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238 pages, Paperback
First published January 1, 1906
“Há livros que falam baixinho, há livros que falam alto. Uns têm por si o encanto, outros a força. Às vezes as palavras murmuradas impressionam mais: passado tempo ainda elas acordam em nós fibras adormecidas.”
“- Nesta vida sabeis o que há de pior? É nem a gente poder estar triste.”
“Isto de chorar um dia e outro dia dá a impressão de que chove e se não sai do inverno.”
“A vida não é senão este monólogo furioso ou ridículo e mais dorido quando é concentrado e sem gritos…”
Meu bom amigo: O seu livro é a historia patetica d'uma alma. Qual? A do Gebo, a de Luiza, a de Sophia, a da Mouca, a dos Pobres emfim? Não. A sua. Historias diversas, que se resumem n'uma historia unica: a da sua alma, transitando almas, a da sua vida, percorrendo vidas. Autobiografia espiritual, dilacerada e furiosa, demoniaca e santa, blasfemadora e divina. Confissão verdadeira, plena, absoluta d'um organismo que sente a musica mysteriosa do universo, d'um coração que repercute a dôr eterna da natureza, mas que só ao cabo de oscilações, duvidas e desanimos, coordena a idealidade do ser com as aparencias do ser, o espirito com as formas, o Deus,—amor e beatitude, com a materia,--crime e soffrimento.
[...]
Homens de gosto coleccionam quadros ou estatuas. O meu amigo colecciona dôr. Não em galerias ou museus, como quem se dedica ao estudo biologico das varias formas de sofrer. Quando uma chaga aterradora o surprehende, não a invasilha n'um frasco, guarda-a no coração. Conta-lhe os ais, não os microbios. Em vez de a analisar, decompondo-a, analisa-a beijando-a. No seu laboratorio chimico existe apenas um reagente, que dissolve tudo: lagrimas.