«Não suporto estes olhares de piedade. Conheço-os bem, porque também eu os distribuí durante os anos em que fui rainha. A piedade sempre foi a minha maior dádiva para com os que me saudavam. Ainda agora guardo comigo a memória dos braços estendidos, das lágrimas de miséria, dos rostos marcados pela dor, das palavras cheias de fome. Era o «Anjo da Caridade». O povo conhecia bem o meu coração impressionável, sabia fazê-lo bater de angústia e obrigava-o a acudir a todos com dedicação sincera. Era o meu dever como rainha. Afinal, sou Maria Pia. E o meu nome sempre foi o meu destino.»
Rainha aos catorze anos, a princesa italiana Maria Pia foi recebida em Portugal num clima de grande euforia, entre gritos e vivas. 48 anos depois era expulsa do país que tanto amava e a quem havia dedicado toda a sua vida.
Chamaram-lhe fútil e gastadora. As suas festas, os tecidos ricos e joias extravagantes eram comentadas por todos. E, mesmo os seus gestos caridosos, eram olhados com repúdio e como atos de pura vaidade. Amada e odiada.
Diana de Cadaval leva-nos pela história de Maria Pia, entre finais do século XIX e o princípio do século XX. Escrito na primeira pessoa, como um relato confessional e íntimo, neste romance acompanhamos os momentos faustosos e os instantes mais solitários e trágicos da Rainha, até à chegada da sua morte, em que se vê apenas como uma pobre mulher a quem a vida lhe deu tudo e tudo lhe tirou. Uma mulher com um único que o seu corpo seja enterrado na direção de Portugal.
DIANA ÁLVARES PEREIRA DE MELO, 11ª Duquesa do Cadaval, licenciada em Comunicação Internacional pela Universidade Americana de Paris, trabalhou na leiloeira Christie's, em Londres. Actualmente está a frente da gestão dos negócios da família, promovendo e apoiando festivais e diversos eventos de cultura em Évora. A sua estreia na ficção ocorreu em 2010 com o romance histórico «Eu, Maria Pia».