Numa viagem absolutamente fascinante, Gonçalo Cadilhe percorre o continente africano sem recorrer ao transporte aéreo. Em autocarros e comboios, em balsas e bicicletas de ocasião, à boleia em camiões ou a pé com a mochila às costas, o viajante atravessou África desde o cabo da Boa Esperança, no extremo Sul, até ao estreito de Gibraltar, no longínquo Norte.
África Acima é um livro sincero e deslumbrado, em que as amizades, o humor, a tolerância e a humildade conseguem vencer a miséria, a corrupção, as estradas desfeitas e o calor brutal. Gonçalo Cadilhe redescobre a magia e os mistérios de uma África que continua a fascinar as pessoas.
Gonçalo Cadilhe é um viajante, jornalista e cronista português. Cadilhe nasceu na Figueira da Foz em 1968 e é licenciado em Gestão de Empresas. Viajar é a sua paixão e nos últimos anos esteve envolvido em vários projectos pessoais em colaboração com o jornal Expresso. O viajante português lança as crónicas das suas experiências por esse Mundo fora e publica-as semanalmente na revista Única.
As crónicas das suas viagens foram posteriormente publicadas em livro, de que são exemplo Planisfério Pessoal, A Lua Pode Esperar, África Acima e Nos Passos de Magalhães[1].
Para além disso é cronista também nas revistas portuguesas Blitz e Surf Portugal.
Uma das suas paixões é o surf, que pratica regularmente.
Desde 2008 Gonçalo Cadilhe é líder de viagem da agência Nomad - Evasão e Expedições
Não ouvi bons comentários acerca do Gonçalo Cadilhe quando eu vivia em Portugal. Não me lembro bem da natureza desses comentários: era um escritor fraco? Ainda por cima, não ajudava o facto de ele escrever para o Expresso?
Eu não entrarei nessa controvérsia, considerando que apenas li este livro do Cadilhe. Para mim, bastou encontrar a palavra “África” no título e conferir que se tratava de um livro de viagem. Interessa-me quase tudo o que venha desse continente, tirando algumas coisinhas como a possibilidade de me contagiar do ébola.
O livro descreve uma travessia de Sul a Norte do continente negro, mais ou menos seguindo a costa atlântica. E gostei das regras auto-impostas pelo autor. Nada de viagens de avião ou com rápidos médios de deslocação: o périplo seria colado ao chão, mais ou menos como viajam a maioria dos africanos.
Devo dizer que achei o livro entretido e que me interessaram muitas das peripécias do viajante. Mencionarei a sua passagem pelo Norte da Nigéria, uma terra muito fundamentalista onde hoje campa o terrorismo “islâmico” do Boko Haram. E um momento muito engraçado: no Congo, numa aldeia devastada pela guerra, surgia no meio da destruição um restaurantezeco absolutamente respeitado pelas balas. Tratava-se do negócio de um português que servia um bacalhau do caraças. Chegada a hora do almoço, os combatentes de ambos os lados deixavam as armas pontualmente e dirigiam-se todos juntos a desfrutar do bacalhau do português. Isso, e uma boa sesta, eram sagrados: já teriam tempo depois para continuar a carnificina.
Na biblioteca regional de Madrid onde costumo repostar leituras, têm um outro livro do Cadilhe, mas acho que trata do mar e do surfe. Não levarei esse livro. No fim de contas, eu, como o comum dos mortais, já passei meia vida a surfar por mares procelosos, e não tenho nenhum interesse no desporto de me deslizar sobre uma tábuazita sobre as vagas. Mas este África Acima é coisa diferente, e merece uma oportunidade.
A única razão pela qual dou 4 e não 5 estrelas prende-se com o facto de eu considerar esta viagem épica e longa demais para apenas 200 páginas. Fico a pensar que Gonçalo Cadilhe poderia ter inserido muito mais informação (quer aventuresca quer reflexiva), mesmo a posteriori, uma vez que estes textos foram escritos para o semanário Expresso, e, por isso, a sua precisão e poder de síntese. Acho até que a sua qualidade literária é mais do que suficiente para nos ter dado mais 50 a 100 páginas de mais África, aquela que percorreu de modo tão atabalhoado, durante mais de 7 meses. Estarei errada?
Este livro parte de um sonho e destina-se a provocar outros sonhos. É um hino a uma Geografia muito maior do que as capitais dos países que com alguma boa vontade a nossa memória vai retendo. Está incrivelmente bem escrito e pode ser ficção na cabeça de muitos mas é pura realidade na cabeça e no corpo de quem o viveu. Gonçalo Cadilhe tem a vida que muita gente quer mas que muito poucos têm a coragem e a capacidade de ter. Vou comprar todos os restantes livros deste autor. Aposto o meu braço direito como serão igualmente incríveis.
Gonçalo Cadilhe dá-nos mais do que um relato da sua viagem por África acima, desde o Cabo da Boa Esperança até ao estreito de Gibraltar. Há um olhar profundo sobre a humanidade, sobre aquilo que somos, o que buscamos na vida, os nossos medos e sonhos. África é o melhor local para esta viagem ao que de intrínseco existe em nós, ou não fosse ela mesma o berço da humanidade.
"É para isto que se viaja, para descobrir lugares que nos correm para dentro da alma, para saber que eles existem, para sonhar em regressar." (pág.36)
Este foi o livro que li mais rapidamente e, 2008. Muito contribuiu o facto de se tratarem de crónicas de viagens em forma de reportagem jornalística (publicadas ao longo de 2006 no jornal Expresso). No entanto, devo dizer em abono da verdade que se trata de um livro, ainda que simples e porventura superficial, muito interessante. Conseguiu cativar-me do princípio ao fim.
A literatura de viagens é um género que comecei a descobrir recentemente (este foi o segundo livro num espaço de 2 meses que li sobre viagens; o primeiro foi Sul - Viagens de Miguel Sousa Tavares, curiosamente também um livro feito a partir de reportagens de uma revista) e por essa razão não posso dizer que sou um entendido na matéria. Porém, é um estilo que a pouco e pouco me vai conquistando. Fã? Provavelmente não, mas grande apreciador, talvez sim. O pior é que ao ler este tipo de livros vai crescendo cá dentro a vontade de partir por esse mundo fora, despojado de tudo, ao encontro mais do que do destino predefinido, ao encontro de mim mesmo, dos limites de mim próprio. Haverá melhor viagem que essa?
Marcaram-me, neste livro, as descrições da actual cidade angolana de Lubango, o Fish River Canyon na Namíbia, as viagens à boleia por estradas praticamente intrasitáveis ou em comboios a abarrotar de gente, os embondeiros, as vigílias nocturnas à volta da fogueira... Quem me dera a mim um dia passar pelas mesmas experiências por que já passou este Gonçalo Cadilhe. Não transcrevo para aqui os dois últimos parágrafos do livro, porque não quero estragar a surpresa a quem venha a ler este livro mais tarde. Apenas digo que melhor forma de terminar o livro seria difícil. Se não houvesse mais razões para o ler, esses dois parágrafos seriam razão suficiente.
Em 2010 ao sair de uma das empresas onde trabalhei, recebi o “Planisfério Pessoal” como prenda de uma colega que partilhou comigo bons e maus momentos, e como bem referiu na sua dedicatória, os bons momentos que usufruímos com muita satisfação, e os maus que encarámos como aprendizagem.
Gonçalo Cadinhe conta-nos as suas experiências com uma descrição muito real e jornaleira das suas viagens por terra e mar.
Na senda de uma leitura fluida do segundo livro, a viajar em emoções e imaginar todos os espaços e paisagens, o autor eleva-me a uma certa irritação. De súbito no livro “África Acima” o autor enlaça uma crítica aos jovens que viajam com um espírito de diversão, basicamente um par de turistas com que se cruza e adjetiva de “uma minoria ocidental privilegiada”... não ficando o escárnio por aqui. Embora nunca tenha tido esse privilégio, considero o comentário desnecessário e despropositado. Pois antes pelo contrário, considero de uma coragem avassaladora quem arrisca a meter um pé fora de casa, mesmo que só por diversão, e ainda mais no continente africano. A vida não é de todo uma entrega a “encargos religiosos, comerciais, diplomáticos ou militares” ou viagens espirituais. A idade é propícia à diversão, mas tudo o que os rodeia não deixará de os influenciar e marcar para o resto das suas vidas... não são pessoas propriamente na meia idade cheias de dúvidas na tentativa de compreender o significado da vida. Essa “minoria ocidental privilegiada” terão momentos que irão captar a sua atenção. O calor, os cheiros, o sabor, a cultura, os costumes. Tudo isso ficará intrínseco na sua memória e poderão falar desses destinos com conteúdo genuíno. Poderão dizer que estiveram lá, que conhecem, que sabem as dificuldades e oportunidades, e sim, poderão vir a ser os seus motores de desenvolvimento, como tem sido muitos dos europeus que apostam e investem em África.
Livros de viagens nunca foram a minha primeira escolha. Podendo, prefiro viajar “literalmente”. Porém, este registo por terras africanas instigou-me pela possibilidade de contrapor o conhecimento e a experiência pessoal adquirida em 5 anos de jornadas pela África Austral com o olhar sempre profundo e íntimo de um dos mais icónicos viajantes portugueses.
Cadilhe tem o dom de nos levar na sua mochila, permitindo-nos não só observar as suas aventuras, como sentir os mesmos cheiros, o mesmo deleite ou a mesma contestação. Nesta viagem por África Acima o autor capta na perfeição a cultura, as práticas e tradições do povo africano. Relata-nos a heterogeneidade entre os géneros como o “dia do homem”, o desprendimento pelo tempo - “A que horas vamos chegar?” (...) “Só Alá, o grande, sabe essas coisas” ou a aceitação do incontornável, incluindo os “refrescos” à polícia. De igual forma, maravilhando-nos com os relatos de lugares recônditos e com as estórias das suas gentes.
Recomendo a leitura a quem pretenda não só viajar em espírito, mas também para quem pretenda refletir sobre a humanidade e os seus valores ou sobre o impacto de uma geografia nas opções de cada indivíduo.
Termino com algumas das passagens mais prodigiosas do autor: - “O sorriso, a solidariedade, o bom-senso, a alegria, a música e a amizade valem mais que a corrupção, a desonestidade, o ódio, os preconceitos raciais, os estereótipos sociais. Viajarei com o primeiro grupo de valores na bagagem, para trocá-los por outros iguais ao longo da viagem.” - “(...) hoje em dia, não existe nada mais progressista do que a preservação das próprias raízes, da própria identidade, do próprio património cultural. Esperemos que Lubango saiba conjugar o passado de Portugal com o futuro de Angola.” - “Penso na importância transcendental, para o bom funcionamento do organismo humano, de regressar periodicamente a estas coisas simples e antigas: uma refeição frugal, uma fogueira que protege, um ouvido alerta e inquieto, uma noite sem electricidade” - “Que importância pode ter um horário no meio de tanto espaço, de tanta geografia, de tanta eternidade? Atrasados? Para chegar aonde?..”
Bom saber. Um homem branco, ligeiramente mais sensível às vicissitudes dos africanos do que foram os nossos antepassados portugueses, e com boa informação para quem queira empreender uma viagem igual. Acho que foi demasiado curta a viagem, e o livro, esse lê-se num ápice como se ele tivesse apanhado um TGV do Cabo Agulha na África do Sul, até Tânger, mas pode ser só porque eu queria era mesmo ir e ficar mais tempo até que a malária me consumisse. Às vezes não gostei da forma como ele descreve aldeias em África. Fala do quanto primitivo tudo é. A sobranceria europeia não se foi embora das veias deste português, mas como posso eu criticar sem ter vivido isso? Ele ao menos de vez em quando escreve sobre o prazer que é estar inundado pela escuridão da noite dos lugares remotos que vai encontrando. Ao mesmo tempo, Cadilhe também é capaz de criticar o modo de vida europeu, o que achei importante e crucial.
Hilariante descrição da aventura de Gonçalo Cadilhe Gonçalo que ao recusar o transporte aéreo, atravessou África desde o extremo Sul até ao extremo Norte pondo, em prática e por todas as vias o "desenrascanço português". O que eu me ri e até me identifiquei com algumas situações!
Mais um grande livro de viagem do Gonçalo Cadilhe, desta vez de sul a norte no continente africano sem apanhar aviões (excepto o que o levou para a África do Sul claro). Muitas pessoas incríveis pelo caminho e culturas interessantes. Sinto mesmo que viajei.
É uma escrita carregada de emoções e sentimentos mas falta uma descrição um pouco mais extensa acerca dos sítios visitados. No fundo, talvez eu esperasse quase um "guia de viagem"!
Um livro muito bom, através dele, nós leitores, conseguimos descobrir a parte africana que ninguém conhece, isto é, a parte do interior dos países e não só as cidades mais conhecidas. África Acima, um livro para viajar sen sair do lugar.
Como é explicado em cima, o livro de Gonçado Candilhe resulta de uma colectânea de crónicas publicadas pelo Jornal Expresso ao longo da sua epopeia pessoal pelo continente africano. Não sendo um grande livro, resulta de pequenos momentos de descontração e reflexão pessoal. Acima de tudo, o autor ultrapassa a dinâmica da complexidade da viagem em si, tornando-se num contador de histórias. Para todos os que gostavam de cometer a loucura de colocar mochila às costas e partir sem destino, África Acima revela-se uma tentação e leva-nos para bem longe, colocando-nos em locais inesquecíveis. - Cláudia
Very interesting I read it when I was traveling through Africa. Amazing! He describes at a simple way what is living and travelling into Africa.Loved it!