O Crocodilo e Notas de Inverno Sobre Impressões de Verão

by Fyodor Dostoevsky, Boris Schnaiderman (Tradução)

Numa sofisticada galeria de lojas em São Petersburgo, o funcionário público Ivan Matviéitch é engolido vivo por um réptil exposto à visitação. Com este acontecimento insólito dostoiévski inicia O crocodilo, um conto imprevisível que, mais de cem anos depois, continua a intrigar os leitores — tanto pela sátira impiedosa à burocracia como por sua crítica à concepção de progresso em voga na Rússia.

Já o segundo texto que compõe este livro, Notas de inverno sobre impressões de verão, é escrito num tom bastante distinto. Aqui Dostoiévski faz o relato febril, quase vertiginoso, de uma viagem que realizou por vários países da Europa no verão de 1862. Particularmente reveladoras são suas observações sobre as metrópoles de Londres e Paris, que resultam numa análise aguda — e atualíssima — da "personalidade ocidental", cindida entre os polos do individualismo e da fraternidade, da ambição e do sacrifício.

Primeiraª edição, 2000
Quarta edição, 2011

Genres: Russian Literature, Literature, Nonfiction, Russia

168 pages, Paperback

First published January 1, 2000

About the author

Фёдор Михайлович Достоевский (Russian)

Works, such as the novels Crime and Punishment (1866), The Idiot (1869), and The Brothers Karamazov (1880), of Russian writer Feodor Mikhailovich Dostoyevsky or Dostoevski combine religious mysticism with profound psychological insight.

Very influential writings of Mikhail Mikhailovich Bakhtin included Problems of Dostoyevsky's Works (1929),

Fyodor Mikhailovich Dostoevsky composed short stories, essays, and journals. His literature explores humans in the troubled political, social, and spiritual atmospheres of 19th-century and engages with a variety of philosophies and themes. People most acclaimed his Demons(1872) .

Many literary critics rate him among the greatest authors of world literature and consider multiple books written by him to be highly influential masterpieces. They consider his Notes from Underground of the first existentialist literature. He is also well regarded as a philosopher and theologian.

(Russian: Фёдор Михайлович Достоевский) (see also Fiodor Dostoïevski)

Reviews

[Adriana Scarpin · Rating 4 out of 5]

O Crocodilo:
Para os que pensam que foram os comunistas a inventar a burocracia russa, Dostoievski já a satirizava muitos anos antes. O Crocodilo me parece mais próximo de Kafka do que do próprio Dostoievski, toda essa gama de elementos burocráticos oriundos de um elemento insólito: fazer-se engolir por um crocodilo permanecendo vivo e enredado pelas situações de fora, o próprio homem era funcionário público e burocratizava a si mesmo dentro do crocodilo.
É quase uma versão menos bem acabada de A Metamorfose de Kafka.


Notas de Inverno sobre Impressões de Verão:
Um diário de viagem para quem estuda a fundo Dostoievski, as notas sobre a burguesia parisiense dariam orgulho a Proust.

[Luciana · Rating 3 out of 5]

Obra menor de Dostoiévski, O Crocodilo trata-se de uma novela satírica no qual o autor brinca com as transformações da época, focando, em especial, na questão do niilismo. Como em suas demais obras, é possível ver o embate acerca de temas voltados para o atraso cultural russo, o anseio pela europeização dos costumes e a constante crítica ao funcionalismo público, em especial acerca da burocracia presente.

Nesse contexto, se tem uma novela que beira ao absurdo, pois, sendo engolido (ou melhor, entrado espontaneamente) dentro de um crocodilo, nosso protagonista pretende ali passar o resto de seus dias, já que, lucra-se mais, vive-se mais e afasta-se parcialmente da sociedade, tudo isso sem perder a estima e o status. É uma obra cômica e estranha, mas, ainda assim, uma boa leitura a mim.
Quanto as notas: nada mais do que Dostoiévski viajando e nos contando suas impressões, o que por si só já é interessante, certamente em especial aqueles que estudam o autor a fundo.

[Stefanie Rubia · Rating 4 out of 5]

Penso que este deveria ser um dos primeiros livros para começar a leer Dostoiévski e entender suas pequenas crônicas e satíricas a Europa.

[Jean Martins · Rating 3 out of 5]

"- É preciso engendrar capitais, quer dizer, engendrar a classe média, a chamada burguesia. E, visto que não temos capitais, devemos atraí-los do estrangeiro. É preciso, em primeiro lugar, dar permissão a companhias estrangeiras para que adquiram terras em nosso país, como se pratica em toda parte no exterior. [...] 'É preciso', diz ele, 'que as companhias estrangeiras comprem, se possível, todas as nossas terras, as quais, depois será preciso fragmentar, fragmentar nos menores lotes possíveis' [...] 'Quando', diz ele, 'toda a terra estiver nas mãos das companhias estrangeiras, será possível estabelecer o preço de arrendamento que se quiser. Por conseguinte, o mujique trabalhará três vezes mais apenas para ganhar o pão de cada dia, e será possível enxotá-lo quando bem se entender. Quer dizer que há de se sentir a responsabilidade, será manso, esforçado, e trabalhará o triplo pelo mesmo dinheiro. "

[Gabrielle Silva · Rating 2 out of 5]

Gostei muito da primeira parte, O Crocodilo, por ter uma das poucas obras que demonstra a capacidade humorística do autor, fiquei com vontade de ler o desfecho planejado pelo mesmo, que infelizmente não foi concluído por conta da morte de seu irmão. Já ao ser a segunda parte, o Notas de Inverno, fiquei confusa em muitos momentos por conta do estilo de argumentação do autor, que me pareceu um fluxo de pensamento bem próprio dele, além desta parte contar com muitas reflexões sobre a política russa daquela época (confesso que não entendo muito deste assunto).

[Giulia · Rating 3 out of 5]

O primeiro conto - o crocodilo - tem uma comédia surrealista muito interessante, mesmo engolido pelo crocodilo, Ivan continua pensando na lógica de avanço e crescimento, além de utilizar disto para subir sua fama intelectual

[Gustavo · Rating 4 out of 5]

Dostoiévski falando das cidades que adoram Baal é literalmente eu falando de qualquer metrópole moderna

[Vitória · Rating 3 out of 5]

Muita generalização em “Notas de inverno sobre impressões de verão”, mas também divertido e interessante.

[Daniel Domingues · Rating 3 out of 5]

a do crocodilo é legal. a segunda, nem tanto.

[Henrique☆ · Rating 5 out of 5]

maluco mas muito bom

[Victor]

O primeiro texto é muito bom. O outro me resultou um pouco enfadonho.

[Débora Morais · Rating 4 out of 5]

Diferentissimo

[Napoleon · Rating 5 out of 5]

Esse livro ainda ressoa na minha cabeça. Metade um manuscrito inacabado, metade um relato sobre uma viagem, este livro do Dostoevsky é genial em sua simpleza.

[Joao Gustavo Seixas · Rating 4 out of 5]

Atribuir genialidade a Dostoiévski é quase uma tautologia. Mesmo em obras incompletas é possível perceber a fina ironia, o retrato cru da realidade e a profundidade psicológica de suas personagens, traços que lhe são tão peculiares. “O Crocodilo” é uma novela incompleta sobre o absurdo de alguém que, atraído pelo exotismo da criatura, paga para conhecer de perto o réptil e é devorado por ele, passando, então, a viver em suas entranhas, às quais se afeiçoa e de onde não quer sair mais, passando, com uma naturalidade assustadora, a filosofar sobre a vida e especular formas de ganhar dinheiro a partir de sua situação inusitada. A evidente crítica ao capitalismo é também presente em “Notas de Inverno sobre Impressões de Verão”, relato da primeira viagem de Dostoiévski à Europa, aos 40 anos de idade. Todavia, da mesma forma que ataca de forma mordaz a burguesia e ao crescente acúmulo estéril de bens, ao qual a sociedade da época, como a de hoje, atribui sinal de superioridade sobre os demais, em detrimento à cultura e ao conhecimento, denuncia a utopia do socialismo, lançando argumentos contundentes sobre a impossibilidade de sua implantação espontânea diante do própria natureza do homem. Para finalizar, uma curiosidade: ao menos naquele tempo, os russos costumavam chamar de alemães todos aqueles que viviam a oeste de suas fronteiras. Livro que pode ser lido em uma “sentada” e que recomendo demais!

[Eduardo Mesquita Kobayashi · Rating 5 out of 5]

Já na metade do século XIX Dostoiévski enxergava o que após 150 anos deveria ser óbvio, mas ainda não foi compreendido pela grande maioria da população. Alguns trechos do livro são muito claros nesse sentido:

"Roubar é feio, ignóbil, leva às galés; o burguês está disposto a perdoar muita coisa, mas não perdoará o roubo, ainda que você ou os seus filhos estejam morrendo de fome. Mas se você rouba por virtude, oh, então tudo lhe é perdoado. Você deseja faire fortune e acumular muitos objetos, isto é, cumprir um dever da natureza e da humanidade. Eis porque no código estão discriminados com toda a clareza os artigos referentes ao roubo por motivo baixo, por algum pedaço de pão, por exemplo, e o roubo motivado por uma alta virtude. Este último está protegido no mais alto grau, estimulado e organizado de modo extraordinariamente firme."

Sobre Liberté, égalité, fraternité:

"A liberdade. Que liberdade? A liberdade, igual para todos, de fazer o que bem se entender, dentro dos limites da lei. Mas quando é que se pode fazer o que bem se entender? Quando se possui um milhão. A liberdade concede acaso um milhão para cada um? Não. O que é um homem desprovido de milhão? (...) não é aquele que faz o que bem entende, mas aquele com quem fazem o que bem entendem."

[Nara · Rating 5 out of 5]

O Crocodilo então, que mar de metáforas!

[Claudio José Grando da Cunha · Rating 5 out of 5]

Kafkiano, divertido, refinado.