Este livro é mágico. O leitor deverá pegar nele com todo o cuidado. Nunca se sabe bem o que pode acontecer quando alguém folheia as páginas deste romance. A protagonista, Marta, uma professora universitária, parte para uma viagem que a levará a encontrar-se com um fantasma que lhe pede boleia, à noite, numa estrada alentejana. O espectro voltará a aparecer no dia seguinte, assombrando a sua vida. Mas a maior surpresa acontece quando o fantasma surge na vida do autor - e também na existência de cada leitor deste romance. Porque Planície de Espelhos leva às últimas consequências a magia da literatura.
Publicado em Maio de 2010, Planície de Espelhos foi o primeiro livro da autoria de Gabriel Magalhães que li. Este é um romance surpreendente, inovador e arrojado, tanto pelas características da escrita como pelos temas que aborda.
“Planície de Espelhos é um livro escrito com a música da vida e também com a melodia sinistra da morte. É uma escrita em contraponto: luz e sombra, feita de palavras." Gabriel Magalhães
Anteriormente, Gabriel Magalhães publicou Não Tenhas Medo do Escuro, um romance que lhe valeu o Prémio Revelação da APE/DGLB. Publicou também a monografia de Garret e Rivas: O Romantismo em Espanha e Portugal. Gabriel Magalhães é doutorado em Filosofia Hispânica e Portuguesa e professor de literatura portuguesa na Universidade de Salamanca e de literatura espanhola na Universidade da Beira Interior.
"Nós fomos feitos para voar: um voo por dentro. Um voo da alma. Se não assumirmos esse voo, enterramo-nos vivos." Gabriel Magalhães
Planície de Espelhos traz-nos a história de Marta Valadares, uma professora universitária de 40 anos.Marta faz uma viagem da Covilhã até Évora com o intuito de ir comentar a tese de mestrado de uma aluna, a pedido do seu anterior mentor. Na noite em que chega a Évora, cruza-se com um rapaz a pedir boleia. Esse rapaz tinha um aspecto estranho e um livro na mão. Uns quilómetros mais à frente, o rapaz aparece-lhe de novo, na mesma posição, a pedir boleia. No dia seguinte, por intermédio de um jornal, descobre que o rapaz teria falecido pouco tempo antes. O fantasma volta a atormentá-la, acabando por lhe deixar um presente, o livro que carregava com ele.
Esta é uma história insólita que desperta sentidos e sentimentos. Em parte ficcional e em grande parte totalmente real, a história é ao mesmo tempo surreal e cativante, assim como impressionante e engenhosa. Uma viagem ao interior de nós mesmos.
Este livro é constituído por duas partes distintas sendo que, à medida que a história avança, o autor do livro acaba por se tornar protagonista e revelar-nos como chegou à história que nos narra.
"No caminho de cada pessoa existe uma aventura que é só sua e cuja descoberta este livro pretende sugerir e encorajar. E aqui é importante aprender a distinguir os nossos sonhos daqueles que a sociedade imprime em nós. Muitas vezes sonhamos sonhos que não são nossos. Como distinguir os nossos próprios sonhos destes que são falsos, que vêm de fora? É muito fácil. Os nossos sonhos mais verdadeiros doem-nos; cravam-nos numa cruz. Mas depois a felicidade é cada vez maior e não nos doem os pregos que temos nas mãos." Gabriel Magalhães
Gabriel Magalhães toca-nos através de uma escrita poética, ornamentada de metáforas (“a voz meiga e triste que lembrava teias de aranha” e “como se a garganta descascasse um pêssego”, mas muito adequada ao tipo de livro que nos apresenta. Mais do que a história de Marta Valadares, Planície de Espelhos é um mergulho pessoal e individual na interior da nossa própria vida, sobre as nossas prioridades e o modo como esperamos viver a vida e a morte. Será que na nossa vida estamos realmente vivos, a aproveitar aquilo que de melhor nós temos? Ou será que na generalidade vivemos mortos uma vida que de viva nada tem? Estas são algumas das questões que acabamos por levantar dentro de nós mesmos e para as quais só nós poderemos encontrar respostas.
Vida. Viver. Cabe a cada um de nós descobrir. Um livro que recomendo vivamente. Assim é... ... Planície de Espelhos
"Quando se quer mudar a própria vida, muitas vezes continua a viver-se de forma diferente a mesma vida de de sempre. Porque para mudar verdadeiramente, é necessário explorar as últimas fronteiras da humildade, (...), essa capacidade de ocultar ser nada para os outros a fim de conseguir ser quem era para si própria."
Este livro foi uma excelente surpresa. As primeiras duas partes do livro são interessantes e agradáveis de ler mas não mais que isso, foi na terceira parte que percebi a originalidade do conceito deste livro. Não digo mais para não estragar o prazer da descoberta a futuros leitores, mas gostei mesmo muito. Mais um autor a seguir, sem dúvida.