DESPREZÍVEIS!
não consegui dar o destaque merecido às mulheres porque o Fio Jardim é um péssimo homem, péssimo mesmo. e, acompanhar as mulheres pelo olhar dele ou pelo olhar dos outros funcionários da ferrovia foi extremamente nauseante e de revirar os olhos, constantemente.
o ponto é que, a sensibilidade entorno de como os homens realmente foram ensinados a reprimirem suas emoções e a se comportarem como animais deve existir mas ela não pode, em hipótese alguma, legitimar esse tipo de comportamento.
e, que tristeza foi esse final em que, o Fio só foi capaz de se enxergar como ser humano isolado da influência do comportamento alheio quando se depara com uma amizade entre outra mulher. eai, ele descobre que ele não precisa sempre transar com toda mulher que cruza seu caminho. ao mesmo tempo, a personagem tinha que ser lésbica, porque ser amigo de mulher hétero ai já seria demais!
Conceição Evaristo dá forma àquilo que é latente. Esse livro materializa questões sentimentais e de relacionamento que vi ao meu redor, ao longo da vida. Há um pouco de Fio Jasmin em muitos homens que vi passar. Há um pouco dele em mim. Há muito de todas as mulheres do mundo nesse livro, em todas as mulheres aqui retratadas. Criadora de mundos, Conceição manipula a linguagem de tal maneira que nos conduz através da história sem ser excessivamente didática e sem despreocupar da forma, apesar a importância do conteúdo. Conceição é mestre, doutora, é escritora. Como diria o samba da Beija-Flor de Nilópolis:
"Versos para cruz, Conceição no altar Canindé, Jesus, oh, Clara! Nossa gente preta tem feitiço na palavra Do Brasil acorrentado ao Brasil que não se cala"
Terminei de ler esse livro hoje. E vou ser bem sincera: fiquei com raiva do Fino Jasmim em vários momentos. Raiva mesmo. E foi a raiva que escancara o quanto o racismo e o machismo estão presentes nas nossas relações, nas nossas casas, nos nossos comportamentos... e a gente segue passando pano, fingindo que não vê.
Esse livro me cutucou onde dói. Ele não romantiza. Ele mostra a realidade: um filho negro assassinado pelo Estado. Uma mãe que carrega o luto no corpo. Mas também mostra que esse mesmo filho era machista, infiel, contraditório. E é aí que tá o ponto. A gente não precisa ser perfeito pra merecer viver. Mas também não dá pra ignorar o quanto a gente repete padrões doentios sem nem perceber.
Autoconhecimento é urgente!!!! Se a gente não se trata, a gente segue machucando os outros. Porque a real é essa: só machuca quem tá machucado. E quem não busca cura, vira corrente de dor pra quem tá ao redor.
Essa leitura me fez refletir sobre ciclos. Sobre o que a gente herda, repete e transmite. E sobre o quanto é nossa responsabilidade quebrar isso. Não dá mais pra normalizar o que já deveria ter sido resolvido há muito tempo.
Foi uma leitura intensa. Bastante incômoda. Fiquei com certo "nojo" em algumas falas, porém, foi uma leitura necessária. Principalmente , para quem tem coragem de encarar verdade do que vivemos e/ou vivenciamos.
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o fio jasmin igualzinho aquela musica sertaneja "robin hood da paixão":
Elas dizem que sou galinha Que ando fora da linha Que a minha praia é a gandaia Que eu tenho cara de safado Mulherengo assanhado Viciado num rabo de saia
Depois me procuram Me chamam de amor Me pedem carinho E é claro que eu dou Meninas, tenham calma Que eu não sou de ninguém Tem lugar pra todas no meu harém
Deve ser o mel que a mamãe me passou Deve ser o céu que elas pedem, eu dou No amor eu tenho dom Em cada flecha um coração Eu sou o Robin Hood da paixão
“Ai ele é um homem desprezível, nem consigo ler até o final.”
“Ai o arco dele não dá, que redenção é essa pra quem só fez coisas ruins?”
“Ai ai ai.”
As pessoas não conseguem mais ler ficção e não terminar com um julgamento moral? Tudo tem que ser limpo, perfeito, ético, correto, engomado?
Mesma coisa com “Tudo é rio”, que recebe comentários ultra conservadores. A diferença, aqui, é que a canção da Conceição é boa de se ouvir (ao contrário do rio, que desce disforme). Quando a gente lê é a voz da Conceição, da Aurora, da Antonieta, da Dalva, da Tina que a gente ouve, suave… Suave coisa nenhuma!
percebo o objetivo, aprecio a escrita, mas santa paciência.
é verdade que um é culpado, mas o resto é trouxa. não tenho inteligência emocional suficiente para ter um pingo de interesse para continuar. alguém me dê um pouco de sensibilidade. obrigada
história das interessantíssimas mulheres que passaram pela vida do Chico Moedas Fio Jasmin, aquariano nato e caba safado fino. a escrita de Conceição é muito gostosa e ela escreve sobre amores e afetos da negritude com poesia e sutileza, mas confesso que, apesar das personagens femininas serem muito diferentes entre si, achei a construção da narrativa repetitiva. o gostinho de não saber até onde vai ficção e realidade é muito bom, de todo modo!
a conceição tem muita sensibilidade pra escrever sobre esse assunto sem parecer (pelo menos pra mim) que ela ta passando pano pra homens como o fio jasmin. sempre existiram meninos grandes e ela mostra isso muito bem, muito além do protagonista, a vida das mulheres do livro são cheias de: pais ausentes, maridos ruins, amantes sem compromisso, existe uma solidão muito grande nas relações afetivas na história, e por meio disso a conceição consegue expor as construções culturais que normalizam esse tipo de comportamento, quero agr ler mais livros dela!!
A Conceição escreve lindamente. Ela descreve com detalhes poéticos coisas que, na mão de outros autores, pareceriam vulgares. É uma leitura que você vai passando página após página e nem percebe o tempo correndo.
O que não funcionou pra mim foi a história em si. Não me conectei com os personagens. Não me apeguei a ninguém, não torci por ninguém. Fiquei com a sensação de estar reforçando o velho contexto: ser mulher é ser objeto; ser homem é poder fazer uso da mulher. E, no final, se ele se arrepender, está tudo resolvido. Como se o sofrimento das mulheres que passaram por seu caminho fosse apagado pelo simples fato do homem ter “revisto seus atos”.
Não consegui achar bonito. Não tive empatia nenhuma pelo personagem. E homens são sempre meninos? Acho que não!
Mas não há dúvidas que quero ler mais Conceição Evaristo.
Juventina Maria Perpétua sentou-se para começar a escrever a canção de sua vida. A canção para ninar menino grande. Uma canção cheia de amor e ternura, delicada e suave. Uma canção sobre Fio Jasmim. O príncipe negro, bonito a quem tanto ela deu e nunca pediu nem recebeu nada.
Com a intenção de terminar a sua composição, Juventina ou simplesmente Tina, meteu o pé na estrada e cria uma confraria onde cada mulher partilha a sua história de vida, dando enfâse ao capítulo partilhado com Fio Jasmim. Fio Jasmim – o príncipe negro, bonito, que distribuía lembranças a cada estação em que o comboio parava.
As mulheres, as “companheiras de lembranças” de Tina, eram muitas. Cada uma com uma realidade distinta, mas todas foram amadas por vontade própria. Nenhuma foi obrigada a se entregar a Jasmim.
Fio Jasmim, o príncipe negro, era só mais um homem à procura de um local para repousar o seu largo vazio. Na infância sonhava ser um príncipe. Nem era de um reino, mas de uma peça na escola. Uma vez que lhe foi negada a oportunidade, pois príncipes não são negros, Fio Jasmim ainda que inconscientemente funda o seu próprio reino. E assim, escolhe a sua princesa, Pérola Maria e segue colecionando outras ao longo do trajecto que o comboio realiza pelo país adentro.
"Canção para ninar menino grande" é um livro que machuca como uma ferida que se tem fundos de prazer ao coçar. Uma história melancólica e bonita sobre a solidão feminina, sobre a solidão masculina, sobre a solidão da vida. E sobre como nos submetemos e articulamos para suprir essa solidão.
A história dos amores e caminhos do galanteador Fio Jasmim é contada a partir das dores, paixões, esperanças e sacrifícios das mulheres que ele amou por tanto tempo quanto durava suas paradas ao longo da estrada de ferro, sobre as quais nunca se importou em saber as histórias. Muito pouco se conta sobre ele, em verdade; é desenhado pelo negativo das mulheres que lhe cercam. Aliás, muito pouco se sabe sobre todos os homens - Jasmim é talvez o único nomeado, a falar com os demais apenas sobre as mulheres que desejam.
Uma leitura curta, mas muito saborosa; como um fino doce perfumado que nunca dura o suficiente.
Um livro que fala de ser mulher, de negritude, de amor, de escolhas. Me lembra muito “three women”, versando sobre diferentes escolhas femininas no q toca o relacionamento afetivo. Admiravel, viciante, maravilhoso, totalmente crivel e real.
De forma poética, Conceição conta histórias afetuosas e dolorosas de pessoas negras. Diria que trata-se de histórias reais de muitos do Brasil. Alguns próximas de nós, outras nem tanto. Mas, sabemos que elas existem.
Livro muito bom. Várias história em torno de um personagem, mostram o dano da tão arraigada cultura machista. Evaristo foi brilhante na criação de cada personagem. Recomendo a leitura
Esse foi o livro do encontro de abril de 2024 no @clubedeficcionistas e, após uma apresentação impecável da colega e escritora Paula de Almeida, tivemos o debate mais acalorado desta temporada até agora.
No livro, a autora e narradora, conta a vida de Fio Jasmim, homem negro criado para não demonstrar sentimentos e para crer que homens de verdade têm muitas mulheres, mas escolhe a mais especial para se casar, gerar, parir e cuidar de seus filhos. Em sua profissão de maquinista, o protagonista percorre o interior de Minas Gerais de trem e, em cada uma das cidades por onde passa, deixa a marca de sua virilidade, um coração partido e filhos, muitos filhos.
No que diz respeito a ele, percebo que a história se aproxima da realidade. Aos 8 anos, na escola, Jasmim teve o papel de príncipe negado por ser um menino negro. O príncipe escolhido foi um menino branco. Com suas muitas mulheres, Fio resgata a possibilidade que lhe fora negada na infância, ser um príncipe negro. A partir desta situação, a autora tangencia temas como traumas de infância, racismo, machismo e um modelo de reprodução de masculinidade que não permite diálogo, afeto ou demonstração de fraqueza; no que diz respeito às mulheres, Conceição criou personagens femininas empoderadas, autossuficientes, que não precisavam de um homem para cumprir os papéis de pai e provedor. Elas não me pareceram muito afetadas pelos impactos das relações que estabeleciam com o moço, exceto uma que se deixou vencer pelo desespero da desilusão amorosa.
Os capítulos são curtos, o que torna a leitura rápida, cada um deles aborda uma relação do protagonista com uma mulher diferente. Como uma canção de ninar, a história tem um ritmo contínuo, sem clímax.
Não me conectei com o livro mas, como fã da Conceição Evaristo, me esforcei para separar obra e autora. Ao mesmo tempo, as opiniões divergiram tanto em nosso debate que acabei concluindo que vale a leitura, suas percepções poderão ser bem diferentes das minhas.
Aqui vemos Conceição Evaristo explorar masculinidades e feminilidades nas várias histórias de Fio Jasmin, o homem mulherengo de “olhos secos”, forjado para seduzir inconsequentemente as mulheres com quem se envolve, sem aparente prejuízo emocional. Na verdade, Fio Jasmin guarda volumosas mágoas que extravasam com as mulheres menos prováveis. Mais uma obra brilhante do maior expoente vivo da literatura brasileira.
Livro perfeito para ler na praia, acabei-o em dois dias. Adorei a história e principalmente a escrita, quero muito muito ler mais desta autora
“Este livro é oferecido a todas as pessoas que se enveredam pelos caminhos da paixão e que, mesmo se resfolegando em meio a muitas pedras, não se esquecem do gozo que as águas permitem. É uma celebração ao amor e as suas demências. É ainda um júbilo à vida, que me permite embaralhar tudo: vivência e criação, vivência e escrita. Escrevivência.”
Conceição Evaristo é uma contadora de histórias maravilhosa💖
Esta história, ao contrário do que inicialmente parece, não é sobre as conquistas amorosas de Fio Jasmim. É sobre machismo, misoginia, masculinidade tóxica e racismo enraizados na sociedade. Sobre um homem que vê as mulheres como objetos que "tem" de possuir. Sobre as vidas dessas mulheres que ele enganou, bem mais interessantes que ele.