CIDADE PROBIDA é o retrato e uma certa Lisboa, na actualidade. Uma cidade onde Rupert e Martim decidem viver juntos, mesmo que tenham de o fazer num meio tradicional, endinheirdado e snob que poderá vir a cavar um fosso irremediável entre ambos. Mas o encontro que mudou a vida dos dois justifica esse destino. Rupert é inglês e está em Lisboa como professor. Martim nasceu e estudou no Estoril, doutorou-se em Oxford e mantém uma assessoria régia na empresa do padrinho. Os códigos de contuda do meio a que pertence são os únicos que respeita. Rupert vê-se obrigado a muda ro seu modo de vida por força do rigoroso escrutínio das aparências. E tem de negociar a sua liberdade sem ganhar nada em troca. Alheado da realidade, Maetim não se dá conta dessas zonas de sombra. Conhecido do grande público como poeta e crítico, Eduardo Pitta confirma neste romance as marcas da sua ficçã narrador autoritário e sobredeterminação da pulsão erótica, Foi assim com PERSONA, uma trilogia de contos sobre questõses identitárias e aspectos obscuros da guerra colonial, e volta a ser assim em CIDADE PROIBIDA, uma obra em muitos aspectos perturbadora, na licença de uma linguagem como no relato de vários interditos.
EDUARDO PITTA nasceu em Moçambique, a 9 de Agosto de 1949, vivendo em Portugal desde 1975. É poeta, ficcionista, ensaísta, crítico literário do jornal Público e autor do blogue Da Literatura, que estende ao espaço público electrónico a sua capacidade de atenção crítica. Publicou oito livros de poesia, três de ensaio, um de contos e também um diário. O essencial da obra poética encontra-se reunido em Poesia Escolhida (2004). No domínio do ensaio, os títulos mais recentes são Metal Fundente (2004), suma de artigos sobre autores tão diversos como, entre outros, Al Berto, W. H. Auden, Mário Cesariny, T. S. Eliot, Konstandinos Kavafis, Fernando Pessoa, Dylan Thomas, Walt Whitman, Oscar Wilde e Virginia Woolf, e Fractura (2003). Textos seus, de poesia e prosa, encontram-se dispersos por inúmeras publicações. Recentemente reeditado pela QuidNovi, o livro de contos Persona faz luz sobre aspectos menos conhecidos da guerra colonial em Moçambique. A Cidade Proibida é o seu primeiro romance.
Of course, we have to refer to the homosexual content of the book. "Gay" works is what there is more and more. Prickly, "poetic" writings, as if to excuse "the thing" with the excessive sentimentality of "ecstasy emotions." There is nothing like that; this is a love and sex story like any other. The realism of certain situations almost makes you forget that the lovers are of the same sex. They are people who have sex. Admittedly. No bad conscience. For the rest, descriptions of this type are the ones that are, the precise, the indispensable ones, and not speculating with the fact.
Eduardo Pitta narra os amores impossíveis de Martim, um jovem, filho de família burguesa da Linha do Estoril, por Rupert, um inglês expatriado em Lisboa, oriundo de uma família disfuncional de classe média, convocando para o seu romance um vasto conjunto de personagens que se movimentam pelos cenários de Lisboa, Londres, Estoril, Oxford, Lourenço Marques, África do Sul e Rio de Janeiro, nos tempos do primeiro primeiro-ministro engenheiro, mas com digressões ao passado, ao Estado Novo salazarento, ao Moçambique pré e pós-colonial, à Washington de Lyndon B. Jonhson, à Grã-Bretanha de Tatcher e do IRA, entre outros.
Apesar de ser educadamente, polidamente, mesmo amavelmente, recebido na “cidade proibida” da burguesia lusa em que se movimenta Martim, Rupert nunca deixa de ser considerado um outsider, um corpo estranho. (Num pormenor delicioso, Rupert interroga-se se Vasco Ravara – um amigo de Martim com quem passara uma noite tórrida numa orgia anónima em Marylebone – nunca menciona que já o conhecia por esquecimento ou timidez. Nem uma coisa nem outra! Eduardo Pitta, num “detalhe” magistral, deixado cair como que por acaso já nas últimas páginas do livro, revela-nos que Vasco se lembrava muito bem de Rupert porque avisara Martim acerca do gangbang de Marylebone logo que soubera que o amigo se estava a apaixonar pelo inglês…).
Quando Rupert descobre que o seu tio Mark, a sua grande (única?) paixão – que ocupou o lugar do seu pai quando este abandonou a família e que se envolveu sexualmente com a cunhada mas também com o sobrinho – está doente com SIDA e vai morrer muito em breve, o choque é tremendo e Rupert, caindo em si, desiste de Martim e da hipocrisia da “cidade proibida” em que vivem a sua família e amigos.
No seu estilo pessoal muito culto e cosmopolita, mas sempre frontal e corajoso, muito rápido e sucinto (por vezes, quase telegráfico), a criatividade de Eduardo Pitta consegue oferecer-nos, num texto de cerca de cem páginas, material que daria para um romance de muitas centenas de páginas ou para uma boa dúzia de contos interessantes. Apesar de ser omnipresente (dez, ou mais, personagens homossexuais ou bissexuais), a homossexualidade não é o foco da narrativa, que trata, sobretudo, da desvalorização de um círculo social fechado e restrito a que se deseja pertencer, mas onde é difícil entrar e ser-se aceite.
3,4 ⭐️ uma crítica à sociedade elitista portuguesa que vive de saudosismo, fiapos de um colonialismo extinto e de normas sociais com cheiro a mofo; uma exploração sobre sexualidade, expressa, crua e natural, sem rodeios; um abarrotar de referências (muitas delas demasiado obscuras para terem perdurado com relevância significativa até aos dias de hoje) que ora enriquecem a história, ora enriquecem a mente (porque as temos de pesquisar) ora servem apenas para ser ignoradas (porque são tantas que não há paciência). No fundo, um livro sobre personagens e sobre as histórias que as definem mas que, várias vezes, dá primazia à exploração das segundas, tornando as primeiras meros veículos de apresentação narrativa, esquecendo a sua dimensão humana. Uma leitura rápida, com um enredo praticamente inexistente, que faz o pretendido e termina sem deixar grandes saudades.
Comprei o livro porque perdi o comboio no Oriente e necessitava de alguma coisa para me distrair - e nada melhor, nesta situação, do que visitar a Feira do Livro do Oriente. Com uma escrita impecável, Pitta convenceu-me que é um escritor a ser melhor conhecido por mim. Quanto ao género do livro, nem tanto - senti que foi "muita parra e pouca uva". Uma coisa que não gostei é o facto de, de repente, todos os homens da história são homo ou bissexuais.
Cidade Proibida centra-se na relação de Rupert e Martim, este pertencente a uma família da alta sociedade lisboeta, aquele 'proleta', como informalmente se lhe chama no livro. É um livro frio e impessoal, como o asfixiante e cinzento ambiente em que se movem as elites do país.
É um livro de ritmo lento, cuja narrativa parece não querer avançar muito. Vive muito de descrições e flashbacks. E se é certo que estes são essenciais à compreensão da história, podem tornar por vezes um pouco frustrante a leitura. Ainda assim, tem qualidades escondidas, este livro, escondidas na riqueza dos detalhes; quer comentar a sociedade do seu tempo, insurgir-se (nem que seja silenciosamente, através das páginas de um livro) contra a opressividade elitista da alta sociedade lisboeta.
O grande pecado, parece-me, é que o autor não consegue oferecer um único personagem com quem se possa simpatizar: todos os personagens se diluem nesta frieza monocromática com que retrata a toda a sociedade. Pouso o livro com um sentimento de repulsa. Por muito bem escrita que esteja, não é obra que se faça amar.
Uma leitura intranquila, difícil de categorizar. Por um lado, lê-se como uma crónica da alta sociedade portuguesa, de prosperidade assegurada pelo seu nepotismo e redes de influência, onde o mérito se mede pelo status, e é fundamental o respeito por convenções que todos, secretamente mas num secretismo mal disfarçado, desrespeitam. Um mundo de aparências e dinheiro, que vive entre festas e casas de luxo, entretecendo as suas redes de influência e laços sociais, estanque perante quem não pertença ao meio.
Mas é, também, uma história de desamor entre o filho de uma dessas altas famílias, que se imagina diferente embora na verdade mantenha todos os vícios sociais e hábitos enraizados, e um inglês da working class que vive em Portugal como professor ao serviço de uma instituição cultural britânica. Um amor condenado, entre as convenções do português e os traumas do passado de um inglês que topou à légua o desdém social classista.
De um lado, a crónica desapiedada, de um queirosianismo ao estilo da viragem do século XX, de uma fatia da alta sociedade. De outro, a tempestuosidade tórrida e algo hedonista das relações entre amantes. A escrita surpreende pela sua frieza quase clínica, a acção trágica desenrola-se com uma perene inevitabilidade, e todas as personagens vivem para si, para os seus prazeres, estatuto e forma de vida. Nem nos amores a história aquece, há um profundo sentimento de descartabilidade, mesmo que o amor seja forte, a pessoa amada poder ser facilmente abandonada porque haverá sempre mais para ocupar o lugar na capa. Uma leitura incómoda e desapiedada.
Cidade Proibida é um romance ousado que cruza o erotismo gay com uma crítica ácida à elite lisboeta. A escrita de Eduardo Pitta é direta e envolvente, convidando o leitor a refletir sobre identidade, classe, sexualidade, tabus e o peso da história social portuguesa. Uma leitura indispensável para quem se interessa por literatura queer contemporânea em Portugal.
A leitura deste livro despertou em mim, enquanto leitor, alguns sentimentos contraditórios. Enquanto que o livro está bem escrito, num português de fazer inveja a muito "escritor" que por aí anda, na verdade o fruto final mal passa de uma laranja de jardim, com muita casca e pouca polpa.
Lida a obra, sobressai a sensação que, acima de tudo, o que mais se destaca será um certo desabafo por parte do autor ou melhor vários desabafos!
Eduardo Pitta não é propriamente uma novidade, tendo já obra publicada no campo da poesia, mas esta é a sua segunda incursão pelo mundo da prosa. A obra apresenta-nos a (aparentemente) atribulada relação entre Martim e Rupert. O primeiro português de "boas" famílias, o segundo um inglês proleta (como a secretária de Martim lhe chama a páginas tantas). Ambos vivendo já há alguns anos uma relação amorosa.
A diferença de estratos sociais e a necessidade de uma vida em comum, será a primeira "cidade proíbida" que Eduardo Pitta nos apresenta. Há uma clara e notória incapacidade de Rupert se relacionar com o meio de Martim (e vice-versa), o que faz com que ambos tenham aí uma constante fonte de tensões na sua relação. A segunda "cidade proíbida" reside na mentalidade fechada do meio de Martim, relativamente à sua orientação sexual, onde ele não pode assumir às claras que Rupert não é um amigo, é para ele bem mais que isso.
Ao confrontarmos a biografia de Pitta (na wikipedia, confesso) com esta obra, é impossível não nos interrogarmos do quão auto-biográfica ela será, e quantos dos comentários e apreciações desse narrador ausente não serão a voz do autor a afirmar-se, a tirar um peso de dentro de si. Necessidade essa que, parece-me, acabou por toldar um pouco a clareza na hora de explorar as personagens e até mesmo de desmistificar as relações homossexuais em Portugal.
As primeiras trinta páginas da obra apenas terão interesse para quem estiver interessado em refazer o circuito homossexual de Lisboa/Londres dos anos 70/80. Aliás tanta procupação com o "onde" e alguns laivos de "o quê", com muito pouco "como" ou "porquê", fazem com que a relação central se esbata e apenas com dificuldade, e doses maciças de imaginação, se possa descortinar donde e porque vêm os seus problemas.
Quase em simultâneo, a família de Martim já era uma família de "bem", quando Maputo era a Lourenço Marques, cidade natal do autor. Estas coincidências acrescem um cunho de relato histórico à obra, que não contribuindo muito para o conteúdo, aumentam um pouquinho o interesse.
Em jeito de resumo, a obra, para lá do roteiro homossexual, assume-se como pouco mais do que um desfilar de estereótipos, com um certo tom de saudade por um período (colonial) que já não volta, e com pouca dedicação posta no desenvolver as pontas que poderiam contribuir para fazer da obra algo mais. A sensação que fica é que a cidade que Eduardo Pitta nos quer mostrar é tão proíbida, que ele não nos pode (consegue?) mostrar mais do que as suas portas!
Eduardo Pitta deixa-nos aqui um retrato frio dessa sociedade aristocrática que se perdeu na ressonância dos apelidos de família. Uma sociedade que preserva os preconceitos, mas sem dinheiro que lhe chegue.
Caraterizada pelos olhos de Rupert, as idiossincrasias dos portugueses vão desfilando. Do vício do café, com as várias interrupções do trabalho para se tomar uma bica, a hipocondria generalizada, nonsense ideológico, sistema de classes evasivo, comprometimento cívico nulo, invisibilidade da comunidade gay…