Clube de Leitura - PNL2027 a ler! discussion

" A nossa pele é uma grande página em branco; o corpo, um livro. O tempo vai escrevendo pouco a pouco a sua história nas faces, nos ventres, nas barrigas, nos sexos, nas pernas. Acabados de chegar ao mundo, imprimem-nos na barriga um grande «O», o umbigo. Depois vão aparecendo lentamente outras letras. As linhas das mãos. Os sinais, como pontos finais. Os riscos que os médicos deixam quando abrem a carne e depois cosem. Com os anos, as cicatrizes, as rugas, as manchas e as ramificações varicosas traçam as sílabas que relatam uma vida.
(...)
Sempre me intrigou o que é que as pessoas escrevem no livro da sua pele. Uma vez conheci um tatuador e falámos sobre o seu ofício. A maior parte, disse-me, faz tatuagens desejando recordar para sempre uma pessoa ou um acontecimento. O problema é que os nossos «sempre» costumam ser efémeros, e este tipo de tatuagens são os que, estatisticamente, provocam mais arrependimentos. Outros clientes escolhem frases otimistas, letras de canções pop, poemas.8...)" (pág. 78-79)

dificilmente faria uma tatuagem. mas entendo quem queira eternizar um símbolo no seu corpo.

e foi precisamente nesta passagem que me lembrei de algo que seria capaz de escrever na minha pele:
a frase “Um Livro Vivo”.

Susana wrote: "dificilmente faria uma tatuagem. mas entendo quem queira eternizar um símbolo no seu corpo.

e foi precisamente nesta passagem que me lembrei de algo que seria capaz de escrever na minha pele:
a ..."

obrigada, Susana.
" Um livro Vivo " é no que penso quando abro o livro O Infinito Num Junco ... há sempre uma palavra, uma frase, um excerto para descobrir e quando tal me acontece penso.... como é possível não ter sublinhado? como não pensei nesta frase? como não registei este pensamento? ...

Também não sou muito adepta de tatuagens, e provavelmente nada escreveria diretamente na minha pele. Mas o meu corpo já tem muitas marcas (cicatrizes, rugas, sinais, manchas) que narram a minha vida. Diariamente, e tal como a autora, quando olhamos para o espelho, lemos no nosso rosto as agruras e as felicidades da vida. "Agora sei como é que a dor traça as rudes páginas cuneiformes na face." (p. 78)

"para tão longo amor, tão curta a vida", Quando meu pai morreu, tatuei esses versos (de Camões) junto a uma imagem que, para mim, representa ele. Na época me ajudou a lidar com a dor. Agora é como uma cicatriz de saudade

Juliana wrote: ""para tão longo amor, tão curta a vida", Quando meu pai morreu, tatuei esses versos (de Camões) junto a uma imagem que, para mim, representa ele. Na época me ajudou a lidar com a dor. Agora é como ..."

Olá Juliana,
que bonita a sua partilha. :)
até breve e continuação de boas leituras.

Graciosa wrote: "Também não sou muito adepta de tatuagens, e provavelmente nada escreveria diretamente na minha pele. Mas o meu corpo já tem muitas marcas (cicatrizes, rugas, sinais, manchas) que narram a minha vid..."

obrigada, Graciosa.
O nosso corpo é mensageiro de histórias que se vão acumulando ao longo da vida.

" O pergaminho vivo é apenas uma metáfora, a pele humana pode transportar mensagens escritas e ser lida. Em situações excecionais, os corpos servem como canal oculto de informação. " ( pág. 79)

Plano Nacional de Leitura 2027 wrote: "Graciosa wrote: "Também não sou muito adepta de tatuagens, e provavelmente nada escreveria diretamente na minha pele. Mas o meu corpo já tem muitas marcas (cicatrizes, rugas, sinais, manchas) que n..."

Exatamente. Boas leituras.

Também nunca tive essa tentação e confesso que não tenho ideia do que poderia escrever. Talvez uma imagem.
Compreendo no entanto essa vontade de perpetuar um instante, um pensamento e que talvez a tatuagem seja “uma sobrevivência do pensamento mágico, o rasto de uma fé ancestral na aura das palavras”, como aqui se lê, uma tentativa de deter de alguma forma a passagem do tempo, a deterioração, a destruição.
Na sua maneira deliciosa de relacionar tempos e lugares, Vallejo lembra o filme Memento, intrigas de espionagem das histórias de Heródoto. Lembrei-me ainda de um outro conto (perturbador, por sinal) Diante da Lei de Kafka, leram?


Plano Nacional de Leitura 2027 wrote: "" A nossa pele é uma grande página em branco; o corpo, um livro. O tempo vai escrevendo pouco a pouco a sua história nas faces, nos ventres, nas barrigas, nos sexos, nas pernas. Acabados de chegar ..."

Alexandra wrote: "Também nunca tive essa tentação e confesso que não tenho ideia do que poderia escrever. Talvez uma imagem.
Compreendo no entanto essa vontade de perpetuar um instante, um pensamento e que talvez a..."

Não, não li. Mais um para a lista?

Não tatuaria nada na pele. O tempo encarrega-se de ir imprimindo as suas marcas na nossa pele. Assim são as rugas. São tatuadas pelos esgares do sofrimento, pelas gargalhadas de alegria, pela expressividade que imprimimos ao que dizemos, ao que sentimos e ao que somos. A nossa pele guarda toda uma história, conta histórias!

Alexandra wrote: "Também nunca tive essa tentação e confesso que não tenho ideia do que poderia escrever. Talvez uma imagem.
Compreendo no entanto essa vontade de perpetuar um instante, um pensamento e que talvez a..."

Obrigada, Alexandra.
Vi o filme Memento e confesso que não gostei muito. Talvez reveja. quanto ao livro do Kafka ... não conheço. Há tradução portuguesa?

Célia wrote: "Não tatuaria nada na pele. O tempo encarrega-se de ir imprimindo as suas marcas na nossa pele. Assim são as rugas. São tatuadas pelos esgares do sofrimento, pelas gargalhadas de alegria, pela expre..."

obrigada Célia.
Que bela imagem .... "O tempo encarrega-se de ir imprimindo as suas marcas na nossa pele" é como se o tempo fosse tatuando a própria vida.

Também não sou grande adepto de tatuagens, mas talvez considerasse uma expressão de que gosto muito: "Ser Humano em Construção" porque acredito que o somos a vida toda, uma boa parte através dos livros.

Nuno wrote: "Também não sou grande adepto de tatuagens, mas talvez considerasse uma expressão de que gosto muito: "Ser Humano em Construção" porque acredito que o somos a vida toda, uma boa parte através dos li..."

Que bonito!
Partilho da ideia. Os livros ensinam-nos tanto ... e muito do que somos devemos aos livros.
Obrigada, Nuno pela partilha.
Continuação de boas leituras.