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Céu Em Fogo

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"São múltiplas as edições de Céu em Fogo, de Mário de Sá-Carneiro, mas esta, dado ser da responsabilidade de Fernando Cabral Martins, assume-se, desde logo, como referencial [...]. Sem ser uma edição crítica (utiliza como base a primeira, preparada em 1915, um ano antes do autor morrer), actualiza a ortografia e contém breves notas sobre cada uma das oito novelas que constituem o livro. O organizador da edição, e posfácio, afirma que Céu em Fogo "pode ser algo como o resgate de Orfeu e Narciso do inferno da culpa. Uma inesperada eclosão de sentimentos fortes e felizes no sumptuoso negrume do mistério sem limite.""
(Jornal de Letras, Artes e Ideias, 08.03.2000)

wook.pt

291 pages, Paperback

First published January 1, 1915

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About the author

Mário de Sá-Carneiro

94 books174 followers
Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 19 de Maio de 1890 — Paris, 26 de Abril de 1916) foi um poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu.

Na fase inicial da sua obra, Mário de Sá-Carneiro revela influências de várias correntes literárias, como o decadentismo, o simbolismo, ou o saudosismo, então em franco declínio; posteriormente, por influência de Pessoa, viria a aderir a correntes de vanguarda, como o interseccionismo, o paulismo ou o futurismo.

Nessas pôde exprimir com vontade a sua personalidade, sendo notórios a confusão dos sentidos, o delírio, quase a raiar a alucinação; ao mesmo tempo, revela um certo narcisismo e egolatria, ao procurar exprimir o seu inconsciente e a dispersão que sentia do seu «eu» no mundo – revelando a mais profunda incapacidade de se assumir como adulto consistente.

O narcisismo, motivado certamente pelas carências emocionais (era órfão de mãe desde a mais terna puerícia), levou-o ao sentimento da solidão, do abandono e da frustração, traduzível numa poesia onde surge o retrato de um inútil e inapto. A crise de personalidade levá-lo-ia, mais tarde, a abraçar uma poesia onde se nota o frenesi de experiências sensórias, pervertendo e subvertendo a ordem lógica das coisas, demonstrando a sua incapacidade de viver aquilo que sonhava – sonhando por isso cada vez mais com a aniquilação do eu, o que acabaria por o conduzir, em última análise, ao seu suicídio.

Embora não se afaste da metrificação tradicional (redondilhas, decassílabos, alexandrinos), torna-se singular a sua escrita pelos seus ataques à gramática, e pelos jogos de palavras. Se numa primeira fase se nota ainda esse estilo clássico, numa segunda, claramente niilista, a sua poesia fica impregnada de uma humanidade autêntica, triste e trágica.

Por fim, as cartas que trocou com Pessoa, entre 1912 e o seu suicídio, são como que um autêntico diário onde se nota paralelamente o crescimento das suas frustrações interiores.

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Displaying 1 - 20 of 20 reviews
Profile Image for Luís.
2,350 reviews1,313 followers
April 23, 2025
In the work of Mário de Sá-Carneiro, I identify two types of tension that seem recurrent to me, manifesting as central to his poetics. The first type would be composed of rising and falling movements; the second would present the opposition between conservation and dispersion. Focusing on two texts from Céu em fogo, both marked by the fictional interplay with diary writing, it is this last opposition that I seek to explore above, noting some of its nuances and taking into account, in particular, the presence of the idea of ​​transcendence, which, illuminating a specific transit towards otherness, would reveal itself as a fundamental element of how the author thinks and writes about his own subjective experience.
Profile Image for Simão Pedro.
102 reviews1 follower
November 9, 2021
Nimbado de quimeras e pretensões irrealizáveis, Mário de Sá-Carneiro viu, desde cedo, o seu céu em fogo. Como em certa instância escreve, a vida é um lugar comum e soube evitar esse lugar. Eis tudo, tudo aquilo que o controlou e guiou pela sua fátua existência.
Uma obra febril, alucinante e estonteante, que transparece excelência na prosa de Mário de Sá-Carneiro e de forma acutilante e pungente reflete o seu mundo interior. A pasmaceira e tédio perante um quotidiano doentiamente banal e o desafio insuperável em encontrar-se a si e às suas novidades levaram o escritor à procura da fantasia, de um escape à realidade dolente e mordaz, encontrada nas personagens que compõem cada conto. Todas elas, ou grande parte delas, partilham com Mário a visão daquele que será o único e acessível subterfúgio: a morte. Pelas palavras do autor, numa dedicatória a um amigo cuja vida findou pelo suicídio: “Foi triste, muito triste, amigo a tua sorte-Mais triste do que a minha e malaventurada. / …Mas tu inda alcançaste alguma coisa: a morte, / E há tantos como eu que não alcançam nada…”. Pela vida, os dias compunham-se de boémia, prazeres carnais, devaneios, melancolia e euforia.
A 26 de abril de 1916, todas as vicissitudes e tédios culminam na morte daquele que é um notável escritor português e um exemplo ilustre da geração de Orpheu e daquele que poderia ser hoje um muito aclamado e louvado autor português, se a vida lhe tivesse reservado aprazíveis caminhos. No entanto, a sua herança escrita permite um enleio assombroso nas suas palavras e cogitações, tão notavelmente trabalhadas e engendradas, zebradas de cativante exaltação e acuidade!
Profile Image for mariana.
142 reviews9 followers
May 6, 2022
“Ora o artista, quando olhava para a sua infância, sofria uma saudade tão grande, um enternecimento tão comovido… Só nessa época indecisa ele fora feliz – tivera tudo. E porquê? Percebera-o nitidamente nesse instante – tinha ali o exemplo em sua face: É que, na infância, não possuímos ainda o sentido da impossibilidade; tanto podemos cavalgar um leão como uma abelha…” pag. 89 🫶🏻
Profile Image for João.
43 reviews17 followers
October 20, 2025
"O homem estranho sonhava a vida, vivia o sonho. Nós vivemos o que existe; as coisas belas, só temos força para as sonhar. Enquanto ele não. Ele derrubara a realidade, condenando-a ao sonho. E vivia o irreal."
Profile Image for Lakshmi.
12 reviews
July 7, 2017
"Viver momentos radiosos, ter corpos áureos, bocas imperiais, e a glória ungir-nos em auréolas que ascendem — é isso ser feliz? Mentira! Pois tudo passa, esvoa tão rápido como o tempo. E sofremos da saudade: da saudade do que foi, a menos cruel porque já passou, da saudade do futuro — que desconhecemos — da saudade do presente, que sentimos bem o que é, e por isso se nos torna a mais contorcida de angústia.
O homem felicíssimo, em verdade, é um pobre recebedor de contas pelas mãos do qual, diariamente, milhões se precipitam e que no entanto vê os seus filhos morrerem à fome. Assim por entre os dedos do homem venturoso a beleza caminha, é certo, mas não permanece; minuto a minuto se esgueira em rodopio alucinante. E mesmo que a beleza volte, se esse homem tiver alma, for um artista, os olhos de sombra se lhe marejarão de lágrimas — saudoso do que passou e não mais tornará, só porque já foi.
A vida, sim, a vida é uma estrela encantada e multicolor da lanterna-mágica da minha infância. No lençol que estendíamos e sobre o qual o meteoro fantástico se projectava inconstante, golfando novas formas, novas cores, eu, não podendo crer na sua mentira, enclavinhava as minhas mãos fascinadas, tentando embalde fixar sobre o pano, palpar, entrelaçar a maravilha que vertiginosamente se escoava, e era só luz a tingir-me os dedos, luz movediça — ilusão desfeita...
Tal como a vida. A vida não se pode tactear: é brilho só, imagem fugitiva apenas. Pois o que foi não se pode reproduzir: nem com os mesmos beijos, o mesmo sol, os mesmos estrebuchamentos. E um segredo não se repete.
Como seria grande aquele que lograsse realizar a vida! dar forma, persistência, a todos os momentos belos, fulvos de angústia — em todo o caso grandes, sensíveis — que alguma hora existisse!... Para tal a vida criaria novas dimensões; seria altura, vertigem, ela que é só superfície...
Erguer a vida, sim, erguê-la em ameias de ouro e bronze, engrinaldá-la de mirtos se quiséssemos, e podê-la, podê-la enfim tocar... dar resistência às bolhas do gás fantástico, à espuma loira do champagne — ter tido e ter! Glória máxima! Apoteose!
Pois bem — voos de triunfo! — eis no que reside o meu segredo; é essa a minha arte, a arte perdida que admiravelmente venci!
Sim! eu acastelo a vida em ânsias eternizadas. Ergo dela aquilo que me sentiu — ou belo ou doloroso, ou real ou falso!
E se uma tarde me varou esmaecidamente a sensação de ter esquecido um grande amor que nunca sofri — esse instante bizarro, perturbador de errado, eu soube-o fixar: esculpi-o, tenho-o. Sei vê-lo, ressenti-lo, como quem folheia um livro já lido, mas que pode tornar a ler.
Graças ao meu segredo eu folheio a existência, — mas folheio-a realmente; não evoco apenas, morto de saudade vaga, as suas páginas rasgadas. Que para os mais, os dias da vida são páginas rasgadas logo depois de lidas.
— E como erguer o instante, volvê-lo perdurável?
De mil formas, como de mil formas o artista de génio executa a sua arte.
O artista de génio — não disse: o Deus. O Deus, esse, cria. E assim, tristemente acentuo, se a minha arte edifica a vida, não a sabe entanto viver: O momento dourado, eu posso palpá-lo, revê-lo, tornar a beijá-lo em chama, mas não — ah! mas não! — fazer-lhe brotar outras asas de fogo. Apenas os mais tudo perderam — alma e corpo das horas. Eu, se perdi as almas, tenho os corpos para mais frisantemente as recordar. Embalsamei o instante.
Eis tudo.
Não ressuscito. Petrifico".
Profile Image for Rocha Medeiros.
3 reviews1 follower
November 15, 2022
Mário de Sá Carneiro tem um estilo distinto no que toca a descrições, um surrealismo sempre presente, sombrio, onírico, sem qualquer barreira na imaginação nem na perversão, o suicídio e o homicídio são temas desta obra, abordados muitas das vezes de uma forma um tanto doentia, mas que nem por isso perde a beleza na sua essência. Uma obra escrita com todos os sentidos, sinestesias e do uso pecúliar da cor, que Mário de Sá Carneiro faz de uma forma absolutamente esquizofrénica.
Profile Image for Sara Cardoso.
114 reviews8 followers
October 10, 2024
uma ode ao modernismo no seu auge, onde as obsessões depravadas do Homem modernista encontram o desejo incessante pela imortalidade do génio. contos que abraçam a loucura, fetiches abjetos e a multiplicidade de contrariedades que cabem dentro do “eu”. completamente mórbido, absolutamente chocante e provocativo. não há melhor forma de começar a spooky season do mês de outubro.
Profile Image for Lightwhisper.
1,204 reviews3 followers
January 22, 2019
Nunca tinha lido e realmente que escrita de beleza poética misteriosa, tanto lúcida como vagueando pelos sonhos reais de uma alma em sofrimento ou um corpo ardente de desejo. Entre estórias simples da vida ou outras de maior escuridão, algumas por fechar e outras fechadas por si.
Profile Image for Rita.
22 reviews
August 19, 2024
RIP Mário de Sá-Carneiro, you would've loved being non-binary.
Profile Image for Lorenzo Gomez oviedo.
59 reviews1 follower
January 30, 2023
Una serie de cuentos y novelas cortas que entretejen una única obsesión: el Misterio. Cada texto nos seca la boca, nos muerde los ojos, nos habla bien fuerte acerca del entramado de la urgencia que es estar en vida buscando una salida.

Somos todas las puertas que encierran un silencio negro al final.
Profile Image for Salomé Esteves.
481 reviews20 followers
January 23, 2017
O medo de terminar um livro, na antevisão triste de se ver sem ele, foi isso que senti com este livro. Sá-Carneiro é de outro mundo, de uma loucura extravasada. Apesar de as suas narrativas terem pormenores e expressões recorrentes, são sempre singularmente brilhantes. A sua escrita é, acima de tudo, hipnótica.
Para mim, o melhor conto é sem dúvida o primeiro, "A Grande Sombra". O começo prolongado, o clímax tardio e fugaz que desagua num fim apoteótico, fazem deste um dos melhores texto de Mário de Sá-Carneiro.
Profile Image for Angel Serrano.
1,373 reviews11 followers
April 24, 2013
RElato pseudomisterioso, pseudofantástico en la más pura tradición de Poe, pero sin alcanzar su maestría. En un ambiente pan europeo de sofisticación, un adolescente descubre a la vez el amor y la muerte.
Profile Image for Lee.
171 reviews
February 15, 2017
"Eu sou feliz porque tenho tudo quanto quero e porque nunca esgotarei aquilo que posso querer. Consegui tornar infinito o universo - que todos chamam infinito, mas que é para todos um campo estreito e bem murado."
3 reviews
September 13, 2016
Livro esquizofrénico, variando entre a confusão de adjectivos difusos e rasgos de genialidade que tornam as obras de Mário Sá-Carneiro incríveis. Página 98 o meu excerto favorito.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Raquel Alves.
72 reviews1 follower
May 17, 2022
Não esperava algo assim, em 1914.
Nem sempre foi fácil de ler, mas de quando em vez a leitura acelerava ao ritmo do interesse da escrita.
Displaying 1 - 20 of 20 reviews

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