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Pode Um Desejo Imenso #1-3

Pode um Desejo Imenso

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Pode Um Desejo Imenso conta a história de Nuno Galvão, professor universitário de Literatura, que pensa ter descoberto a chave para a compreensão da poesia lírica de Camões: a paixão do poeta pelo jovem D. António de Noronha, de quem Camões teria sido precetor. Nuno está ele próprio apaixonado por um estudante, em quem projeta a história de amor por si imaginada entre o poeta quinhentista e o seu aluno.

Na parte central do livro, a narrativa volta atrás, aos tempos em que o próprio Nuno era estudante, já nessa altura ocupado com a poesia lírica de Camões e com a paixão não correspondida por um colega de curso. No final do romance, juntam-se os vários fios da história; e Nuno acaba por aprender como rumar «em direção à outra margem», onde se abre a hipótese possível de um amor feliz.

Vinte anos depois da primeira edição, esta é a versão definitiva de Pode Um Desejo Imenso, como é desejo do autor.

A versão original de Pode um desejo imenso ganhou o Prémio PEN para a primeira obra (2002) e foi reeditada quatro vezes. Agora, em 2006, o autor recebeu, por unanimidade do júri presidido por Eduardo Lourenço, o Prémio Europa / David Mourão-Ferreira, numa iniciativa conjunta da Universidade de Bari, do Instituto Camões e da Fundação Gulbenkian. Este prémio consiste na tradução para italiano e para outras três línguas europeias da actual edição de Pode um desejo imenso e é comprovativo do reconhecimento internacional que Frederico Lourenço tem vindo a alcançar.

476 pages, Paperback

First published January 1, 2002

14 people are currently reading
502 people want to read

About the author

Frederico Lourenço

65 books157 followers
FREDERICO LOURENÇO nasceu em Lisboa, em 1963. Licenciou-se, em 1988, em Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Lisboa, onde se viria a doutorar (1999) com a tese Euripidean Lyric: metre and textual tradition. É professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigador no Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da mesma instituição. Tem-se dedicado à tradução e ao comentário de clássicos da literatura grega e latina (com destaque para Homero, Vergílio e Horácio), assim como ao estudo do Novo Testamento e da versão grega do Antigo Testamento (Septuaginta). Além do estudo da poesia grega, tem-se dedicado à exegese da obra de Platão e Camões. Colaborou com a Cinemateca Portuguesa na elaboração de textos sobre cinema e na feitura de vários catálogos. Publicou ensaios de crítica literária nas revistas Journal of Hellenic Studies, Classical Quarterly, Euphrosyne, Humanitas e Colóquio-Letras. Foi colaborador dos jornais Independente, Expresso, Público e do Diário de Notícias. Traduziu também duas tragédias de Eurípides, Hipólito e Íon.

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Community Reviews

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13 (3%)
1 star
1 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 47 reviews
Profile Image for João Barradas.
275 reviews31 followers
February 16, 2019
Camões foi um mestre lírico na narração das desventuranças da nação portuguesa, com um expoente máximo n'"Os Lusiadas", em clara alusão às epopeias clássicas. Imbuído pelos espíritos desses doutores honoris causa das palavras, Frederico Lourenço almejou retratar a vida académica numa Faculdade de Letras, prolífera no estudo quinhentista e habitada por pessoas que, como quaisquer outras, apresentam dilemas, segredos, desavenças e problemas.

Neste volume que reúne uma trilogia estelar, assistimos à vida de Nuno Galvão, dividida e enredada em três etapas: o assumir de uma revelação há muito compreendida mas não revelada n'"O Curso das Estrelas"; as insinuações e os jogos de sedução face a belas estátuas gregas, fortificando um amor platónico, em "Pode um Desejo Imenso"; e as espirais de arrependimento com que a realidade nos brinda, quando pensamos estar na posse da mão com melhores trunfos, descrita em "À Beira do Mundo".

A escrita milimetricamente delineada conquista o leitor, desde cedo, e impele-o a continuar a leitura a um ritmo frenético. Paradoxalmente, apresenta inenarráveis frases longas, onde abundam metáforas, imagens e enumerações, num estilo tão familiar quanto eloquente. E o que dizer das personagens? Esses constructos não rectos nem planos mas antes projectos em idealização, sendo o leitor convidado a degustar do seu processo de construção e moldagem.
Tudo é enredado numa redundância fascinante: não só pelo facto de todos os tomos apresentarem uma morte como motivo de mudança fundamental mas também pelo último capítulo que, decorrendo no último dia do ano, rapidamente é assumido como uma porta para um novo ciclo. E nem a previsibilidade do final, poderá estropiar esta idílica história pois também o amor peca por ser previsível (ainda que não o queiramos encarar, à primeira vista).

Com uma linguagem enlevada e várias ideias ensaísticas assepticamente exploradas no posfácio, quedam as setas cravejadas em carne dorida. Os cacos, que dela restam, reflectem aspectos cirurgicamente arrancados do âmago - o desprezo pelas sombrinhas, a apetência para escrevinhar rascunhos de poemas, as referências ao Alentejo, a seres mitológicas e às constelações, a nomeação de Kafka, a construção de uma carapaça para superar as malfadadas agruras da vida. Ao contrário do protagonista, não sei se poderei perdoar esta leitura mas uma coisa tenho assente na mente: não o conseguirei esquecer!


As estrelas cadentes, detentoras da benção de desejosos impossíveis, ao circum-navegarem nos mares celestes, apresentam pontos onde o seu brilho é acentuado, como em:

"Às vezes dá ideia que e pelo nosso próprio poder de associação que nos apaixonados, pelas reminiscências, se quiseres utilizar o termo platónico, que a pessoa amada nos provoca... não sei." (pág. 194)

"Acho que no amor nunca há perigo de redundância; ou melhor: pode-se ser redundante à vontade no sentido em que chover no molhado é já de si uma componente própria do estado de estarmos apaixonados; é monocórdico amar-sr alguém, deliciosamente monocórdico... tomáramos que a pessoa amada fosse duas vezes ela própria!" (pág. 238)

"No mundo real (o mundo da poesia era outra coisa), o curso das estrelas não era flectível por obra e graça da vontade humana. E a própria "vontade" humana tinha muito que se lhe dissesse... Vontade. Sim alguns pensavam, de facto, que exerciam até ao limite do crédito oferecido todas as suas opções volitivas." (pág. 404)
Profile Image for Teresa.
1,492 reviews
May 5, 2018
"Vê, enfim, que ninguém ama o que deve,
Senão o que somente mal deseja."

— Luís Vaz de Camões

Inicio com lamentações:
Lamento-me por Frederico Lourenço ter escrito tão pouca ficção.
Lamento quem ainda não o leu.
Lamento quem o leu e o classificou no género Queer. Para mim, catalogar obras literárias com histórias de amor entre pessoas do mesmo sexo é o mesmo que o fazer por idade, por raça, por religião. Amor é amor. Não se isola em caixinhas ridículas. A menos que se trate de literatura erótica/pornográfica (aí vale tudo). Não neste romance de Frederico Lourenço, em que não existe uma única cena de sexo. Aliás, a grande história de amor deste romance é platónica. Adiante, para ver se me passa a irritação...

Pode um desejo imenso é erudito sem ser pretensioso; comovente sem lamechisse; divertido (com muitas palavras "isso não se diz") mas nunca vulgar.
A escrita de Frederico Lourenço é... quem sou eu para a definir com outra palavra que não seja Perfeita?
O enredo - principalmente na primeira parte - foca-se na vida universitária (assunto que até não aprecio muito) e que me pôs a rir à gargalhada. Na segunda e terceira parte ri menos e chorei muito. Na verdade, é uma história como tantas outras: o amor, a amizade, a família, o trabalho. O que a valoriza é a forma de a contar. Ah! e as referências literárias - Camões e cultura helénica (bem doseadas, nunca sendo maçadoras).

"Verdades puras são e não defeitos;
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos."

— Luís Vaz de Camões
Profile Image for Rita.
902 reviews185 followers
August 26, 2022
  
Pode um desejo imenso
arder no peito tanto
que à branda e a viva alma o fogo intenso
lhe gaste as nódoas do terreno manto,
e purifique em tanta alteza o espírito
com olhos imortais
que faz que leia mais do que vê escrito.
excerto de "Pode um Desejo Imenso", ode de Luís Vaz de Camões

Uma história de descobertas, de paixões platónicas, de transformações, de encontros e desencontros e de amor, tudo isto salpicado, aqui e ali, com sonetos de Camões.
Profile Image for Ana.
746 reviews114 followers
May 30, 2019
3 estrelas porque gostei, mas não posso dizer que tenha gostado muito. A ver se consigo explicar porquê.

Em primeiro lugar, acho que o livro peca por excesso de referências à lírica de Camões e à sua ligação aos clássicos. Se, no início, achei estas referências interessantes, em várias ocasiões tornaram-se tão excessivas, que o texto se transformou num verdadeiro ensaio. Pode ser que isto até seja interessante para alguns leitores, sobretudo os mais ligados à área das humanidades. A mim, pelo contrário, aborreceu-me bastante. Quando quero ler um ensaio, pego num ensaio. Se pego num texto de ficção, é isso que espero ler, e embora algumas referências literárias, históricas, ou o que seja, possam ser muito bem-vindas, quando se tornam excessivas, como é o caso, acabam por se tornar irritantes.

Por último, acho que teria gostado mais deste livro, se o tivesse lido na altura em que foi publicado, há 17 anos atrás. Em 2019, uma história de amor entre homens, em Portugal, já não tem (felizmente) o poder de suscitar interesse pelo facto de tratar um tema pouco explorado. Até aqui tudo bem, um livro, para ser bom, não tem necessariamente de tratar temas incomuns ou controversos. E o livro é bom, disso não tenho dúvidas: a escrita é praticamente irrepreensível, com toques de lirismo muito bonitos, mas também humor e drama; a história é interessante, os personagens bem construídos.

No entanto, e talvez influenciada por todas as notícias de assédio que têm vindo a lume nos últimos tempos, não pude deixar de me sentir pouco à vontade ao ler sobre esta história de amor entre um professor de 40 anos e um aluno de 20. É que, para mim, não ficou claro se o rapaz estava realmente interessado naquela relação, ou se estava a deixar-se levar – porque estava deslumbrado e se sentia lisonjeado pelo interesse do professor que admirava, porque estava na posição vulnerável de quem é mais jovem, menos experiente, etc. O livro retrata-nos uma espécie de amor de Adriano e Antinoo, mas eu dei por mim a lembrar-me mais do Kevin Spacey e dos jovens atores que o acusaram de abuso, do que propriamente dos amores da Antiguidade. Aqui não houve festas malucas em Hollywood com pedradas e bebedeiras, mas o rapaz também se encontrava numa situação de particular fragilidade, que não detalho, para não introduzir “spoilers”.

Por tudo isto, li esta história com a estranha sensação de que me estavam a querer convencer que tudo era mais bonito e inocente do que, possivelmente, seria. No entanto, há que ressalvar que este é apenas um volume de um conjunto de três, e que foi o único que li. Se tivesse lido os outros, talvez tivesse ficado com uma impressão diferente…

Resumindo e baralhando, e pesando todos os prós e contras, posso dizer que foi uma boa leitura.
Profile Image for Cat .classics.
274 reviews121 followers
June 19, 2023
Uma escrita rápida e fácil, devido ao enredo mais prosaico do que erudito, embora esse entrecruzar de linguagens me tenha baralhado. Criei expectativas relativamente ao sub-enredo camoniano, que depois se esfumaram, porque a vertente ensaística é, de facto, demasiado hermética para a compreensão do leitor comum, que também sou eu.
Fiquei de pé atrás com este Nuno, demasiado bonzinho, demasiado herói, rico, magro, inteligente, com boa memória e generosidade. Com o facto de quase não haver uma personagem feminina dita normal, e serem todas conflituosas, malucas, histéricas e superficiais. Com as referências de inferiorização aos professores de português do secundário. Com uma relação professor-aluno muito forçada, com tudo a acontecer em pouco tempo, de forma muito conveniente para uma narrativa veloz.
Mas o mais interessante é que o Autor conseguiu agarrar-me quase sempre à história, ainda que eu tivesse sentido que muitos diálogos e situações ocorridas parecessem ter saído de uma novela portuguesa da TVI.
Por isso tudo, não consigo nem dar 5 estrelas nem 3. 4 vai bem.
Profile Image for Álvaro Curia.
Author 2 books536 followers
July 21, 2020
Para um livro se transformar num dos meus preferidos de sempre tem de cumprir requisitos fundamentais: conter uma história, de preferência de uma ou mais famílias; abordar as relações de um ponto de vista original mas realista; ter uma escrita inteligente, algo poética mas com sentido de humor; falar da realidade tornando-a mirabolante (a tal tragédia da vida normal); prender através de um ritmo que não me ponha sempre a olhar para o número da página e, por fim, ensinar-me algo novo, seja sobre uma comunidade, um país, uma cultura ou uma forma de pensar.

Não é fácil. Mas no parágrafo anterior descrevi este “Pode um desejo imenso”. Uma trilogia (agora condensada num só livro) que narra a história de Nuno, Vicente e uns quantos familiares e colegas, pelo Portugal dos anos 80 e início do milénio, num mundo académico recheado de espantos e numa classe média alta plena de sobressaltos.

Frederico Lourenço pôs-me, além do mais, a admirar duas coisas de que não sou grande fã: Camões e Lisboa. Mas dou a mão à palmatória pois quer o poeta, quer a cidade, descritos pelo autor, conseguiram cativar-me de tal modo a querer experimentá-los mais.

É daqueles livros absolutamente perfeitos, em que qualquer descrição do enredo que fizesse poderia tornar a experiência de leitura menos empolgante e por isso não o farei.

Faço questão, isso sim, de o ler de novo. E de me espantar com o facto de este livro não constar do plano nacional de leitura, não ser já adaptado a um filme, não ter grandes cartazes nas ruas a anunciar que existe.

Que maravilha gostar de ler e poder, de vez em quando, descobrir estas imensas avenidas que tanto me falam de mim próprio.
Profile Image for Joana.
63 reviews12 followers
March 9, 2023
Pode um Desejo Imenso foi provavelmente o livro pelo qual mais ansiei em 2022. Certamente, criei expetativas altíssimas e quanto mais altas são, maior a probabilidade de desilusão. Não sei se foi isso ou se simplesmente não gostaria do livro independentemente da ideia preconcebida.
Estava à espera de um desenvolvimento de personagens diferente, de um aprofundamento das relações também muito maior e de uma escrita menos presunçosa. Pareceu-me que o enredo tinha muito potencial mas que o seu desenvolvimento ficou aquém.
Tendo em conta a maioria das opiniões aqui no Goodreads (de leitores que tenho em enorme consideração), não descarto a grande possibilidade de ser eu o problema.
Profile Image for Margarida Galante.
461 reviews41 followers
September 5, 2020
Há muito tempo que não lia um livro com esta urgência, sem querer parar antes de chegar ao fim da história. Agora, que já cheguei ao final, tenho pena que acabou.
Não conhecia o autor e nunca tinha ouvido falar deste livro. Como é possível que não seja um best-seller português?
Profile Image for Vasco.
89 reviews2 followers
May 4, 2022
4.6 estrelas.

Nunca tinha lido uma obra que conseguisse retratar o mundo académico de forma tão realista e acutilante como esta (especialmente em Portugal). Compreendo que, sendo uma homenagem à lírica Camoniana, algumas partes sejam muito eruditas e académicas, como uma espécie de ensaio (o que pode não ser acessível a todos). Ainda assim, o desenrolar da narrativa central propriamente dita não sai de todo prejudicada. Adorei a construção temporal dos três volumes, permitindo observar o crescimento da personagem principal, das relações que estabelece com os demais, da sua libertação profissional e emocional (ainda que uma revelação despropositada seja veiculada a meio do segundo volume, o que pode retirar alguma avidez à necessidade de saber o destino de uma personagem particular). O último volume encerra o livro de uma forma especial, com algumas subtilezas e coincidências muito dignas e bem arquitectadas.

Um livro que se lê num ritmo vertiginoso, dada a fluidez do discurso, os diálogos bem construídos e as descrições pertinentes.
Profile Image for Sofia.
1,033 reviews129 followers
July 31, 2023
Esperava algo mais erudito e pesado, mas grande parte do livro é ligeiro, sendo que existem alguns momentos camonianos - poucos - que de facto estão além do mero leitor comum. Grande parte do livro é de leitura fácil, por vezes demasiado (alguns diálogos assemelham-se a diálogos televisivos), o que torna estas breves oscilações de registo de linguagem mais estranhas e de difícil compreensão.
Tenho pena que as personagens femininas sejam um conjunto de clichés e que o herói seja demasiado bonzinho, sem falhas nem erros.
Contudo, a história prende o leitor (embora a partir de certa altura - o comboio - aquele final fosse previsível) e é uma leitura agradável.
3,5 estrelas
134 reviews3 followers
Read
November 3, 2018
Há encontros assim: que causam espanto!
Fiquei rendida. Gostei da escrita. Gostei do conteúdo. Apetece sempre mais uma página!
Afeiçoei-me muito ao "Nuno" e fiquei feliz com o final. Um final extraordinário, e feliz: uma raridade!
Um livro cheio de amor e de humanidade, com as suas maravilhosas imperfeições.
Já estou cheia de saudades destes "amigos".
Curiosa por ler mais ficção do autor, mas, consciente que é difícil superar este livro que me comoveu e enterneceu e me aconchegou.
A dada altura do Posfácio, escreve Frederico Lourenço "[e]u queria escrever um romance que se lesse compulsivamente (...)" e escreveu.
Profile Image for tiago..
462 reviews135 followers
April 5, 2022
Que livro extraordinariamente viciante! Há muito tempo que não lia um livro tão rapidamente, com tanta avidez por chegar ao seu final. É, com efeito, uma das coisas em que toda a gente que lê este livro concorda: goste-se muito ou pouco, fica-se sempre agarrado. E eu, devo dizer, gostei bastante.

Frederico Lourenço tem uma escrita cheia de sentido de humor, literata mas fluída, e que deve muito à literatura clássica em que se inspirou. Esta inspiração revela-se sobretudo, parece-me, mais nos temas que na forma da escrita: é um livro que vive muito de grandes amores trágicos, que tomam conta de uma vida, que lhe dão significado. Para mim, esse é um dos grandes pecados deste excelente livro, essa conceção de amor anacrónica, que tão estranha me parece nos sécs. XX-XXI, com que me posso identificar tão pouco. O outro pecado é entrosar ensaios sobre Camões com o enredo da segunda parte do livro. Não duvido que há quem se interesse suficientemente pela interpretação da poética camoniana para ser cativado por esses ensaios - eu simplesmente não sou uma dessas pessoas. Não que, leia-se, eu desdenhe Camões - de maneira nenhuma - simplesmente não me interesso por especulações impossíveis de confirmar quanto a qual poderia ser o verdadeiro significado dos seus poemas.

Enfim, resumindo, que divago: livro perfeito não será, mas é um livro excelente com toda a certeza. Lê-se num torvelinho; e se mais livro houvera, mais leria.
Profile Image for Eduardo.
68 reviews28 followers
May 5, 2022
"Menos contradição, mais clara vista".
Profile Image for Vicente.
75 reviews39 followers
November 11, 2020
Gostei da trilogia, que classifico deste modo por sentir que os 3 volumes não funcionam individualmente, articulando-se apenas como 3 histórias na vida dos personagens, nomeadamente Nuno, Vicente e Helena.

As personagens estão bens construídas e inserem-se num mundo que me interessa bastante, compondo (sobretudo no primeiro volume) o grupo de "Lírica", que se dedica às "Rimas" de Camões.
Os dois primeiros livros são mais bem conseguidos que o terceiro, mas todos se lêem de forma bastante rápida, sendo esse o maior elogio que posso fazer ao livro: sem descurar na qualidade literária, consegue ser um autêntico "page-turner". E isto sem assassinatos ou vilões ou cenas escaldantes baratas.

Critico particularmente a tentativa do autor de dotar este livro de uma erudição exacerbada que lhe rouba muita da cadência e compromete em grande parte a opinião que tenho do livro (não pelo facto de o tornar mais maçador, o que acaba por não ser o caso, mas sim porque o faz parecer como um pavonear de conhecimentos linguísticos que quase nada acrescentam para o leitor comum). Saliente-se a passagem com que termina "Pode um desejo Imenso", a 2ª parte, que se não fosse isso teria uma melhor classificação da minha parte.
O outro aspeto de que não gostei é o facto que já mencionei de o livro funcionar apenas com as 3 partes (que antes tinham sido publicadas individualmente). Cada uma das partes acaba por conter um episódio que define a vida de Nuno, mas entre esses momentos dão-se cenas irrisórias para a história global.

Apesar de não ter tido um impacto pessoal em mim e de o fluir da escrita (que, note-se, é muito boa) não fazer muito o meu género, aconselha-se a leitura de "Pode um Desejo Imenso".

Classificando os 3 livros:

Parte 1: "O curso das estrelas" 7.5/10
Parte 2: "Pode um desejo Imenso" 7.5/10
Parte 3: "À beira do mundo" 5/10
Classificação global: 7.5/10 (funciona muito bem como um todo)
Profile Image for Tamára.
254 reviews64 followers
November 1, 2022
Terminado ✅ 3,4 ⭐️
O Frederico tem uma escrita irrepreensível e inegavelmente bonita. (10/10)

O livro conta a história de Nuno Galvão, professor universitário de Literatura, “que pensa ter descoberto a chave para a compreensão da poesia lírica de Camões: a paixão do poeta pelo jovem D. António de Noronha, de quem Camões teria sido precetor. Nuno está ele próprio apaixonado por um estudante, em quem projeta a história de amor por si imaginada entre o poeta quinhentista e o seu aluno”.

Gostei do livro mas não o adorei. Achei que a utilização de certos termos académicos foi um pouco excessiva a determinado ponto. Apesar disso, a primeira parte do livro deixou-me com uma grande curiosidade para descobrir o que iria acontecer a seguir.

Foi neste ponto, segunda parte, que o livro se tornou um pouco aborrecido.
Na terceira parte infelizmente não consegui perceber se o Filipe estava ou não de facto apaixonado pelo Nuno. Ou seja, será que o Filipe, num momento mais difícil se deixou levar por alguma pressão feita pelo professor Nuno?

Achei o livro triste, escrito em tom nostálgico(na minha opinião) e que no fim acrescentou muito pouco à minha “vida literária”.
Profile Image for Valéria.
126 reviews26 followers
August 17, 2022

I promised myself that I would start writing more book reviews for my own sake and with that said I shall attempt to do this book justice.

This book is written by none other than Frederico Lourenço, if you are Portuguese and have no idea of who this man is then shame on you. (he wrote my favorite Portuguese translation of the Iliad, I am passionate about this matter okay?)

I usually am quite skeptical of reading books by authors of whom I've only read translation work and even though I had high expectations for this book I have got to admit that even after some days of processing what happened I still find myself quite uncertain concerning my final thoughts regarding this work.

“Pode um desejo imenso” recounts the life of our main character Nuno through his days as a Professor where he falls in love with one of his students as well as his days as a university student himself dealing with a complicated and fluctuating relationship with one of his colleagues.
This is an explicitly queer history that shows not only the struggles of growing up in a society where queerness is misunderstood by the many but also shows how queer relationships themselves are many times not exactly as ideal as many forms of media make them out to be, which honestly was quite the relief for me since I am not the biggest fan of the constant ‘good’ and idealized perception of queer relationships that is considered as the ‘correct’ way of representation.
At first, I had been given the idea that the structure of this story was similar to that of “Master and Margarita” by Bulgakov with ever-changing settings of time and place, but as with many of my initial presuppositions regarding this book, I was incorrect. The specific edition that I read contains all three volumes of the story, the first and last one taking place in the current timeline with Hugo as a Professor and the second one with Nuno as a Classics student.
Did I find the story interesting? Certainly. Were the constant references to Camões' literature and poetry quite a pain for someone who spent most of her middle school literature classes either drawing or reading books of my own? Certainly. If given the chance would I read this book again? I am not certain about that…

Do not get me wrong this book was hilarious, it is the first time I read a book in Portuguese in months and since it is supposed to cater to Portuguese audiences, the slang and the stereotypical Portuguese behavior made me audibly laugh every 3 pages, it was so comforting in a way that I am unable to fully explain, as someone who barely reads anything in her native language, and even less by authors of her own nationality, it brought a sort of solace I haven't felt in a long while.

The description of Lisbon, of the behavior of your cliché upper-class Portuguese family, of the smells and food and even sounds, they all merged together and created a wavering image of what I once proudly called my country.

Being emotional apart I must admit that if it wasn't for these ‘homely’ and nostalgic factors I don't think I would have given this book a rating as high as I gave it, the story even though gripping in the beginning eventually fades and falls behind a cloud of constant intervening action which in my case led to a weird temporary disconnection with the characters.

The love between Nuno and his student is in its beginnings simply an intense infatuation where Nuno projects this idealized version of his student’s beauty unto him, comparing him various times to an Ancient Greek statue to the point where most human imperfections are filtered and left behind, it is even quite difficult to pick up the foreshadowing of his student’s illness due to the exalting way Nuno describes his appearance.

The relationships in this book are messy and all over the place which was quite amusing to read about, Nuno is an intense character that feels things very deeply yet does not possess the full capacity to express his feelings accordingly, many times causing him to compare his own relationship dynamics with the dynamics of historical figures that he himself studies, leading to a perhaps unconscious intellectualization of his own emotions.

Is this review sufficiently appealing to you all? Have I fulfilled my role as a mediocre book reviewer in a desert corner of the internet? Hopefully yes, it is 1 AM, I have not slept in 2 days, have mercy on my grammatical errors.
Profile Image for borderline.
81 reviews2 followers
July 2, 2024
Li a versão reeditada em 2022 pela Quetzal e, apesar de lamentar ter só agora tido o contacto total com a obra, ainda bem que o fiz já com a maturidade de conhecer os meandros da Academia, do Amor, da Amizade, da doença, e de tudo o que esses fatores constroem e destroem em seu redor. Também compreendo melhor Camões e Frederico Lourenço, um dos maiores intelectuais da nossa época.
Profile Image for Pedro Alves.
11 reviews
January 2, 2024
Sendo um dos poucos livros que reli, relembrei com nostalgia os – três – momentos de entusiasmo e expetativa iniciados há quase 20 anos com a publicação da primeira parte deste livro, agora revistos e reunidos como um só romance.
Se por um lado a narrativa arrojada para outros tempos permitiu um processo de identificação e perceção de uma realidade comum, mas silenciada, através de uma incursão extremamente bem conseguida numa vivência académica, mas também no jogo social de diferentes classes e respetivas interações. Por outro, a beleza do platonismo, da principal relação do protagonista, aqui evocada, asserena todos os males de amor e possibilita toda a grandiosidade do sonho amoroso. As personagens são reais, com qualidade e defeitos, e deslocam-se num gradiente emocional, para lá da simplicidade dos dois planos primários.
A escrita, por vezes milimétrica, desarma com momentos de perfeição que ecoam para lá da leitura. E a quantidade de referências, sejam estas, literárias, geográficas, musicais ou outras, criam um entusiasmo de livro de estudo, sem que a fluidez da narrativa e das personagens se ressinta, mesmo quando são explanadas comunicações de algumas páginas sobre o homoerotismo na obra de Camões, por exemplo.
20 anos depois desta incursão pela ficção é um prazer, não só, relê-lo, mas também acompanhar a multifacetada e prolífera obra de Frederico Lourenço, sempre com enfoque, respeito e exaltação da palavra escrita.

“(...) pela mesma linha de pensamento, a parte do cérebro que se convencionou chamar “coração” terá forçosamente uma capacidade ilimitada de amar, que não tem a sua “conta certa”, que, como o universo de que é o reflexo miniatural, pode expandir incalculavelmente no espaço de um milésimo de segundo quando se desencadeia a explosão cósmica. És o big bang da minha vida, pensou Nuno, enquanto retribuía o olhar de Filipe; és um big bang que não para nunca; pões-me em expansão contínua.”
Profile Image for Teresa.
103 reviews14 followers
April 13, 2022
"Masturbação académica" foram as palavras que um prévio leitor deixou numa margem da edição (vinda da biblioteca) que li deste livro. Não sei exactamente em que sentido estaria a usar a expressão, se estaria a falar puramente da parte sexual e do contexto académico ou se estaria a falar da verbosidade e excesso de palavreado académico (autênticas dissertações num livro tão curto!) enfiados um pouco desastradamente pelo meio do enredo e apenas acessíveis a uma minúscula minoria de leitores deste livro (talvez o seu único verdadeiro público-alvo, duvido que muitos tenham paciência para as ler, eu li mas não percebi nem um terço). Penso que provavelmente as duas acepções se aplicarão a este livro. Não sei, também, se o leitor estaria a escrevê-lo de um modo depreciativa ou simplesmente a fazer uma constatação sobre o que este livro é. Se eu não conhecesse o Frederico Lourenço e a sua simplicidade e humildade, tomaria esta expressão de forma depreciativa e diria que ele era um pedante de caca, e não pegaria nos volumes seguintes desta breve trilogia. Assim, e porque tenho muita admiração e apreço pelo autor deste livro, e sei que o que ele escreve é genuíno, uso estas palavras como mera constatação. Porque sim, este livro é isso, academicismos e tensão homoerótica não resolvida. É tão claramente autobiográfico em certos pormenores que até dói pensar na vulnerabilidade a que o Frederico se expôs a escrever isto. E é muito verdadeiro ao descrever o ambiente académico, sem romantismos, porque o autor o conhece e vive. Mas interessará pouco ao comum leitor que quer um romance simples sem ter de ler passagens arrevezadas sobre a lírica de Camões, e que certamente ficará, como eu, perplexo com o final. Prefiro o Frederico ensaista ao Frederico romancista. No entanto, darei oportunidade aos outros volumes antes de dar uma pontuação aos livros individualmente.
Profile Image for César.
229 reviews55 followers
January 4, 2024
Frederico Lourenço é conhecido, principalmente, pela sua obra académica e pela tradução de clássicos, o que lhe valeu vários reconhecimentos de nota, com destaque para o Prémio Pessoa em 2016.
Este único romance corresponde a uma trilogia, publicada em conjunto por vontade do autor, e foi um dos melhores que li este ano, e desde sempre em português.
À enorme erudição, que me fez voltar a ler com grande prazer a lírica de Camões e ouvir Cabezón e António Carreira, Frederico Lourenço acrescenta todos os dotes de um grande escritor: sensibilidade; ironia inteligente; diálogos, que são o pesadelo de muitos escritores, muito bem feitos; personagens excelentes e complexas que nos dão a ideia de conhecermos sempre alguém parecido; e, principalmente, a capacidade de nunca nos entediar, mesmo quando o texto é mais denso.
Para não beliscar o interesse de futuros leitores, não vou entrar em detalhes, mas na parte final do livro há um jantar completamente felliniano que é uma apoteose.
Depois de alguns anos esgotado, há uma edição nova disponível.
Fico com a esperança de que, um dia destes, FL volte ao romance. Este entrou direto para a minha lista de preferidos.
Profile Image for Inês Gomes.
Author 10 books10 followers
August 23, 2022
Uma excelente surpresa.
Uma escrita fluida, combina o romance com uma reflexão quase académica sobre a poesia quinhentista com ênfase em Camões. E consegue de uma forma extraordinária tornar conteúdos que à primeira vista seriam puramente teóricos em puro deleite.
A história contada tem um intransponível fundo depressivo. O sentimento transversal, ora subliminar, ora gritante, de que a existência humana é trespassara pela procura de um lugar, um lugar na família, profissional, afectivo, amoroso, no mundo, lugar esse do qual, com sorte, se pode ter momentâneos vislumbres. E do quão disruptivos podem ser os momentos de angústia e desespero.
Mas também traz o “que nos salva”
É também uma ode à amizade, àquelas pessoas que se enlaçam nas nossas vidas e estão presentes desde que nos conhecemos como gente, ou até que nos ajudam a reconhecermos quem somos no âmago; e ao investimento amoroso que tanto tem de altruísta e desinteressado como de exigente e tirano.
Um livro de afectos. Sem “maquilhagem” desnecessária. De tormentos, mas também de redenção.
Profile Image for Hilário Souza.
69 reviews16 followers
December 7, 2019
Frederico parece gostar muito de períodos longos, ideias sem fim numa mesma frase, como se aquela ideia e/ou pensamento não coubesse naquele espaço ou como se tudo chegasse até ele numa torrente mais intensa do que a velocidade em que o registro escrito é feito. Mas depois que o leitor se habitua, isso se torna até um charme no seu texto. A condição da narrativa é bem simples e clara. Os personagens são moldados com muita personalidade e mesmo sendo em grande quantidade é super fácil identificar quem é quem e porque esse alguém está fazendo o que é descrito em cena. É uma trama madura, sedimentada e que carrega muito em seu corpo. Fala de língua, literatura, história, amor, perda, degeneração, ressignificação, refazer-se depois de uma completa fragmentação de si. Há intervalos aqui que atiçam a curiosidade do leitor, tem muitos não-ditos propositalmente (não) colocados, grandes lacunas são postas, porém todas muito bem subentendidas ao final. É um bom livro, um ótimo autor, quero mais futuramente com certeza.
Profile Image for Catarina Deus Vieira.
4 reviews
June 11, 2025
"Às vezes dá ideia que é pelo nosso próprio poder de associação que nos apaixonamos, pelas reminiscências, se quiseres utilizar o termo platónico, que a pessoa amada nos provoca... não sei. Camões não tem razão quando escreve Transforma-se o amador na coisa amada. Não é nada disso. Transforma o amador a coisa amada por virtude do muito imaginar. Isso sim."
Profile Image for Raquel.
166 reviews51 followers
August 14, 2022
Leitura sôfrega, urgente, pela sinceridade e inteligência da escrita, a tragicidade dos amores e circunstâncias, a complexidade e evolução das personagens. Como Camões adivinhou, sem o saber, a epopeia de várias vidas.
Profile Image for Pedro António Carvalho.
78 reviews29 followers
December 28, 2021
🇵🇹Sinto que comecei o ano com uma das melhores leituras que tive até hoje: uma lufada de emoção e sensação.
"Pode um desejo imenso" parte de pressupostos clássicos dos quais sou, no geral, ignorante mas o que fica é uma história de aquecer o coração de um jovem sensível como eu.
Acompanhamos Nuno Galvão em três fases da sua vida as quais estão escritas e delineadas de uma forma tão gradual e suave que parece que fiquei a conhecer um amigo para a vida inteira.
Identifico-me mais com esta temática e talvez por isso afeiçoei-me facilmente ao Nuno e restante círculo. De certa forma sinto que ainda estou a viver no seu mundo. Uma leitura que nos deixa agarrados de tal forma que não se quer abandonar esta "pessoa" que observamos tudo o que passou.
Fora isso, o leitor é certamente apanhado de surpresa pela escrita que é tão incomum para mim mas inegavelmente sublime (até me inspirou para escrever esta crítica, eu que normalmente uso o português macarrónico): usa todas as palavras da Língua Portuguesa ao seu dispor como ferramentas para construir cenários, personalidades, emoções, paisagens. Rapidamente habituei-me por ser tão fluída. O resultado é este: uma obra de arte helenística mas deliciosamente portuguesa.
Fecho este livro com a mão direita e com a sensação que comecei o ano com um amigo novo. Obrigado Nuno, obrigado Frederico!
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