Em seu segundo romance, Fabiane Guimarães explora os limites da maternidade, da escolha feminina e da expectativa social.
Brasília, décadas de 1980 e 1990. Uma jovem sai do interior para trabalhar como empregada doméstica na casa de um casal rico na cidade grande. Lá, enquanto tenta entender a dinâmica diária dos dois, ela começa a ver algumas meninas passando diariamente para algum tipo de entrevista a portas fechadas. Depois de meses sem achar a escolhida, o casal finalmente faz a proposta a Damiana (apesar de acharem o tom da sua pele um pouco mais escuro do que gostariam): que ela seja barriga de aluguel para eles.
Damiana aceita sem entender muito bem, passa por uma inseminação artificial caseira e um quase cárcere privado de nove meses. Depois que o bebê nasce, ela conhece Moreno, um "especialista" nesse tipo de negócios que explica quão inconsequente foi aquela decisão e sugere que os dois passem a trabalhar juntos.
A história de Damiana ― uma das barrigas de aluguel mais produtivas da década ― e sua relação com a maternidade, o próprio corpo, as vidas que impacta e a rede clandestina de produção de bebês é contada a uma jornalista quando ela já está idosa, vivendo novamente no campo.
Um romance envolvente sobre o que significa tomar decisões e como elas impactam a vida dos outros, Como se fosse um monstro é uma reflexão única sobre a maternidade, a culpa e o direito de escolher.
FABIANE GUIMARÃES nasceu no interior de Goiás, em 1991, onde cresceu e começou a escrever ainda criança. Jornalista formada pela Universidade de Brasília (UnB), é autora da novela seriada "Pequenas esposas", publicada pela revista digital AzMina, além de diversos contos em antologias e revistas semanais. Apague a luz se for chorar é seu primeiro romance.
Gosto muito da maneira que a Fabiane narra: sem rodeios, sem enrolação. Ela consegue - em poucas páginas - contar uma história forte, com muitos pontos pra refletir e de forma enxuta.
espera, deixa eu explicar o que aconteceu... eu viajei. passei uma semana em curitiba com meus pais e isso atrasou um pouco a leitura, porque não levei o livro comigo (pontos negativos de um livro físico, já que pude ler percy jackson por serem e-books). mas além disso, meu ritmo de leitura está bem devagarzinho em maio. acontece sempre por volta do meio do ano, eu vou ficando meio inquieta e não consigo focar o suficiente para ler, mas se tem um livro que poderia salvar qualquer um de uma famigerada ressaca literária e, ao mesmo tempo, potencialmente te jogar em outra, é como se fosse um monstro.
quando eu conheci fabiane guimarães em seu incrível apague a luz se for chorar que li ano passado, eu fiquei completamente surpresa com a facilidade dela em escolher palavras. quer dizer, ela faz parecer fácil, de qualquer forma, porque o livro é escrito sem muito drama desnecessário e sem muitas voltas para dizer coisas simples. é cru. cecília e joão me marcaram muito em suas escolhas e não escolhas. tudo isso para dizer que quando o segundo livro da autora saiu pela alfaguara eu tive certeza de que eu precisava ler e, graças a uma amiga parceira da companhia das letras que me presenteou com o livro, tive essa oportunidade.
aqui, temos drama. não é desnecessário, de novo, é só uma história realmente triste. temos personagens que novamente apelam para a sua própria consciência, já que você tem que ler os relatos de gabriela e damiana sabendo que elas fizeram as escolhas que lhes cabiam, que elas não estão tentando fazer você, leitor, gostar delas. que às vezes nem elas mesmas gostam de si. a revelação final é óbvia e talvez um pouco clichê, o que me deixou com um gostinho amargo na boca, mas fabiane guimarães definitivamente entra no rol de autoras que eu não vou deixar passar um livro sequer.
Um livro muito bem escrito sobre uma faceta da exploração feminina pouco abordada: barriga de aluguel. Gostei bastante de acompanhar essa narrativa sob as duas óticas apresentadas e de entrar em contato com os temas importantíssimos abordados. Só fiquei com a sensação de que os pensamentos de Damiana são pouco críveis depois da longa descrição da personagem e de sua história. Além disso, o final me pareceu apressado e um pouco didático… No mais, foi uma boa experiência de leitura e fiquei com vontade de conhecer mais o trabalho da autora!
Leitura fluida, capítulos curtos. O livro te prende, os temas são polêmicos, mas, em alguns partes, senti falta de profundidade e um certo didatismo desnecessário. O final achei simples, acho que preferiria algo mais subjetivo e aberto.
Mais um livraço da autora, daqueles que é impossível parar de ler. Uma história dura contada com leveza, palavras escolhidas a dedo e alguns socos na cara. Lindo de doer.
Um romance com uma perspectiva interessante, sustentado pela história de um esquema de barriga de aluguel na Brasília dos anos 1990. Há um bom desenvolvimento no início, quando a personagem Damiana deixa o interior (Goiás, imagino) com destino a capital, para o que seria um emprego como doméstica, até que as coisas mudam e ela passa a ter outra "profissão". Talvez depois, quando ela deixa os seus "patrões" e entra de vez nesse universo das barrigas de aluguel, o desenvolvimento tenha ficado um pouco abaixo, e algumas soluções ficaram um tanto previsíveis (como a da jornalista Fabiana que "entrevista" Damiana na velhice). Ainda assim, é livro cuja leitura eu recomendaria, pois, além de tudo, tem uma linguagem ágil, muito disso provavelmente porque a autora também é jornalista.
Quase não escrevo resenhas porque acho que minha opinião importa pouco, mas aqui quero deixar registrado: que livro excelente! Uma escrita sem floreios desnecessários e sem pedantismo, mas profunda e carregada de simbolismos. Uma história impactante, mas tão bem escrita que me fez lamentar quando tive de parar e não consegui ler tudo de uma vez. Certamente um dos melhores livros que li nos últimos anos.
Gostei de ler uma história que se passa em Brasília. É sempre bom ver personagens se movendo por lugares tão reais e próximos. A protagonista, Damiana, é uma empregada doméstica que vive uma vida dura, cheia de urgências. Quando recebe a proposta de emprestar sua barriga em troca de dinheiro, ela aceita. Não porque quer, mas porque precisa.
A decisão parece simples no começo, mas logo percebemos que é muito mais complexa. Damiana vem de uma realidade em que nunca teve acesso à educação financeira. Então, quando o dinheiro chega, ela faz o que pode: tenta garantir o básico, trazer alguma dignidade para si e para a família. Mas, sem saber como administrar, logo volta ao ponto de partida. Precisa, novamente, de dinheiro. Um ciclo que parece não ter fim. Lembrei muito da @nathfinancas e do trabalho inspirador que ela faz ensinando economia de uma forma acessível, utilidade pública!! Sigam ela!!
Por fim, achei o final um pouco apressado e senti falta de mais mistério ou tensão. Ainda assim, é uma leitura envolvente, fácil de acompanhar, que nos leva a refletir: monstruoso mesmo é o mundo que coloca caminhos tão cruéis diante de vidas tão fragilizadas.
Uma novelinha e apesar do tema incrível, o texto é um pouco sem graça. Não cativa, é só uma história, uma leitura passatempo. Infelizmente não me ganhou, mas também não considero uma perda de tempo. A história do Joaquim acho que poderia ter sido mais desenvolvida, ou não estar ali.
Impactante, cru, direto ao ponto, sem floreios. Eu não imaginei esse final, jamais, bem tolinha eu fui! Sofrimento pouco para uma mulher é bobagem! Não é um livro para qualquer pessoa, precisa de um amadurecimento sobre o assunto central, que, acredito, acontece muito no mundo todo, e o assunto secundário que o nosso país ainda não está preparado pra discutir! Como diz uma das personagens : " Culpa, esse substantivo tão feminino, tão próprio da mulher". A sociedade que a gente vive ainda odeia as mulheres.
Quase 5 estrelas, só não curti muito o final didático sobre não estar só é apreciar a vida que tem. Sem essa parte e apenas a vida da Dami ficaria perfeito pra mim
Um livro fácil sobre temas tão difíceis. Uma indústria de adoção (e produção) ilegal de bebês se alimentando da pobreza para a alegria de uma elite "benevolente". O espírito maternal surgindo mesmo em situações adversas e a "monstruosidade" da falta de espírito maternal são muito bem explorados pela autora, escancarando a cobrança externa e interna sobre as mulheres e seus úteros.
Gostei da leitura. Acho que era que eu precisava para o momento, um livro com uma história bem escrita e que me prendeu. A revelação é óbvia, mas não acredito que a autoria pretendia “esconder” isso do leitor. Só achei o final um pouco corrido. Recomendo.
Fabiane é bravíssima, bravíssima nesse segundo romance. Sem medo de nomear a exploração sexual das mulheres, num texto cheio de ritmo, de vida, de personalidade.
É muito bom encontrar obras que abordam temas pouco encontrados na literatura. Nunca tinha lido uma narrativa que envolvesse o tema da barriga de aluguel. No Brasil, a prática remunerada é ilegal e muitos brasileiros acabam tendo que recorrer a países que regulamentaram a barriga de aluguel. Na história construída por Fabiane Guimarães, encontramos uma situação peculiar: uma jovem, que vive em condições de escassez, acaba aceitando uma oferta quase que irrecusável - e totalmente ilegal - para gerar um ser humano que logo após o parto seria retirado de seus braços.
Damiana sai do interior de Goiás, onde nasceu em uma família pobre, para tentar uma vida melhor Brasília ao lado de uma prima. O destino é uma residência de um casal rico, para quem Damiana trabalhará de empregada doméstica. Depois de perceber visitas pouco comuns de mulheres na casa, a protagonista descobre que seus patrões buscam uma mulher para carregar um filho deles, um sonho que sozinhos eles não conseguiram alcançar. E, quando menos espera, Damiana acaba recebendo a proposta do casal: deixar de trabalhar como doméstica e receber um valor muito alto em troca de gerar um bebê.
A autora traz não apenas o tema da barriga de aluguel, mas um ambiente de desigualdade social e falta de oportunidades. A maternidade também é discutida de forma pouco comum: qual seria o sofrimento daquela que carrega uma nova vida para outra pessoa, enfrentando uma separação imediata após o parto? A narrativa nos faz questionar se a maternidade seria um instinto ou uma criação social.
Toda a história de Damiana é contada a partir de uma entrevista feita por uma jornalista, Gabriela, que deseja investigar e revisitar a história dessa senhora. Gabriela também vive uma situação peculiar e traumatizante, que acaba despertando um paralelo com os temas tratados na obra.
Damiana aceitou a oferta porque não tinha escolhas? E qual o limite de nossas escolhas? A proibição não teria a ver com um juízo moral? A protagonista é, sem dúvidas, uma vítima de uma sociedade desigual. Recomendadíssimo!
Gabriela, jornalista, entrevista Damiana, uma mulher humilde, que participou de um esquema ilegal de barriga de aluguel, entre as décadas de 80 e 90. Através das histórias de ambas as mulheres, a autora aborda com maestria temas importantes, como, o direito sobre o corpo feminino, o desejo de ser mãe e como a pobreza leva várias mulheres a venderem seus corpos, para que pessoas ricas possam concretizar o sonho de ter um filho.
Apesar de ser um livro curto, com apenas 160 páginas, Como Se Fosse Um Monstro, apresenta ao leitor um enredo potente e complexo, sobre um tema pouco debatido no Brasil. Atualmente, é crime ser barriga de aluguel no país, somente sendo permitido no caso de ser um ato voluntário. Porém, é de conhecimento geral que mulheres vendem seus corpos para tal procedimento no Brasil.
Foi meu primeiro contato com a autora e com certeza irei ler outros livros que ela já tenha publicado ou que venha publicar. Gostei muito da sua escrita e da forma como ela desenvolveu o enredo. Em poucas páginas já tinha me conectado aos personagens e sido fisgada pela história criada pela autora. Super recomendo a leitura!
“Como se fosse um monstro”, segundo romance da escritora Fabiane Guimarães, é uma narrativa muito bem construída. A rigor, é uma história sobre o ainda nebuloso mercado das barrigas de aluguel. Mas, para mim, foi um livro que levantou importantes questões sobre maternidade e feminino.
A obra traz a história de Damiana, que passou pela experiência de gerar o filho dos outros. Traz também a história de Gabriela, a jornalista que entrevista Damiana décadas depois. Poderia ser uma história com uma pegada quase de thriller, uma história escrita de forma clara e direta, com uma linguagem próxima do jornalismo. Mas é mais que isso. É uma história sobre escolhas - escolhas feitas por mulheres, com todas as camadas de opressão que sobre elas recaem.
A escrita da Fabiane prende muito e eu não consegui soltar o livro até terminar a leitura! Recomendo bastante, principalmente para quem quer ler algo que se passa fora do eixo Rio-São Paulo. Literatura brasileira contemporânea de alta qualidade, com um baita tema.
É uma história muito forte, meu deus, fiquei completamente hipnotizada, com ânsia que saber cada vez mais. Gostei muito de todas as coisas que senti ao ler. Tem sim umas partes meio corridas, principalmente ao se contar a parte final da história de Damiana, mas ainda assim achei a história tão forte e cheia de significado. Recomendo demais, principalmente pelo capítulo final, aquela conversa e o "conselho" da Damiana é lindo, lindo lindo!
Eu sou adotada. Não o tipo de adoção falado no livro, foi mais uma adoção dentro da própria família, só troquei de mãe. E mesmo que nunca tenham me escondido nada, entendo o sentimento da Gabriela e entendo mais ainda o que ela descobre, a conclusão a que chega, naquela conversa final. Precioso demais esse livro!
Escrita fluida. Leitura fácil. Tema difícil. Fabiane Guimarães é uma escritora que traz novas imagens pro texto. Do Planalto Central à uma delicadeza ao falar de coisas difíceis. O livro conta a história de Damiana, que foi barriga de aluguel, e de Gabriela, que ouve a história da primeira com muita atenção e cuidado. O desfecho da história é interessante e ao mesmo tempo não aposta num clichê: e se as pessoas pudessem ser mais esféricas do que o “bom” e o “mau”? Fiquei feliz de ver a temática dos direitos de reprodução - inclusive a questão do aborto - retratadas com imagens claras, emotivas e uma discussão que permeia a obra com delicadeza. Uma prova de que histórias ficcionais contemporâneas podem fazer pensar, refletir e ruminar.
Estava tudo bem não querer cuidar de alguém, era o que ela parecia lhe dizer. Sempre haveria um passarinho para chocar os ovos alheios. O amor era questão de vontade.
Como se fosse um monstro é um retrato sucinto e sensível da comercialização da fertilidade através das chamadas barrigas de aluguel. A obra ilustra de forma sutil uma sociedade que perpetua a falácia do suposto amor incondicional da parentalidade, quando tal amor é completamente condicional, visto que para a maioria só é possível diante da existência de conexões genéticas. Uma história potente e lindíssima em sua dureza, recomendo demais.
O fato de ser uma escritora fora de qualquer circuito comumente divulgado (eixo Rio-São Paulo ou interiores do Nordeste ou do Norte) torna Fabiane uma voz quase solitária no romance cerratense contemporâneo. Mais uma vez, ela traz o DF e o entorno em seu livro, agora contando sobre uma mulher que foi barriga de aluguel entre os anos 80 e 90. Fabiane faz uma abordagem sem moralismos, ainda que trate de gestação comprada e de aborto. Damiana é apaixonante, mas tive vontade de me aprofundar ainda mais nas personagens. Demorei a terminar o livro, evitando a despedida e as revelações que eu supunha. Recomendo lerem também o primeiro livro dela, "Apague a luz se for chorar".
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