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Chama a atenção o quão miserável e desesperançado é o vilarejo descrito e como essa desesperança torna a vida das pessoas que ali moram algo tão desprovido de sentido a ponto de que a chegada de um único homem seja vista como a chegada de um "messias"

É interessante como em cada capítulo Krasznahorkai muda ligeiramente a forma de construir o seu texto. Em pelo menos um deles ele utiliza uma forma que é muito similar ao que Woolf faz em Mrs Dalloway o que pode confundir o leitor desatento.

Krasznahorkai constrói sua narrativa em pequenos núcleos o que pode ser um pouco aborrecido porque o autor faz cortes um tanto abruptos e deixa o leitor suspenso esperando a conclusão dos conflitos. Por outro lado ele tem uma forma de narrar peculiar o que mantém a narrativa interessante.

Provável que alguns leitores se irritem com o fato de Krasznahorkai não ter nenhuma pressa em dizer ao leitor sobre o que afinal está escrevendo. Por outro lado a sua escrita é bastante curiosa e diferente do que estamos habituados.

Rice tem uma habilidade de contrapor cenas e evidenciar dinâmicas contrastantes incrível. Se na "encenação" no Teatro dos Vampiros temos uma vontade sendo manipulada e subjugada na entrega voluntária de um dos "serviçais" de Armand temos o exato oposto.

Krasznahorkai para além de sua peculiar forma de escrita e eu me pergunto o quanto isso tem a ver com a sintaxe do húngaro adota um ar levemente kafkiano a lá O Processo.

A cena de apresentação do Teatro dos Vampiros é a um só tempo aterrorizante, belamente macabra e retoma o debate sobre a mortalidade e a velhice que perpassa a obra.

Krasznahorkai tem no mínimo uma forma peculiar de escrever e isso já se nota nos primeiros parágrafos.

A leitura das Cartas Portuguesas originais ajudou a entender melhor alguns dos elementos usados nesse, mas ainda que eu entenda o seu imenso valor político e admire a coragem das autoras em peitar um regime autoritário, como experiência de leitura está bem sofrido.

Em que pese a beleza do texto é nítido o quanto se referencia a textos e fatos talvez não conhecidos pelo leitor. Recomendo fortemente a leitura das Cartas Portuguesas originais antes de adentrar a essas.

Por outro lado é sempre um pouco frustrante quando vc sabe que um livro é importante, foi escrito com cuidado, mas mesmo assim nao parece fazer o menor sentido para vc.

É sempre um prazer quando um texto de apresentação entende seu papel e de fato nos introduz a um texto, "Corajosas Marias, perigosas Marias" de Tatiana Salem Levy, cumpre admiravelmente esse papel. Contextualiza e interessa o leitor sem querer competir com o texto principal.

Se Mandíbula já estava se mostrando um livro excepcional quando chegamos no capítulo onde é apresentado o ensaio de Annelise, subimos mais um nível. É um capítulo que vale o livro todo, fica evidente que Annelise é em alguma medida um eco das ideias criativas de Ojeda.

É admirável como Ojeda constrói personagens complexos e multifacetados, tanto sua professora traumatizada e desequilibrada quanto suas adolescentes privilegiadas e ainda assim claramente disfuncionais são criveis e perturbadoramente identificáveis nas redes.

Concluída a primeira história da Liga Extraordinária, algo que fica muito claro é o quanto o leitor perde se não tiver alguma bagagem de leitura para pegar as inúmeras referências presentes na narrativa.

Provavelmente um dos pontos mais irritantes do Louis enquanto personagem é sua mania de "se fazer de sonso" e não enxergar obviedades de tão centrado que está na própria autopiedade.

Provavelmente um dos pontos mais interessantes na narrativa de Ojeda é a maneira como ela trata desse feminino "não domesticado" que a Sociedade se esforça para conter e controlar de todas as formas.

Ojeda constrói um interessante paralelismo entre as duas antagonistas, ambas com relações complicadas com suas mães e em alguma medida revivendo o conflito no ambiente escolar e posteriormente no sequestro.

Moore emula tão bem o tom arrogante e preconceituoso dos autores vitorianos que o leitor desavisado pode não perceber a caricatura irônica que o autor se propõe. Outro ponto de destaque são as inúmeras referências que a depender do repertório do leitor serão percebidas.

É difícil dizer o que é mais perturbador, a reunião de várias pessoas com traumas e transtornos psicológicos colidindo ou o quão crível é o sistema escolar adoecido e hipócrita retratado por Ojeda.

É interessante como nessa segunda parte ao mesmo tempo que Rice se aproxima das histórias tradicionais de vampiro ela também impõe um distanciamento. Fica nítido que os seus vampiros são outra coisa, uma recriação do mito com outros objetivos.

Ocheda ao situar sua narrativa em vários pontos de vistas consegue ao mesmo tempo aumentar a tensão e fornecer indícios para que o leitor antecipe as motivações de seus personagens.

É particularmente interessante e provavelmente incômoda para alguns (muitos) a forma como Gray sustenta a absoluta não relevância da humanidade no cômputo geral do Universo. Gray bate sem dó nesse dogma religioso ocidental que dá uma indevida importância exagerada a espécie humana.

Algo que se torna bastante perceptível na leitura no original e consequente redução da velocidade de leitura é o cuidado de Rice na escolha de suas palavras. Ela constrói imagens belíssimas e impõe força dramática até em coisas que poderiam parecer banais como a cor do oceano e do céu.

É particularmente interessante como Moore emula o tom arrogante e preconceituoso dos escritores ingleses vitorianos. O leitor experiente também vai sorrir com os pequenos easter eggs referenciando outras obras.

A proposta da graphic é muito boa e a história por trás das palavras cruzadas bem interessante, mas o autor resolveu colocar uns interlúdios abruptos e tediosos, que quebram o ritmo e parecem ser (pelo menos até o momento) dispensáveis.

Gray segue dinamitando conceitos e lugares comuns, primeiro foi a ideia de self e consciência, daí implodiu a ideia da moralidade per si, agora está batendo pesado na ideia de "salvação" e como isso se relaciona com o medo de morrer.É uma lástima que ele seja tão pouco publicado aqui.

A despeito da linguagem de Gray não ser dogmática ou complexa ele propõe ou antes apresenta algumas ideias que são extremamente difíceis de lidar. Da distinção entre pensamento e consciência ele parte para a inexistência do Self. Ele "só" dinamita uma das nossas noções mais arraigadas.

Gray comenta uma distinção que costumamos ignorar com frequência; o fato de que pensamento, percepção e consciência não são a mesma coisa. Desde os apontamentos sobre existir "conhecimento" até entre bactérias concluindo com a discussão sobre percepção subliminar é deveras interessante.