Salazar – Uma Biografia Política é a primeira biografia académica escrita sobre Salazar. O autor, Filipe Ribeiro de Meneses, é um investigador português a leccionar actualmente na University of Ireland, na Irlanda:
«...as consequências das decisões de Salazar eram sentidas por povos na Europa, África e Ásia. Salazar reconfigurou a política portuguesa, embora não tivesse partidários pessoais nem estivesse disposto a cortejar a opinião pública para os conquistar. Guiou o seu país através do campo minado da diplomacia e política da Guerra Civil de Espanha e da II Guerra Mundial, emergindo incólume da última, não obstante as suas idiossincráticas alianças políticas e a sua neutralidade em tempo de guerra. Sob Salazar, Portugal foi membro fundador da NATO e da EFTA e diligenciou no sentido de se associar à CEE. Simultaneamente, recusou-se a aceitar a inevitabilidade da descolonização, mantendo as suas colónias africanas e asiáticas e desenvolvendo uma aliança flexível com a Rodésia e a África do Sul para proteger as suas mais preciosas possessões, Angola e Moçambique. Quando Salazar saiu de cena, Portugal era alvo de críticas infindáveis nas Nações Unidas e perdera para a União Indiana o grandiosamente intitulado Estado Português da Índia, mantendo todavia a sua atitude de desafio perante o resto do mundo.»
FILIPE RIBEIRO DE MENESES nasceu em Lisboa, a 20 de Setembro de 1969. Licenciou-se e doutorou-se no Trinity College Dublin, e leccionando no Departamento de História da National University of Ireland, Maynooth. É investigador integrado do Instituto de História Contemporânea (IHC-FCSH/UNL) e autor de, entre outras obras, União Sagrada e Sidonismo: Portugal em Guerra, 1916- 1918 (2000), Franco and the Spanish Civil War (2001), Correspondência diplomática irlandesa sobre Portugal, o Estado Novo e Salazar (2005), Afonso Costa (2010), Salazar: uma biografia política (2010), Paiva Couceiro: diários, correspondência e escritos dispersos (2012) e A Grande Guerra de Afonso Costa (2015).
Como o próprio título indica, esta é uma biografia de Salazar. Não incide só sobre a vida política, mas aborda também a sua vida pessoal: é chamada de "biografia política" porque Salazar vivia, basicamente, para a política. A sua vida consistia em governar e tratar de assuntos de Estado, deixando pouco espaço para a vida privada.
Ler este livro fez-me perceber que a ditadura portuguesa não foi tão "benevolente" como à primeira vista podia parecer. Na escola ensinam-nos que fomos "bons colonizadores", que não houve tantas mortes assim durante o regime e que não foi tão mau como na Alemanha nazi ou na Espanha franquista, por exemplo.
Mas foi. Não foi só Humberto Delgado que morreu durante a era Salazar, muitas centenas de pessoas foram presas, torturadas e deixadas para morrer. Só no campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, (sim, Portugal também teve um campo de concentração) morreram 32 pessoas. Nas prisões de Lisboa, muitos políticos da oposição eram deixados à sua sorte, não importa se tinham doenças cardíacas ou se podiam morrer a qualquer momento. Cuidados médicos não existiam.
Não, Salazar não era tão terrível como Hitler ou Estaline, mas também era terrível. Centenas de pessoas morreram pela sua ideologia. Centenas de pessoas morreram para que Portugal fosse um país livre e democrático. Convém nunca esquecer.
Penso que é das poucas biografias escritas (senão mesmo a única) sobre Salazar no pós-25 de Abril, o que diz muito do "respeitinho" imposto no Estado Novo. Ainda se sabe pouco e estuda-se menos ainda sobre aquela que foi a figura portuguesa mais importante do século XX. Esta obra resulta de sete anos de investigação e, em mais de 800 páginas, o autor condensa 40 anos da vida de Salazar.
Ler esta biografia ajudou-me a compreender bastante melhor este período da história portuguesa e, obviamente não pela ideologia, acho sempre importante tentar conhecer a mente daqueles que nos governaram. Recomendo a quem estiver disposto a ler um calhamaço destes e a quem quer conhecer melhor a figura central do Estado Novo.
Antonio de Oliveira Salazar is one of my favourite dictators. He is a definite proof that everybody can be a dictator, whatever their backgrounds are, provided that they are willing. Salazar was a professor of economics in University of Coimbra, entering politics after being invited by the military dictatorship in 1926 to serve as minister of finance. He succeeded in balancing the budget of the almost bankrupt Portugal at that time. After that, he gradually rose in power, eclipsing the military until the establishment of his own regime, the Estado Novo, or New State, which only surpassed by the dictatorship of neighbouring Francisco Franco (which started a little bit later). He successfully steered Portugal as a neutral during World War II by carefully balancing it between Axis and Allies. Under his rule, Portugal became the last colonial power to abandon its possessions in africa, after fighting a grueling, colonial war which lasted even after Salazar passed away. Never believing that his regime would outlast him, Salazar never prepared for the eventuality of his succession, leaving his political machine unattended, and even believed that he was still in rule after not being told that he was dismissed from the government after having a bout of stroke, probably died without knowing the truth. Compared to his contemporaries such as Hitler and Mussolini, his personality would be very boring. However, his accomplishments, starting with the longevity of his regime, surely passed those two people. Regarding this book, I started reading with a great amount of excitement. However, the length of the book, and the huge number of footnotes in almost every pages, stopped me from giving it five stars. I guess reading this book for fun was not a good idea after all...
Written in England by a portuguese it is an important contribution for a serious work about the political life of one of the most important figures of the contemporary History of Portugal. Essencial to compreehend the man behind the regime and consequently be critic about the political life of my country - today and the day before.
António de Oliveira Salazar was the dominant figure in Portuguese politics and life from the second half of the 1920s to the late 1960s. First as finance minister, then as prime minister, he was, in fact, the most powerful man in the country and, although he was never formally the top man in the state hierarchy, he was the de facto dictator of Portugal for about forty years. However, as far as dictators goes, he was not as ruthless and bloody as his 1930s and 1940s European contemporaries, and also a lot duller than most of them. He was, basically, a rather gray personality. Supposedly a finance genius that balanced the disastrous state of Portuguese finances (which, actually, does not seem all that difficult, given the undisputed power vested upon him and the repressive apparatus build up by the military dictatorship and their Estado Novo regime), Salazar had a very conservative, antidemocratic, backward, and catholic frame of mind and, to my mind, an utterly repulsive worldview. Nonetheless, he was a clever political animal, capable of intense hardwork and possessing notable maneuvering skills (not least with the military), as is clearly transparent in this interesting political biography by a Portuguese scholar working at the National University of Ireland and first published in English by Enigma Books under the title Salazar: A Political Biography. This is a quite informative work. However, I felt it somewhat lacking in what concerns the politically repressive nature of the regime headed by Salazar and his role in building and directing it. Only when he writes about the period after World War II does the author spend some time and space dealing with this side of events and the dictator's involvement in the repression of the 1940s and 1950s. It is almost as if Salazar had nothing to do with the building and workings of the repressive apparatus in the 1920s and 1930s, being just a kind of conservative Christian democrat that miraculously had barely no opposition to his policies, and this perspective sounds (and is) a bit off the mark...
Li-o em dois períodos. Até c. 1960/61 logo após quando foi publicado; o restante agora em Setembro/Outubro de 16. Já me não lembro bem do que li para trás, mas tenho ideia que era uma biografia razoável, bem pesquisada, que não se perdia nos «clichés» estafados acerca do biografado, que já enjoam, sinceramente.
Pois bem, o capítulo XI entra por eles, pelos lugares-comuns sobre Salazar, como cão em vinha vindimada; o discurso, a escolha do léxico, é sub-reptìcio, de modo a inculcar no leitor incauto má impressão do biografado; frieza, má índole, conivência e culpa de crimes, até. Fiquei estupefacto. Que terá dado ao autor, não imagino.
A linguagem entranha-se, por mimetismo. Em muitas (in)consciências torna-se reflexo condicionado. Todo o linguajar hoje espelha isso. O Meneses é fruto do meio. Vicejou com alguma promoção me(r)diática porque veio rotulado de novidade heterodoxa. E porque estamos muito órfãos da verdade sobre Salazar...
Imagino só quanta desta prosa subliminar não anda lá para trás, no resto do livro, apesar da boa impressão com que fiquei ao princípio. E concluo que é este Ribeiro de Meneses só mais um desses que não parecem, mas pouco fogem aos lugares-comuns da arenga antifascista. No fim pouco adianta. É só mais um catecismo que reza pelas mesmas palavras a ladainha do possível. Jaime Nogueira Pinto fez o mesmo. Parecem rebeldes quando não passam de idiotas úteis.
Uma biografia de fôlego, escrita por um historiador, não devia referir Salazar como «primeiro-ministro»: é anacrónico e nada rigoroso. Pode decorrer da redacção original em inglês e do descaso da tradutora (Teresa Casal). Pior são certas tiradas em estilo telejornaleiro, mas também disso já não leva o idioma português emenda.
Quarenta anos de poder não permitiram compreender o pensamento de Salazar sobre o exercício do próprio poder. Uma leitura importante sobre um tempo que urge conhecer e desmistificar para que a leitura política do tempo presente seja compreendida no futuro. O olhar aberto retrospectivo sobre a História será sempre a melhor forma de compreender os mitos do presente e construir o futuro. Mais que uma biografia sobre um homem que se procura esquecer este livro é o retrato dum certo Portugal que se mantém vivo no presente.
Para uma biografia política, os seus opositores estão pouco presentes. Duas referências a Mário Soares, uma a Álvaro Cunhal, poucas sobre os anarquistas e Rolão Preto. Há uma diferença entre isenção e branqueamento, e apesar de mais difusa, esta é apenas mais uma tentativa de apresentar Salazar com o homem que sacrificou a vida por Portugal.
E também tinha excesso de pormenores, sobretudo nos bastidores da política totalmente dispensáveis e cujo espaço poderia ter sido utilizado para retratar o país com mais detalhe, já que foi esse o verdadeiro efeito do Estado Novo.
Mais de oitocentos paginas extremamente documentadas com a mais completa biografia de Salazar. Se nao esquece nenhum detalhe da vida do ditator nostalgico, patriota, austero e implacavel, o livro do Ribeiro de Menezes é no global extremamente falha. Primeiro porque o mar de informaçoes nao destaca os pontos chaves do regime e da vida do Salazar, sendo dum pudor pouco compreensivel sobre a violencia do regime, as persegiçoes e as torturas. Segundo porque a evoluçao da sociedade portuguesa é tambem deixada do lado, quando essa sociedade era nao somente muito influenciada pela ditadura conservadora mas tambem pressionava cada vez mais pelas reformas. O livro para bem antes da Revoluçao dos Cravos, mas com certeza nao ajuda em nada a explicar como o Portugal quasi passou nesses eventos de Maurras a Che Guevara...
Filipe Ribeiro de Meneses tem em "Salazar" uma prova de fogo do seu talento enquanto historiador e investigador. Mais de 800 páginas que retratam a vida do ditador desde o nascimento até à morte, em 1970. Porém a vida privada de Salazar pouco entra nas contas do biógrafo, que se interessa mais pela figura do professor de Coimbra a partir da sua entrada na vida política activa, primeiro enquanto deputado; a partir de 1928 enquanto Ministro das Finanças. A narrativa é fluída e muito alimentada pelos discursos de Salazar e outros testemunhos, de embaixadores a figuras próximas do ditador.