Esta é a história de um jovem em desesperada procura de si mesmo e da verdadeira razão de sua vida. Quase absorvido por uma brilhante boêmia intelectual, seu drama interior evolui subterraneamente, expondo os equívocos fundamentais que vinham frustrando sua existência e sufocando sua vocação. 'O encontro marcado' é a história de Fernando Sabino? Sim, mas não se trata de uma autobiografia. É a história atormentada de toda uma geração, naquilo que ela tem de essencialmente dramático. No meio das confusões da vida, procura-se um valor que dê sentido à desconcertante experiência pessoal de quem trava um duelo de morte com a vocação furtiva. História de adolescência e juventude, de prazeres fugidios, desespero, cinismo, desencanto, melancolia, tédio, que se acumulam no espírito do jovem escritor Eduardo Marciano, um homem que amadurece num mundo desorientado. Ele vê seu matrimônio quebrar-se quando já não pode abdicar; por força de sua própria experiência, o suicídio deixa de ser uma solução. Nessa paisagem atormentada, ele deve renunciar a si mesmo, para comparecer ao encontro com uma antiga verdade.
Fernando Sabino (October 12, 1923 - October 11, 2004) was a Brazilian writer and journalist. Sabino was born in Belo Horizonte, Minas Gerais, where he lived until he was twenty, when he moved to Rio de Janeiro. Sabino was the author of 50 books, as well as many short stories and essays. His first book was published in 1941, when he was just 18 years old. Sabino vaulted to national and international fame in 1956 with the novel A Time to Meet, the tale of three friends in the inland city of Belo Horizonte. The book was inspired by Sabino's life history. Sabino also enjoyed commercial success with The Great Insane and The Naked Man, which were made into films. Sabino considered friendship to be one of the most important things in life. His circle of friends included Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Clarice Lispector, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, and Manuel Bandeira. In the last ten years of his life, Sabino was distant from the media. Many of his close friends died before him. Two years before his death, Sabino was diagnosed with cancer. Following a prolonged illness, he died one day before his 81st birthday in his Rio de Janeiro home.
Fui agarrado por este livro, é sério. Ele não solta a gente. Quando você vai fechar, ele fala assim: ‘ali na frente tem algo que você quer saber’, e você vai lendo, lendo... é irresistível! Dei muita gargalhada, ri muito. Mas só é possível tanto riso, porque há uma profundidade, uma literatura mansa, discreta que vai te entranhando... É bem mineiro isso, conta sem falar tudo, põe a pulga atrás da orelha sem você perceber, é assim... É que nem doce de leite com queijo frescal, você quer só mais um pouquinho... Quando vê já rapou o tacho... É sobre tudo e sobre nada, sobre o que poderia ser mas não foi, sobre o que não foi e é... Tenta entender não, vai lá ler que é melhor.
Fernando Sabino tem uma jeito muito bonito de narrar suas histórias, conta tudo devagarzinho, adentra na vida da gente sem sair da vida de seu personagem, leva-nos em uma grande viagem de trem de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro mas ao final parece uma viagem pelo Brasil inteiro, já que seus personagens passam da boemia, à poesia, à literatura, ao jornalismo, aos anarquistas, a burguesia e assim, compõe uma história que não acaba, porque é a história de todo um povo.
Narrando a vida de Eduardo, alguém que vive em si a humanidade inteira, o escritor inicia a jornada banal da vida do menino e do homem que se torna, em uma sucessão de eventos que englobam a paixão, a amizade, o sistema político do momento, a intelectualidade e uma série de incertezas e questionamentos acerca da vida, de seu propósito, do que se tem e do que se quer, em um romance gentil e que nos abraça, sendo, a mim, uma ótima leitura.
Ao final, "de tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar."
Este é o livro de minha adolescência. Foi o que mais amadureceu minha visão de mundo, de futuro, de consciência a cerca do valor da amizade. Um dos poucos que me fez chorar e enrolar para terminá-lo. E um dos trechos preferidos é o seguinte - da conversa de Germano: "...Ah! O verbo e o silêncio são a mesma coisa. Que coisa bonita que eu falei, minha nossa senhora. É preciso escutar o silêncio, não como um surdo, mas como um cego! O silêncio das coisas tem um sentido. Quem não entende isso não entende nada. (...) – E a música? – desafiou. – A música – o velho traçou com o dedo uma pausa no ar – É a expressão mais completa do que estou dizendo. Ou que não estou dizendo, pois é preciso ouvir apenas o que não se diz. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Eu ia chegar nela. A música também é silêncio. Bach sabia disso, Mozart também. Beethoven só soube quando ficou surdo. O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E que é o vento senão ar? A música é o silêncio em movimento. – O mesmo com as palavras. – Não senhor: as palavras estão em quem fala e em quem escuta. O silêncio fica entre os dois, intocado, um silêncio enorme, intransponível. Ao passo que a música está nela mesma, isto é, no que resta além de nós. E o resto é silêncio. Adeus. Já a porta: – Reparem como o meu silêncio é mais sugestivo de que qualquer palavra. Olhou fixamente o casal durante algum tempo e voltou-se, solene, cruzou lento à rua, com a garrafa do uísque na mão".
Ano passado comprei esse livro em um sebo no Rio de Janeiro. De Sabino eu já havia lido o conto "O homem nu" e os romances "O grande mentecapto" e "A inglesa deslumbrada". Criei gosto pelo escritor e expectativa sobre esse romanance. É um texto autobiográfico. Não é tudo verdade e Sabino, no livro, se chama Eduardo.
Gostei de ler sobre a infância de Eduardo, mas quando cheguei a adolescência me abusei. Larguei o livro e já tinha desistido de lê-lo até que viajei para Belo Horizonte. Lá encontrei na frente da biblioteca municipal uma estátua chamada exatamente "O encontro marcado". Minha experiência na cidade acendeu em mim a vontade de concluir a leitura.
Agora eu conhecia algo de BH e um pouco mais do espiríto dos mineiros. Eduardo por sua vez, abandonara os dramas literários e sofria os conflitos da juventude. Nesse segundo momento senti muito mais empatia pelo personagem e pela narrativa.
Existem livros que te abraçam e te levam pra dentro deles. Com Sabino, é assim… Agora da-lhe sair deste mundo de Eduardo e seus demônios… a gente lê e fica órfão depois… uma leitura deliciosa! Se existe uma descrição de livro perfeito - é este!
Segundo citações na contra-capa, é uma das primeiras incursões de Sabino na "grande literatura", já que sua carreira é mais marcada por crônicas e contos. É uma ótima narrativa sobre uma geração (a sua própria). Consegue transmitir o clima da época (metade dos anos 50) e muito bem as inquietações do protagonista. Aquele desconforto de nunca se achar que a vida que se leva é a melhor que pode ser (ou mesmo a que se deseja).
Esse livro é muito bom e surpreendentemente bem escrito (não que eu esperasse menos), ele é muito real e fácil de visualizar, e é muito lindo também, a escrita do autor é bela, de uma maneira que não consigo explicar, a narração do peso da vida Eduardo, e do quanto ele sente, aprende, se frustra, retoma caminhos, e contradiz e se contradiz, não sei, talvez seja bonito porque é real.
" (..) finalmente a reconhecia - o homem que finalmente era- sozinho, nu e indefeso diante de si mesmo (...)". Esse era o encontro.
obs.:A única sensação que fica é que o livro poderia ter umas 100 páginas se o personagem principal procurasse um psicólogo....
Tinha a memória de infância de gostar muito do Fernando Sabino. Quis revisitar a escrita dele por esse livro, que não lera. Mas fiquei com a percepção de que é um livro que envelheceu mal.
Este é um daqueles livros que se lê e nunca mais se é mais a mesma pessoa. Uma dissecação da própria vida humana em suas mais belas e terríveis facetas, com a fragilidade do pensamento, do heroísmo, do existencialismo, da incessante busca pelo entendimento do que é ser — ou, ainda, não ser. Obra não sem razão escrita pelo grande escritor em cujo epitáfio se lê: "Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino!"
É, realmente, um livro para ser vivido — e para reviver.
A pergunta que o livro tenta responder: existe um destino? Temos uma missão na vida, designada para nós por Deus, ou estamos no mundo somente para viver um dia depois do outro, sem traçarmos grandes planos? A questão era válida para o Fernando Sabino na época(que tentou respondê-la por meio da confissão literária em forma de ficção), mas continua válida para muita gente por aí, que ainda não desistiu de encontrar um sentido para sua vida. Sabino antecipou em 20 anos a onda espiritualista dos anos 70, renovada nos 90.
“Encontro Marcado” nos põe em contato com os ritos de amadurecimento pelos quais todos passamos... não sem muita angústia e reflexão. A obra é, então, uma coleção de reflexões existenciais sobre o adultecer do próprio autor, em que o encontro marcado com os amigos de colegial, após quinze anos de sua formatura, representa o ápice da sua busca por realização pessoal e profissional, eivada pela dessacralização dos olhares infantis diante do mundo. O sofrimento é inexorável à vida.
Há aqui uma narrativa fluida, leve, saudosista e bem triste, apesar dos seus bons momentos. Durante a leitura, tive a impressão de que envelheceu mal. De que é o retrato de uma geração que se perdeu ao se concentrar exclusivamente no campo das ideias e ao ser vítima do provincianismo dos valores da época. Porém, não à toa é tido como um clássico. O livro serve como um divertido retrato de um passado recente.
O livro narra a vida de Eduardo, da infância à maturidade, pontuando fases de alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, alegrias e decepções, agonia e êxtase. Poderia ser a vida de qualquer um de nós. Na minha opinião, a obra prima do autor.
Isto é literatura brasileira. Bem-humorada, irreverente, com o pé cravado no real, a cabeça nas nuvens e atado, mesmo que frouxamente, á tradição.
Livro inesperadamente divertido e emocionante, que em muitos -- muitos mesmo -- trechos toca em problemas muito íntimos, aos quais nos deparamos ao longo da vida.
Recomendo vivamente para quem se aventurar na leitura, que assista a alguma entrevista de Sabino, pois é muito fácil imaginar o autor no lugar da personagem.
Esse livro foi bem surpreendente para mim, pois esperava que não fosse gostar, mas até que é muito bom. Só achei o final um pouco vago, sei que provavelmente foi a intenção do autor mesmo, mas finais ambíguos me incomodam.
muito bonito. na contracapa a clarice lispector disse que parece que o livro inteiro é filmado à luz de rua, e concordo. me senti vivendo a vida do meu xará eduardo e sentindo suas angústias grandes e pequenas. me senti tão imersa que volta e meia esquecia que não estava em um bar no rio de janeiro ao ler. mas minha parte favorita foi a primeira, a juventude em belo horizonte, a vontade de ser alguém que não muda de século em século.
Talvez eu não tenha gostado pelo incômodo que me causou ao ler sobre a vida de um personagem que, quando jovem, era super promissor, porém suas escolhas (ou não escolhas) acabaram o levando a viver uma vida medíocre.
This novel reminded me of Celine's method of writing, with the similar use of ellipses and sensations. It's a bildungsroman of Eduardo Marciano, a child gifted with precocity and intelligence. In spite of his knowledge and literary promise, however, he married early and rested on his laurels. As a result, he was dragged into the city's literary circles and instead fell into profligacy with both women and drink. All this time, the only awards he actually gained was from two short stories he wrote in his youth, and a record for swimming he had achieved.
After being drunk and fucking around, and absolutely doing nothing with his life, his wife ultimately left him, and he still wrote nothing of importance. The novel ends with him being forced to start life anew, because he had been an idiot.
I love writing. I mean, I write all these reviews in order to hone my writing skills, as well as to have my own catalogue for the books I've read: at least I won't forget the books that I've read, and what they were about. When I was younger I dreamed of becoming a great writer: although I was pretty good in science, I always wanted to win a Nobel Prize for Literature.
Unlike Eduardo, however, I understand that I'm far off: I don't write consistently, and most of the time, I don't write well. However, I think I possess more insight than him: at least I have a job I could rely on, and I don't get drawn toward temptations. Eduardo is a pathetic figure, but he's also an idiot, and I dislike idiots. If he had wanted women, he could have focused on them, but he would never become a good writer. But if he wanted to write a novel, he should have sat down, and written. I've never been able to do that because I allow myself to be distracted, but at least I write.
You can't be a writer if you don't write. If you only drank liquor, you'd only be a drunkard. And that was what Eduardo was: a drunkard and an idiot.
Impossível não se sentir preso a Eduaro, e aos seus erros, acertos e contradições. O Eduardo como bom personagem, gera sentimentos mistos no leitor; ele não fez nada de horrível e nada de excepcional: é apenas um cara comum. Gosto do personagem, dos seus pensamentos (apesar de não concordar com todos). É um personagem constatemente pertubado, mas nunca de forma exagerada. Sabino nunca perde a mão. É um bom romance de formação e uma bela estréia de Fernando Sabino.
Mais um livro catártico que mudou muito minha visão de mundo. Vou ler novamente porque a história é tão rica e detalhada que preciso aproveitar cada traço, sorver cada elemento pra ter um aproveitamento quase que por completo (é meio máquina de carnot, esse livro, eu acho)
Li na minha adolescência. Me deixou encantada. Recomendo, é mais um livro pra entrar na lista, um livro bastante poético que também vai mexer com você.
Intenso! Um pouco de loucura, uma clara angustia do personagem completamente perdido, sem rumo mas com alguns momentos de lucidez onde ele tenta se encontrar e questionar o sentido da vida. O livro é escrito de uma maneira que dá um ritmo fantástico para as experiências contadas, você se sente no meio desse turbilhão de sentimentos, um pouco confuso as vezes, inclusive algumas frases pela metade como se estivesse "de porre" (o que acontece um bocado com Eduardo) e só entendesse algumas partes do que as pessoas ao seu redor falam.
"Há uma fresta em minha alma por onde a substância do que sou está sempre se escapando mas não vejo onde nem porquê. Depressa, não há tempo a perder."
"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro."
"Sentia-se inseguro como no instante de se atirar na piscina em dia de competição. Mas isto não era nada: era um estado permanente de angústia, crônico, suportável – era a fragilidade do ser diante da brutalidade e da crueza da vida, mas era ainda a vida, o existir e se saber presente. A evasão da realidade, o vórtice negro em que se sentira cair ali na janela, como num poço, é que era a angústia, o desespero, a negação de si mesmo – o não-ser, o vazio, o nada."
"Não tinha dúvida, humanizava-se: algum tempo antes as coisas eram piores, ele era pior. Algum tempo antes sofria, sim, mas sofria mal, atropeladamente, o próprio tempo aos poucos ia-lhe ensinando a sofrer melhor."
"De maneira que todos se arranjavam, se acomodavam às exigências da vida, abriam com o corpo sua passagem, iam vivendo. O tempo já não tinha importância: não se contava senão em anos, para que se pudesse ver a curva dos dias com mais perspectiva, já convertidos em experiência..."