Luís’s Reviews > Dez Horas e Meia Numa Noite de Verão > Status Update

Na sala, entre os outros, tão comprimidos como os outros espectadores, Maria, Claire e Pierre vêem aquele homem que dança.

Judith resmunga. Pierre pega nela e deita-a sobre um grande canapé que se encontra sob a sombra espessa do fundo da entrada. Judith deixa que ele a deite. Pierre volta para Maria e Claire. Claire segue-o com o olhar, segue todo o seu corpo, enquanto ele se aproxima. Senta-se de novo à mesa. Têm de esperar até que Judith acorde.

Eis os outros campos de trigo. Espraiam-se menos uniformemente que os precedentes. Há neles manchas de flores enormes de cores vivas. É Claire que o diz.
- Já recomeçaram a ceifa aqui - mostra ela.

(...) É muito cedo. Quatro horas da manhã. Durante o sono, aproximaram-se um do outro. Não se aperceberam, decerto. O tornozelo de Claire, abandonado, quase toca a cara de Pierre. A boca dele roça a pele dela. O tornozelo de Claire repousa na mão aberta de Pierre. Se a fechasse, o tornozelo daquela mulher caberia inteiro na sua mão. Maria observava-os em vão: nada disso acontece. Dormem os dois um sono profundo.

Pierre estava no barco com Maria.
Maria senta-se de novo ao volante. O guarda não a seguiu. Vê as horas. Menos de hora e meia para a primeira luz da manhã. Pega na garrafa de conhaque, bebe. Um gole longo, enorme. Queima tanto que tem de cerrar os olhos de prazer.

Quando chega à varanda, Maria vê as horas, as suas horas. É meia-noite e meia hora. Dentro de três horas, sem dúvida, nascerá a primeira luz da manhã. É assim, no Verão. Rodrigo Paestra, na mesma posição mortuária em que o descobriu, aguarda o alvorecer, e a morte.