Um escultor recebe um inusitado convite para protagonizar um filme cujo roteiro parece estranhamente inspirado em sua vida privada. Um jovem vendedor de uma loja de ferragens, adepto da dominação sexual com cordas, descobre que a linda garota por quem se apaixona é particularmente frágil e suscetível ao seu fetiche favorito, o que os conduz a um perigoso embate. Um astro decadente do cinema chinês vem ao Brasil para o lançamento de um filme e torna-se suspeito da morte de seu companheiro de cena. Um playboy mimado e arrogante é expulso de casa pelo tio e enviado à Europa para se virar sozinho. Um escritor deprimido e sua ex-esposa, pais de uma menina, encontram-se em parques e lanchonetes de São Paulo, procurando manter o vínculo afetivo. Por fim, uma velha senhora grávida e solitária vaga por sua mansão e tem encontros oníricos com uma baleia cachalote na piscina de sua casa.
Somando mais de trezentas páginas, as tramas são amarradas por temas e subtextos recorrentes, tais como o confronto dos personagens com acontecimentos drásticos ou misteriosos que transformam suas vidas, a conciliação da vida com a arte e a tentativa de preservar o afeto e o amor em relacionamentos ameaçados por circunstâncias adversas.
Daniel Galera is a Brazilian writer, translator and editor. He was born in São Paulo, but was raised and spent most of his life in Porto Alegre, until 2005 when he went back to São Paulo. He is considered by critics to be one of the most influential young authors in Brazilian literature. Daniel is one of the founders of the publishing house Livros do Mal and had some of his works adapted into plays and movies.
PT Este livro foi-me recomendado pelo editor da Polvo e, assim que o vi, fiquei imediatamente cativado pelo seu aspeto — o conceito, a arte, a forma como a narrativa visual se apresentava... tinha tudo para ser uma leitura interessante. E foi, de facto.
Acompanhamos aqui a vida de várias personagens, distribuídas por cinco histórias independentes que, embora não se cruzem entre si, vão alternando ao longo da leitura. Cada uma traz os seus próprios dilemas e pontos de interesse.
Fiquei especialmente impressionado com a capacidade dos autores em contar histórias “normais” do quotidiano de forma tão envolvente. Parece-me um feito mais desafiante do que narrar uma aventura épica cheia de fantasia, por exemplo.
No geral, um excelente slice-of-life que explora diferentes vidas e nos mantém interessados até à última página. Recomendo vivamente!
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EN This book was recommended to me by the editor at Polvo, and the moment I saw it, I was immediately drawn to its look — the concept, the artwork, the way the visual narrative was presented… it had everything to make for an interesting read. And it truly was.
Here, we follow the lives of several characters across five independent stories that, while not interconnected, alternate throughout the book. Each one brings its own dilemmas and points of interest.
I was especially impressed by the authors' ability to tell “ordinary” day-to-day stories in such an engaging way. That seems to me far more difficult than telling some grand, epic tale full of fantasy, for instance.
All in all, an excellent slice-of-life that explores different lives and keeps us invested right up to the final page. Highly recommended!
Não consegui encontrar uma relação entre as várias histórias deste livro, exceto serem quase todas um pouco “kinky” ou sobre gente psicologicamente atormentada, temas que não acho particularmente apelativos.
Os desenhos são bons, o traço é fluido e expressivo, mas são excessivamente (propositadamente?) feios, o que também contribuiu para tornar a leitura menos agradável.
Não me parece um mau livro, pelo contrário, mas decididamente, não é para mim.
Várias verdades (os famosos tapas na cara que você só percebe depois que termina uma leitura e reflete sobre ela) e representações das mais variadas formas de solidão. É fácil ver a intimidade frágil de cada personagem das seis histórias representadas no livro, um pouquinho real e contemporâneo, um pouquinho fantasia.
É um punhado de coisas. É um amor que dói, um amor que acabou que ainda existe, um amor que não sabe bem o que é. E é um não-amor também, ódio por si mesmo, pelo mundo, é nada. Li pela primeira vez assim que foi lançada, e reli agora, tantos anos depois, e as sensações mudaram, obviamente, porque mudei muito. Segue muito bonita, muito triste, e um belo marco no mundo da graphic novel brasileira. // It's a bunch of stuff. A love that hurts, a love that has ended but still exists, a love unsure of what it is. And it's a non-love too, a self hate, hate for the world, it's nothing. I read this for the first time years ago, when it was released, and came back to it now, after so many years, to see that the feeling have obviously changed, cause i have changed. It's still very beautiful, and sad, and a great milestone in the brazilian graphic novel world.
Sinceramente não lembro porque comprei esse quadrinho. Será que é porque foi escrito por Daniel Galera? Por que foi desenhado por Rafael Coutinho? No fim das contas, li um quadrinho que não sabia porque comprei, não sabia de sinopse, mas que estava aqui na minha estante na casa dos meus pais. Peguei pra ler e continuei sem entender. São várias histórias paralelas mas não entendi o que elas tinham em comum (se é que tinham), não entendi o que estava acontecendo em cada uma delas (se é que estava acontecendo alguma coisa além da história superficial), várias coisas ficaram subentendidas (se é que ficaram), e agora estou meio perdida. Não sei se essa é uma daquelas histórias que ficam na nossa mente por tempos e a gente vai entendendo o que quer que seja, mas por enquanto estou assim. Sei lá.
2.5 para 3 porque gostei dos desenhos. Achei confuso. As histórias estão entrelaçadas mas não tem nada a ver uma com a outra. Não tem marcação entre as histórias e as vezes demorei para entender que já era outra história pq os desenhos são todos muito parecidos.
Five parallel stories about love, or, as Oscar Wilde put it-Each man kills the thing he loves. Each story is unique and it affects you at a deep level, meditations on what masculinity is at the dawn of the 21s century and what paths it has to negotiate. All the narratives are about males in crisis and culminate in a final epilogue that, although deeply moving, offers little in the way of closure. I also need to mention the art, Coutinho is an amazing artist. I'll possibly go back to this book sometime soon just to enjoy it from a purely visual standpoint. You can tell it's drawn by someone who has an eye for cinema, and some of the plots are actually about cinema and shooting films. I have to confess it was curiosity that made me pick this book, I'm a big fan of Laerte, Coutinho's father who is also a cartoonist and I wanted to see if her son was equally talented. The short answer is: he is!
3 histórias humanas que não me trouxeram nenhum tipo de sentimento, pessoas decadentes como a maioria das pessoas são e fim... O traço também não foi um dos meus favoritos, bem sujo e em algumas imagens tive que analisar bem pra saber o que era. Infelizmente fui com muita expectativa. Pensando bem acho que não gostei de nada! E olha que quase tudo me emociona...
"Eu queria poder voltar no tempo às vezes." Simm isso achei real! Eu queria ter voltado no tempo e lido outra coisa!
O visual é impressionante e casa muito bem com a narrativa, o que só fica mais destacado ainda com o tamanho enorme do livro. Foda de ler.
São várias estórias diferentes "que se alternam mas não se cruzam" e todas (menos uma) me fascinaram. Ainda tô pensando sobre, mas acho que de certa forma a HQ fala sobre ruptura com nossos medos (com aquilo que nos tornamos?), sobre encarar o abismo de nossas almas, sobre paz (ou ao menos trégua).
Eventos de vida de personagens em angústia. Não interessa porquê. Nem porque estas personagens cruzam histórias entre elas. O final é claro. De cada evento. De cada história. A nostalgia pode ser avassaladora.
Diria que um dos expoentes dos quadrinhos nacionais com grande possibilidade em destacar-se. Os quadrinhos merecem nota máxima tanto pelo trabalho gráfico quanto pela construção narrativa. Vale a leitura e também o fomento da arte nacional.
Desenho interessante, mas escrita desastrosa, especialmente os diálogos cheios de clichés, e as personagens mal desenhadas. O traço é belo, as narrativas inconsequentes, pseudo-profundas. Bem aborrecido.
Will Eisner certa vez disse que o processo de leitura dos quadrinhos é uma extensão do texto. Em seu celebrado Narrativas Gráficas (Devir, 2008), diferencia o uso de imagens como linguagem de mero entretenimento visual para com o conceito que Eisner chamou de Arte Sequencial, quando uma série de imagens disposta em seqüência se torna uma narrativa literária. Recentemente, um álbum conciliou dentro dessa linguagem literária as reflexões do narrador para com a profundidade dos seus personagens. Lançado neste ano, Cachalote (Quadrinhos na Cia), escrito por Daniel Galera e desenhado por Rafael Coutinho, consegue interpor um mosaico de tramas e personagens numa singular narrativa gráfica.
Cachalote Rafael Coutinho e Daniel GaleraAo longo das quase 300 páginas, conhecemos seis histórias em três capítulos. São histórias paralelas, de argumentos ao mesmo tempo realistas e fantásticos, dramáticos e cômicos. Hermes, um escultor entediado, estranhamente recebe um convite inusitado: protagonizar um filme baseado em sua própria vida. Vitório, um jovem vendedor de uma loja de ferragens, adepto de kinbaku – um estilo de bondage japonesa em que se domina sexualmente com cordas – se apaixona, cheio de pudores, por Lara, uma bela garota que é particularmente frágil e suscetível ao seu fetiche. Xu Dong Sheng, um astro decadente do cinema chinês, vem ao Brasil para lançar seu último filme e acaba sendo suspeito da morte de Jia Cheung, amigo e companheiro de cena. Ricardo Aurélio, ou melhor, Rique, um playboy mimado e arrogante, é expulso de casa pelo tio e enviado à Europa para se virar sozinho. Um escritor deprimido e sua ex-esposa que ainda se encontram em locais públicos para manter o vínculo que tiveram ou tem. E uma velha senhora, grávida e solitária que tem encontros oníricos e enigmáticos na piscina de sua mansão com uma baleia cachalote.
Cada personagem foi construído com minúcias que inferem ao leitor pelas imagens os acontecimentos drásticos ou misteriosos que transformam suas vidas. Algo bem mais perceptível que as histórias em si é a decadência que cada um passa e o próximo passo para dar rumo ao que perderam.
Depois de quase dois anos e meio em produção, Cachalote consegue amarrar cada trama com temas e subtextos recorrentes, as ilustrações falam, caprichadas, pensadas e criadas com cuidado, autônomas dentro de cada história. Alguns dos quadros possuem belíssimos resultados de uma sofisticada narrativa, bem próxima das storyboards dos filmes.
O mosaico de histórias foi ambiciosamente abordado sem um final propriamente dito. Cada um dos seis contos levanta a curiosidade dos leitores, que acompanharam o desenvolvimento de cada personagem. Entretanto, ao final do álbum, fica a sensação de vazio. Algo novo para muitos amantes do gênero essa de apropriar da expectativa de cada um e, no fim, finais sem solução, abertos à imaginação de cada um.
E a baleia? Fica a pergunta, mas o projeto de Galera e Coutinho usa bem da narrativa literária com destaque na arte do filho de Laerte. Densa e pretenciosa, Cachalote tem estilo, mas será que marca um novo destino aos quadrinhos brasileiros?
Muito ruinzinho, 1,5 estrela. Não gosto de obras assim, são feitas unicamente pra chocar, com a desculpa que é sobre uma reflexão intensa que nós pessoas comuns não entendemos. Creio que o que essas histórias têm em comum é só a insatisfação. 1 - ator chinês: ele é um cara totalmente vazio que procura de forma desesperada fugir de si mesmo, ai seu amigo morre (matado ou morrido, tanto faz) e ele tem um diálogo final meio nada a ver sobre "me arrependo de nao ter aproveitado enquanto havia tempo". 2 - escultor: é um cara que se houvesse um gatilho, poderia cometer facilmente um feminicidio. Não entendi muito bem o que aconteceu com o filme, talvez ele só estivesse fazendo uma fanfic pra justificar sua insatisfação com a vida. No fim a historia e sobre a namorada dele, que vai sempre ficar lá infelizmente. 3 - playboy: um cara fútil, que tem uma oportunidade de refletir sobre sua vida, mas só continua sendo um babacão vazio e sem rumo. 4 - menino da corda: arranja uma namorada muito sem noção com fetiche de estupro e ele se vê forçado a fazer o que ela quer. Em resumo parece bastante uma mensagem ridícula de "viva intensamente, foda forte e se doe". 5 - escritor: só uma relação de amizade vinda de um relacionamento, bem cotidiana e normal, um nada demais. Só fiquei chateada pelo cachorro ter morrido, será que significa algo como "a vida é frágil e passageira"? É isso, não recomendo.
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Cachalote é sobre a vida da maneira mais exacerbadamente possível. Desde viagens não premeditadas à pessoas desaparecidas, a retratar a vida de poucos, mas que todos podem viver. Este feito executado com maestria de roteiro e ilustração. Galera escreve os melhores diálogos que já li, as estórias criadas por ele são simplesmente mundanas e bizarras simultaneamente, demonstrando o talento evidente à escrita. Junto das incríveis ilustrações de Rafael Coutinho, que com seu traço desenhara uma incrível obra que é Cachalote.
(sem spoiler) Muito, muito massa!!! Minha primeira graphic novel heheh Curti muito as histórias e muito tb os desenhos! As vezes parava num quadrinho e ficava admirando. O desenhista é filho da Laerte! Não sabia disso. Li em dois ou três dias pra ir curtindo, mas vcs que leem rápido liquidam num dia. Bah to muito feliz de ter lido, no finzinho me deu aquela tristeza de que ia acabar. E Galera sempre é bom. Esse livro tem bem o estilo dele. To indo agora na livraria comprar o novo q ele acabou de lançar.
O início do GN causa uma certa estranheza, mas, à medida que a leitura vai avançando, acostuma-se ao visual dos desenhos e passa-se a curtir mais as histórias. A história do casal separado com a filha pequena é, sem dúvida, a melhor.
Parece querer mostrar uma profundidade que não tem. Os desenhos também não são muito minha praia, todos os personagens meio parecidos, não dá nem pra identificar se é jovem ou mais velho.
As historias, com exceção da do cara masoquista e sua mulher de "vidro", não me prenderam muito. Eu acabava ficando confuso com a narrativa que pulava de uma para outra, e não conseguia dar a devida atenção a cada uma.
Mas o estilo de desenho dessa hq é absurdo! Totalmente no feeling, parece um sketch, mas ao mesmo tempo é cheio de soluções inteligentes para passar sensações e informações. A cena da piscina sendo um dos melhores exemplos disso!