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The Solitude of Prime Numbers
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Leituras Conjuntas > 4º Leitura Conjunta - 2ª fase

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Tânia | 54 comments A 2ª fase é marcada pela adolescência e início da idade adulta de Mattia e Alice. Perfeitamente resumido num parágrafo da pág. 107 "Os anos do liceu foram uma ferida aberta, que para Mattia e Alice parecera tão profunda que jamais acharam que pudesse cicatrizar. Passaram por eles como que em apneia, ele rejeitando o mundo e ela sentido-se rejeitada pelo mundo, e aperceberam-se de que, no fundo, a diferença não era muita. Construíram uma amizade defeituosa e assimétrica, feita de longas ausência e de muito silêncio, um espaço vazio e limpo em que ambos podiam voltar a respirar, quando as paredes da escola se tornavam demasiado apertadas para ignorar a sensação de sufoco."
Entre eles criou-se uma relação de cumplicidade contudo ao mesmo tempo com muitos silêncios.
Alice nas constantes visitas à mãe no hospital, conhece Fabio, que habilidosamente a tenta conquistar. Alice deixa-se levar por considerar que "nunca teria algo mais semelhante ao amor do que aquilo que podia encontrar ali" (pág. 165), depois de Mattia ter decidido aceitar um emprego numa faculdade inglesa.
Julgo que nesta fase é bastante curiosa a descrição dos números primos, como aqueles "que são divisíveis por 1 e pelo próprio número (...) números desconfiados e solitários", e uns números primos mais especiais que são os primos gémeos "pares de números primos que estão próximos um do outro, aliás, quase próximos, pois entre eles existe sempre um número par que os impede de se tocarem realmente" e Mattia chega a atribuir-se a si próprio um número primo e a Alice outro, resumindo a relação entre eles como a de serem números primos gémeos, isto é, "sós e perdidos, próximos mas não o suficiente para se tocarem realmente" (pág. 120), que reconhecem um no outro a própria solidão.
De notar o equilíbrio que o autor mantém na sua cuidada escrita, por vezes algo técnica mas esmiuçada para ser percebida por qualquer pessoa, ao mesmo tempo que faz uso de um léxico rico, com descrição de pequenos gestos do quotidiano, contudo habilmente transformados em momentos poéticos, como por exemplo quando "escolheu o mais comprido dos quatro lápis alinhados ao lado uns dos outros, perigosamente chegados à beira da escrivaninha. Da segunda gaveta tirou o apara-lápis e, dobrado, pôs-se a afiar o lápis para dentro do cesto de papéis. Soprou a serradura fina que ficara depositada na extremidade cónica do lápis."(pág. 162)


Maria Carmo (mariacarmo) | 80 comments O que mais impressiona na segunda fase do livro, é este equilíbrio afectivo tão precário que cada um destes jovens tem de manter, como se os seus corpos fossem, ao mesmo tempo, o limite que os separa de todos os outros... E no entanto, entre Alice e Mattia (e até certo ponto, entre Mattia e Dennis) surge uma certa cumplicidade... Impressionante também, a incacidade que os diferentes pais e mães têm de demonstrar afecto, como se inultrapassáveis abismos se tivessem abertos entre os filhos e os progenitores... Cada um, Alice e Mattia, trazem marcas no corpo da solidão da Alma, e os números primos passam a ser, para Mattia, na sua linguagem simbólica interior, o padrão da sua relação com Alice - tal como os números primos, eles têm uma relação em que há sempre um número de permeio entre eles...

É incrível que o autor tenha conseguido, neste livro, fazer quase um tratado psicológico... Pensando em Mattia, vem à ideia alguns síndromes (Asperger...) e em Alice, todas as ques~~oes da anorexia provocadas por uma profunda falta de auto estima...

Apeteceria acarinhar estes personagens que se tornam tão nítidos para nós, mas pensamos (como se calhar todos aqueles que na sua vida com eles se cruzavam) "não vale a pena, não vão reagir...". E no entanto, vemos que tanto Alice como Mattia reagem quando alguém toma uma iniciativa, embora isso lhes dê algum desconforto.

Um livro impactante embora difícil nalguns aspectos, se nos fizer pensar e sentir.


Maria Carmo (mariacarmo) | 80 comments Tânia wrote: "A 2ª fase é marcada pela adolescência e início da idade adulta de Mattia e Alice. Perfeitamente resumido num parágrafo da pág. 107 "Os anos do liceu foram uma ferida aberta, que para Mattia e Alice..."

Este comentário da Tânia, na minha opinião está formidável! Parabéns Tânia.


Tânia | 54 comments Muito obrigada Maria, mas quando li o seu achei exactamente o mesmo, nomeadamente "Cada um, Alice e Mattia, trazem marcas no corpo da solidão da Alma"
É impossível depois de lermos um livro tão tocante, não nos sentirmos inspiradas :)


Alexandra (biobreeze) | 105 comments Também gostei desta segunda parte. Também acho que os pais têm uma grande influência na forma como Alice e Mattia (não?) enfrentam o mundo que os rodeia. Mesmo assim, Alice ainda se esforça por reagir e há que lhe dar algum crédito. Gostei de imaginar a parte em que ela tira a foto com ela e Mattia vestidos como se fossem casar. É um dos raros momentos alegres do livro.:)


Joana (static_pulse) | 64 comments Não sei porquê esta segunda fase não me cativou tanto. Senti que o autora não andava nem desandava com o desenvolvimento das personagens. Parece que as estagnou um bocadinho no tempo e deixou de conseguir demonstrar a solidão e isolamento que tanto Mattia como Alice sentiam. E os pais deles nesta segunda fase parecem ainda mais sumidos, desaparecidos. Acho que isso não devia acontecer pois se é um livro que de certa forma retrata os problemas de dois jovens as suas famílias vão sem sombra de dúvida estar incluídas, e sinceramente não me tem entrado muito bem os pais terem sempre agido como se toda a situação fosse normal e não houvesse nada que pudessem fazer. Enfim, espero gostar mais desta terceira fase do que gostei da segunda.


Ana  (boladesabao) | 226 comments Mod
Bem, acabada mais uma fase, devo dizer que gostei ainda mais destes capítulos do que dos anteriores. Acho que nesta fase aos vermos Alice e Mattia terminar a adolescência e entrar na idade adulta, acabamos por conhecer melhor as duas personagens um pouco para além do trauma que cada um sofreu enquanto criança. Achei bastante interessante vê-los confrontados com situações de certa forma comuns a todos os adolescentes. A linha ténue entre amizade e amor, os mal entendidos que geram rupturas, a dificuldade em tomar decisões para o futuro.

Uma das coisas que mais gostei nesta fase, talvez por ser algo de muito realista, prende-se com a diferença de pontos de vista e de atitudes de Alice e Mattia perante as mesmas realidades. Enquanto Alice sente a necessidade de um envolvimento romântico com Mattia e tenta seduzi-lo, Mattia tenta ignorar aquilo que se esconde atrás dos olhares e prefere concentrar-se nos números. Quando Mattia finalmente se apercebe daquilo que sente por Alice e aquilo que deseja que aconteça entre eles, já Alice aceitou a indiferença de Mattia e decidiu seguir em frente. Um conjunto de mal entendidos e tempos desencontrados que originam escolhas que acabam por os levar por caminhos separados. A quanto de nós não terá já acontecido algo de relativamente semelhante?

Como aspecto menos positivo, realço apenas a pouca participação de Denis que parecia uma personagem que iria ter algum impacto na relação entre Alice e Mattia e talvez tivesse um papel de relevo no desfecho desta história. Até agora, revelou-se bastante secundária e sem grande importância. Mas ainda falta uma fase… vamos ver o que acontece. :)


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